Workshop: Uso de Inteligência Artificial na Pesquisa em Linguística – Aplicações práticas com GPTs

O avanço das ferramentas baseadas em Inteligência Artificial, como os modelos GPT, tem trazido novas possibilidades para a prática acadêmica. Este workshop tem como objetivo apresentar, de forma prática e crítica, como essas ferramentas podem ser integradas ao trabalho de pesquisa em Linguística, respeitando os princípios de ética e rigor científico.

Tópicos que serão abordados:
– Aplicações de GPTs na revisão de literatura e organização de leituras;
– Auxílio nas etapas de planejamento da pesquisa;
– Escrita acadêmica e revisão textual mediada por IA;
– Análise exploratória e visualização de dados;
– Gestão de tarefas e produtividade na pesquisa;
– Limites, riscos e boas práticas – ética no uso de IA para fins acadêmicos.

Ministrante:
Dr. Renan Castro Ferreira, pesquisador pós-doutoral PPGL/CAPES (http://renanferreira.phd.sh/)

Público-alvo:
Estudantes de pós-graduação, docentes e bolsistas IC da área de Linguística.

Formato:
Encontro presencial, com demonstração prática e espaço para discussão e dúvidas.

Data e horário: 29/05/2025, das 9:00 às 11:30
Local: Campus Anglo, sala 117 (Laboratório de Informática do CLC)
Vagas: 20
Acesse aqui o link de inscrição

 

Convite para defesa de Tese

Convidamos a prestigiarem a defesa de tese de doutorado de Andréa Ualt Fonseca: As atitudes linguísticas dos estudantes, falantes de línguas minoritárias de imigração, em relação à diversidade linguística escolar do Campus IFSul – Visconde da Graça/CaVG.

Por uma Psicolinguística decolonial: o que são os acrônimos WEIRD (DIRETO), não-WEIRD, MIND, MYAL e BIPOC?

A língua é um componente complexo da existência humana, porque seu propósito não é somente facilitar a comunicação, mas também expressar a individualidade e cultura do falante. A ciência linguística, fragmentada em subáreas, nem sempre consegue captar essas questões. Bylund (2022) discorre sobre as lacunas na pesquisa psicolinguística, uma vez que a maioria dos estudos da área são feitos por e com o mesmo padrão de indivíduos: ocidentais, brancos, neurotípicos, ouvintes e falantes de línguas hegemônicas. A problemática trazida pelo autor é extremamente relevante: se a pesquisa conta com apenas um grupo seleto de participantes, então ainda não há compreensão da mente humana na sua totalidade, mas a compreensão de somente um tipo de mente em um tipo de contexto. Surgem, então, diversos questionamentos: de que forma falantes de línguas minoritárias ou marginalizadas usam as línguas? De que forma essas línguas são capazes de influenciar a percepção de seus falantes? De que forma a cultura desses falantes influencia o uso da língua e vice-versa? Uma ciência que não se preocupa em analisar essas questões deixa lacunas. Estudos com outras amostras podem dar início a descobertas mais profundas, complementar aquelas já feitas e possibilitar outras generalizações.

As amostras WEIRD, acrônimo cunhado por Henrich, Heine e Norenzayan (2010), resultam em dados de participantes e contextos ocidentais (western), acadêmicos (educated), provenientes de países industrializados (industrialized), ricos (rich) e democráticos (democratic). Isso contrasta com a realidade experienciada pelo restante da população mundial, representada pelas amostras não-WEIRD, que incluem informantes de contextos distintos daquele grupo dominante em termos de poder. Segundo Polinsky (2018), a população WEIRD corresponde a somente 12% da população mundial. Embora a expressão “não-WEIRD” abranja a maioria das pessoas do mundo, essa diversidade ainda é frequentemente negligenciada em pesquisas ou, quando estudada, sofre com preconceitos e exotificação. No nosso grupo de pesquisa, tentamos adaptar o acrônimo WEIRD para o contexto brasileiro. Achamos necessário criar outra expressão, seguindo um processo de domesticação na tradução. Criamos o acrônimo “DIRETO”: contexto democrático, industrializado, rico, escolarizado, tradicional e ocidental.

