DEFESAS 2024
DESIRÉE NOBRE SALASAR
Orientadora: Profa. Dra. Francisca Ferreira Michelon
Título: Comunicação equitativa na perspectiva do Desenho Universal: Estudo de caso do Museu da Comunidade Concelhia da Batalha
Não autorizada publicação da tese completa
DEFESAS 2023
Cristiéle Santos de Souza
Orientadora: Profa. Dra. Carla Rodrigues Gastaud
Título: Legado e reconhecimento: trajetórias de preservação da correspondência da prisão de Luiz Carlos Prestes (1936-1945)
http://guaiaca.ufpel.edu.br/xmlui/handle/prefix/13083
Isabel Halfen da Costa Torino
Orientador: Prof. Dr. Fábio Vergara Cerqueira
T´ítulo: A obra monumental de Antonio Caringi: narrativas e documentação
Não autorizada publicação da tese completa
Juliana Cavalheiro Rodrighiero
Orientadora: Profa. Dra. Maria Letícia Mazzucchi Ferreira
Título: A restauração participativa como metodologia de preservação do patrimônio cultural: um estudo relacional entre Brasil e França
http://guaiaca.ufpel.edu.br/xmlui/handle/prefix/12471
Luciano Pereira da Silveira
Orientador: Prof. Dr. Jorge Eremites de Oliveira
Título: Memórias de Lourenço: aterros, territorialidade e patrimônios culturais no Pantanal
http://guaiaca.ufpel.edu.br/xmlui/handle/prefix/9992
Priscila Chagas de Oliveira
Orientador: Prof. Dr. João Fernando Igansi Nunes
Título: Fenômenos memorialísticos online: cartografia da memória compartilhada da covid-19 no Instagram
http://guaiaca.ufpel.edu.br/xmlui/handle/prefix/12472
DEFESAS 2022
Micheli Martins Afonso
Obstáculos para a aplicação da gestão de riscos em contexto museal: estudos de casos entre Brasil e Espanha
Palavras chave: Gestão de riscos. Patrimônio cultural. Conservação. Memória social. Museu.
TESE – Micheli Martins Afonso UFPEL
Diariamente, o patrimônio cultural enfrenta situações de emergência que acarretam diferentes graus de perda e deterioração de sua materialidade, mesmo quando protegido por instituições museológicas. Infelizmente, muitas vezes esses dados não são divulgados, apesar de desastres como enchentes, incêndios, furtos, vandalismo, entre outros, serem frequentes em qualquer museu. A metodologia de gestão de risco visa auxiliar os responsáveis pela conservação do patrimônio na análise de risco,
auxiliando a tomada de decisão com base em critérios científicos e não apenas com base na subjetividade. Dessa forma, permite avaliar as possíveis fontes de degradação e como ocorre a inter-relação dessa deterioração. Bem como, permite estabelecer prioridades de conservação, tendo em conta os recursos existentes na instituição. Infelizmente, embora existam políticas de preservação, que o patrimônio seja legitimado e reconhecido pela comunidade que o detém, que existam técnicas ativas de conservação e teorias eficazes, as tragédias que envolvem o patrimônio cultural continuam ocorrendo. Ao mesmo tempo, se observa que a metodologia de Gestão de Riscos ainda é pouco aplicada como ferramenta de conservação em museus. A pesquisa tem caráter exploratório, analítico, qualitativo e a metodologia é desenvolvida a partir de seis estudos de caso comparativos, entre o panorama
museológico brasileiro e espanhol, a fim de encontrar os obstáculos que impedem a aplicação da gestão de riscos em instituições museológicas. Para isso, utiliza entrevistas por meio de questionário semiestruturado, análise de jornais e artigos, além do estudo de campo. O trabalho inclui a avaliação e comparação entre duas realidades culturais e geopolíticas diferentes a partir de uma premissa comum, as recomendações internacionais sobre gestão de riscos, para encontrar as chaves para o fracasso da preservação, mesmo em instituições que gozam dos mais altos padrões de proteção. Entre os resultados, observa-se que fatores identitários e socioculturais, estão mais bem relacionados ao déficit encontrado na preservação museal, do que premissas primárias levantadas. A ideia de estudar o campo museológico, olhando para a conservação e gestão de riscos, pretende, a partir das informações coletadas e analisadas, oferecer subsídios para que gestores e conservadores-restauradores possam realizar uma melhor interpretação e aplicação das metodologias existentes, identificando as lacunas para a aplicação destas ferramentas, pois, desta forma, espera-se contribuir para uma melhor conservação do patrimônio cultural.
Juliana Porto Machado
Cruzando fronteiras: entre o rural e o urbano, guasqueria como patrimônio em Jaguarão/BR e Rio Branco/UY
Palavras chave: Guasqueiros. Artesanato. Peão campeiro. Fronteira. Técnica.
TESE FINAL-JULIANA PORTO MACHADO
A guasqueria, nesta tese é apresentada como um ofício artesanal, que modifica o couro, transformando-o em objetos. Nesse processo de criação em torno de uma peça de couro cru, estabeleceu-se uma estrutura dorsal , sendo que, por meio da transmissão e da repetição que está se manteve até os dias atuais, com mínimas alterações, sendo: I) obtenção da matéria-prima principal, o couro cru; II) Lavagem, III) descarne, IV) lonqueamento, V) estaqueamento e secagem); VI) cortar as loncas, tiras de couro VII) sovar, que consiste em amaciar o couro VIII) tirar os tentos, que são as tiras finas de couro e por fim IX) fazer a trança. Essa estrutura tornou-se um elemento central para a identificação dos sujeitos que praticam esse ofício, em guasqueiros. Esse ofício surge em conjunto com o trabalho do peão campeiro, da relação estabelecida entre homem e animal, homem e natureza, homem e objeto. Será por meio da figura do peão que nascerá o guasqueiro. O objetivo principal foi desenvolver uma análise comparativa das produções de artesanato em couro cru, guasqueria, nas zonas fronteiriças de Jaguarão/Brasil e Rio Branco/Uruguai. Já os objetivos específicos foram: identificar os aspectos comuns e as especificidades do saber-fazer guasqueria na zona de fronteira entre Jaguarão e Rio Branco, determinar o peso de fatores tais como a geografia e a história no decorrer da trajetória da produção de guasqueria, observar padrões de integração no modo de fazer guasqueria na cultura transfronteiriça com base no estudo comparativo dos dois casos. O método de pesquisa utilizado foi pesquisa qualitativa de caráter
exploratório com coleta de dados através de entrevistas semiestruturadas com cinco interlocutores fronteiriços que trabalham com a produção de guasqueria, sendo três representantes de Jaguarão e dois representantes de Rio Branco, em um recorte temporal entre os séculos XX e XXI. Em relação a identificação dos guasqueiros, se optou pela utilização de guasqueiros e iniciais do nome para os sujeitos de Jaguarão e guasquero e iniciais do nome para os sujeitos de Rio Branco, respectivamente:
guasqueiro A.B, guasqueiro C.C, guasqueiro V.S, guasquero L.G e guasquero A.R. Cabe destacar como resultados, que os guasqueiros entrevistados apresentam similitudes no processo de criação de objetos em couro cru, assim como na adoção de novas técnicas de manejo da matéria prima. Um dos principais motivos por terem adentrado a área desse saber fazer artesanal é por serem peões ou estarem ligados
de alguma forma a atividades do meio rural. A forma de compartilhamento desse ofício ocorre por transmissão oral presencial e transmissão oral virtual, mas sempre no nicho peão/guasqueiro para guasqueiro. A fronteira surge como elemento de ligação, que permite o fluxo, não há limitações e já está naturalizada ao ponto de não se perceber suas influencias. Portanto, a guasqueria de fronteira se constitui do compartilhamento de saberes e apresentando um ciclo similar entre os guasqueiros
de cá (aqui) e os guasqueros de lá (allí).
JOSÉ ANDREAS TABARÉ CURBELO KNUTSON
FESTIVE RITUAL TRADITIONS AS OBJECTS OF CULTURAL TRANSMISSION, SOCIAL INTEGRATION AND SOCIAL CONTROL: CHALLENGES AND TRANSFORMATION
Palavras chave: memória coletiva; transmissão; rituais festivos; acordeón; Algarve; Cádiz; Uruguai
O objetivo desta tese de doutorado é examinar às formas em que rituais festivos tradicionais têm servido como marcos sociais de memória coletiva e também como veículos de transmissão cultural oral e coesão/integração social dentro do mundo Atlântico, um contexto temporal e geográfico marcado pelos processos de migração e hibridização cultural. A tese também visa determinar os efeitos de pressões políticas, econômicas, demográficas, e – sobretudo – tecnológicas na sobrevivência e adaptação de rituais festivos tradicionais locais, suas significações e ressignificações, e os sistemas de valores que representam e reforçam. Utilizando às metodologias de história oral, observação participante, e documentação audiovisual, os seguintes temas de análise interseccionam os casos de estudo selecionados dos interiores de Uruguai, Espanha e Portugal (regiões marcadas pela emigração/imigração): Território, Coesão social e integração, Migração, Memória Coletiva. Tomando em conta à natureza multifacética de rituais festivos tradicionais locais (música, culinária, dança, comensalidade, significados políticos/religiosos, etc.) os estudos de caso são apresentados da seguinte maneira: La Janda/Campo de Gibraltar, Cádiz (chacarrá ou fandango tarifeño), Sotavento algarvio (bailaricos rurais com acordeão, charolas), norte de Uruguai (bailes rurais com acordeão, kermesses, bodas e outros eventos religiosos-étnicos de coletividades imigrantes). A tese providencia informação histórica e cultural sobre as sociedades representadas em cada estudo de caso, análise crítica e comparação sobre os fatores e dinâmicas que têm influenciado, ao longo do tempo, à resiliência, adaptação, ressignificação, e/ou esquecimento das expressões culturais em cada estudo e caso.
CLARISSA CASTRO CALDERIPE MONTELLI
A PATRIMONIALIZAÇÃO DAS PRAÇAS PÚBLICAS E A INFLUÊNCIA NOS SEUS USOS. ESTUDO DE CASO EM PELOTAS, RS.
Palavras-chave: Patrimonialização. Praças Públicas. Pelotas.
O tema da presente pesquisa versa sobre a patrimonialização. Nesse sentido, aborda a problematização do uso das praças públicas patrimonializadas e a importância das atividades realizadas nesses espaços como uma das justificativas da patrimonialização realizada pelo poder público. De um lado, o uso efetivo das praças públicas é uma maneira de proporcionar a apropriação e a valorização desses ambientes por parte dos usuários e, por outro lado, a patrimonialização representa a normatização desses espaços. Para trabalhar com a análise desses processos contraditórios, foi escolhido fazer a análise do uso do espaço urbano das praças da cidade de Pelotas frente ao processo de patrimonialização. O objetivo principal da pesquisa foi analisar a influência da patrimonialização no uso dessas praças, além de identificar se essas praças são referenciais de identidade e memória para seus usuários. Para realizar tal tarefa, foi utilizado para análise o método dialético regressivo-progressivo proposto por Henri Lefebvre. Sendo assim, partiu-se da realidade atual das praças e voltou-se ao passado, procurando elementos que pudessem elucidar determinadas particularidades encontradas no presente. Posteriormente, foi feito o movimento contrário, a fim de tentar indicar possibilidades para o futuro. Quanto ao método de investigação, foi adotada uma perspectiva fenomenológica, por enfatizar dados qualitativos, com o objetivo de entender a singularidade dos espaços a partir da subjetividade dos usuários. Como procedimentos metodológicos, utilizou-se de mapas comportamentais e entrevistas. Os resultados encontrados apontam para encaminhamentos futuros que visam a melhoria e a qualificação dos espaços urbanos das praças, além do incremento da qualidade de vida urbana. De modo geral, foi possível concluir que a patrimonialização não afetou o uso dos espaços referentes às praças estudadas, apesar de serem identificadas pelos usuários como bens culturais da cidade de Pelotas.
NATALIA VANESSA RAMIREZ PEÑA
Poesía y pintura como potencias narrativas de una memoria trágica: Representaciones del conflicto armado colombiano.
Palavras-chave: Memória; Pintura; Poesia; Conflito Armado Colombiano; Mery Yolanda Sanchez; Fernando Botero
Tesa Natalia Vanessa Ramirez Peña
Este trabalho estuda o conceito de memória e algumas de suas subcategorias, por meio da interpretação do potencial narrativo presente na produção poética de Mery Yolanda Sánchez e na produção visual de Fernando Botero, especificamente aquela que busca representar grande parte da dor sofridas pelas vítimas do conflito armado interno colombiano, que evoca a memória e o silêncio a que os discursos
dominantes as submeteram; discursos que hoje estão em processo de reinterpretação. Como resultado desse encontro palavra e imagem, busca-se exaltar nessas linguagens, representações narrativas que aproximam o leitor da memória da realidade de um dos conflitos armados mais antigos do mundo, uma vez que reconstroem ou dão conta de diversos momentos trágicos ocorridos ao longo desse fenômeno, pois ao referir-se a uma dimensão ampla da crueldade, a força das mensagens artísticas torna-se indícios precisos para compreender sua dimensão e impacto social. Sendo um trabalho qualitativo, os instrumentos para sua elaboração partem da leitura de materiais bibliográficos e audiovisuais, tais como: obras pictóricas, artigos acadêmicos, livros, teses, entrevistas e documentários relacionados ao campo da memória, das artes e da cultura. . Como atividade essencial, foi feita uma visita ao Museu Nacional da Colômbia, a fim de ter uma maior aproximação com as obras plásticas de Fernando Botero e também identificar se elas pertencem ao acervo e são consideradas referências do problema do conflito
em questão.
