Playlist: Tesouro linguístico

Criamos uma playlist multilíngue no Spotify. A lista das músicas e das línguas pode ser visualizada no arquivo do Drive. Há muita música boa em outras línguas, além das que costumamos escutar no nosso dia a dia. Aproveite e viaje nesse mundo musical! Aceitamos sugestões para inclusão de músicas e línguas.

Link da Playlist:
https://open.spotify.com/playlist/6VyqW9A1V5mzboYa7lW10F?si=TaiaR18CQL-3lacUcaXmRg

Link do Youtube:
https://www.youtube.com/watch? v=Hd8FWVeqqn8&list=PLCkPG4S44PBCDOrEP7KyWJZO2WCmccizq

Link do Drive:
https://drive.google.com/open?id=1L-gH1XCyZcYwpT–P9FRdnnIYiyhKqVFWw5DVfmzL44

Descrição e norma: abordagens linguísticas

Português é muito difícil!

Não é incomum essa formulação ocorrer entre estudantes, pessoas da mídia e (alguns) professores. Dentre os motivos, estão as escolas, o gargalo educacional no ensino básico e a finalidade desses estudos desaguarem no vestibular. E, quando se fala de língua e linguagem em veículos de comunicação, parte-se da norma: é certo falar assim, é errado falar daquele jeito (“porque a língua não permite tal uso”).

Esse olhar desconsidera que a língua é viva. Que ela muda. Que é, enfim, um objeto complexo. A impressão que se tem é que apenas a norma, a “lei gramatical” chega a público. Quando uma análise linguística “foge” de olhar à norma, a finalidade é outra: ao invés de dizer que tal formulação é errada, busca-se descrever os processos de sua ocorrência.

A Linguística consiste no estudo científico do objeto língua. Aqui são citadas duas abordagens, normativa e descritiva, mas existem tantas outras. A Linguística tem pouco mais de um século de existência, tendo como ponto inicial a publicação da obra Curso de Linguística Geral, de Ferdinand de Saussure, em 1916. Isso não significa que não houvesse reflexão sobre línguas e linguagens antes disso, mas o livro foi um divisor de águas em que houve, pela primeira vez, uma delimitação do objeto de estudo dessa ciência: a Linguística deveria estudar a estrutura, a língua, as regularidades: as normas.

Nesse primeiro momento, deixava-se de fora a linguagem, os aspectos individuais, históricos e sociais dos falantes. Com o tempo, linguistas notaram a necessidade de olhar para aquilo que Saussure havia ignorado: a língua era muito mais do que estrutura.

De acordo com Perini (2007, p. 21): “Não há a menor base linguística para a distinção entre ‘certo’ e ‘errado’ – o linguista se interessa pela língua como ela é, e não como deveria ser”.

Assim, os jeitos de se olhar para a língua e a linguagem são múltiplos, a depender do interesse do pesquisador. Só existimos enquanto seres de linguagem, é por ela que significamos o mundo. Com isso, busca-se considerar aspectos para além do certo e do errado, ou seja, para além da norma.

 

REFERÊNCIAS:

PERINI, Mario. Princípios de linguística descritiva: introdução ao pensamento gramatical. Parábola: São Paulo, 2007.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. Cultrix, São Paulo: 2009.

 

Autor: Gabriel Agustinho Piazentin
Graduado em Linguística pela Unicamp e em Jornalismo pela Unimep. É aluno do mestrado em Divulgação Científica e Cultural, da Unicamp, tendo como objeto de pesquisa a divulgação científica da Linguística. Atualmente, também, é voluntário no Cursinho Popular Podemos+, em Piracicaba, onde dá aula de redação.

Pomerano: uma língua brasileira

A língua pomerana teve origem na Pomerânia, uma região que se localizava entre os atuais territórios da Alemanha e da Polônia. Segundo Manske (2015, p. 17), devido a sua localização estratégica, com saída para o Mar Báltico, a Pomerânia foi alvo de inúmeras disputas territoriais. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a maior parte do território da Pomerânia foi anexada à Polônia, e a língua pomerana passou a ser considerada como uma língua moribunda na Europa. Por isso, muitas famílias deixaram de falar o pomerano e de ensinar aos seus filhos, fato que contribuiu para a sua quase extinção na Europa.

