Este exemplar de “História em revista” traz, pela primeira vez, dois números reunidos na mesma edição, resultado da coincidência de alguns problemas, tanto de edição, quanto da infra-estrutura necessária, especialmente nestes últimos dois anos, causados, em parte, pelos transtornos de uma greve de docentes e técnico-administrativos, e seu conseqüente reflexo na vida acadêmica e administrativa das universidades federais.
Assim, para ficarmos em dia com a sua periodicidade, estamos lançando um número duplo com dois dossiês diferentes, embora relacionados. Nossa intenção é procurar manter a revista em dia a partir de agora, buscando uma qualificação crescente de seus artigos.
Nesta procura pelo aperfeiçoamento, depois de intensa discussão, procuramos modificar sua apresentação gráfica, embora preservando a sua estrutura interna, de forma a torná-la mais atraente e atualizada. Esperamos que os leitores apreciem estas modificações, como nós apreciamos fazê-las.
Quanto ao seu conteúdo, no primeiro dossiê, “História e Cidade”, aparecem os artigos de Paulo César Possamai, que analisa o papel que a Colônia de Sacramento desempenhou dentro do Império Colonial português.
Aristeu Lopes faz uma abordagem inovadora no estudo sobre jornais, concentrando-se nas representações da proclamação da República que aparecem em charges do periódico A Ventarola, jornal literário de finais do século XIX em Pelotas.
Por fim, três artigos se concentram na análise de uma Pelotas que apresenta inúmeras deficiências, podendo ser vista como extremamente contraditória. Ao lado de espaços de riqueza e opulência, proporcionados ainda pela produção do charque, existia uma enorme população marginalizada. Lorena Almeida Gill analisa esta dualidade a partir das histórias de vida de Francisco Lobo da Costa, um poeta e Salvador Duarte, um jornaleiro; Rosa Rolim de Moura concentra o seu olhar na expansão urbana e na construção das chamadas vilas proletárias pelotenses; já Cíntia Vieira Essinger avança no tempo e observa alguns aspectos da vida de trabalhadoras de fábricas de tecidos, nas décadas de 1940 e 1950, numa visão ampla, que transcende as limitações decorrentes ao gênero no quotidiano da fábrica, discutindo seus locais de moradia e a espacialização dessas casas dentro da cidade.
O segundo dossiê ganhou o nome de “As difíceis artes do bem viver”, porque tem como unidade a trajetória de setores ou indivíduos das classes oprimidas, em várias situações e momentos, e as formas pelas quais eles tentaram resolver seus problemas, com ou sem sucesso.
Caiuá Cardoso Al-Alam discute a organização da força policial na cidade de Pelotas, como uma instituição que servia para impor o controle sobre os escravos e os populares, mas centrando seu olhar sobre os conflitos internos entre os próprios membros da força policial, a instituição e seus superiores.
Jovani de Souza Scherer propõe-se a discutir dois tipos de experiências vivenciadas pelos escravos durante a Guerra dos Farrapos: a fuga e a libertação, através das cartas de alforria, evidenciando que, no segundo caso, a maioria das alforriadas eram mulheres.
Rodrigo de Souza Weimer analisa um caso criminal envolvendo uma contratada e sua ex-senhora em São Francisco de Paula, e, pela própria construção do texto, elabora as várias leituras propiciadas pelo escabroso processo, enquanto o historiador se aprofunda no desvelamento das causas do crime e da trajetória da criminosa.
Fechando o dossiê, Carla Gabriela Cavini Bontempo, aborda a situação desalentadora em que foram jogados os imigrantes trazidos especialmente para Pelotas nos últimos anos da década de 1880, período final do império e início da República.
Na seção “Instrumentos de trabalho” o professor Paulo Ricardo Pezat apresenta uma listagem das publicações da Igreja Positivista do Brasil pertencentes ao acervo do Núcleo de Documentação Histórica da UFPel e disponíveis para consulta. Tais documentos são bastante raros e importantes para aqueles pesquisadores que se dedicam à temática.
Este número encerra com a publicação de duas resenhas: uma de um professor do Mestrado em Ciências Sociais, William Héctor Gómez Soto, que analisa a obra “Freaknomics – o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta” e a outra, de uma mestranda do mesmo curso, Marília Flôor Kosby, que reflete sobre o livro “No território da linha cruzada: a cosmopolítica afro-brasileira”.
Desejamos a todos uma ótima leitura.
Lorena Almeida Gill
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