DEFESAS 2021
Márcio Dillmann de Carvalho
PERMANÊNCIAS E RUPTURAS: PATRIMÔNIO, RELIGIOSIDADE E MEMÓRIA EM MORRO REDONDO E NOVA PETRÓPOLIS.
Palavras-chave: religião; etnicidade; memória; patrimônio; museu, turismo.
Márcio Dillmann de Carvalho – Tese
Esta tese foi efetivada com base em pesquisas de fontes documentais, bibliográficas e depoimentos, trazendo a descrição dos aspectos históricos de dois municípios do Estado do Rio Grande do Sul, a cidade de Morro Redondo, na região sul, e a cidade Serrana de Nova Petrópolis, municípios repletos de características únicas e também similaridades, relacionadas com diversos fatores e influências, como, por exemplo, a religiosidade, principalmente a protestante luterana e sua etnicidade focada na “germanidade” do imigrante alemão. Através deste estudo de caso, foi possível analisar inúmeros momentos relevantes nas suas historicidades, que acabaram revelando fatores e variantes responsáveis por suas características. Destes momentos históricos, podemos observar repressão, violência e medo, motivados principalmente pela política do Estado Novo e a Segunda Guerra Mundial. Este estudo propõe uma contextualização dos fatos mencionados, assim como sugere a reflexão sobre prováveis rupturas nos processos de valorização da cultura e das tradições em função do “medo”. Por fim, esta pesquisa adentra nos aspectos da memória coletiva, como construção social com foco no aspecto inerente e forte em ambas as cidades, a religião. Também referência os métodos utilizados pelas comunidades, em diferentes momentos de sua existência, que permitiram a “ativação patrimonial”, processos de patrimonialização adotando sua evolução em direção ao desenvolvimento econômico através do turismo cultural.
JOSÉ PAULO SIEFERT BRAHM
DESVENDANDO EMOÇÕES: O Museu Gruppelli, seus objetos e seu público.
Palavras-chave: Museologia. Patrimônio. Musealidade. Emoção Patrimonial. Museu
Gruppelli.
Esta pesquisa tem como objetivo principal analisar as emoções expressas pelos visitantes no contexto expositivo do Museu Gruppelli, localizado na zona rural da cidade de Pelotas/RS, e os seus significados. Durante pesquisas anteriores realizadas no Museu, percebemos que o público entrevistado ao se relacionar com os objetos tinha não somente memórias e identidades afloradas, mas também emoções. Entre as emoções mencionadas pelos entrevistados podemos citar: saudosismo, nostalgia, esperança, pena, lástima, alegria, tristeza. Essa experiência nos levou a ponderar sobre o que as provocavam e qual a importância das mesmas para o público visitante e para a preservação e difusão do próprio museu. Essa pesquisa partiu da hipótese de que a percepção museal do público visitante é a principal razão contributiva para que aflorem diversas emoções nele mesmo, através da relação que travam com os objetos expostos no contexto do espaço museológico. Como procedimento metodológico, utilizamos, sobretudo, a entrevista (presencial) e, igualmente, a observação do pesquisador. Destacamos que as entrevistas foram aplicadas aos frequentadores do Museu, fossem moradores da zona rural ou da urbana, durante a visitação. Por esse caminho, percebemos que o trabalho emocional é facilitado pela fisicalidade dos objetos que guiam a nossa análise, o pilão e o tacho, e pelo entrelaçamento desses com outros objetos expostos. Esta pesquisa teve sua relevância na medida em que possibilita compreender melhor as relações que podem ser e são estabelecidas entre público, emoção, patrimônio e museu, uma vez que o intercâmbio desses conceitos ainda é pouco explorado pelo campo da Memória Social e da Museologia. Ao compreendermos de maneira mais clara as possíveis relações, podemos abrir campo para novas discussões e reflexões e ampliar o conhecimento científico, além de existir a possibilidade de
reverter as informações obtidas nesta pesquisa para o próprio público que visita o Museu Gruppelli, por meio de suas diversas linguagens comunicativas. A melhor compreensão da junção desses conceitos também poderá ajudar na elaboração e efetivação de novas políticas públicas no campo do patrimônio cultural, contribuindo ainda mais para a sua salvaguarda e difusão.
JOSSANA PEIL COELHO
De fábrica para patrimônio: estudo comparativo da condição de remanescentes industriais no Rio Grande do Sul / Brasil
Palavras-Chave: patrimônio industrial; patrimonialização; musealização.
Há muitos conflitos que cercam o patrimônio industrial dentro do campo patrimonial. Vários bens fabris são patrimonializados em processos que desconsideram a totalidade ou, ainda, a maioria dos seus valores. É frequente que vários bens nem venham a ser enquadrados dentro dessa tipologia. Diante disso surge principal problema de pesquisa, de qual é a situação da memória fabril nas antigas fábricas patrimonializadas. A partir de pesquisa anterior sobre uma antiga fábrica de transformação na cidade de Pelotas no Rio Grande do Sul, a Laneira Brasileira S.A, buscou-se observar outras experiências já consolidadas no mesmo estado, por acreditar que as semelhanças referentes às sociabilidades estariam mais próximas, já que as realidades sociais se assemelham, assim como apresentam equivalentes políticas administrativas e são próximas geograficamente. Dessa forma, foi observado que o estado do Rio Grande do Sul é elucidativo de parte dos conflitos que operam nesse campo. A fim de aferir a situação desses bens, principalmente das fábricas de transformação, uma vez que foi essa tipologia que suscitou a pesquisa, foram realizadas as técnicas de pesquisa de revisão bibliográfica, pesquisa de campo, pesquisa documental e entrevistas. Porém, inicialmente foi feita uma quantificação dos potenciais patrimônios industrias, com foco nas fábricas de transformação, em diferentes níveis – federal, estadual e municipal. Dentre as antigas fábricas patrimonializadas identificadas na quantificação, foram selecionadas aquelas que apresentavam maiores semelhanças com a Laneira, como serem fábricas de transformação localizadas em cidades gaúchas que se destacam como polos industriais no estado, principalmente no século XX. São elas a Fábrica dois da Metalúrgica Abramo Eberle e o Lanifício São Pedro localizadas em Caxias do Sul/RS, a Companhia Fiação e Tecidos Porto-Alegrense (Fiateci) e a Cervejaria Brahma em Porto Alegre/RS. Essas antigas fábricas patrimonializadas são analisadas, em seus diferentes contextos – no histórico e perante a legislação de proteção local – e diferentes transformações – patrimonialização, intervenção arquitetônica e novo uso -, que possam ter passado, com a finalidade de entender a condição memorial de cada uma, ou seja a distinção de ativar memórias perante essas transformações, uma vez que essas mudanças influenciam a preservação da memória fabril. Essas análises foram feitas por comparação entre as transformações que cada fábrica passou e como cada uma delas influenciou na condição memorial, e assim, tem o objetivo central da pesquisa de contribuir com a preservação da memória fabril, sugerindo a musealização como um processo que preserva e valoriza todos os valores do patrimônio industrial bem como a memória do bem.
FRANCISCO ALCIDES COUGO JÚNIOR
A patrimonialização cultural de arquivos no Brasil.
Palavras-chave: Patrimonialização. Arquivos. Patrimônio Cultural Arquivístico.
Arquivologia.
COUGO JUNIOR_Francisco Alcides
Esta tese tem como objeto de análise a patrimonialização cultural de arquivos no Brasil. A investigação visa compreender como se dá o processo de conformação do patrimônio cultural arquivístico brasileiro a partir de suas dimensões políticas, sócio-históricas e técnicas. Neste sentido, o estudo busca identificar os agentes sociais envolvidos na patrimonialização, assim como suas práticas, discursos e ações. Propõe, ainda, um debate crítico sobre o processo de patrimonialização de arquivos na contemporaneidade. O objeto é investigado a partir de uma perspectiva essencialmente histórica, orientada pelo método dialético de caráter qualitativo e olhar indutivo. A consecução do trabalho investigativo se deu através da pesquisa e análise de um vasto conjunto de fontes primárias (relatórios, dispositivos legais, publicações oficiais, depoimentos etc.) e secundárias (trabalhos acadêmicos, sobretudo) produzidas pelos próprios agentes sociais no intercurso da patrimonialização. A pesquisa se detém sobre o âmbito nacional do processo e contempla um recorte temporal que cobre os anos de 1808 a 2018. Neste sentido, são investigadas a gênese e o desenvolvimento dos principais agentes de patrimonialização cultural de arquivos presentes na história brasileira, sobretudo sob o ponto de vista institucional. Como conclusões, analisam-se os gestos da patrimonialização e, com destaque, os cinco atos performativos que compõem o
esquema geral de compreensão sobre o processo: a) aquisição (que pode adquirir as formas de compra, doação ou comodato); b) recolhimento (compulsório ou mediante avaliação); c) tombamento; d) declaração de interesse público e social e; e) reconhecimento através do programa Memória do Mundo. Ao fim, constata-se que os atos performativos da patrimonialização cultural de arquivos no Brasil podem assumir as características custodiais ou declaratórias e que são caracterizados, também, por opacidade, endogenia e descontinuidades. Ademais, os atos são marcados por três traços históricos essenciais: a “hipertrofia atrofiada” do Estado brasileiro, a incidência de excepcionalidades e a presença de constantes impasses a respeito dos valores atribuídos aos arquivos. A análise sobre os gestos, atos, formas, características e traços indicam, finalmente, os múltiplos caminhos que nos levam a refletir sobre o tema. E que podem servir como aportes para futuras investigações.
JULIANI BORCHARDT DA SILVA
A CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES DOS BENZEDORES DE SÃO MIGUEL DAS MISSÕES/RS A PARTIR DE SUAS MEMÓRIAS E TRADIÇÕES.
Palavras-chave: Memória. Identidades. Tradição. São Miguel das Missões/RS. Benzimento.
TESE FINAL JULIANI BORCHARDT DA SILVA
Esta tese busca estudar a construção das identidades dos benzedores atuantes na localidade de São Miguel das Missões/RS a partir de suas memórias e tradições, a fim de demarcar e debater a respeito dos principais elementos que envolvem os processos materiais e imateriais que os compõem. O ofício de benzer, prática popular representada pela busca de cura e proteção por meio da fé, manifesta concepções de mundo característico de seus praticantes. Noções de fé, saúde, vida e morte são construídas e compartilhadas socialmente, sendo que processos memoriais marcam o imaginário e as relações entre os benzedores e a comunidade em que estão inseridos, sendo ambos indissociáveis no que se refere à existência de benzedores e ao reconhecimento destes, por parte da comunidade. Tais relações são sociais e envolvem a prática, o discurso, as crenças e os valores relacionados às experiências que cada benzedor construiu ao longo de sua vida, seja no âmbito familiar ou coletivo, sendo estas determinantes, e também essenciais, para a construção das imagens desses sujeitos perante a sociedade. Nesse sentido, a respectiva pesquisa é direcionada aos benzedores atuantes na localidade de São Miguel das Missões/RS, no que toca à construção de suas identidades a partir de memórias e tradições desenvolvidas e compartilhadas coletivamente. Essas identidades se desenvolvem de forma plural e são diuturnamente influenciadas por distintos fatores, quer sejam: família, religião, patrimônio histórico, governo, natureza, comunidade, medicina, demais benzedores, bem como outros elementos que podem, a posteriori, intervir nas expressões corporais, simbólicas e orais do ofício de benzer. Para tanto, utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica relacionada aos temas ligados a benzimentos, memória, cultura, tradição, identidade e demais assuntos afins. Da mesma forma, realizou-se o acesso a acervos públicos
e particulares, em especial às residências dos benzedores, os quais forneceram elementos importantes no curso da investigação por meio de observação direta e participativa. De maneira predominante, utilizou-se a história oral para o desenvolvimento qualitativo da pesquisa, a partir da qual, por meio de entrevistas realizadas junto a uma parcela destes sujeitos, identificaram-se em suas narrativas os principais elementos que envolvem o ofício, momento de escuta que proporcionou identificar a significação de histórias, a reutilização de objetos, a ressignificação de doenças e a legitimação de suas identidades, manifestando, assim, por intermédio da oralidade, as referências tradicionais desta prática ao longo do tempo. A hipótese, portanto, que demarca os resultados da presente pesquisa, é de que os sujeitos identificados como benzedores, atuantes na comunidade miguelina, possuem sua prática alicerçada, a priori, em processos memoriais produzidos socialmente, os quais, transmitidos entre gerações, efetivam um ofício tradicional que demarca as identidades de seus praticantes e da comunidade onde vivem.
KAREN VELLEDA CALDAS
A práxis da Conservação do patrimônio material nos contextos brasileiro e espanhol sob a ótica das Representações Sociais
Palavras-chave: Conservação de Bens Culturais Móveis. Conservador-Restaurador. Representações sociais. Conservação na Espanha. Conservação no Brasil.
