Carta aos Conselheiros do CEng – Prof. Maria Laura Luz
Pelotas, 23 de junho de 2017
Ao Conselho do Centro de Engenharias
Caros Conselheiros:
Dirijo-me aos caros conselheiros por serem representantes de todos os segmentos do Centro de Engenharias no sentido de fazer algumas reflexões e trazer um pouco da minha história, que é a nossa história.
Já tomei a liberdade de fazer gesto semelhante uma vez, quando me dirigi ao Conselho Departamental da extinta Faculdade de Engenharia Agrícola em um momento tenso, devido à transição que estávamos enfrentando por passar de dois cursos a um centro. Tive a honra de ter aquela carta publicada no livro do Prof. César Borges, com minha permissão, que ele teve a gentileza de pedir, uma vez que não seria necessário porque a carta já era pública. Acredito que ela representou os momentos que juntos enfrentamos naquela época, por isso foi transcrita no livro que conta histórias sobre a UFPel.
Desta vez, gostaria de resgatar alguns feitos de vários colegas que protagonizaram muitas coisas que veio a nos tornar este Centro de Engenharias, do qual muito me orgulho.
Hoje somos uma árvore ainda jovem com dez galhos, que no futuro deverá ser frondosa. Mas ela germinou de uma única semente.
Tudo começou com a fundação do Curso de Engenharia Agrícola, dentro do Departamento de Engenharia Rural da Faculdade de Agronomia, numa espécie de anexo, sem reconhecimento, sem espaço próprio. Os nossos professores da época eram, na sua maioria, profissionais que tinham seus escritórios de engenharia civil, eram empregados ou donos de diversas empresas que existiram na época, de várias outras áreas das engenharias. A regra não era ser DE nem titular. A maioria só tinha curso de graduação, porém muita capacidade técnica.
O primeiro professor titular da Engenharia Agrícola foi o Prof. Jau Paulo Goulart, que tornou-se Diretor, por aclamação dos alunos, que fizeram uma greve, muito elogiada na época pelo DCE, porque não estávamos satisfeitos com a Direção do nosso curso e decidimos todos juntos, todos os alunos do curso em assembleia, que queríamos o Prof. Jau para nos dirigir, porque ele acabara de chegar dos Estados Unidos, tendo concluído seu PhD. Então, julgamos que ele seria a pessoa mais preparada e única naquela situação. Foi ele que fez a primeira reforma curricular, atualizando nosso currículo. Muito deste currículo persiste até hoje.
Na gestão do Prof. Isidoro Halpern conseguimos um prédio próprio, o 33, no Capão do Leão, que nos pertence até hoje.
Depois, a Profa. Ângela Pinto Maestrini foi também titular, e através dela foi criado o Grupo PET da Engenharia Agrícola. Ela também era PhD, tendo feito seu curso também nos Estados Unidos. E por vários anos, só tivemos esses dois doutores e titulares no nosso curso, talvez porque a Universidade é que distribuía as limitadas vagas de titular e nós esmagados pela grandeza da Agronomia, muito mais numerosa, e poderosa, em prol da sua história centenária, nunca conseguimos as vagas da área das Ciências Agrárias.
Depois, veio trabalhar conosco o Prof. Alexandre Morga, também titular, que também foi nosso Diretor, que eu não pude acompanhar muito sua história porque estive afastada para o meu próprio curso de PhD nos Estados Unidos, mas soube que ele trouxe para a UFPel o Congresso Nacional de Engenharia Agrícola, evento este que é um dos mais importantes para o Curso. E depois, dentro de poucos anos se aposentou.
O Prof. Morga sucedeu na direção o Prof. Mário José Milman, que não era titular, mas escreveu um dos mais importantes e conhecidos livros do Brasil na área de Engenharia de Processamento de Produtos Agrícolas, chamado “Equipamentos para Pré-processamento de Grãos”, que teve sua primeira edição esgotada. Quando da sua aposentadoria, cedeu os direitos do livro aos professores da área e em 2014 nós (Prof. Wolmer Brod Peres, Prof. Carlos Alberto Silveira da Luz e eu) fizemos a segunda edição atualizada, mantendo o nome do Prof. Milman e prestando-lhe a merecida homenagem.
Ressalto aqui a importante contribuição que os nossos sempre escassos técnicos-administrativos prestaram à Engenharia Agrícola, como o José Luís Carvalho da Silva, que sempre apoiou os diretores da casa até sua aposentadoria, com seu conhecimento sobre as normas da UFPel e sua presença marcante e solene. Com a sua aposentadoria, foi sucedido no cargo pela técnica, também exemplar, Laureci Lane da Silva, que nos acompanha desde o início da nossa história, quando ainda estávamos dentro do Departamento de Engenharia Rural e nesta caminhada atuou também no cargo de secretária de nosso Colegiado. Ela sempre frequentou cursos, se qualificando, sempre completamente comprometida com o seu trabalho, continuou apoiando os diretores que se sucederam até os dias de hoje.