A adoção de um contexto de pesquisa “WEIRD” ou “DIRETO” como grupo ideal de estudo dificulta e desestimula, por exemplo, a pesquisa com falantes de línguas minoritárias, contempladas mais frequentemente pela Sociolinguística. De modo geral, na Psicolinguística, as pesquisas sobre bi-/multilinguismo são feitas através das “lentes do monolinguismo” (Leivada et al., 2023, p. 2). Certas comunidades linguísticas, no entanto, são, por natureza, bi-/multilíngues, não havendo um grupo “monolíngue” de comparação. Ademais, tal prática cria a ideia de que o monolinguismo é a “norma”, o padrão a ser esperado, enquanto o bi-/multilinguismo é o evento “atípico” a ser estudado. A consequência dessa visão é a falta de representatividade das línguas minoritárias nos estudos, enquanto pesquisas com línguas hegemônicas/majoritárias são amplamente desenvolvidas e aceitas pela comunidade acadêmica. Segundo Figueroa (2024), isso contribui para a manutenção da supremacia branca – uma vez que seus perfis linguísticos são adotados como os mais desejáveis na pesquisa, enquanto os de populações racializadas sofrem apagamento, tanto no âmbito acadêmico quanto social.

A pesquisa em Psicologia em geral tem sido criticada por ter uma amostragem excessiva de populações WEIRD (Kirk, 2023). Podemos atribuir essa crítica também à (Psico)Linguística, que tem o problema de realizar uma grande quantidade de pesquisas com um número relativamente pequeno de línguas. No entanto, mesmo em ambientes WEIRD, as experiências dos falantes de línguas minoritárias, Indígenas, Não padrão e Dialetais (MIND, em inglês: minority, indigenous, nonstandard(ized) and dialect variety) nem sempre são capturadas juntamente com o uso de uma língua padrão de maior prestígio. O novo acrônimo incentiva os pesquisadores a MIND sua linguagem – (do inglês mind ‘ter em mente, considerar’), desenvolver formas mais inclusivas de capturar as experiências linguísticas dos falantes MIND, para se afastar das distinções binárias de “bilíngue” e “monolíngue”, reconhecer diferentes dialetos do português e conceder o status de língua a variedades linguísticas independentes, com o objetivo de reconhecer a diversidade linguística. Esse reconhecimento deve abranger, igualmente, as línguas de sinais, como a Libras, frequentemente marginalizada por não se tratar de uma língua oral, mas sinalizada. Devido à estigmatização, muitos multilíngues não reconhecem o seu multilinguismo, porque somente a língua de prestígio é válida. 

Outro acrônimo utilizado para contestar a supremacia de algumas amostras na pesquisa psico(linguística) é o MYAL (monolingual, young, avaliable, literate), proposto por Polinsky (2018). A ênfase em falantes idealizados, isto é, monolíngues, jovens, disponíveis e letrados pode estar distorcendo a percepção sobre os achados linguísticos. Pessoas que não correspondem ao padrão MYAL são, por vezes, consideradas como atípicas, mesmo sendo a maioria.

Essas questões na Psicolinguística (assim como em outras ciências) têm relação direta com a colonialidade, uma vez que parte do pressuposto de que certas línguas e nacionalidades são mais interessantes para a pesquisa do que outras (Figueroa, 2024). Essa ideia automaticamente exclui falantes de línguas marginalizadas pela sociedade, contribuindo para perpetuar preconceitos linguísticos, como o de que crianças de classes sociais baixas têm um mau desenvolvimento linguístico porque seu repertório linguístico é de “pior qualidade” – sem levar em consideração que esta noção existe devido à métrica de comparação: o repertório linguístico de crianças de classe social alta (Figueroa, 2024). Esse tipo de pensamento tenta colonizar linguisticamente (e, por consequência, culturalmente) falantes que se encontram fora do contexto WEIRD, percebido como superior. Por essa razão, muito tem se discutido a respeito de uma Linguística decolonial (Figueroa, 2024), que busca incluir falantes marginalizados pela classe dominante na pesquisa científica.