A Conservação dos bens culturais móveis é um importante campo da proteção do patrimônio, que visa garantir às gerações futuras a preservação dos valores e dos objetos em que se assenta a identidade dos grupos sociais. Como qualquer área especializada, trata-se de um terreno que segue a influência de distintas orientações teóricas e marcos de referência. O objetivo desta tese foi muito além de analisar a influência destas escolas e o seu peso específico. O foco central foi no sentido de examinar as concepções subjacentes à práxis dos conservadores-restauradores em dois âmbitos distintos: Espanha e Brasil. A tarefa fez aflorar as valorações destes profissionais no que tange à definição do que é uma Boa Conservação e do seu oposto, a Conservação Inadequada. Comparar a práxis do conservador-restaurador nos dois âmbitos espanhol e brasileiro foi possível graças à realização de uma missão internacional (doutorado sanduíche) proporcionada em virtude do apoio da CAPES. O estudo envolveu a realização de 51 entrevistas no total, mediante o uso de roteiro semiestruturado, sendo 29 no Brasil e 22 na Espanha. A análise do material empírico revelou uma fonte densa de informações e dados que foram organizados e analisados através do software NVivo. Há mais aspectos convergentes do que divergentes entre os depoimentos colhidos nos dois lados do Atlântico. Não obstante, alguns aspectos se sobressaem. O que pauta a Boa Conservação em ambos os países é a observância ao Código de Ética, o respeito dado aos bens culturais e sua trajetória e o cumprimento dos critérios clássicos da área, em especial do princípio da intervenção mínima. No caso brasileiro, representa 44% dos depoimentos, na Espanha, chega a 60%. O sentido inverso se mostrou ainda mais expressivo: 64% dos entrevistados brasileiros atribui ao desprestígio à ética, ao desrespeito ao bem cultural e sua trajetória e ao descumprimento aos critérios clássicos, o conceito de Conservação Inadequada. Dentre os espanhóis, a manifestação dessa ideia atinge a expressiva marca de 71%. Por outro lado, os dois países sofrem do intrusismo laboral, da exígua valorização social e de grande dificuldade de organização da categoria que ainda hoje carece da regulamentação profissional. Quanto aos modelos teóricos, o chamado ‘restauro crítico’ parece preponderar em ambos. Entretanto a reflexão crítica, base que sustenta o pensamento contemporâneo, não foi uma ideia manifestada dentre os espanhóis, o que foi visto com surpresa. Em síntese, o grande mérito desta tese se assenta em três elementos básicos. Em primeiro lugar, por trazer à tona as objetividades, mas sobretudo as subjetividades que se ocultam no cotidiano dos operadores desse mètier; em segundo lugar, por realizar um estudo comparativo que propõe o cotejo de dois contextos distintos, representados, de um lado, pelo Brasil e, de outro, pela Espanha. Em terceiro lugar, por fazer uso de um recurso heurístico singular e bastante adequado para a natureza do objeto de pesquisa, qual seja, a teoria das representações sociais, uma ferramenta eficaz que vem sendo largamente utilizada pelas diversas disciplinas que integram o campo das Ciências Sociais Aplicadas e das Ciências Humanas.
KÁTIA HELENA RODRIGUES DIAS
Memórias traumáticas da ditadura civil-militar no Brasil e na Argentina a partir dos usos de retratos de mortos e desaparecidos nas Instituições de Memória e Manifestações Sociais.
Palavras-chave: Memórias traumáticas. Ditadura civil-militar. Usos de retratos de mortos e desaparecidos. Instituições de memória. Manifestações sociais. Brasil. Argentina.
Tese – Katia Helena Rodrigues Dias
A pesquisa doutoral apresentada nesta tese teve como objeto de estudo os usos atribuídos aos retratos de mortos e desaparecidos das ditaduras civis-militares ocorridas no Brasil (1964–1985) e na Argentina (1976–1983). A violência política proveniente do Estado teve como saldo traumático um clima generalizado de terror na sociedade daquela época e vitimou, de forma direta e indireta, centenas de milhares de pessoas, entre as quais muitas estão mortas ou desaparecidas. Restaram as memórias traumáticas de um passado recente que se apresenta entre a dicotomia do lembrar e do esquecer e a luta por reparação. O campo de observação da pesquisa teve como ponto de partida o contexto mencionado e os processos de transição política e redemocratização de cada país. Nesse sentido, é importante destacar o papel dos atores sociais como protagonistas e sujeitos ativos nos processos reivindicatórios de memória, verdade e justiça dos contextos relativos às memórias traumáticas provenientes do período autoritário e repressivo das ditaduras civis-militares nesses países. Observou-se que esses sujeitos utilizam retratos como instrumento de testemunho, denúncia e luta pela memória daquele passado. Buscou-se conhecer em que medida esses retratos, os quais foram incorporados na cena pública como potentes dispositivos de sensibilização e transformação de sentidos, impactaram na consolidação das políticas de memória de cada um dos países. A metodologia empregada no trabalho foi o estudo comparativo oportunizado pela pesquisa de campo aplicada na análise dos usos atribuídos aos retratos. Tal método demostrou-se útil ao comparar dois casos similares em seus contextos de origem e nos usos dados aos retratos inseridos nesse campo de observação e indicou as seguintes fontes: a) retratos expostos nas Instituições de Memória provenientes das políticas de memória; e b) retratos empunhados ou carregados nas Manifestações Sociais organizadas a partir dos atores sociais em conjunto com a sociedade. Em ambos os casos essas ações tiveram o propósito de dar visibilidade à memória da ditadura e ao que ela representou, além de homenagear as vítimas. O uso intensificado e continuado dos retratos de mortos e desaparecidos, o modo como eles são apresentados, a carga de emoção agregada e a visibilidade dada aos usos podem ter contribuído para uma maior sensibilização à causa relativa às memórias traumáticas e às violações de direitos humanos e, portanto, maior solidarização da sociedade de um país em comparação à de outro. Essa visibilidade e esse apoio foram fundamentais para a formulação e implementação de políticas de memória e os retratos foram utilizados como potentes instrumentos reivindicatórios de reparação, reconhecimento e não esquecimento.
DEFESAS 2020
FRANTIESKA HUSZAR SCHNEID
Memórias costuradas: O traje da noiva em fotografias de casamento (1920-1969).
Palavras-chave: Fotografia de casamento. Vestido de noiva. Traje do noivo. Práticas vestimentares. Memória.
Tese Frantieska Schneid_compressed
O presente trabalho traz como referência inicial uma peça clássica do teatro brasileiro de Nelson Rodrigues “Vestido de Noiva”, analisando o histórico do surgimento da moda como campo de conhecimento. O vestuário tem, neste texto, o intuito de ressaltar o sentido simbólico da roupa, na condição de documento, de suporte informativo. Partindo do princípio em que a roupa, e, sobretudo, esta que se configura emblemática para um rito social determinante para a vida privada, em especial, a feminina, pode ser ordenada, armazenada e recuperada como fonte no campo simbólico do vestuário. O estudo das práticas vestimentares leva em consideração fatores determinantes, como cultura, fator social, econômico, etc. Ao decorrer da escrita, tais afirmações são amparados pelos estudos de autores renomados, por este motivo, observa-se que os costumes de vestir são reflexo do caráter histórico do vestuário, e que a indumentária tem muito a dizer sobre o modo de vida dos sujeitos. A presente pesquisa justifica-se trabalhar com tal tema, pois acredita-se na relevância da investigação e compreensão das roupas – aqui, em especial, o vestido de noiva – como metodologia de pesquisa fundamental para a evolução do estudo acadêmico da moda, esclarecendo, assim, a forma como as roupas têm sido negligenciadas na historiografia. O trabalho aqui desenvolvido discorre sobre a investigação da relação do vestido de noiva com a mulher e com o rito do casamento, através das fotografias, bem como se propõe a trabalhar o conceito de moda enquanto fenômeno social, cruzando a sua condição simbólica com a sua inerente natureza industrial e mercadológica. Optou-se em trabalhar com o registro fotográfico, pela sua legibilidade ao longo do passar dos anos como registro histórico, onde a palavra e a imagem constituem os veículos analisados, ressaltando a sua possibilidade de evocador de memória. Ao longo do trabalho, se faz primordial discorrer sobre pensamentos de diversos autores para firmar uma abordagem ampla sobre questões relacionadas à fotografia nas pesquisas de moda e seus elos com as memórias e sensibilidades, os pensamentos sobre o papel da moda no campo do saber foram estrategicamente reforçados, e por isso, deu-se um processo reflexivo sobre as possibilidades das imagens como fontes de estudo para a história da memória afetiva e da moda. A pesquisa destaca-se pela leitura precisa e análise das fotografias de casamento, traçando uma biografia das fotografias de tais eventos, inseridas em álbuns de família, relacionando assim, a imagem e as narrativas das noivas entrevistadas. O presente trabalho é rico em amplitude e profundidade, trata-se de uma pesquisa ambiciosa tanto qualitativa, quanto quantitativa que escolheu trabalhar com um generoso acervo de fotografias e memórias, descritas através das falas dos entrevistados. A tese aqui apresentada teve propósitos concisos, como um olhar sistemático e disciplinado do seu objeto com o máximo de profundidade possível, e total originalidade no tratamento do tema. Durante toda a leitura do trabalho, é possível observar a maneira como converge a fotografia e a roupa nesta análise através do processo memorial que ambas são portadoras.
LAURA IBARLUCEA DALLONA
MEMORIA, PATRIMONIO Y CIUDAD: Dispositivos memoriales y su impacto en la conformación de la memoria de vecinos y visitantes de Colonia del Sacramento (Uruguay)
Palavras chave: Impacto cultural. Patrimonialização. Dispositivo memorial. Patrimônio cultural. Turismo.
O trabalho analisou o processo de patrimonialização do Bairro Histórico de Colonia del Sacramento (Uruguai), considerado como um estudo de caso, pois é um bem incluído na Lista do Patrimônio Mundial e se tornou um dos principais pontos de atração do consumo turístico do Uruguai. Isso se deve, principalmente, a tal condição e à sua proximidade com Buenos Aires (Argentina). Supõe-se que esse processo de patrimonialização tenha tido uma série de efeitos considerados impactos culturais, justificando-se a pesquisa por fornecer elementos que permitem definir a noção de impacto cultural da patrimonialização, bem como conhecer as características que esses impactos tiveram no caso. Os objetivos que orientaram esta pesquisa foram: identificar os efeitos do patrimônio no sítio que podem ser classificados como impacto cultural; definir o conceito de impacto cultural; conhecer o processo pelo qual o sítio se tornou patrimônio e foi incorporado à Lista de Patrimônio Mundial; identificar as bases da narrativa do patrimônio, são concebidas como dispositivos memoriais, e seus vínculos com outras narrativas existentes na área; finalmente, analisar e avaliar o escopo dos impactos identificados.
ARIADNE KETINI COSTA DE ALCÂNTARA
“A Vila dos Pequenos Palácios de Porcelana”: os regimes de patrimonialização do conjunto arquitetônico colonial de São Luís do Maranhão
Palavras-Chave: regimes de patrimonialização; patrimônio edificado; arquitetura colonial; São Luís do Maranhão.
A presente tese consiste em estudo sobre o processo de patrimonialização do conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico de São Luís do Maranhão, estabelecido pelos níveis de tombamento federal, com sua inscrição nos livros do tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico e de Belas Artes, pelo Iphan, em 1974; estadual, com a inscrição no Livro do Tombo do Patrimônio Histórico do Estado do Maranhão, em 1986; e internacional com a inclusão do Centro Histórico de São Luís na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO, em 1997. A hipótese central é de que as narrativas produzidas pelos agentes institucionais, políticos e sociais envolvidos no decurso dessa legitimação fundamentaram a instauração de regimes de patrimonialização, que nortearam as políticas públicas de memória. Abordando diferentes contextos em que estão inseridos discursos sobre o patrimônio, identificamos, entre muitos outros conflitos, dois debates centrais que antagonizaram a definição do valor histórico e do valor artístico do acervo colonial ludovicense. A primeira narrativa destaca o valor da evolução histórica do conjunto urbano como perspectiva mais relevante, sendo adotada eventualmente pelo Iphan, e amplamente aceita pela UNESCO. A segunda, assume que o valor artístico constituído pela autenticidade arquitetônica do sobrado maranhense se sobrepõe a urbanidade e a historicidade da paisagem do antigo núcleo histórico da cidade. As divergências de narrativas sobre a originalidade desse patrimônio edificado geraram, portanto, diferentes regimes de autenticidade que tentaram “oficializar” uma imagem de São Luís por meio de diversos mecanismos de legitimação.
ANDRÉA DA GAMA LIMA
TERRITÓRIOS DO CHARQUE EM JAGUARÃO, RS: PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E DIÁSPORA AFRICANA NA FRONTEIRA MERIDIONAL DO BRASIL
PALAVRAS-CHAVE: Charqueadas de Jaguarão. Diáspora Africana. Patrimônio cultural.
Dissertação Andrea da Gama Lima
Essa tese analisa as charqueadas da cidade de Jaguarão, situadas ao sul do Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai. As charqueadas, nesse território, localizaram-se, desde o início do século XIX, às margens do rio Jaguarão, ou no curso de seus afluentes. Posicionadas estrategicamente em uma área de fronteira com o Uruguai, caracterizaram-se pelo contrabando de gado e pelo largo fluxo de mercadorias. Foram marcadas, também, pela grande presença de africanos e afrodescendentes, uma vez que os processos de manufatura da carne contaram com a mão de obra de escravizados e escravizadas. Na margem esquerda do rio Jaguarão, onde se concentrou o núcleo saladeiril desta fronteira, há várias ruínas e estruturas destes estabelecimentos. Nesta pesquisa, procuramos dar visibilidade a estes territórios, alertando para o seu potencial para as investigações sobre patrimônio cultural e diáspora africana.
DEFESAS 2019
NORIS MARA PACHECO MARTINS LEAL
A TRAJETÓRIA DE UMA CONSTRUÇÃO PATRIMONIAL: A TRADIÇÃODOCEIRA DE PELOTAS E ANTIGA PELOTAS NA CONSTITUIÇÃO DO MUSEU DO DOCE DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
Palavras-chave: patrimônio material; patrimônio imaterial; tradição; museu, Museu do Doce da UFPel.