No século XIX, motivados por guerras, fome, pestes, crises no campo e desemprego, pomeranos migraram para o Brasil e outros países. Atualmente, os descendentes de pomeranos se distribuem pelos seguintes estados brasileiros: Espírito Santo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia e Minas Gerais. Estima-se que há, em todo o Brasil, cerca de 300 mil pomeranos (TRESSMANN, 1998). Você já imaginou se sentir em outro país mesmo estando no Brasil? Em algumas cidades do Brasil, como na região da nossa universidade, o pomerano é falado por boa parte dos habitantes.

A língua pomerana possui o status de língua alóctone (não dialeto!), isto é, língua não originária do Brasil. No entanto, hoje, há uma forte corrente para a língua pomerana ganhar status de língua brasileira, autóctone, porque praticamente não é mais falada na Europa. Segundo Rodrigues (2008), o pomerano sempre foi uma língua oral, não tinha regras de escrita (língua ágrafa). Com o intuito de normatizar a escrita do pomerano, Tressmann (2006) desenvolveu o Dicionário Enciclopédico Pomerano (2006), que possui 16.000 verbetes e 560 páginas. A língua pomerana apresenta particularidades distintas do português e do alemão, tais como a escrita, fala, pronúncia, estrutura das palavras e possui vários cognatos e semelhanças com o inglês e o alemão-padrão (por exemplo, Bauk, book e Buch ou Sonn, sun e Sonne, respectivamente).

Fonte: Hammes (2014, p. 209)

 

REFERÊNCIAS:

HAMMES, E. L. A imigração alemã para São Lourenço do Sul – Da formação da sua Colônia aos primeiros anos após seu Sesquicentenário. São Leopoldo: Studio Zeus, 2014.

MANSKE, C. M. R. Pomeranos no Espírito Santo: história de fé, educação e identidade. Vila Velha, ES: Gráfica e Editora GSA, 2015.

RODRIGUES, A. F. A narrativa de Thomas Davatz: relato de memória e documento histórico, sentimentos e ressentimentos na História (1850-1888). 2008. 116 f. Monografia (Graduação em História) – Instituto de História, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Minas Gerais, 2008.

TRESSMANN, I. Bilingüismo no Brasil: O caso da Comunidade Pomerana de Laranja da Terra. Associação de Estudos da Linguagem (ASSEL-Rio). Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Rio de Janeiro,1998.

TRESSMANN, I. Dicionário Enciclopédico Pomerano-Português. Santa Maria de Jetibá, Espírito Santo, 2006.

 

Autora: Daniele Ebel
Falante de pomerano e graduanda do curso de Licenciatura em Letras Português e Alemão na Universidade Federal de Pelotas.

Um mundo poético e multilíngue

De africâner a vietnamita. No Lyrikline, você pode encontrar poemas escritos e recitados em diversas línguas! Cada poema pode ser encontrado por poeta, gênero, tema, forma, língua ou aleatoriamente (conforme mostra a imagem abaixo). Além disso, algumas poemas contam com traduções.

Esse site é um projeto da Literaturwerkstatt, de Berlim, em cooperação com os seus parceiros internacionais. Aproveite para escutar rimas em várias línguas, tesouros poéticos que representam infinitas possibilidades de combinação de sons.

Fonte: Lyrikline

Aplicativos para aprender línguas indígenas

A Abralin, Associação Brasileira de Linguística, postou no seu Facebook uma lista de aplicativos para aprender línguas indígenas: “Vários aplicativos surgiram nos últimos anos para nos ajudar a aprender línguas indígenas da América Latina. Se você está procurando aprender um nova língua, aqui estão alguns aplicativos interessantes”. Para quem tem interesse, vale a pena conferir o site com a lista!

O que são políticas linguísticas?

Políticas linguísticas se referem, conforme Calvet (2008), a decisões sobre as relações da sociedade e das pessoas com as línguas. As políticas linguísticas têm relação, basicamente, com decisões em âmbito mundial, nacional, estadual, municipal ou familiar sobre o uso da(s) língua(s). Para quem quer ler mais, as revistas acadêmicas da Abralin, Revel, Working Papers in Linguística, Língua e Instrumentos Linguísticos e Cadernos de Letras têm edições especiais sobre o tema.

No Brasil, há um importante instituto que se dedica às políticas linguísticas, o IPOL –  Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística. Segundo o site do instituto, ele “é uma instituição sem fins lucrativos, de caráter cultural e educacional, fundada em 1999, com sede em Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, que representa os interesses da sociedade civil”. Recomendamos seguir o site do IPOL, também no Facebook. A missão do IPOL é desenvolver projetos de apoio às comunidades de falantes de línguas e variedades linguísticas minoritárias do Brasil e do Mercosul, no sentido de manutenção e promoção da diversidade linguística.

