Como parte da missão do Núcleo de Documentação Histórica da UFPel – Profa. Beatriz Loner, a equipe do NDH organizou, no primeiro semestre de 2019, e torna público de forma gratuita o livro “A família Silva Santos e outros escritos: escravidão e pós-abolição ao sul do Brasil“.
A obra reúne 11 artigos produzidos pela Profa. Beatriz Loner e outros pesquisadores abordando a temática da escravidão e da pós-abolição ao sul do Brasil. São textos que sintetizam o profícuo trabalho de Beatriz no campo do estudo de temas relacionados à luta de negros e negras pela liberdade e por melhores condições de vida. Entre conquistas e retrocessos, mostra que a comunidade negra pelotense foi protagonista em vários momentos da vida cotidiana na cidade em fins do século XIX e início do século XX (período estudado pela professora).
A organização da obra partiu da conjugação de uma criativa homenagem, prestada pelo Grupo de Estudos sobre o Pós-Abolição da UFSM (GEPA), quando do falecimento de Bia (como era carinhosamente reconhecida), em 29 de março de 2018, que publicou em sua página no Facebook uma lista de textos com o título “Leia Beatriz Loner“, na qual referenciava algumas das principais produções sobre a temática do GT, e a possibilidade de realização de um produto dentro do Projeto “Afrodescendentes na região Sul: biografias, trajetórias associativas e familiares“, financiado pela CAPES, dentro do edital Memórias Brasileiras – Biografias.
O Projeto Afrodescendentes… instituiu uma parceria entre a UFPel, a UFPR e a UFSC, sob a coordenação da Profa. Joseli Maria Nunes Mendonça tendo, por parte de Bia, a intenção de acompanhar a trajetória da família Silva Santos, ao longo de oito gerações, da escravidão aos dias atuais. Esse trabalho conseguiu mapear as primeiras quatro gerações e, por ocasião do falecimento de Bia, foi interrompido.
Mesmo inconclusa, a pesquisa de Beatriz gerou bons frutos que podem ser verificados nos primeiros três textos do livro. Os demais trabalhos versam sobre o universo da escravidão, luta pela liberdade, abolição e pós-abolição. Podemos chamar a atenção para os trabalhos: “De escravo a doutor…“, no qual Beatriz mostra como foi possível para um ex-escravo libertar-se, licenciar-se em medicina e obter reconhecimento na sociedade pelotense em fins do século XIX e primeiros anos do século XX; outro capítulo trata da “Loteria do Ipiranga“, primeira grande premiação deste estilo em nível nacional (em que pese ter sido instituída pelo governo paulista), e de como escravos pelotenses foram os ganhadores da mesma, o que fizeram com os recursos e qual impacto teve que teve o prêmio, o qual atualizado para 2019, representaria algo em torno de 160 milhões de reais, distribuídos entre 5 pessoas da cidade; outros temas dão conta da saúde do negro, da organização profissional e cultural da raça em Pelotas, de movimentos conflituosos pela liberdade, etc.
O último parágrafo, do último artigo, representa com fidelidade as 260 páginas do livro e todo o empenho de Beatriz em mostrar a importância de conhecermos a história de homens e mulheres que, no mais das vezes, são relegados ao esquecimento na historiografia oficial: “O objetivo desses estudos, em nosso entender, é o de, em alguns anos, se ter uma ideia melhor de como homens e mulheres negros, libertos do fantasma da reescravização e de suas consequências a partir de 1888 (e apesar de tudo o que se possa falar da precariedade da liberdade nos “tempos modernos” do capitalismo) lutaram para viver e adaptar-se às novas condições de vida. Ao longo das décadas da Primeira República, algumas vezes venceram, na maioria dos casos foram empurrados para trás, pela sina do operariado no Brasil e pela frustrante e presente discriminação racial que sempre os atingiu. Mas, ao fim e ao cabo, não foram pobres coitados, incapazes de viver por si mesmos. Buscaram oportunidades e empregos, aproveitaram ocasiões e padrinhos, lutaram e militaram alguns, nas sociedades operárias. Milhares se conformaram, alguns tiveram momentos de glória, outros reconheceram-se derrotados. Mas, enfim, sempre tentaram melhorar de vida, tal como os brancos, tal como o operariado comum. Para não deixar de citar Thompson, mesmo que na última frase, nesse sentido, não precisam da comiseração ou condescendência de nossa parte, precisam é de mais estudos.” (LONER, Beatriz A.)
O livro está disponível, on-line, de forma gratuita, basta clicar no link acima ou na imagem para baixá-lo.
Até o final do ano a equipe do NDH pretende ter em mãos a obra impressa, a qual será distribuída, também de forma gratuita, para bibliotecas, centros de pesquisa, etc.
ERRAMOS: No texto original desta página havia uma referência ao GT-Emancipações e Pós-Abolição da ANPUH-RS como o autor da homenagem “Leia Beatriz Loner”. Na realidade, a compilação de textos e a disponibilização dos mesmos fora feito pelo Grupo de Estudos sobre o Pós-Abolição (GEPA), da Universidade Federal de Santa Maria, a quem pedimos desculpas pelo engano. Aproveite e acesse o trabalho do GEPA através de sua página no facebook.
[atualização em 13/06/2019 – 17 horas]
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