Tese Noris Mara Pacheco Martins Leal
A pesquisa aqui desenvolvida buscou compreender as motivações que levam a musealização do doce de Pelotas, e a da escolha da Casa do Conselheiro Maciel, Casa 08, como sua sede, indicar as forças e interesses, institucionais e políticos, que manejaram o processo e definiram a condição deste Museu. Através de pesquisa exploratória com levantamento de fontes documentais e depoimentos de pessoas envolvidas no planejamento da construção do Museu Brasileiro do Doce, podemos perceber que a escolha dessa Casa, não é um ato aleatório, da Associação de Amigos do Museu Brasileiro do Doce e da Prefeitura, mas sim é resultado de uma política de valorização do patrimônio cultural local como forma de desenvolvimento social e econômico. Analisar esse movimento de institucionalização da memória é de grande importância para entender como acontecem estes processos conduzidos por grupos locais e com atuação do IPHAN, na consolidação das escolhas locais como patrimônio nacional. Para tanto é necessária uma visão crítica deste processo, mostrar a trajetória das decisões e práticas em relação ao patrimônio material e imaterial e os discursos inerentes a estas ações. Foram associados os dois patrimônios da cidade o material, representado pela casa, o imóvel que é um dos primeiros exemplares de arquitetura eclética a ser tombado, no Brasil, com um importante conjunto de bens integrados que representam um modo de vida das famílias ligadas à produção de charque no século XIX na cidade, e o imaterial, pela tradição doceira que, no momento de escolha da sede, ainda, não tinha o seu registro como patrimônio imaterial brasileiro, mas cujo o trabalho de inventário já havia iniciado.
Danilo Kuhn da Silva
Festa, dança e alegria: uma etnografia musical pomerana ao sul do sul do Brasil – São Lourenço do Sul/RS
Palavras-chave: Pomeranos; Música; Etnografia musical; Memória e identidade; Hibridismo.
Tese_Danilo Kuhn da Silva_Festa, dança e alegria_versão final_para o PDF_compactada
Essa etnografia musical pomerana ao sul do sul do Brasil principia do meu engajamento docente ao Projeto Pomerando, onde tive meus primeiros contatos com a língua e com a música pomerana. Esse projeto foi desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Germano Hübner, situada na localidade de Santa Tereza, 3º Distrito de São Lourenço do Sul, zona rural. A etnografia percorreu, primeiramente, um período (auto/pré)etnográfico, objetivando o situar-se do etnógrafo e a devida entrada de campo. Um período subsequente buscou o amadurecimento e o aprofundamento metodológico e teórico, dirigido à metodologia de pesquisa e à utilização da Nova Musicologia e do conceito de memória cultural, da Etnomusicologia e da etnografia musical, da História Oral, da fotografia, da Organologia, e dos conceitos de hibridismo cultural e de tempo histórico como categorias de análise. Após, a comunidade pesquisada, os descendentes de pomeranos da Serra dos Tapes, foi contextualizada à luz da historiografia acerca dos pomeranos e seu processo emigratório, e da reflexão concernente à memória, à identidade e ao patrimônio cultural pomerano na região. Então, finalmente, realizei uma etnografia musical pomerana propriamente dita, através da análise de algumas canções tradicionais pomeranas registradas previamente, à luz da Nova Musicologia e da memória cultural, e de minha inserção, enquanto bandoneonista, em uma bandinha pomerana da região, o Musical Boa Esperança, período que possibilitou uma análise do contexto musical alemão/pomerano de dentro do mesmo. Após a referida etnografia, houve espaço para pesquisas complementares onde outros aspectos da memória e da identidade pomeranas foram abordados por meio de entrevistas de História Oral – com bandoneonistas locais e uma filha de um falecido luthier de bandoneons da região – e de análise organológica de fotografias pretéritas – continentes da presença da música na comunidade estudada. Houve, ainda, espaço para discussão sobre o aspecto mais evidente da etnografia musical empenhada, a saber, o hibridismo, enquadrado na moldura de um conceito de tempo histórico. Concluiu-se que, apesar do evidente hibridismo – um futuro presente, seu horizonte de expectativas, associado ao desejo de atualização –, a música alemã/pomerana praticada na Serra dos Tapes no presente permanece ligada às suas raízes – ao seu passado presente, seu espaço de experiência, vinculado às suas tradições musicais –, situada em um ponto de equilíbrio cultural tal que a comunidade local a reconhece e a respalda.
Daniele Borges Bezerra
A ressonância afetiva das memórias como meio de transmissão para um patrimônio difícil: monumentos em antigos leprosários
Palavras-chave: memórias difíceis; patrimônios ambíguos, narrativas verbovisuais; regime de visibilidade; lugar sensível, monumento refratário.
Tese Daniele Borges Bezerra.pdf
Esta tese tem como objeto de estudo a difícil transmissão das memórias marcadas por eventos dolorosos. O argumento central é que a comunicação de patrimônios difíceis passa pela interpretação sensível das memórias e requer um meio de transmissão aberto. Para tanto, concentramos nosso estudo de campo em dois universos de pesquisa que foram o destino incontornável de pessoas acometidas pela lepra, no período em que o isolamento era compulsório: o Hospital-Colônia Santa Isabel (HCSI), em Minas Gerais, e o Hospital-Colônia Itapuã (HCI), no Rio Grande do Sul. Atualmente em fim de vida, mantendo funções asilares ou reestruturados para a prestação de outros serviços, tais lugares têm sido considerados por sua relevância patrimonial. Entretanto, ainda preservam resquícios de sua invisibilidade inicial, sendo sua história pouco conhecida pela população. Além disso, os processos de patrimonialização dos lugares nem sempre dedicam atenção à dimensão imaterial desse patrimônio, relacionada à memória de seus últimos moradores, hoje idosos. Outro problema evidenciado diz respeito à domesticação do passado pelos memoriais institucionais criados nesses locais, que podem transformar o sofrimento em objeto de fetiche. Assim, parte-se da hipótese de que as memórias do confinamento estão ancoradas, de modo involuntário, na espacialidade dos lugares e, de modo intencional, nos memoriais, e seus últimos habitantes nos possibilitam fazer convergir as informações do espaço e as informações expostas nos memoriais, preenchendo as lacunas deixadas pelos não ditos. Desse modo, ao criarmos um audiovisual, intitulado Monumento refratário, propomos um meio de transmissão que traduz nosso material empírico em lugar sensível e, com isso, torna as memórias visíveis e abertas às diferentes interpretações do passado. Conclui-se que, por se constituir como linguagem engajada, que responde ao problema da opacidade, a arte contemporânea está articulada à ética que fundamenta as ações de transmissão memorial e nos permite captar e transmitir dimensões não contempladas pelos dispositivos memoriais tradicionais. Dito isso, consideramos as contribuições trazidas neste trabalho como resultado de um olhar multidisciplinar que conecta áreas afins, como memória, patrimônio, antropologia visual, arte e fotografia, no intuito de alcançar uma concepção ampla de monumento que responda ao problema da difícil transmissão. Com isso queremos afirmar que a arte e as linguagens visuais criam lugares de inscrição memorial que contribuem para a extroversão das memórias difíceis.
Marina Gowert dos Reis
Patrimônio Cultural Brasileiro na era digital: da digitalização de acervos à preservação participativa na internet
Palavras-chave: patrimônio cultural na era digital; patrimônio cultural digitalizado; patrimônio cultural brasileiro; patrimônio cultural digital 3.0; apropriação digital patrimonial
A internet e as tecnologias digitais são os principais meios de comunicação na atualidade. As formas de interação possibilitadas por essas não estão limitadas somente ao uso técnico ou cotidiano. Observamos a crescente utilização dessas em processos de preservação do patrimônio cultural, os quais tomam diversas formas, não somente influenciadas pelos limites tecnológicos, mas também pelas vontades das pessoas que fazem uso dessas tecnologias. Chamamos de patrimônio cultural na era digital as interações com o patrimônio cultural no contexto das novas tecnologias da informação, sejam essas técnicas ou pessoais. Faz-se necessário nomear esse período pelo fato do mesmo ser diferente dos anteriores, onde as tecnologias digitais não eram constituintes do principal meio de comunicação cotidiano. Nesta pesquisa desenvolvemos um estudo sobre os usos das tecnologias digitais para fins de preservação patrimonial no contexto brasileiro. Objetivamos observar a inclusão de práticas digitais nos processos de preservação patrimonial nacional, sejam esses estatais, institucionais e comunitários. Fazemos esse estudo dividido em três períodos, esses regidos por estudos da área do patrimônio cultural na era digital e observando essas instâncias tradicionais da preservação patrimonial interpelam-se e não podem ser completamente separadas por períodos, sejam esses temporais ou interpretativos. Os primeiros dois períodos, Patrimônio Cultural Digital 1.0 (off-line) e o 2.0 (on-line), partem da literatura da área e são observados no contexto nacional. Propomos um terceiro período, Patrimônio Cultural Digital 3.0, relacionado a esses esforços de preservação participativa na internet, acontecem a partir de ou independentemente de instituições tradicionais de preservação. Propomos, ainda, uma classificação em três tipos de apropriação patrimonial que acontecem hoje na internet: apropriação intencional positiva, a apropriação intencional negativa, e a apropriação não intencional.
DEFESAS 2018
Cristiano Gehrke
Imagens e cotidiano de imigrantes alemães, franceses, italianos e seus descendentes na Serra dos Tapes/RS
Descrição e interpretação dos acervos fotográficos do Museu da Imigração Pomerana, Museu da Colônia Maciel e Museu da Colônia Francesa
Palavras-chave: Imigração – Fotografia – Museu
Anexo III (parte 1)Anexo III (parte 2)
Influenciados por um fenômeno conhecido como mnemotropismo e pelas políticas patrimoniais vigentes foram criados, na última década, na região conhecida como Serra dos Tapes, no estado do Rio Grande do Sul, o Museu Etnográfico da Colônia Maciel, o Museu da Imigração Pomerana e o Museu da Colônia Francesa como forma de preservar parte do patrimônio cultural e destacar as particularidades de cada um dos grupos étnicos responsáveis pela articulação de criação destas instituições: italianos, alemães/pomeranos e franceses, respectivamente. Sendo assim, o objetivo desta tese é realizar um estudo analítico – comparativo dos acervos fotográficos que estão preservados em cada um destes museus, estabelecendo um padrão de recorrência temática e traçar um paralelo entre os três grupos estudados, no sentido de determinar, recorrências e divergências em relação à representação fotográfica de suas práticas cotidianas e assim apontar quais os aspectos culturais mais representativos de cada grupo, quais destes aspectos estão registrados fotograficamente e quais não e como questões relacionadas às identidades étnicas e ruralidade podem ter vindo a influenciar ou não a produção destes registros imagéticos.
Ricardo Luís Sampaio Pintado
A imaginação museal de Lina Bo Bardi: expografias (1947-1968)
Palavras-chave: Lina Bo Bardi; Museu de Arte de São Paulo – MASP; Museu de Arte Moderna da Bahia – MAMBA; expografia; imaginação museal.
Esta tese trata da museografia desenvolvida pela arquiteta italiana Lina Bo Bardi no período de 1947 a 1968, a partir da instalação do Museu de Arte de São Paulo até a transferência para a sede na Avenida Paulista. Trata também da museografia desenvolvida neste ínterim para o Museu de Arte Moderna da Bahia. Especificamente, analisa a expografia, suas referências e desdobramentos nos museus enfocados. Ao tratar da expografia aproxima-se da arquitetura dos espaços expositivos e dos museus que projetou e instalou. A partir de fontes escritas e registro fotográfico descreve a expografia, seus dispositivos e os locais onde foram utilizados. Pretende-se assim, contribuir para a compreensão das práticas museográficas no Brasil a partir da análise da expografia desenvolvida por Lina Bo Bardi como contribuição para a expansão da imaginação museal no Brasil.
Keli Cristina Scolari
Análise de massas de reintegração volumétrica para a restauração de faianças do patrimônio edificado
Palavras-chave: faiança; patrimônio edificado; conservação-restauração; reintegração volumétrica.
A cidade de Pelotas, RS, possui em seu patrimônio eclético e historicista um conjunto de peças decorativas de fachadas composto por obras em faiança. Este acervo representou o apogeu econômico e cultural da cidade e da região no século XIX. O estado avançado de degradação do conjunto de quinze esculturas em faiança existentes no prédio do Museu Municipal Parque da Baronesa, local pertencente ao patrimônio cultural pelotense e nacional, nortearam o desenvolvimento do presente trabalho, que teve por objetivo estudar massas de reintegração volumétrica para serem utilizadas nos processos restaurativos de objetos cerâmicos em faiança que se encontram expostos às intempéries. Para tanto, após a caracterização das massas faianças das esculturas do conjunto, foram testadas massas compostas por três resinas poliméricas termofixas de base acrílica, epóxica e poliéster, que foram submetidas a ensaios quanto ao envelhecimento acelerado artificial, porosidade, resistência à tração, resistência à flexão, adesividade e durabilidade. Os resultados mostraram que a restauração é possível com a utilização da massa de reintegração volumétrica com resina poliéster.
ALAN DUTRA DE MELO
A SOCIEDADE RECREAÇÃO FAMILIAR JAGUARENSE (1852-1881) E O CLUBE JAGUARENSE (1881-1975): ENTRE A HISTÓRIA E A MEMÓRIA NA FRONTEIRA SUL EM JAGUARÃO RS
Palavras-chave: Carnaval de Jaguarão. Clube Jaguarense. História. Memória. Sociedade Recreação Familiar Jaguarense.