Na sucessão do Prof. Milman foi eleito o Prof. Wolmer Brod Peres para nos dirigir e a partir da sua gestão, muitas modificações ocorreram. Primeiramente, motivados pela inclusão da silvicultura na matriz agrária do sul gaúcho, fomos incentivados pela Reitoria na gestão do Prof. César Borges a criar a Engenharia Industrial Madeireira. Este curso iniciou através de trabalhos de quatro professores que aceitaram o desafio: o próprio Prof. Wolmer, o Prof. Orlando Pereira-Ramirez, o Prof. Carlos Alberto Silveira da Luz e eu. Então, a Engenharia Agrícola começou a fazer concursos para professores deste curso. O primeiro foi o Prof. Darci Alberto Gatto e logo em seguida o Prof. Leonardo Oliveira se juntou a nós, que na época éramos um grupo de pouco mais de vinte professores, muitos sem DE e com uma professora titular (a Profa. Ângela), porque os outros já haviam se aposentado. Assim que a Engenharia Industrial Madeireira abriu inscrições para alunos, alguns professores da Engenharia Agrícola passaram também a integrar seu Colegiado para consolidar o Curso e a Profa. Maria Tereza Fernandes Pouey foi a Coordenadora, que muito se empenhou em preparar um currículo adequado ao curso. Depois, quando o Prof. Carlos Antônio da Costa Tillmann foi o Coordenador deste Curso, ele trouxe a Engenharia Industrial Madeireira para a cidade, instalando-a no prédio que até hoje ela ocupa, dando mais espaço ao Curso, que se encontrava dentro da Faculdade de Engenharia Agrícola, na época no prédio 33. Depois, vários outros colegas entraram por concurso para esta Engenharia.
Então, em 2007, o Prof. César Borges trouxe para a UFPel o Projeto REUNI e deu escolhas a quem quisesse participar. E o Prof. Wolmer fez este convite ao Departamento de Engenharia Agrícola, que aceitou mais este desafio. Cerca de quinze professores se reuniram diariamente durante as férias de julho daquele ano, traçando as diretrizes que iriam embasar o atual Centro de Engenharias. Dentre estes professores estávamos eu e o Prof. Leonardo, que hoje integramos este Conselho. Nenhum dos professores da FEA naquela época era titular, porque a Profa. Ângela já tinha se aposentado e nenhuma vaga foi direcionada a nós, embora alguns professores tivessem condições na época de pleitear este título e muitos colegas da Universidade, inclusive mais jovens, tiveram a chance de obter esta titulação, porque estavam vinculados a cursos de pós-graduação.
O nosso Projeto REUNI planejou criar três engenharias, que entrariam em funcionamento uma a cada ano. Eram elas: Engenharia Civil, Engenharia Sanitária e Ambiental e Engenharia de Produção. Naquela época já tinha sido acertado que desejávamos vir para a cidade e o Reitor Prof. César Borges nos prometeu o prédio que hoje ocupamos, mas que teria que passar antes por extensas reformas, como ocorreu.
O Prof. João Viegas Filho foi o mentor da Engenharia Civil. Juntaram-se a ele a Profa. Maria Tereza Pouey e o Prof. Ricardo Michelon para estudarem o currículo e traçarem as diretrizes deste curso. O Prof. Viegas também criou o Curso de Especialização em Gestão de Recursos Hídricos que beneficiou muitas pessoas e gestores de prefeituras que aqui vieram se qualificar. Depois, ele assumiu o cargo de Diretor da Agência da Lagoa Mirim, pela primeira vez dirigida por alguém do nosso curso. Depois dele, quase todos os diretores desta Agência pertenceram ao CEng.
Outros professores que deram sua importante contribuição para a Faculdade de Engenharia Agrícola e ainda estão contribuindo com o CEng são o Prof. Eurico Guimarães de Castro Neves e o Prof. Rubi Münchow, que com esforço pessoal construíram eles mesmos o Laboratório de Energização para que os nossos alunos tivessem aulas práticas, quando ainda estávamos no prédio 33.
Com a criação dos novos cursos precisamos de mais espaço e então foi cedida parte da antiga reitoria no Campus Capão do Leão, quando ela veio para a cidade. Este prédio hoje é ocupado pela Faculdade de Veterinária. Depois, viemos para o prédio da Rua Barroso esquina Lobo da Costa, aguardando a reforma do prédio atual.
