Aldiva Lucio (História Pouco Contadas)¹

Nasceu no dia 21 de junho de 1936, na cidade de Arroio Grande, Rio Grande do Sul. Em sua carteira de identidade consta apenas o nome de sua mãe, Dinorá Lucio.
Como a família tinha uma situação econômica vulnerável, trabalhou cuidando de crianças, em Pelotas, logo cedo e, após, prestou serviços no consultório dentário do cirurgião dentista, Tasso Faraco de Azevedo, o qual era professor no curso de Odontologia, da então Universidade do Rio Grande do Sul (URGS), que passou assim a ser denominada em 1947 e incorporou as Faculdades de Direito e Odontologia de Pelotas, além da Faculdade de Farmácia, de Santa Maria.
Ainda que trabalhasse pode prosseguir com os estudos e se formou no Colégio Diocesano em 1964, no curso científico. O primeiro e segundo anos foram realizados no Colégio Municipal Pelotense.
O primeiro cargo que exerceu na esfera pública foi como escrevente datilógrafa na Universidade do Rio Grande do Sul, junto à Faculdade de Odontologia de Pelotas, a partir do dia 9 de abril de 1962 (Portaria 549), recebendo o salário mensal de CR$ 15.000.00. Quando foi contratada consta como interina, mas passou a ser efetiva a partir de 8 de abril de 1967, por ter completado cinco anos de serviço público federal.
Durante o período em que atuava como datilógrafa começou a fazer o curso de cirurgiã dentista (1964) e se formou no ano de 1968, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), já que a UFPel só foi criada oficialmente em 1969.
O interessante é que na sua trajetória profissional tudo foi bastante rápido. Trata-se da inserção de uma mulher negra em um espaço universitário, o que não era comum em se tratando, especialmente, de professoras de ensino superior.
Esta afirmativa se relaciona ao fato de que ela se formou em 1968 e já em 1970 começou a dar aula como auxiliar de ensino, no Instituto de Biologia. Uma das disciplinas que ministrava era Anatomia Humana para os cursos de Odontologia, Nutrição, Educação Física e Ciências Domésticas.
Como seu contrato inicial, via Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) era de 12 horas semanais, ainda no ano de 1970 solicitou uma mudança para 24 horas, ao apresentar um relatório em que enfatizava as várias atividades que realizava e que se intensificaram no decorrer dos anos: participação em congressos nacionais e internacionais; colaboração no projeto RONDON, aulas na Cruz Vermelha, filial Pelotas, chefe do setor de estágios da Universidade, chefia de departamento, dentre outros. Quando se aposentou tinha 40 horas, conforme se pode ver por sua ficha existente no arquivo da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEP-UFPel).
Aldiva terminou o Mestrado em Anatomia, no dia 4 de junho de 1980, na Escola Paulista de Medicina e, cerca de dois anos após (22 de outubro de 1982), obteve o título de Doutora, também em Anatomia, pelo Instituto de Ciências Biomédicas, da Universidade de São Paulo (USP).
Ela teve uma filha, chamada Maria de Fátima Lucio e faleceu em 23 de agosto de 2021, com 85 anos de idade. Durante o período em que esteve na Odontologia se envolveu também em projetos artísticos culturais, como o grupo de teatro, coordenado pelo professor José Luiz da Nova Cruz. No ano de 1967, por exemplo, fez parte do elenco da peça, A Balaiada, encenada no VI Festival de Teatro de Pelotas, junto com “Iria Guimarães Machado, Alcebíades Barbosa, Carlos Alberto Dionello, Daltro Paiva, Fernando Pedreira, Gilson Souza, Homero Blois Karam” (Pavelacki, 2016, p. 73), além de estar presente no Coral existente na instituição, durante um período.
Se as Universidades no Brasil hoje são um pouco mais inclusivas, especialmente tendo em vista a política de cotas, construída no ano de 2012, Aldiva foi uma precursora na UFPel e é provável que tenha sido a primeira professora negra da instituição, em um ambiente que era marcadamente elitista, machista e racista.
Apesar de ter uma vida assinalada por dificuldades familiares, o que trouxe adversidades econômicas, conseguiu, através do estudo e do esforço, ocupar um espaço importante, que certamente abriu portas para outras mulheres negras que vieram a seguir.

Referências:

  • Acervo da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas, (PROGEP/UFPel).
  • PAVELACKI, Bernardo. A Sociedade de Teatro de Pelotas (STEP) e seus Festivais (1962-1971): resgate de um projeto pioneiro na história teatral pelotense. Trabalho de Conclusão de Curso da Licenciatura em Teatro (UFPel). Pelotas: UFPel, 2016. https://wp.ufpel.edu.br/teatro/files/2021/08/Bernardo-Perini-Pavelacki-2.pdf Acesso em 26 de dezembro de 2023.

Lorena Almeida Gill

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1. O presente verbete biográfico é exemplificativo daquilo que pretendemos criar com o projeto História Pouco Contadas. Esse verbete não encontra-se acabado e poderá sofrer modificações até a versão final.