Um exemplo de ação de política linguística é na cooficialização de línguas em municípios brasileiros. Segundo o IPOL, várias línguas já foram cooficializadas no Brasil, conforme o quadro abaixo, e podem ser usadas em contextos oficiais em cada um dos municípios. Essas leis são, segundo Altenhofen (2013), um método de salvaguarda, mas são necessárias ações concretas para que cada uma das línguas esteja em um patamar semelhante ao status do português.

Fonte: Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística

 

 

REFERÊNCIAS:

ALTENHOFEN, C. V. Bases para uma política linguística das línguas minoritárias no Brasil. In: NICOLAIDES, C. et al. (Eds.). Política e Políticas Linguísticas. Campinas: Pontes Editores, 2013a. p. 93–116.

CALVET, L.-J. As políticas linguísticas. Tradução: ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

Por um Brasil e uma mídia sobre/em outras línguas

Neste blog, também queremos compartilhar boas reportagens veiculadas na mídia. A série “Brasil em outras línguas” do programa Como será? é um exemplo de que a mídia consegue fazer boas reportagens – com ajuda de linguistas – sobre o nosso tesouro linguístico. Afinal, temos mais de 200 línguas no nosso território!

O primeiro vídehttps://www.ethnologue.com/map/BR_xxo da série de reportagens mostra que em plena cidade de São Paulo existe uma aldeia que mantém viva a língua guarani, que dá origem a muitas palavras do português brasileiro. Nessa aldeia, ensina-se a língua para as crianças, com o objetivo de que a tribo e, principalmente o guarani, não se estingam. O segundo vídeo mostra a realidade de Assunção, no Paraguai, onde a língua guarani tem status de língua oficial juntamente com o espanhol e, por isso, mais respeito e valorização. O próximo vídeo conta que em Mato Grosso, na UNEMAT, estudantes indígenas cursam pedagogia para indígenas – Pedagogia em Licenciatura Intercultural. O objetivo é que eles retornem às aldeias, para darem aula de sua língua materna para seu povo (Aruak ou Nabimkwara). Por fim, o último vídeo mostra pesquisadores/linguistas visitando e convivendo com indígenas para gravar, digitalizar e transcrever a sua fala, uma riqueza no que se refere à diversidade linguística indígena. Isso ocorreu na Região Amazônica, mais precisamente nos estados do Pará e Rondônia.

 

REFERÊNCIA:

EBERHARD, David M.; SIMONS, Gary F.; FENNIG, Charles D. (eds.). 2019. Ethnologue: Languages of the World. Twenty-second edition. Dallas, Texas: SIL International.

 

 

 

Por que estudar pronúncia na aula de língua estrangeira?

Boa pergunta, né? A resposta é muito simples e tem relação com o funcionamento e o uso da língua estrangeira. Eliane Rosa nos responde à pergunta de uma forma acessível.

Falar é uma atividade complexa e dinâmica que precisa ser encarada como algo que os seres humanos fazem, não como algo que possuem. Essa atividade envolve, pelo menos, três facetas: a motora (movimentos dos órgãos fonadores), a perceptual (interpretação e compreensão dos sons pelo aparelho auditivo) e a mental (processamento neural). Além de ser considerada uma atividade cognitiva, ela também pode ser vista como uma atividade sociocultural em função da linguagem ser adquirida e utilizada por meio da interação com outros indivíduos.

A língua é um mecanismo que permite exprimir pensamentos em sons. Isto é, pode-se dizer que a língua é um mecanismo que possibilita emitir uma sequência de sons carregada de uma intenção linguística (ou significado). Por exemplo, quando um bebê olha para sua mãe e diz “mama” o que ele faz é produzir oralmente uma sequência de sons (/m/-/a/-/m/-/a/), enquanto a mãe compreende que ele está se referindo a ela. Isso demonstra que som está ligado a um significado armazenado na mente do falante e do ouvinte. Em virtude disso, verifica-se que o som não pode ser aprendido independentemente do significado.