A Profa. Cláudia Lemons e Silva foi coordenadora da Eng. Ambiental, tendo contribuído na confecção do primeiro currículo do curso. Eu também fiz parte deste Colegiado brevemente. A Profa. Cláudia Lemons e Silva também teve papel importante durante os estudos da formatação do CEng, quando organizou e coordenou o I Fórum de Engenharias, em setembro de 2008, trazendo para a mesa de debate no prédio do Mercosul, várias pessoas de Universidades de São Paulo, Brasília e de outros locais para passarem suas experiências para nós. Este Fórum, inclusive, reuniu outros grupos que na época não pertenciam ao CEng, como foi o caso do Prof. Luís Eduardo Novaes e do Prof. Edinei Koester, fundadores da Engenharia Geológica, e depois da Engenharia de Petróleo, como também a Profa. Margarete Regina Freitas Gonçalves, que na época era Vice-diretora da FAURB e fez parte atuante do grupo que criou a Engenharia de Materiais, assim como o Prof. Gilberto Collares que foi atuante na criação da Engenharia Hídrica e muitas pessoas mais, participantes da Reitoria, como a Pró-reitora de Graduação Eliana Póvoas e a técnica-administrativa Maria Luíza Menna Barreto.
No caminho da criação do CEng, outras Unidades da UFPel também criaram cursos de Engenharia. Alguns deles se juntaram a nós, formando o atual CEng. Primeiramente, a Engenharia Eletrônica e a Engenharia de Controle e Automação. Neste momento, o Prof. Wolmer estava no final do seu segundo mandato como Diretor, já exausto com tantas atribuições e tendo dado sua valiosa contribuição, resolveu não ficar mais pró-tempore. O Reitor Prof. César Borges decidiu que o CEng, não tendo seu Regimento Interno ainda aprovado, não poderia ter eleições para diretor como desejávamos e nomeou o Prof. Carlos Antônio da Costa Tillmann como diretor interino.
O processo de confecção do Regimento Interno foi lento, com cerca de trinta reuniões, abertas a toda a comunidade do CEng, sob o comando da Profa. Maria Tereza Pouey, do Prof. Leonardo Oliveira e do Prof. Rogério Royer. Finalizada esta tarefa, então o CEng elegeu o Prof. Cláudio Manoel da Cunha Duarte como seu Diretor e o Prof. Denis Teixeira Franco como seu Diretor-adjunto. Nesta gestão passamos pelo processo de ocupação do prédio do Centro de Engenharias e aceitamos a vinda de mais três cursos: a Engenharia Geológica, a Engenharia de Petróleo e o Tecnólogo em Geoprocessamento. Com isso totalizando os atuais dez cursos do CEng.
Devido à nossa atual relevância na UFPel, sendo a maior Unidade, muitos colegas estão conquistando espaços em órgãos universitários que nos representam e mais recentemente cargos na atual Reitoria. Aos poucos estamos ocupando os merecidos espaços. Nossos acadêmicos também têm se engajado em pleitos para o DCE, tendo tido sucesso, mostrando seus interesses em representatividade estudantil.
Mais recentemente, houve mudanças na legislação, e nós professores, pudemos pleitear o cargo máximo da nossa carreira que é ser professor titular.
Em 2014, os primeiros a fazerem seus concursos para titular foram os Professores Carlos Alberto Silveira da Luz e Adelir Strieder. O Prof. Adelir, atua principalmente na Engenharia Geológica e o Prof. Carlos Luz foi também o primeiro professor a fazer concurso nos moldes atuais para entrar na Engenharia Agrícola, em 1986. Ele foi Vice-diretor nas duas gestões do Prof. Wolmer, foi Chefe de Departamento e Coordenador do Curso de Engenharia Agrícola, esteve junto ao grupo do Projeto REUNI e atualmente é Coordenador-adjunto do Curso de Engenharia Agrícola e do Curso de Especialização em Engenharia de Biossistemas à Distância.
Depois foi a vez do Prof. Amauri Cruz Espírito Santo fazer seu concurso para titular. Ele, que em 1996 aceitou me substituir para que eu pudesse me afastar para doutorado, a quem muito agradeço, porque na época a Universidade não disponibilizava substitutos. Assim como o Prof. Orlando Pereira-Ramirez substituiu a mim e ao Prof. Carlos Luz para podermos juntos nos qualificar. O Prof. Amauri também ajudou a consolidar a Engenharia de Produção, tendo sido seu mentor durante os estudos do projeto REUNI e depois Coordenador do curso, ajudando de todas as formas para que esse curso seguisse seu caminho. E o Prof. Orlando Pereira-Ramirez fez o mesmo pelo Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental, tendo sido também tutor do PET-FEA e professor querido e homenageado por quase todas as turmas de Engenharia Agrícola, tendo se aposentado em 2013.