O objeto de nosso estudo parte do Clube Jaguarense, fundado em 1881, inserindo após como integrante do trabalho a Sociedade Recreação Familiar Jaguarense (1852-1881), extinta para dar lugar ao clube. A justificativa da pesquisa parte da sua importância, enquanto história e memória, da sociedade civil organizada, para realização de atividades lúdicas e recreativas em Jaguarão, da década de 1850 do século XIX até o fim do clube em 1975. A pesquisa é de caráter qualitativa, tal como configura Gray (2012), em que a preocupação está na observação e reflexão à partir de um banco de dados, composto para o estudo, com jornais dos séculos XIX e XX, entrevistas realizadas entre os anos de 2016 e 2017 e documentos do acervo da Associação Cruzeiro Jaguarense. A periodização do trabalho tem como limite o ano de 1975, quando o clube realizou a fusão com o clube de futebol Esporte Clube Cruzeiro do Sul. A pesquisa identificou a Sociedade Recreação Familiar Jaguarense, também conhecida como Bailante, no período Imperial e o Clube Jaguarense, ligado aos grupos mais tradicionais no século XIX. Destaca-se que o Jaguarense foi criado, como forma de modernização social da sociedade imperial, pela liderança de Henrique Francisco d’Ávila do Partido Liberal (Monárquico). Após a criação do Clube Jaguarense, este desenvolveu suas atividades, em oposição e complementaridade à atual Sociedade Clube Harmonia Jaguarão, que na sua gênese na penúltima década do século XIX possuía a maioria dos seus membros vinculados aos republicanos. O trabalho revelou o carnaval de 1881 como o primeiro grande carnaval de Jaguarão, com ampliação do espaço público bem como marco das disputas políticas locais, tática dos republicanos, em especial liderados por Manoel de Deus Dias,fazendo uso de 8 carros e uma banda na frente satirizando as conquistas dos liberais em suas obras públicas em andamento, assim como a realização de baile na Bailante com fantasiados, incluindo monarcas europeus com referência evidente à monarquia declinante brasileira. Cerca-se para tal análise dos conceitos de táticas e estratégias de Michel de Certeau com sua referência polemológica. O Jaguarense, logo após, é criado como estratégia em resposta a esta ação republicana. Depois, tem-se no carnaval de 1889 é selada a disputa entre os clubes locais Jaguarense e Harmonia. Assim a disputa que nasce política, permanece clubística e familiar, sobretudo no carnaval. E identifica-se o carnaval de 1921 como produto cultural, filmado para o cinema, com a presença dos primeiros turistas em Jaguarão, descobrindo – neste momento – a alta maturidade da festa. Por fim, apresenta-se um panorama das entidades mencionadas, com atividades sociais, políticas e recreativas, cujo ápice, além do carnaval, são os bailes, pode-se dizer, sob o efeito de terpsícore. Além disso, a entidade, cumpriu inúmeras vezes as funções de salão público, para eventos oficiais. E, por fim, destaca-se que o clube social, ao longo do século XX, foi perdendo a sua proeminência, devido também à opção da sociedade sul rio-grandense pelo modelo do Centro de Tradições Gaúchas (CTG), que embora complementem aos clubes em sua gênese, mais tarde, mantém maior projeção simbólica.
Francine Morales Tavares Ribeiro
O PLANO DE GESTÃO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA NO PLANEJAMENTO E GESTÃO DAS ÁREAS URBANAS CLASSIFICADAS COMO PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE.
Palavras-chave: Plano de Gestão. Planejamento. Governança. Políticas Públicas. Patrimônio da Humanidade.
Este trabalho aborda o planejamento, a governação e as políticas públicas a partir de uma perspectiva centrada nas múltiplas transformações urbanas que marcaram a adaptação a novas formas de gestão, as quais remetem ao conceito de governança baseada em práticas mais colaborativas, participativas, inclusivas e integradas no desenvolvimento de ações na área urbana. Ao passo que são desenvolvidas metodologias que levam em conta as situações complexas em que o patrimônio histórico está inserido e que se materializam em um plano de gestão, instrumento orientador na conciliação das demandas do patrimônio cultural com as necessidades dos múltiplos usuários da área urbana histórica. O tema da tese é a gestão de políticas públicas de patrimônio integradas às políticas urbanas de desenvolvimento local e a questão que se coloca como problema é precisamente identificar se o plano de gestão, o qual surge como obrigatório nas diretrizes operacionais da UNESCO desde o ano de 2005, constitui-se em uma ferramenta essencial na condução de novos compromissos no que diz respeito ao planejamento e gestão da paisagem urbana histórica. Assim, o objetivo geral da tese é clarificar o entendimento do plano de gestão, tendo em atenção o seu processo de operacionalização, seus conteúdos e ferramentas, bem como os atores envolvidos em sua elaboração. De modo a auxiliar no caminho da investigação, os objetivos específicos são, apresentar o processo de transformação da gestão de áreas históricas, compreender a emergência do conceito de governança (como alternativa aos modelos de governação), apresentar a relação da governança, do planejamento e das políticas públicas e importância desses elementos no plano de gestão, caracterizar as novas metodologias utilizadas na gestão do patrimônio e refletir até que ponto a proposta dos planos representa uma nova política de planejamento urbano para as áreas históricas patrimônio mundial. Para orientar tais análises, além de exemplos de planos de gestão elaborados, sobretudo, na América Latina e Europa, foi tomado como eixo central da tese o estudo de caso do Plano de Gestão do Centro Histórico do Porto Patrimônio Mundial (Portugal) e do Plano de Gestão para o Sítio Histórico de Olinda (Brasil). Desses planos, resulta uma reflexão sobre suas especificidades em relação a forma e conteúdo e do real papel que desempenham nas políticas urbanas integradas. Conclui-se o estudo com a ideia geral de que o plano de gestão representa, frente às novas dinâmicas de uma complex-cidade, um instrumento que marca novos compromissos urbanos à gestão das áreas históricas. Entretanto, se não estiverem alinhados em um comprometimento nas agendas das lideranças políticas locais, subsistirão vários desencontros entre teoria e prática, que traduzem a ideia de um contexto de políticas integradas excessivamente teorizadas e insuficientemente territorializadas.
Luciana de Castro Neves Costa
Paisagem Cultural: desafios na construção e gestão de uma nova categoria de bem patrimonial
Palavras-chave: Paisagem. Paisagem Cultural. Patrimônio Cultural. Gestão.
Tese_Luciana_Costa_paisagem_cultural corrigida
Compreendida como uma porção espacial representativa do processo de interação entre sociedade e meio ambiente, a partir de suas marcas e dos valores atribuídos, a categoria de Paisagem Cultural figura dentro de um movimento de ampliação da compreensão de patrimônio cultural. Partindo deste conceito amplo, esta pesquisa visa analisar o processo de construção da categoria de Paisagem Cultural, tanto pela UNESCO quanto pelo IPHAN, buscando analisar as relações dialógicas que tal entendimento propõe-se a articular entre natural e cultural, bem como os valores que orientam a seleção e gestão desta tipologia de bem patrimonial. Busca-se ainda compreender sua implementação enquanto instrumento de preservação, a partir do estudo de caso de Testo Alto (Pomerode) e Rio da Luz (Jaraguá do Sul), dois núcleos rurais integrados em Santa Catarina, que constituem a única Paisagem Cultural Brasileira declarada até o momento. Para tanto, este trabalho utiliza como suporte metodológico pesquisa bibliográfica e documental, e entrevistas semiestruturadas. Como resultados alcançados por meio desta pesquisa, podemos perceber que, apesar desta categoria possibilitar o enquadramento de referentes patrimoniais até então não contemplados nas políticas de preservação, a partir de um conceito síntese, algumas dificuldades de implementação ainda se impõem, como o enquadramento do urbano como Paisagem Cultural, a gestão da dinamicidade da paisagem como patrimônio e, principalmente no Brasil, a complexidade do instrumento de gestão adotado, constituído pelo pacto de gestão compartilhada.
Darlan De Mamann Marchi
O patrimônio antes do patrimônio em São Miguel das Missões: dos jesuítas à UNESCO
Palavras-chave: São Miguel das Missões; patrimônio missioneiro; processos de patrimonialização; jesuítas; ativação patrimonial
Esta tese busca retomar os processos de patrimonialização dos remanescentes arquitetônicos da redução jesuítico-guarani de São Miguel das Missões/RS, a fim de demarcar e debater o contexto de sua ativação patrimonial. A hipótese que norteou o trabalho foi a de que a primeira ação no sentido da patrimonialização de São Miguel ocorreu através de um projeto regional, ainda nos anos 1920, anterior, portanto, ao período do Estado Novo com o protagonismo do SPHAN. Assim, optouse por uma análise regressiva, iniciando pelo processo mais recente, quando da inscrição do sítio histórico na lista do Patrimônio Mundial da UNESCO e as atuais políticas patrimoniais em desenvolvimento pelo IPHAN, retornando, posteriormente, ao processo de tombamento nacional do final dos anos 1930 e à inserção das Missões nos quadros de uma política de teor fortemente nacionalista. Ao retomar o processo de ativação, em 1922, quando São Miguel das Missões foi reconhecido como “lugar histórico” pelo governo estadual republicano de Borges de Medeiros, buscou-se observar os valores designados ao patrimônio jesuítico-guarani naquele período a fim de refletir sobre suas influências e mudanças frente aos processos posteriores e aos desafios atuais. A ação patrimonializadora ocorrida em nível regional, antes da existência do SPHAN, aparece em consonância com o retorno de religiosos jesuítas à região para atuarem na criação da colônia de imigrantes alemães de Serro Azul, no início do século XX. Nesse sentido, observou-se que os jesuítas lideraram o primeiro projeto patrimonial, associando Estado, Igreja e ciência, através da valorização devocional e cívica dos vestígios materiais e imateriais relacionados com as reduções jesuítico-guaranis. Desse período surgem os primeiros empreendedores da memória, como foi o caso do jesuíta Luiz Gonzaga Jaeger. Na atualidade, identificam-se outros empreendedores da memória com forte apelo popular que promovem o turismo, reativam práticas, crenças e lendas, criam espaços museológicos, promovem comemorações e que ora contribuem e ora se insurgem aos discursos oficiais do patrimônio. Dessa forma, o estudo buscou evidenciar que os processos de patrimonialização em São Miguel das Missões, ao longo de mais de nove décadas, com suas vicissitudes e em seus contextos históricos, são fatos sociais constituidores da memória coletiva das comunidades locais.
Jerusa de Oliveira Michel
Jornalismo Comunitário na construção, compartilhamento e permanência das Memórias Sociais: O caso do Jornal “O Pescador” na/da Colônia de Pescadores Z3/Pelotas.
Palavras-chave: memória; identidade; jornalismo comunitário, estudo de caso
Este trabalho partiu da hipótese de que o jornalismo comunitário constrói, compartilha e dá permanência as memórias da comunidade de pescadores Z3. Ao juntar em uma mesma pesquisa Memória e Jornalismo Comunitário conseguimos trabalhar de forma multidisciplinar mostrando como estes se imbricam e como a memória é estudada por vários campos do conhecimento, pois, no Jornalismo, cuja prática permeia a sociedade como um todo, essa relação não é clara nem no seu produto e tampouco na prática profissional e para os próprios profissionais no Brasil, embora já venha sendo discutida em outros países. Sendo assim, o objetivo principal deste trabalho foi explicar se memória, identidade e Jornalismo se permeiam, e o quanto isso afeta a memória da comunidade e dos jornalistas. O tema do trabalho se insere no contexto do jornalismo comunitário, uma vez que esse se difere da grande imprensa ao trazer consigo a humanização e a realização do sujeito, ao auxiliar na sua socialização como ser, conferindo-lhe importância. Devido à imbricação das diferentes áreas, a saber, a memória e o jornalismo – com atenção especial ao jornalismo comunitário, não existem autores que sejam uma referência única que norteie o trabalho. Ele é multidisciplinar e, por isso, necessita de diferentes autores e correntes teóricas para dar conta do objeto, e embora existam diferentes concepções e abordagens teóricas para cada um desses campos, existem áreas de convergência que nos possibilitaram seguir o caminho escolhido. Para o desenvolvimento deste trabalho, aliado à pesquisa qualitativa e com o objetivo de ampliar as possibilidades de análise e obtenção de respostas para o problema proposto na pesquisa, utilizamos o Estudo de Caso e a Análise de Conteúdo. Como estudo de caso utilizamos o jornal comunitário “O Pescador”, veículo impresso e de distribuição gratuita, que teve sua origem em 2000 e foi editado até 2016, pois acredita-se que o referido veículo constitui-se em um instrumento narrativo, no qual as histórias da comunidade estão registradas. Para analise do estudo de caso realizamos uma pesquisa empírica onde foram feitas12 entrevistas com moradores da Colônia Z3 e com oito jornalistas que posteriormente foram analisadas dentro de eixos temáticos em que foram agrupadas por sua semelhança e proximidade quanto ao conteúdo. Ao fim, pode-se afirmar que está correta a hipótese que norteou esta tese de que há uma relação direta entre memória e a produção jornalística, na Colônia de Pescadores Z-3, e que o jornal “O Pescador” constitui-se em um instrumento narrativo, em que suas histórias estão registradas.
Annelise Costa Montone
Memórias de uma forma de morar: a Chácara da Baronesa, Pelotas, RS, BR. (1863-1985)
Palavras-chave: memória; patrimônio; casa museu; cultural material; Museu da Baronesa.
