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Não se preocupe: os estrangeirismos NÃO estão “matando” a língua portuguesa

Um dos boatos que se ouve por aí é de que “a língua portuguesa está sendo assassinada pelos estrangeirismos”. Fala-se que o constante empréstimo de palavras de outros idiomas fará com que, cedo ou tarde, o português perca forças e deixe de existir. O purismo linguístico sem sentido desse discurso tem origem em ideias nacionalistas e patrioteiras, conforme diz Marcos Bagno (2001), importante linguista e ativista brasileiro. As pessoas se esquecem do fato de que o português brasileiro tem sido influenciado por diversas línguas ao longo dos séculos e que nem por isso se tornou uma língua moribunda.

É importante ter em mente que “as línguas não se desenvolvem, não progridem, não decaem, não evoluem, […] elas simplesmente mudam” (BAGNO, 2001, p. 70) de acordo com a ação de seus falantes de carne e osso. Bagno (2001) ainda ressalta que as mudanças que ocorrem nas línguas acontecem de forma lenta, às vezes até de forma imperceptível, e que há sempre um equilíbrio que possibilita entendimento mútuo entre falantes de gerações diferentes.

Assim, trago alguns exemplos de palavras que pegamos emprestadas e que hoje são tão comuns que nem parece que vieram de outros idiomas. A palavra “mingau” vem da forma “minga’u”, do tupi, e significa “comida que gruda”. “Muvuca” vem da forma “mvúka”, da língua quicongo, de origem banta (região na metade sul do continente africano), e significa “aglomeração ruidosa de pessoas”. “Blitz”, a qual normalmente usamos ao falar de uma blitz policial, significa “relâmpago” ou “raio” em alemão. E “fulano” vem de “fulân”, do árabe, e significa “algo como tal”, “aquele”.

Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/redacao/estrangeirismos.htm).

Então, por mais que haja quem não goste da utilização de estrangeirismos, lutar contra essa prática é como dar murro em ponta de faca. Vivemos em uma sociedade globalizada em que diversas culturas e línguas entram em contato constantemente, ainda mais com a presença da Internet no dia a dia. Inclusive, diversos termos tecnológicos vindos do inglês são utilizados atualmente no português, como “site”, “download” e “design”. Portanto, não há necessidade de nos preocuparmos com a “morte” do português, porque os estrangeirismos são super normais e os utilizamos desde que o Brasil é Brasil.

 

Referências
BAGNO, M. Cassandra, Fênix e outros mitos. In: FARACO, C. A. Estrangeirismos. São Paulo: Parábola, 2001. p. 49-83.
Conheça as palavras africanas que formam nossa cultura. CARTA CAPITAL, 2017. Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/educacao/conheca-as-palavras-que-herdamos-da-africa/> Acesso em: 26 jun. 2021.
FREITAS, A. 10 palavras portuguesas de origem árabe que vão fazer você se surpreender. BABBEL, 2018. Disponível em: <https://pt.babbel.com/pt/magazine/10-palavras-em-portugues-que-vieram-da-lingua-arabe> Acesso em: 26 jun. 2021.
NOGUEIRA, S. Palavras que vêm das línguas indígenas. G1, 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/educacao/blog/dicas-de-portugues/post/palavras-que-vem-das-linguas-indigenas.html> Acesso em: 26 jun. 2021
SABORIDO, C. Lá vem o alemão: palavras alemãs no português. Lusopatia, 2013. Disponível em: <https://lusopatia.wordpress.com/2013/09/30/la-vem-o-alemao-palavras-alemas-no-portugues/> Acesso em: 2 maio 2022

Autor: Johann Bonow Neves
Formado em Licenciatura em Letras – Português/Inglês pela Universidade Federal de Pelotas. Atualmente, é aluno do Programa de Mestrado em Letras da mesma universidade e sua pesquisa é voltada à Linguística Sistêmico-Funcional e aos Estudos da Tradução. Já trabalhou como professor de Língua Inglesa em curso livre, foi professor bolsista de Língua Inglesa do Programa Idiomas sem Fronteiras e foi professor de Língua Inglesa da Câmara de Extensão do Centro de Letras e Comunicação da UFPel.