O Prof. Alfredo D’Ávila foi o próximo a prestar concurso para titular. Recentemente aposentado, mas prestou relevantes contribuições à comunidade através dos muitos cursos ministrados sobre estradas vicinais, a quem ensinava a manutenção destas estradas tão necessárias para o escoamento da produção rural. Também criou e manteve em funcionamento um importante laboratório de Mecânica dos Solos, localizado no Campus do Capão do Leão.
Então, foi a minha vez de prestar concurso para titular. Realizei meu concurso em maio de 2016. E neste ano de 2017, em breve, o Prof. Wolmer estará prestando seu concurso. Portanto, para um Centro com 108 professores, somos apenas quatro em véspera de cinco titulares, considerando que um se aposentou. Somos muito poucos ainda.
Ressalto que a maior parte da contribuição que todos demos a este Centro, não foi na condição de titulares, porque este é o patamar final das nossas carreiras, quando a grande relevância de nossas contribuições já foi feita.
Sou coordenadora do Curso de Especialização em Engenharia de Biossistemas à Distância desde sua criação e junto com um grupo de mais sete professores estamos já na terceira turma e juntos publicamos nove livros para os módulos do curso; além dos vários outros livros que tenho publicado sozinha ou com outros colegas, todos na área de Engenharia de Processamento de Produtos Agrícolas ou didáticos de disciplinas das engenharias. Processo esse de publicações que ainda continua, porque a Engenharia Agrícola é muito carente de literatura específica, direcionada, fato esse que como aluna muito me ressentia.
Também fui Coordenadora deste curso quando era presencial, e através da verba das inscrições angariamos recursos para melhorar o Laboratório de Engenharia de Pós-colheita, que se originou de um financiamento de Projeto da FAPERGS, em 1995, que envolveu a mim e aos Profs. Wolmer e Carlos Luz. Este laboratório ocupou o prédio 35 no Campus do Capão do Leão e servia à graduação e à especialização. Mais recentemente, este laboratório recebeu recursos de Pró-Equipes.
O fato do grupo de Professores mais ligados à Engenharia Ambiental e Sanitária ter aprovado o primeiro curso de Mestrado do CEng no ano passado também foi um fato histórico de grande relevância para todos nós e merece todo o nosso reconhecimento, mencionando isso na pessoa de seu Coordenador Prof. Robson Andreazza.
Mas, no sentido de prestar contas dos feitos destes professores que muito contribuíram para a criação deste Centro, com foco principalmente no ensino, porque sabemos o quanto nos desdobramos para preencher todas as disciplinas de todos os cursos, temos contribuído para a sociedade. Contribuímos porque passamos de 22 professores para 108, trazendo todos esses colegas para nosso convívio. Passamos da oferta de 40 vagas anuais para cerca de 400 vagas, permitindo que muitos jovens pelotenses e de fora da cidade viessem aqui realizar seus sonhos de cursar uma engenharia.
A Engenharia Agrícola cumpriu seu papel!
Somos o único curso do CEng ligado às Ciências Agrárias, somos o corpo docente mais experiente, talvez o mais conservador. Conservador, talvez justamente porque sejamos ligados ao meio rural. O produtor rural por natureza é conservador porque se ele arriscar e errar ele compromete um ciclo, em geral anual, cujas perdas poderão representar muitas dívidas e quem sabe até a perda da terra, fonte de seu sustento. Então ele é cuidadoso na hora de adotar novas tecnologias, modernismos. Nós somos conservadores neste sentido e no sentido de também querer conservar os bons costumes, a educação, o trato cerimonioso entre as pessoas, a hierarquia, o respeito ao outro.
Então, em vista de tudo que comentei, como o Centro de Engenharias está prestes a entrar em um processo que deverá sempre nos engrandecer e nos unir, que é a eleição de quem irá nos dirigir, conclamo a todos em nome dessa nossa história, que é a origem do que somos hoje, que nada venha a alterar tudo que estamos construindo, hoje com tantas mãos, porque não há dinheiro, cargo, vaidade ou qualquer outra coisa que valha a pena.
O melhor que podemos fazer por nós mesmos é nos respeitar, não denegrir a imagem do outro, não tirar os méritos de ninguém, e juntos avançarmos para conquistar nossos espaços merecidos.
Desejo que esse processo seja o mais gentil possível, que traga o melhor de nós mesmos à tona para que possamos seguir de forma agradável nossos trabalhos, com convívio amigável e de camaradagem entre todos como sempre fizemos.
Que possamos dizer: o Ceng cumpriu seu papel!
Porque somente unidos seremos fortes!
Profa Maria Laura Gomes Silva da Luz