TESE VERSÃO FINAL Annelise Montone
A presente pesquisa tem como objeto de estudo a antiga Chácara da Baronesa, hoje transformada no Museu Municipal Parque da Baronesa, patrimônio histórico municipal, situada em Pelotas, RS. A morada foi edificada na segunda metade do século XIX para abrigar a família de Annibal Antunes Maciel Jr. e Amélia Hartley Antunes Maciel, futuros Barões de Três Serros. O recorte temporal proposto, de 1863 a 1985, abrange o período em que a chácara foi habitada por três gerações no mesmo núcleo familiar e, após um período de declínio, passou à tutela da Prefeitura de Pelotas. Entre 1978 e 1982, o prédio sofreu uma reforma restaurativa que o preparou para o desempenho da nova função: museu. Pretende-se compreender as memórias reveladas, ou silenciadas, pela Chácara da Baronesa, por meio do estudo das materialidades que alcançaram nosso tempo, desvendadas por diferentes documentos, tendo como método de análise a noção de biografia cultural dos objetos. A análise insere-se nos campos de estudo da memória, patrimônio, arquitetura e urbanismo e cultura material. A história da trajetória da chácara foi construída com base na formulação de perguntas, cujas respostas foram investigadas em diferentes tipos de documentos, principalmente aqueles preservados no Museu da Baronesa. Especificamente, buscou-se descrever o contexto histórico, social e cultural da moradia e do museu; identificar nas fontes pesquisadas as marcas dos diferentes ciclos de vida da chácara, relacionadas às materialidades e sociabilidades do lugar; e interpretar o lugar estudado em seu momento de transição, de espaço privado a espaço público. Foi possível afirmar que as intervenções das políticas públicas municipais deixaram marcas, mutilações, ausências e acréscimos encontrados no estudo da chácara como artefato. Sobretudo, a intervenção, para mudança de função, provocou a demolição da construção que abrigava os trabalhadores, apagando sua memória. Sua interpretação como objeto da cultura material, por intermédio da abordagem biográfica, ofereceu sentido à construção de uma relação entre o tangível e o intangível de suas memórias, suas relações sociais e seu papel como patrimônio.
Andressa Szekut
Migrantes brasileiros no distrito de Santa Rita, departamento de Alto Paraná, Paraguai: memórias, representações e territorialização
Palavras-chave: memórias; migração; brasileiros no Paraguai; representações;
Nesta Tese, analiso memórias, representações e relações de migrantes brasileiros que se fixaram no município de Santa Rita, localizado no departamento de Alto Paraná, região Oriental do Paraguai, no processo de colonização recente iniciado na década de 1970. Tenho como objetivo, identificar e analisar as (re)construções de memórias e representações entre migrantes brasileiros em Santa Rita, buscando entender como estes fixam-se, organizam-se, integram-se na sociedade paraguaia e constituem laços de pertencimento e continuidade. Nesta perspectiva, contextualizo esse processo migratório; levanto e analiso memórias de migrantes; identifico e analiso formas de organização dos migrantes brasileiros; observo e descrevo representações que caracterizam as relações sociais estabelecidas ali; e mostro como esses migrantes constituem vínculos de coletividade. A pesquisa foi interdisciplinar, conjugando teorias, métodos e metodologias, com base nas concepções de memórias, representações, fronteiras, territórios, redes. Com revisão bibliográfica, apoiada em livros, artigos e documentos institucionais que tratam da formação da região Oriental paraguaia e que permitiram compreender o contexto em que se insere a migração de brasileiros ao Paraguai. O trabalho de campo foi desenvolvido entre fevereiro e julho de 2015 em Santa Rita, com realização de observação participante e entrevistas semiestruturadas, o que permitiu me aproximar e observar a realidade vivida, as relações estabelecidas, e as (re)construções memoriais, representacionais e identitárias. Esse conjunto de fontes e dados foi apreendido a partir da compreensão de que memórias estão em constante (re)construção e que as representações são definições do que se busca vincular à imagem, que envolvem dimensões materiais e simbólicas. Com isso, considero: que o contexto e as relações históricas, influenciaram nas relações entre brasileiros e paraguaios na região estudada; e que o processo de colonização ocorreu por meio de migrações e fixações que se estabeleceram a partir de diversas redes, o que reterritorializou a região formando um novo campo social, que está diretamente relacionado com o agronegócio transnacional. Dessas considerações, concluo que enquadramentos de memórias conferem imagem de pioneiros aos migrantes brasileiros, e ao mesmo tempo (re)constroem memórias que dão base para sentimentos de pertencimento e continuidade entre esses sujeitos; e que os migrantes brasileiros transformaram o espaço de fixação a partir de seus referenciais e interesses, com adaptações aos referenciais paraguaios, constituindo uma nova territorialidade na região.
Gianne Zanella Atallah
Memórias do Clube Caixeiral de Rio Grande/RS
Palavras-chave: caixeiros – clube caixeiral de Rio Grande – memória – esquecimento – conflito
TESE FINAL VERSÃO FINAL Gianne Atallah
O presente estudo intitulado Memórias do Clube Caixeiral de Rio Grande/RS tem por objetivo analisar a trajetória da memória social de uma categoria, os caixeiros na cidade de Rio Grande/RS diante de suas ações, tanto político-econômica, quanto sócio-culturais, e como essa memória micro coletivas foi sendo inserida ao processo macro memorial. Após apresentar brevemente um histórico sobre a expansão dos caixeiros no Brasil e no Rio Grande do Sul a partir da segunda metade do século XIX, bem como o seu principal objetivo de luta que era o fechamento das portas do comércio aos domingos e os feriados na parte da tarde. Assim, novos contextos sociais que passaram a se entrecruzar, ofertaram uma diversidade de atividades socioculturais, e que aqui foram rememoradas através de notícias, relatos pessoais, imagens, documentos, de caráter institucional, tanto público como privado de pessoas que delinearam a classe e o clube caixeiral, mantendo mais do que um contato familiar, ou a extensão do lar, mas um encontro em si mesmo. A rememoração propiciou também uma discussão sobre o esquecimento e seus desdobramentos a partir do nosso objeto de pesquisa, analisando os conflitos que se interseccionaram num passado, criando ambiguidades memoriais no presente.
Marlise Buchweitz
Literatura, memória e paisagem: o pampa em Vitor Ramil, Juan José Saer e Saúl Ibargoyen
Palavras-chave: memória, literatura, paisagem, Pampa, Vitor Ramil, Saúl Ibargoyen, Juan José Saer.
A presente tese é um estudo de literatura comparada que diz respeito a uma análise de quais elementos dentro de narrativas literárias remetem à memória coletiva da paisagem do Pampa. Os dados empíricos foram levantados após a escolha de duas obras ficcionais e um ensaio de cada um dos três autores, pertencentes a um dos países que abrangem a região pampeana: Pequod, Satolep e A Estética do Frio, de Vitor Ramil, brasileiro (do Rio Grande do Sul); Toda la tierra, Volver… volver e Las fronteras y el mundo, de Saúl Ibargoyen Islas, uruguaio; El entenado, La ocasión e El río sin orillas, de Juan José Saer, argentino. Com base nas obras, buscou-se relacionar a descrição, pelos autores, da paisagem com a ideia de que tal percepção nos lembra de um trabalho literário, no sentido da criação de um mapa imagético montado a partir da leitura, ao mesmo tempo em que a leitura da ficção, em contrapartida, também interfere na percepção da paisagem. A partir de diferentes teóricos, como Jöel Candau, Maurice Halbwachs, Henri Bergson, Pierre Nora, Octave Debary, Daniel Fabre, Walter Benjamin, Birgit Neumann, entre outros, e a partir da discussão de categorias como memória individual, memória coletiva, memória afetiva, literatura e memória, literatura e paisagem, fez-se um estudo comparativo entre as obras buscando objetos/elementos que nos remetem a uma representação da paisagem do Pampa.
Silvana de Fátima Bojanoski
Terminologia em Conservação de bens culturais em papel: produção de um glossário para profissionais em formação
Palavras-chave: terminologia; preservação; conservação; restauração; obras em papel
Esta tese tem como objetivo realizar um estudo terminológico sobre a Conservação de bens culturais, com enfoque em obras em papel, para melhor entender a conformação desta área no campo patrimonial. A motivação para esta pesquisa é o entendimento de que os termos são essenciais para a construção epistemológica de uma disciplina. Entende-se que a consolidação de uma área de conhecimento, além de estabelecer seus pressupostos teóricos, definir seu objeto e delimitar o campo de atuação de seus profissionais, também exige a construção de um vocabulário próprio. Neste sentido, a análise terminológica permite problematizar como a Conservação, mais especificamente, a Conservação de obras em papel, está se estruturando como área de conhecimento especializado. O trabalho foi desenvolvido a partir da aproximação com a Terminologia, disciplina do campo da Linguística, que estuda as unidades de significação especializadas (termos e fraseologias) e as linguagens especializadas. A Terminologia, em uma perspectiva descritivista, comunicativa e textual, privilegia termos e textos especializados em um contexto social e estabelece os princípios metodológicos para a elaboração de obras de referência, como glossários e dicionários técnicos. Além disso, ela possibilita a análise da produção do conhecimento de um determinado domínio, a partir dos termos usados pelos agentes sociais que nele atuam. Adotou-se, especificamente, o referencial teórico estabelecido por duas vertentes da Terminologia: a Socioterminologia e a Teoria Comunicativa da Terminologia – TCT. Na metodologia foram seguidas as seguintes etapas propostas pela Terminografia, parte prática e aplicada da Terminologia: identificação das características da área e da estrutura de conhecimentos; produção de um corpus textual de estudo; coleta de termos; elaboração de definições; organização e apresentação do produto terminográfico final. Como resultado concreto do estudo, elaborou-se um glossário sobre Conservação de obras em papel, voltado para o público de profissionais em formação, ou seja, alunos dos cursos de graduação, de recente implantação no Brasil. Ainda como resultados da pesquisa ressaltam-se os seguintes aspectos: realizou-se uma discussão sobre os termos fundamentais da área (preservação, conservação, restauração, conservação preventiva); delineou-se um panorama sobre como a Conservação de bens culturais está se estruturando como disciplina especializada; descreveu-se, com objetivo de divulgação, uma metodologia adequada para elaborar os glossários e dicionários, visando suprir a carência deste tipo de obra na área da Conservação no Brasil. Ao final, conclui-se que as discussões terminológicas são necessárias para alcançar a harmonização dos termos empregados pelos conservadores-restauradores, de forma a melhorar os processos de comunicação dentro do grupo, com os profissionais de áreas afins e com o público geral. Além disto, ainda é necessário construir um meta-discurso eficiente para a consolidação e avanço da Conservação como disciplina especializada dentro do campo patrimonial. A expectativa é de que este estudo contribua para tais mudanças.
Cláuber Gonçalves dos Santos
Patrimônio cultural, políticas públicas e participação social no município de Pelotas, Rio Grande do Sul (2006-2016)
Palavras-chave: EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 71/12; PATRIMÔNIO CULTURAL EM PELOTAS/RS; PARTICIPAÇÃO SOCIAL; POLÍTICAS PÚBLICAS
TESE FINAL NO MODELO DA UFPEL – VERSÃO DA BANCA Clauber
O presente estudo tem por objetivo investigar os mecanismos de participação social existentes em Pelotas – conselhos, conferências e audiências públicas à luz da mudança constitucional trazida pela Emenda Constitucional nº 71/12, a qual inovou o ordenamento jurídico ao estabelecer que as políticas públicas de patrimônio contemplem a participação social por meio de colegiados de controle social com poderes de decisão (art. 216-A, § 2º, II, III e X da Constituição Federal). O estudo buscou também verificar como estes organismos estão compostos/formados e entender em que medida esta participação concorre para a implantação das políticas de memória e patrimônio, sem deixar de captar qual o sentimento real do patrimônio na cidade. Também situou esses espaços em suas necessárias relações com as políticas culturais locais e nacionais e no processo de democratização da proteção aos bens culturais. A ampliação do conceito de patrimônio cultural pela atual Constituição introduziu desafios que exigem ações capazes de efetivarem a nova política constitucional da cultura, no sentido da consolidação da participação social pela atuação e oitiva dos diretamente interessados, como preconizado em várias Cartas Patrimoniais e em diversos diplomas legais nacionais e internacionais. A performance – déficits e potencialidades – das instituições participativas revela sob que condições esta participação pode contribuir para as políticas de patrimônio. Entende-se que para compreender como os processos patrimoniais ocorrem em Pelotas é necessário relacionar Poder Público, instituições participativas e a formação de políticas públicas, pois somente assim ter-se-á de forma clara qual a importância dada às instituições neste processo. Tal relevância desborda o campo cultural e político, já que cada vez mais a judicialização das políticas públicas está presente nos tribunais com os mais variados temas. O trabalho ancorou-se na interdisciplinariedade entre as esferas da cultura, do político, do jurídico e da administração para responder às indagações, utilizando-se de pesquisa qualitativa e quantitativa utilizando-se de pesquisa empírica e entrevista. A importância desta investigação mostrou-se no mapeamento da atuação das instituições participativas culturais locais como parte do processo de democratização local, visando a avançar na sua atuação frente aos problemas e desafios que se apresentam para a diversidade patrimonial e suas representatividades. Ao final demonstrou-se que as instituições participativas em Pelotas possuem baixa atuação e eficácia devido à forma como o Poder Público interage com estas instituições, contribuindo para que os processos patrimoniais mantenham-se orientados pela vontade estatal, dando um sentido de colaboração da comunidade – art. 216 da Constituição Federal – como algo acessório e de importância diminuta.
