Em 2021 o curso de Licenciatura em História da UFPel completou 40 anos. Para comemorar a data professores e egressos do curso lançam livro comemorativa.
No ano de 2021 o curso de Licenciatura em História da UFPel completou quatro décadas. O início do seu funcionamento aconteceu a partir de uma portaria publicada no dia 28 de maio de 1981, em um momento histórico importante para o Brasil, pois a conjuntura apontava para o fim da ditadura civil-militar, iniciada no ano de 1964.
A graduação, em seu início, tinha, portanto, uma conformação marcada por este período, com disciplinas como Estudos dos Problemas Brasileiros (EPB), Organização Social e Política do Brasil (OSPB) e Educação Moral e Cívica (EMC), as quais não permitiam muitos debates e críticas ao modelo existente.
Como tratava-se de um curso de História, no entanto, possibilitou a construção de alguns espaços de confronto de ideias, o que fez com que se organizassem mobilizações importantes de alunos, que tinham a finalidade, dentre outras questões, de alterar o currículo existente, o que foi feito no ano de 1990, quando a Licenciatura Curta de Estudos Sociais passa a Licenciatura Plena em História, com duração de 4 anos.
Nas páginas deste livro comemorativo algumas dessas temáticas aparecem com vigor. Para compor a obra foram convidados professores e professoras formados desde a década de 1980, os quais fizeram parte de dois eventos promovidos, de forma remota, no decorrer de 2021: o primeiro foi intitulado Jornadas dos 40 anos da Licenciatura em História e aconteceu entre o dia 22 de abril até 08 de julho, promovido pelo Núcleo de Documentação Histórica (NDH); já o segundo recebeu o título de Memórias de formação para o Ensino de História: conversa com professores/as egressos/as da licenciatura em história da UFPel, tendo ocorrido dos dias 12 de agosto a 18 de novembro, esse promovido pelo Laboratório de Ensino de História (LEH/UFPel).
O capítulo que abre o livro foi escrito por Giana Lange do Amaral, atual professora da Faculdade de Educação/UFPel, que disserta sobre suas memórias ainda vinculadas ao curso de Estudos Sociais, considerando, entre outros, a estrutura curricular e as experiências vivenciadas com professores e colegas do curso, em especial, junto ao diretório acadêmico. Segue-se texto de Lorena Almeida Gill, contemporânea de Giana, professora do Instituto de Ciências Humanas, que teve sua formação também nos anos de 1980 e construiu sua narrativa vinculada às chamadas escritas de si, chamando a atenção, dentre outros pontos, para a construção do Núcleo de Documentação Histórica, coordenado por ela atualmente e fundado pela professora Beatriz Loner. O terceiro texto, de Ledeci Lessa Coutinho, professora estadual e atual Diretora da Escola Estadual Monsenhor Queirós, egressa da turma 1995, já em Licenciatura Plena em História, discute a constituição da identidade negra como ato de resistência, revisitando o seu trabalho de conclusão de curso, escrito à época de sua formatura.
Para o início dos anos 2000 aparecem os textos de Caiuá Al-Alam, professor da Universidade Federal do Pampa e Débora Clasen de Paula, professora da Universidade Federal da Fronteira Sul, que relatam a experiência de atuarem em uma atividade de extensão vivenciada no Museu da Baronesa de Pelotas, no âmbito na educação patrimonial, considerando que esta foi fundamental para a construção de uma formação mais crítica e engajada no período da graduação; um capítulo de Taiane Mendes Taborda, professora da rede privada de Pelotas e doutoranda em História, mostra uma trajetória acadêmica em que os estágios trouxeram um sentido novo para a graduação, de tal forma que sua atuação como docente é marcada por pesquisas propostas aos seus alunos, na sala de aula; Mariluci Vargas, professora colaboradora do PPGH/UFRGS, por sua vez, disserta de forma mais incisiva sobre o período pós feitura da graduação, especialmente sobre suas práticas de pesquisa no campo da ditadura e dos usos dos testemunhos históricos.
Na segunda metade dos anos 2000, Micaele Scheer e Tamires Soares, professoras da rede municipal de Lajeado, mesmo não sendo colegas de turma, compartilharam várias experiências próximas durante a graduação, vinculadas à história social do trabalho, as quais são contadas no texto; Natiele Mesquita, professora da rede municipal e estadual de ensino, por sua vez, centra sua análise no ofício de professora, abordando os vínculos com a Universidade via Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, em um processo que perpassa a formação inicial e continuada, já que é uma das supervisoras do PIBID/UFPel atualmente e, por fim, para esta década se tem o texto de Débora Kreuz, professora da Universidade Estadual do Piauí, que explicita a importância de ter participado de projetos como o pré-vestibular Desafio, do projeto Rondon e ainda do PIBID para a conformação de sua prática como professora e pesquisadora da temática sobre a ditadura no Brasil.
Passando aos anos de 2010, temos o texto de Mario Marcelo Neto, professor da rede privada, que aborda sobre a formação recebida, tecendo comentários sobre a importância de ter participado do PIBID, até as dificuldades de inserção no mercado de trabalho e a necessidade de formação continuada; segue-se um capítulo sobre a constituição de uma revista discente, vinculada ao departamento de História, intitulada Ofícios de Clio. O texto é assinado pela professora que coordena o projeto, Márcia Espig e por dois de seus bolsistas, Bethânia Werner e Luiz Pagoto e os autores narram a trajetória do periódico, evidenciando-o como um espaço importante de formação e divulgação histórica; O capitulo assinado por Caroline Cardoso da Silva, egressa da licenciatura e do mestrado em História da UFPel, aborda suas experiências desde a graduação centrando sua análise em seu objeto de pesquisa, ou seja, as mulheres e a inserção do mercado de trabalho de Pelotas, através de contratos terceirizados; Ana Gabriela Vieira, escritora, docente da rede municipal de ensino de Pelotas e doutoranda em Educação, aborda em seu texto como foi tornar-se professora e pesquisadora, a partir de encantamentos que foram sendo construídos desde a graduação, principalmente a partir do que foi vivenciado junto ao Laboratório de Ensino de História (LEH/UFPel). O texto de Jéssica Lopes, formada em 2019 e já atuando junto à rede privada de ensino, trata-se de um relato de memórias, relacionado tanto à graduação quanto à pós-graduação, cuja temática foi vinculada ao mundo dos trabalhadores. O último texto de autoria de Lisiane Manke, Mauro Dillmann e Aristeu Lopes, egressos das turmas de 2002 e 2003, atualmente professores do departamento de História, reúne um conjunto representativo de fotografias que expressam através de seus registros, eventos e vivências de formação inicial de professores e professoras história.
Os textos, portanto, embora abordem um vasto período temporal têm a pretensão de narrar memórias e a construção de afetos, que foram sendo realizados no decorrer desses últimos quarenta anos. Assim, os eventos alusivos ao 40º aniversário do curso, promovidos durante o difícil ano de 2021, enquanto vivenciávamos o segundo ano pandêmico, decorrente da Covid-19, foram, de certo modo, momentos de encontro e celebração do passado, ao mesmo tempo que de projeções futuras, que suscitaram a possibilidade da escrita de si, em movimentos constitutivos de identidades individuais e coletivas.
Ainda que seja um livro comemorativo permite vislumbrar as mudanças que foram sendo estabelecidas através das décadas, marcadas por transformações na História do país e, consequentemente, na trajetória das universidades brasileiras, e mais especificamente, no curso de Licenciatura em História da UFPel.
Pelotas, verão de 2021
Lorena Almeida Gill
Lisiane Sias Manke