A Guiné-Bissau, localizada na costa oeste da África, faz fronteira com a República do Senegal ao norte, com a República da Guiné (Conacri) ao leste e ao sul e é banhada pelo Oceano Atlântico, onde também se situam as ilhas de Cabo Verde. Com uma população estimada em 2.230.908 habitantes, o país se destaca pela rica diversidade étnica e linguística. O cenário linguístico é composto por múltiplas línguas, entre elas o crioulo ou Kriol (língua guineense), e o português, conforme o Decreto-Lei n.º 7/2007. Além disso, a presença do francês também se faz sentir, em razão da imigração proveniente de países vizinhos francófonos, como Senegal e Guiné (Conacri).

O crioulo, ou língua guineense, ocupa um lugar de destaque: é a principal língua de comunicação na Guiné-Bissau, funcionando como língua franca entre os vários grupos étnicos do país. Sua formação, segundo autores como Benjamin Bull e Filomena Embaló, remonta aos séculos XVI e XVII, como resultado do contato entre os portugueses (invasores) e os povos locais. Com o tempo, passou a ser também a língua de interação entre as diferentes etnias. Aprenda um pouco da língua guineense!
A língua guineense configura-se como um importante marcador de identidade nacional. Sua estrutura gramatical possui fortes influências africanas e um léxico majoritariamente derivado do português, porém com simplificação morfológica e com adaptações fonéticas e semânticas quando comparados os idiomas. O guineense tem variações dialetais: em Bissau e Bolama, é mais próximo do português; no sul, observa-se a influência de etnias como Beafada, Nalu e Balanta; no norte, há influências de Manjaco, Mancanha, Felupe e Papel e no leste, de Mandinga e Fula.
Durante a luta pela independência do país, o guineense foi essencial como instrumento de mobilização e de unidade nacional. Após a independência, seu uso se consolidou na administração pública, nos meios de comunicação e no cotidiano da população. Atualmente, é falado por cerca de 90% da população, porém, apesar da sua importância, enfrenta desafios relacionados à normatização da escrita e à falta de reconhecimento oficial.

A riqueza étnica da Guiné-Bissau se expressa na presença de diversos grupos: Baiotes, Balantas, Mansoancas, Beafadas, Banhuns, Bijagós, Brames ou Mancanhas, Casangas, Felupes, Fulas, Mandingas, Manjacos, Nalus e Pepeis. Segundo Tcherno Djaló, alguns grupos menores, como os Bagas, Baoyotes, Bambarãs, Cobianas, Conháguis, Djacancas, Jalofos (ou Wolof), Landumas, Cocolis, Padjadincas (ou Badjarancas), Tandas, Oincas, Quissincas, Saracolés, Sossos (ou Djaloncas), Timenes e os Sereres estão em risco de desaparecer enquanto identidades étnicos-linguísticas distintas.

Pode dizer-se que a diversidade étnica e linguística da Guiné-Bissau é um espelho da riqueza cultural do país, ao mesmo tempo que coloca desafios à sua coesão sociolinguística. O guineense, enquanto língua franca, contribui para o reforço da identidade nacional, embora a falta de uniformização continue a ser um obstáculo. Valorizar e conservar essas línguas é fundamental para promover a inclusão e fomentar o desenvolvimento sustentável.
Referências
BULL, Benjamim Pinto. O Crioulo da Guiné-Bissau: filosofia e sabedoria. Lisboa: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas, 1988.
DJALÓ, Tcherno. O Mestiço e o Poder: Identidades, Dominações e Resistências na Guiné. Lisboa: Autor, 2012.
EMBALÓ, Filomena. O crioulo da Guiné-Bissau: língua nacional e fator de identidade nacional. Revista Papia, v. 18, p. 101-107, 2008.
Autor: Marcelino Issa da Cunha. Mestre em Linguística no Programa de Pós-Graduação em Linguística (PROLING) na Universidade Federal da Paraíba, linha de pesquisa: Linguística Aplicada. Atualmente é doutorando em Letras no Programa de Pós-Graduação em Letras na Universidade Federal de Pelotas, linha de pesquisa: Aquisição, Variação e Ensino.