Defesas 2017
Alessandra Buriol Farinha
Memória e História da Mui Heroica Villa de São José do Norte: a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes
Palavras-chave: memória; história; festa de Navegantes; São José do Norte
TESE ALESSANDRA BURIOL FARINHA PPGMP UFPEL
A festa de Nossa Senhora dos Navegantes de São José do Norte, município da península do estado do Rio Grande do Sul, Brasil, é provavelmente a mais antiga que ocorre com essa invocação mariana no país. É uma tradição luso-brasileira herdada de famílias açorianas, que ocuparam o território em meados do século XVIII. Provavelmente essas raízes portuguesas contribuíram para o legado da religiosidade, principalmente expressa na devoção em Navegantes, cultuada no local através da festa desde o ano de 1811. O objetivo principal da tese é delimitar um estudo historiográfico da festa de Nossa Senhora dos Navegantes de São José do Norte, analisando-a como uma manifestação da memória cultural (Assmann, 2006), onde os significados, as continuidades e rupturas vêm de uma memória comunicativa ou geracional e, portanto, têm valor afetivo, nostálgico e prioritário. Neste âmbito, objetiva-se detectar os sentidos de pertença e significações da festa, elementos que garantem sua dinâmica, sua existência e a unidade da comunidade em seu entorno. O problema de pesquisa é, portanto, reconstituir a historicidade, elaborando a diacronia da festa de Nossa Senhora dos Navegantes de São José do Norte, analisando os elementos que a envolvem e caracterizam como uma festa popular, verificando as recorrências e interrupções que vêm ocorrendo ao longo desses anos. As principais metodologias utilizadas foram a observação participante, de 2013 a 2017 e a história oral, em entrevista aberta e com roteiro pré-estabelecido. Foi feita também pesquisa histórica da festa de Nossa Senhora dos Navegantes tendo como base fontes primárias como manuscritos, documentos da Mitra diocesana de Rio Grande e Livros Tombo da Paróquia São José, periódicos dos séculos XIX e XX e antigas fotografias. Pode-se afirmar que a Nossa Senhora dos Navegantes de São José do Norte, por seus aspectos relacionados com o lugar, tais como as técnicas de trabalho ligadas a atividades primárias, no caso agricultura e pesca, proporcionam uma “intimidade” com os elementos naturais, e um sentimento de súplica e gratidão pela fecundidade do solo e das águas, como na teoria da dádiva (Mauss, 1925).
Maria Helena Sant’Ana
ARTES DE FAZER O MUNDO E PERFORMANCES NEGRAS EM PELOTAS: “REINVENTANDO MEMÓRIAS”
Palavras-chave: Memória Social; Clubes Negros; Estéticas Diaspóricas; Dança Afro; Performances Diaspóricas
Esta Tese é etnografia do modo como coletivos negros da cidade de Pelotas, de gerações e espaços de atuação diferentes, divergem quanto aos modos de interpretarem os processos de duração no tempo e transmitirem construções de memórias coletivas e sociais. Como pesquisa de “memórias coletivas negras” na cidade, torna-se também, pesquisa interpretando diferentes versões “negras” da própria “memória” de Pelotas. A tese divide-se, então, em duas partes. Na primeira, etnografa como memórias difusas e intertextualizadas da cidade tramam seus mitos de fundação, ancorados na experiência da escravidão instituída com as charqueadas no século XIX, refigurando-os em paisagens mórbidas, povoadas de “energias” e “espíritos” que “vibram” na topografia da cidade. Memórias que aparecem como composição de uma simbólica do mal inaugural, contraponto a uma visão dominante branca e elitista na cidade de seu apogeu “aristocrático”, “refinado” e “urbanizado” dada dobre mesma época passada. Os frequentadores dos clubes negros da cidade, de gerações mais velhas, tendem a neutralizar a “dor” e o “mal” da desumanização da escravidão em seus filtros memoriais, num trabalho de silenciamento da memória, tramando uma duração desde um tempo festivo e instituinte de socialidade associativa nas formas carnavalescas, festivas e edificantes dos clubes. Sobre o fundo difuso da topografia habitada de “espíritos” e “energias vibrantes” o coletivo Odara, de ação estética, reflexiva e política centrada na dança afro, age e dramatiza o tempo refigurado pela filiação de uma duração desejada como afrorreferenciada, que performatiza através da dança no sentido de transcender e restaurar o mal da experiência do ancestral escravo. Questionando os processos de transmissão de memórias silenciadas, os integrantes do Odara aderem aos movimentos afrocentrados de pesquisa de memórias negras e concebem formas de “reinvenção da memória”, colocando-se na perspectiva poética e pragmática de produzir restaurações no tempo, a partir de uma ideía-memória diaspórica.
Alcir Nei Bach
Patrimônio Agroindustrial: Inventário das fábricas de compotas de pêssego na área urbana de Pelotas (1950-1990).
Palavras-chave: Patrimônio agroindustrial. Agroindústria conserveira urbana. Fábricas de compota de pêssego. Expansão urbana. Inventário. Pelotas.
TESE_ALCIR_NEI_BACH_OUT2017_opt V.1
TESE_ALCIR_NEI_BACH_V2_(INVENTÁRIO)_OUT2017_opt V.2
Esta pesquisa faz uma reconstituição da trajetória do setor conserveiro de pêssego localizado na zona urbana de Pelotas-RS. O trabalho tem como base um levantamento, realizado na forma do Inventário do Patrimônio Agroindustrial Urbano do Setor Conserveiro de Compotas de Pêssego de Pelotas, e a discussão dos resultados, sob análise quantitativa e qualitativa. Este inventário, fortemente apoiado na oralidade, buscou elencar todas as fábricas de compotas de pêssego sediadas na zona urbana da cidade. O estudo, por sua vez, se deteve no recorte temporal entre as décadas de 1950 a 1990, período de auge do setor, quando o município figurou como produtor das “melhores compotas do Brasil”. O pós-guerra, em Pelotas, foi marcado pelo desenvolvimento da indústria, o aumento da demanda habitacional e pela recorrência de problemas de infraestrutura. Em específico, foi a indústria da alimentação que, neste período, constituiu a maior parte da cadeia de trabalho. A agroindústria conserveira, em especial, apresentou-se como a de natureza mais acessível ao trabalhador rural, o qual veio a constituir boa parte da mão de obra do setor. As características desta mão de obra safrista também foram estudadas. Paralelamente, novas vilas e loteamentos eram criados e, em boa medida, ocupados por este contingente de trabalhadores safristas. Desta forma, o estudo procurou evidenciar os reflexos dessa agroindústria na ocupação do espaço urbano, a medida de sua influência na realização de melhorias na infraestrutura. De outra parte, o conjunto de registros dos vestígios dessa agroindústria, em seus aspectos material e imaterial, constitui Patrimônio Agroindustrial, dizendo respeito à memória coletiva da comunidade pelotense.
ANDRÉA LACERDA BACHETTINI
AS RESERVAS TÉCNICAS EM MUSEUS: UM ESTUDO SOBRE OS ESPAÇOS DE GUARDA DOS ACERVOS
Palavras-chave: reserva técnica; espaço de guarda; acervos; conservação; museu; Museu Municipal Parque da Baronesa.
Esta pesquisa qualitativa, descritiva e analítica teve como objetivo o estudo dos locais de guarda das instituições museais. A metodologia utilizada está baseada no levantamento bibliográfico e estudos relacionados à conservação preventiva e às reservas técnicas; em pesquisa de campo: que consistiu em visitas as reservas técnicas e entrevistas com pessoas envolvidas com o tema; elaboração de diagnóstico de conservação e análises ambiental da instituição selecionada para fazer parte dos estudos de caso: Municipal Parque da Baronesa. A realização da pesquisa bibliográfica foi importante para fundamentação teórica desta tese, foram pesquisados autores, livros, monografias, dissertações e teses sobre o tema no Brasil e no exterior. Através da pesquisa documental dos acervos documentais das instituições, projetos de implementação de reservas técnicas, editais públicos e privados de incentivo a organização e reestruturação foi possível verificar os investimentos financeiros na área museológica. A pesquisa buscou interpretar e tentar compreender porque as reservas técnicas são esquecidas ou negligenciadas em relação as outras áreas dos museus e como é possível fazer frente a essa situação no museu analisado.
Roberto Heiden
ARGENTINA, URUGUAI E MERCOSUL: INSTITUIÇÕES, NORMATIVAS E POLÍTICAS PATRIMONIAIS NO CONTEXTO DE UMA UNIÃO ADUANEIRA
Palavras-chave: Argentina. MERCOSUL. Patrimônio Cultural. Uruguai.
O presente estudo investigou o campo do Patrimônio Cultural com foco em instituições patrimoniais da Argentina, do Uruguai e órgãos do MERCOSUL. Buscou compreender características desse campo, considerando realidades nacionais e as instituições específicas da união aduaneira. O MERCOSUL tem como objetivos principais a integração entre mercados, política e a economia de seus Estados Partes. Tal configuração interfere na compreensão sobre como e qual é a dimensão e a importância desse campo patrimonial. O trabalho observou que tal campo está constituído a partir dos Estados Nacionais, ao mesmo tempo em que órgãos da união aduaneira começam a potencializar políticas patrimoniais que promovem a integração entre os seus Estados Partes. Essas políticas ocorrem a partir de ações conjuntas ou com a convergência de políticas já existentes, embora permaneçam assimetrias entre esses países quanto ao alcance de suas normas e instituições patrimoniais e predominem as políticas de caráter nacional. Nesse sentido, o trabalho investigou como está configurado esse campo, considerando as especificidades das legislações, políticas e instituições patrimoniais nacionais e dos órgãos do MERCOSUL, que trabalham com temas do patrimônio. Ainda que timidamente, o MERCOSUL tem contribuído com as políticas preservacionistas dos Estados Partes, mesmo que muitas possibilidades do campo devam ser melhor exploradas. Nessa perspectiva, o trabalho primeiramente busca compreender a realidade do MERCOSUL, para na sequência analisar as normas e instituições patrimoniais de Argentina e Uruguai, chegando ao fim com estudos de caso de bens culturais existentes no contexto do bloco.
Rogério Piva da Silva
O PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DO MUNICÍPIO DO RIO GRANDE – RS, MEMÓRIA, DESCASO E ESQUECIMENTO: O CASO DA FÁBRICA RHEINGANTZ
Palavras-chave: Patrimônio. Memória. Esquecimento. Rheingantz. Rio Grande.
Atualmente, os termos memória e patrimônio extrapolam o âmbito acadêmico. Apesar disso, ainda é difícil a preservação do patrimônio cultural no Brasil. No município do Rio Grande não é diferente. A partir da implantação do Polo Naval em 2006, 10 bilhões em investimentos deram à cidade grande visibilidade, atraindo empresas e trabalhadores de todo o país. Todavia, esses investimentos não refletiram no cuidado com o patrimônio cultural dos rio-grandinos. Pelo contrário, o crescimento econômico trouxe consigo a necessidade de ampliar os espaços destinados à habitação, ao comércio e aos serviços. Assim, foi acelerado o processo nos quais antigos casarões, centenárias indústrias e praças foram destruídos ou descaracterizados. Na atualidade, mais de 75% das 509 construções inventariadas no município encontram-se abandonadas, em ruínas ou estão invisíveis aos olhares da população. Portanto, baseado no conceito de patrimônio como preservador da memória e na necessidade de manutenção do espaço físico como seu suporte, este estudo tem como objetivo verificar o esquecimento, relacionando à necessidade da preservação do patrimônio material, pelo questionamento: o descaso com o patrimônio cultural arquitetônico e a invisibilidade e/ou desaparecimento dos lugares de memória em Rio Grande levará ao esquecimento? Para tal, este estudo está fundamentado principalmente nos referenciais teóricos de Halbwachs e Nora, e busca demonstrar que o descaso com o patrimônio cultural pode levar ao esquecimento. Para tanto, utilizou-se de um estudo de caso. Além disso, esta pesquisa foi desenvolvida por meio do método de abordagem dedutiva, comparativa e procedimentos de campo. Como objeto de pesquisa, utilizamos o único patrimônio arquitetônico industrial rio-grandino tombado pelo IPHAE – a Fábrica Rheingantz. A escolha da Rheingantz ocorre devido à contenda travada entre gestores, agentes imobiliários e a população rio-grandina sobre a utilização dos 155 mil metros quadrados da antiga fábrica. A possibilidade de derrubada do complexo para construção de residências gerou muitas inquietações. O complexo da Fábrica Rheingantz é identidade do povo rio-grandino? Quanto mais o tempo passa sem que o tombamento se transforme em efetiva proteção e a geração que trabalhou nos tempos áureos da Rheingantz for “desaparecendo”, sua importância histórica e simbólica diminuirá até sumir? Já estaremos vivendo o período do esquecimento no caso da Fábrica Rheingantz? Para a plena realização dos objetivos, foram feitos os registros fotográficos dos 509 bens culturais e aplicados 500 questionários nos meses de novembro e dezembro de 2010. O processo foi repetido nos meses de abril e maio de 2015, com o intuito de contrastar os dados. Os resultados demonstraram que a diferença entre o número de pessoas que preferem a construção de um bairro residencial à manutenção dos prédios da antiga fábrica aumentou em mais de 180%, comparando com a pesquisa de 2010. Atualmente, 34% dos entrevistados acreditam que a melhor alternativa para as ruínas do complexo é a derrubada e a construção de um condomínio residencial, enquanto que em 2010 eram 12%. Essas informações demonstram que o valor patrimonial da primeira indústria gaúcha está diminuindo rapidamente e é possível afirmar que estamos vivendo um processo de esquecimento da Fábrica Rheingantz.
Daniel Ribeiro Medeiros
Na “rooteza”: memória e identidade de uma prática roqueira underground no extremo Sul do Brasil nos anos 1990.
Palavras-chave: memória e identidade; rock; underground. práticas sócio-musicais; alteridade temporal.
Tese Na rooteza_DANIEL RIBEIRO MEDEIROS
Memória e identidade são dois termos inseparáveis. Sem o primeiro não haveria o segundo. Em termos gerais, pode-se dizer que a memória abarca muitos tipos de processos sociais conformados e articulados por uma variedade de grupos sociais.