Já que a comunicação se trata da emissão de uma sequência de sons que carregam uma mensagem a ser transmitida e captada pelo ouvinte, é fundamental estudar pronúncia na aula de língua estrangeira. O estudo dos sons faz parte da aprendizagem da gramática de uma língua. Aprender como articular de forma apropriada os sons da língua-alvo possibilita evitar mal-entendidos durante a interação comunicativa com falantes nativos e não nativos dessa língua. Por exemplo, em inglês, se o falante-aprendiz X pretende dizer a frase “The boy is thinking at the beach” (O menino está pensando na praia), mas produz o som “TH” do verbo “thinking” como se fosse um “S”, o que o falante-aprendiz Y vai compreender é a seguinte mensagem: “The boy is sinking at the beach” (O menino está afundando na praia). Em outros termos, esse ouvinte irá pensar que está ocorrendo uma tragédia com um menino em razão de ter entendido que ele está afundando na praia.  No vídeo We are sinking, podemos ver um exemplo de como a pronúncia inadequada (também do do th) pode trazer consequências negativas para a nossa interação social, inclusive provocar acidentes. Diante disso, percebe-se que a produção imprecisa de um som pode provocar uma interpretação falha da mensagem transmitida.

Nesse sentido, os exercícios de pronúncia na aula de língua estrangeira podem trazer contribuições positivas para uma interação comunicativa eficiente e compreensível.

 

Autora: Eliane Nowinski da Rosa
Doutoranda em Linguística Aplicada (UNISINOS), mestre em Fonologia e Morfologia (UFRGS), especialista em Ensino-aprendizagem da Língua Inglesa (Uniritter), graduada em Letras-Licenciatura Plena em Língua Inglesa (ULBRA). Atua como professora de língua inglesa há 17 anos.

 

Chamada para publicação no blog

Estamos aguardando contribuições sobre o seguinte escopo: materiais sobre aprendizagem de línguas, boas práticas relacionadas a línguas, divulgação de materiais em várias línguas, boas reportagens publicadas na mídia, textos sobre diversidade de línguas, contato linguístico, políticas linguísticas, paisagem linguística, vantagens de aprender línguas, estratégias e experiência de aprendizagem de línguas, entre outros temas afins.

Os textos podem ser enviados a qualquer momento (fluxo contínuo). Então, comece a preparar o seu!

DIRETRIZES PARA PUBLICAÇÃO

● O texto não deve ser longo (no máximo, 2000 caracteres sem espaços);
● O texto não deve ter termos técnicos e deve ser compreensível por quem não sabe sobre Linguística (sugestão: pedir para um leigo ler o texto antes de enviar);
● Se o texto tiver termos técnicos, eles devem ser explicados ao público não especialista;
● O texto deve estar inserido no escopo do blog;
● O texto deve ser enviado no formato Word ou em Google docs para o e-mail: laplimm.ufpel@gmail.com;
● Figuras e imagens devem ser enviadas separadamente; incentiva-se o uso de imagens no texto e outros recursos midiáticos, como vídeos, hiperlinks, postagens de redes sociais, entre outros;
● O texto será avaliado e revisado pela equipe do blog;
● O texto deve ser acompanhado de uma breve descrição do(s) autor(es), como pode ser visualizado nos posts anteriores;
● Se houver citação, o texto deve apresentar as respectivas referências e deve ser utilizado um formato para leigos entenderem, por exemplo:
– Segundo/conforme/de acordo com o/a pesquisador/a Nome e Sobrenome
– Segundo/conforme/de acordo com o/a professor/a Nome e Sobrenome
– Como diz/argumenta/menciona/descreve/explica… Nome e Sobrenome
● O autor pode indicar sites para hiperlinks.

Dando ouvidos à diversidade linguística

Para (começar a) ter a percepção consciente da qual já falamos, é importante dar ouvidos às diversas línguas. Aqui, disponibilizamos alguns recursos encontrados na internet para cumprir esse objetivo e se divertir.  😀

Localingual
Mapa interativo que possibilita ouvir trechos de falas de pessoas de todas as partes do mundo falando diversas línguas e variedades linguísticas.

Audio Lingua
Audio-Lingua oferece gravações MP3 em 13 línguas.

BBC Languages
Cursos, áudio e vídeo em 40 línguas.

Forvo
Dicionário de pronúncia. É só digitar a palavra e se divertir.

25 línguas ameaçadas (Endangered Languages)
Áudios e informações (em inglês) sobre 25 línguas minoritárias.

A importância das línguas indígenas – Google Earth
Mapa do Google com áudios em línguas indígenas de várias partes do mundo.

O Grande jogo das línguas (The Great Language Game)
Jogo de adivinhação de línguas (em inglês).

Quiz do Nexo
Quiz de adivinhação de línguas (em português).