Na busca por constituirem uma representação presente de si mesmos (um processo identitário), estes grupos articulam muitos tipos de relacionamentos com e representações de seus próprios passados e tradições. Estes processos são geralmente organizados em torno de patrimônios, discursos, crenças, ideologias e valores, relacionados ou não à arquitetura, objetos, lugares, rituais, cerimônias comemorativas, etc. Por outro lado, nosso estudo esteve baseado em outro tipo de articulação da memória e identidade: através da oralidade e entrevistas individuais (memórias sócio-musicais individuais) buscamos compreender como um grupo de sujeitos articularia uma memória e identidade relacionada ao que chamamos cena rock underground pelotense dos anos 1990 – uma cena coletivamente articulada por si mesmos no passado. Mas enfrentamos um problema que compunha nosso campo empírico: no hoje, este grupo não é mais o mesmo. Pode-se dizer que o grupo sócio-musical passado se fragmentou ao longo do tempo, no movimento do ontem ao hoje. Em outras palavras: não tivemos um grupo-coletivo social no presente que corresponderia ao grupo-coletivo do passado. Como conseqüência, enfrentamos outro problema: na medida em que não articulam uma continuidade desta cena através de cerimônias comemorativas (no presente) relacionadas a este meio passado, estaríamos frente à articulação de uma memória e identidade que corresponderia a uma memória coletiva? Como forma de superar tal perspectiva – a tradição instituída por Maurice Halbwachs -, abordamos um tipo de memória e identidade sócio-musical que teve como eixo de (re)construção recordações relacionadas às práticas sócio-musicais dos(as) entrevistados(as). Considerando a música como eixo potencial de (re)construção e significação de experiências musicais passadas, as histórias de vida tiveram como foco as experiências rock e underground dos sujeitos. Ao longo das análises das narrativas individuais percebemos a emergência de categorias ético-êmicas que foram sendo conformadas através de padrões temáticos relativamente compartilhados entre os(as) entrevistados(as) nas (re)construções de suas experiências. Além disso, e também de maneira relativamente compartilhada, tais experiências foram, em muitos momentos, dialogadas com experiências similares no presente. Neste sentido, articularam comparações entre práticas sócio-musicais do ontem-hoje que, ao final, delinearam representações de suas identidades sócio-musicais em termos geracionais. Baseados na descrição densa (GEERTZ, 2008), estudamos um processo de memória e identidade relacionado a um tipo de passado sócio-musical (rock e underground) articulado e conformado através do que compreendemos como alteridade temporal.
Ivana Morales Peres dos Santos
Direito Internacional e Gestão Pública do Patrimônio Cultural Transnacional ou de Fronteira: Estudo do caso da Ponte Internacional Barão de Mauá enquanto Patrimônio Cultural do Brasil, do Uruguai e do MERCOSUL
Palavras chave: patrimônio transnacional; ponte Barão de Mauá; gestão patrimonial; direito internacional.
Este estudo se justifica, pois, se o reconhecimento e a tutela do patrimônio cultural, enquanto políticas de Estado, sempre estiveram vinculados a uma representação – a Nação, e obrigava ao Estado, cujos bens culturais estivessem em seu território, sendo consagrada a concepção de patrimônio, a partir do século XIX, como identitária, territorial e moderna (TORNATORE, 2010), na atualidade de um Estado mais poroso em suas fronteiras, essa precisão conceitual do patrimônio cultural e das responsabilidades e direitos que ele engendra é problematizada. Assim, conforme Ferreira (2012), se para se construir um passado oficial é preciso métodos de institucionalização que oficializem o diálogo entre as políticas de memória e os grupos socais, as perguntas que orientaram este estudo foram: quais são os passos e métodos de institucionalização e de tutela do patrimônio cultural em casos de bens que ultrapassam as fronteiras identitárias nacionais, territoriais e de decisão soberana de um Estado Nacional, como é a Ponte Internacional Barão de Mauá? Como a cooperação internacional, por meio do MERCOSUL, e também da UNESCO, atuou ou pode atuar na proteção deste bem transnacional? Como fica o compartilhamento de responsabilidades e de direitos relativos ao bem cultural transnacional Ponte Barão de Mauá entre Uruguai e Brasil? Esta pesquisa analisou (na escala nacional e internacional): 1) as normas internacionais do MERCOSUL, e as nacionais do Brasil e do Uruguai sobre patrimônio Cultural e sobre a Ponte Internacional Barão de Mauá; 2) os termos de acordos bilaterais firmados entre Brasil e Uruguai e que se referem à Ponte; 3) as ações das principais instituições nacionais do Brasil e do Uruguai de tutela patrimonial sobre a Ponte e; 4) o Plano de Gestão Patrimonial (2015-2018) proposto para a Ponte no MERCOSUL e as realizações deste até o presente. O resultado desta pesquisa foi uma descrição exauriente do processo e das políticas de gestão patrimonial adotadas por MERCOSUL, Brasil e Uruguai sobre a Ponte Barão de Mauá, com base em farta documentação, levando-se a evidenciar indícios do modo das estratégias de gestão patrimonial de bens de fronteira no Cone Sul.
Defesas 2016
MARCIA CARVALHO RODRIGUES
BIBLIOTECAS NACIONAIS E A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO DOCUMENTAL BIBLIOGRÁFICO NO ÂMBITO DOS PAÍSES DO MERCOSUL: estudos sobre o depósito legal no Brasil e na Argentina
Palavras-chave: memória; patrimônio cultural; patrimônio documental; patrimônio bibliográfico; bibliotecas nacionais; depósito legal; MERCOSUL; Brasil; Argentina.
Visando esboçar uma interpretação das políticas de preservação do patrimônio documental bibliográfico no âmbito dos países do MERCOSUL, esta pesquisa contextualiza, analisa e confronta as leis que regulam o depósito legal em dois países do bloco, a saber: Brasil e Argentina. Para tanto, estabelece relações entre as formas de agir de cada país, dando especial atenção às missões de suas bibliotecas nacionais e a formação de seus acervos via depósito legal. Busca, também, contextualizar as práticas de preservação do patrimônio cultural dos países em questão e, para tanto, tece um comparativo entre as principais leis que regulam a proteção ao patrimônio cultural nos dois países. O estudo apresenta uma abordagem qualitativa e fez uso da revisão bibliográfica e documental para a construção teórica. A análise buscou comparar os sistemas propostos, identificando semelhanças e diferenças entre si. Os resultados da pesquisa demonstram que a cultura, de uma maneira geral, não tem ocupado posição de destaque nas ações e iniciativas do MERCOSUL. A presença dessa lacuna evidencia a necessidade de estímulo a estudos e pesquisas referentes à busca pela integração entre os países, dando a devida consideração às questões de ordem cultural, trazendo à tona a importância dos estudos voltados à preservação e à valorização do patrimônio cultural das nações. No que se refere às leis que regulam o depósito legal no Brasil e na Argentina, percebe-se que ambas necessitariam passar por ajustes de forma a se adequar às diretrizes propostas pela UNESCO.
MICHEL CONSTANTINO FIGUEIRA
O ESPETÁCULO TURÍSTICO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE Preservar para atrair os consumidores de passado
TESE DOUTORADO MICHEL CONSTANTINO
O processo de espetacularização turística do Patrimônio Cultural da Humanidade, fenômeno resultante de programas e produções político-econômico-estéticas sobre o espaço de cidades históricas é o objeto central dessa tese. Parte-se da tese de que todo processo de patrimonialização universal executado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) possui fins e consequências econômicos através do mercado turístico. Enquanto tecnologias modernas de governo, patrimonialização e turismo congregam-se, produtiva e estrategicamente, para o atendimento a um mercado consumidor àvido por produtos e processos que exaltam a imagem do passado. E a projeção dos destinos turísticopatrimoniais – neste caso, os conjuntos urbanos que legitimam politicamente uma cidade histórica – ampara-se em modernos mecanismos de produção sobre o passado. Esses mecanismos capitalizam a realidade a partir da formação de uma imagem que traduz-se como real, mas que nada mais representa do que uma espetacularização universal fabricada e conduzida pelos representantes da etnologia de urgência – patrimonializadores – que, legitimados pelo Estado e associados a industria do turismo consolidam as cidades patrimoniais da humanidade como museus á céu aberto, dignos de preservação, mas com perspectivas pragmáticas de atração. A realidade dialética do turismo patrimonial determina-se, ainda, pela condição histórica da necessidade humana moderna pelo deslocamento e pelo contato e consumo de tudo que remeta a uma antiguidade. Ou seja, a interpretação da realidade irreal do turismo patrimonial é baseada no entendimento de que esse fenômeno, assim como os elementos que o formam – patrimônio e turismo –, representa uma simulação de um processo temporo-espacial simulado. Para todos os envolvidos na produção espetacular do turístico-patrimonial há uma ideologia, uma interpretação imaginária e ilusória de que o patrimônio é a história e a identidade e o turismo sobre ele, uma panaceia forjada na posse temporária do outro, da diferença, do passado. Através da metodologia da dialética regressivaprogressiva, buscou-se aqui, identificar, caracterizar, analisar e explicar os elementos (categorias) que contribuem, social e historicamente, para o processo de espetacularização turística do Patrimônio Cultural da Humanidade. Ou seja, quais medidas adotadas pelos governos, fases de projeção turística, qual o perfil dos viajantes, quais as necessidades e condições estruturais, produtivas, promocionais e mercadológicas amparam esse processo e quais os seus resultantes sociais, econômicos, culturais e políticos. Nesse processo dialético, resultou-se que a espetacularização turística do Patrimônio Cultural da Humanidade depende de um conjunto estratégico de ações político-governamentais, condicionantes históricosociais e resultantes mercadológicos que convergem, no seio da sociedade moderna, para materializar uma complexa e espetacular produção turísticopatrimonial.
DANIELE BALTZ DA FONSECA
Consolidação de revestimento de argamassa à base de cal: desenvolvimento de argamassa injetável adaptada às paredes escaioladas de prédios históricos de Pelotas/RS
TESE CORRIGIDA TAMANHO REDUZIDO (1)
Esta tese apresenta o processo de desenvolvimento de argamassas injetáveis para restauração de revestimentos de argamassa à base de cal aérea com acabamento em escaiola de edificações de interesse histórico da cidade de Pelotas. A revisão traz informações gerais sobre as argamassas de cal usadas em revestimento e sobre os acabamentos em escaiola, relativamente comuns em prédios históricos peloteses. Discorre também, sobre a patologia e forma de intervir restaurativamente nesses revestimentos. Em seguida trata-se especificamente das argamassas injetáveis usadas para restabelecer o sistema de revestimento quando a aderência é perdida; dos parâmetros de desempenho para essas argamassas e de método de dosagem que pode ser utilizado para sua formulação. O processo experimental foi dividido em três fases, na primeira foram estudadas amostras originais de argamassas usadas para nivelar os revestimentos em escaiola; em seguida desenvolveu-se uma argamassa similar à original para obtenção de parâmetros de desempenho a serem alcançados pela argamassa injetável a ser desenvolvida; na segunda fase foram testadas 27 formulações de argamassa injetável compostas por cal hidráulica e areia muito fina (maior diâmetro igual a 0,3mm) com adições de sílica de casca de arroz; na terceira fase buscou-se aprimorar a argamassa selecionada na fase anterior através da utilização de aditivo superplastificante e da redução de água da mistura. Os resultados mostraram que as argamassas injetáveis desenvolvidas são parcialmente compatíveis com o substrato original apresentando altos coeficientes de capilaridade. A utilização do aditivo superplastificante até um limite de 0,9% do massa da cal hidráulica mostrou-se adequada na medida em que contribuiu para a diminuição do coeficiente de capilaridade sem alterar substancialmente as demais características da argamassa injetável.
Defesas 2015
PAULA GARCIA LIMA
Memórias do feminino através dos reclames dos Almanachs de Pelotas (1913 – 1935)
Palavras-chave: Memória; Gênero feminino; Design Gráfico; reclames; Almanachs de Pelotas
Os Almanachs de Pelotas foram editados anualmente nessa cidade do Rio Grande do Sul, entre os anos de 1913 e 1935. Os almanaques são publicações de conteúdo variado, constituídas de informações de utilidade pública e de entretenimento. O periódico deste estudo incluía, também, temas de cunho moralizante, próprios do pensamento positivista. Nessa tradicional tipologia de publicação do período, inúmeros são os temas que podem ser investigados, por constituírem-se nela indicativos dos hábitos, costumes e comportamentos dos sujeitos daquela sociedade. Em tal âmbito, motivou a presente pesquisa, a observação de que havia peculiaridade nas representações do gênero feminino dos reclames desse periódico. Os reclames foram recursos publicitários importantes naquele contexto. Partiu-se da proposição de que eram expressões de valores e necessidades, reais ou criadas, pelo mercado dos produtos industrializados, ou não, e influenciavam grande número de pessoas. Considerou-se como premissa a compreensão do gênero enquanto uma categoria relacional e que se constrói social e culturalmente. Estudou-se a relação entre representação e contexto, social e histórico, para elucidar o potencial desses reclames como transmissores de conceitos, ideias e memórias do feminino naquela cidade do passado. Para tanto, Assmann (1995) e Candau (2014, 2002 e 2001) foram determinantes com seus conceitos de memória cultural e de sociotransmissores. O desenvolvimento dessa análise considerou inerente apresentar o panorama de produção dos impressos e as formas do seu consumo no cotidiano das pessoas. Enfatizou-se os editoriais e desenvolveu-se análise do conteúdo gráfico dos exemplares da referida publicação, com vistas a elucidar as fronteiras entre o recurso técnico disponível então e as escolhas simbólicas. O cenário de circulação dos Almanachs foi explorado com ênfase no conteúdo veiculado em suas próprias páginas. Constatou-se de que modo, em tal cenário, operava a representação das mulheres inseridas nas tramas e sociabilidades daquele contexto, dentro desses anúncios. Por fim, logrou-se examinar os reclames que continham representações do feminino nos Almanachs, quantificando os elementos representativos dos conteúdos de gênero, de modo que foi possível asseverá-los como suportes de memória – entendimento que pode ser ampliado para o periódico como um todo – e como estruturas subliminares influentes nas construções de um ser e comportar-se feminino, que transcendeu as diligências do seu tempo, tangenciando conflitos do presente.