Apesar de ainda ter muito a avançar, a Linguística tem dado passos significativos a caminho de se tornar uma ciência mais autoconsciente dos próprios vieses. Além da discussão sobre decolonialidade e sobre o conceito WEIRD, outro exemplo é a promissora área da Raciolinguística, que tem como principal preocupação a forma como raça e língua interagem e quais as influências que uma é capaz de ter sobre a outra. Dessa forma, a área é capaz de investigar assuntos sociais importantes, como o fato de pessoas pretas, indígenas e pardas – do acrônimo em inglês BIPOC (black, indigenous, people of color) muitas vezes serem percebidas como indivíduos em necessidade de correção (e recriminação) pelo modo como utilizam a língua. No Brasil, preferimos a sigla “NI” (negros e indígenas), pois não é comum o uso do termo “pessoas de cor” por aqui.

Na Raciolinguística, estudos sobre o vernáculo afro-americano (AAVE) têm mostrado inúmeras lacunas e preconceitos por parte da sociedade estadunidense. No Brasil, temos o “pretuguês”, uma variedade que mistura o português com termos, estruturas e expressões africanas — variedade esta que, assim como o AAVE dos EUA, recebe pouca valorização social e científica. O termo ganhou visibilidade a partir da autora Conceição Evaristo, que o utilizou em sua escrita para demonstrar como a língua é um aspecto importante para a resistência negra brasileira.

Tendo em vista a relevância das discussões apresentadas, que agora ganham espaço no âmbito acadêmico da (Psico)linguística, levar em consideração questões sociais do uso da língua e diferentes amostras não deve ser um fazer restrito à Sociolinguística, uma vez que os campos do conhecimento devem se complementar, investigando o uso e processamento linguístico em seus diversos contextos.

Referências 

BYLUND, E. WEIRD Psycholinguistics. In: WILLIAMS, Q.; DEUMERT, A.; MILANI, T. M. (orgs.). Struggles for Multilingualism and Linguistic Citizenship. Bristol/Jackson: Multilingual Matters, 2022. p. 183–200. 

FIGUEROA, M. Decolonizing (psycho)linguistics means dropping the language gap rhetoric. In: CHARITY HUDLEY, A. H.; MALLINSON, C.; BUCHOLTZ, M. (orgs). Decolonizing Linguistics. Nova Iorque: Oxford Academic, 2024. p. 157–172. 

HENRICH, J.; HEINE, S. J.; NORENZAYAN, A. The weirdest people in the world? Behavioral and Brain Sciences, v. 33, n. 2–3, p. 61–83, 2010.

KIRK, N. W. MIND your language(s): Recognizing Minority, Indigenous, Non-standard(ized), and Dialect variety usage in “monolinguals.” Applied psycholinguistics, v. 44, n. 3, p. 358–364, 2023. 

LEIVADA, E. et al. Bilingualism with minority languages: Why searching for unicorn language users does not move us forward. Applied psycholinguistics, v. 44, n. 3, p. 384–399, 2023.

MORAES, D. Nós falamos pretuguês!. Mundo Negro, 4 maio 2022. Disponível em: https://mundonegro.inf.br/nos-falamos-pretugues/. Acesso em: 25 nov. 2024. 

POLINSKY, M. Heritage language and their speakers. Cambridge: Cambridge University Press, 2018. 

Texto escrito de forma coletiva pelos integrantes do Laplimm no período de outubro a dezembro de 2024. 

Palestra: Protocolo de consciência fonológica para bilíngues e a neurobiologia da leitura à luz da psicolinguística – 10/12/2024

Última palestra do Ciclo neste ano!

Resumo da palestra: A aprendizagem da leitura e da escrita está intimamente ligada à Consciência Fonológica (CF), uma vez que para dominar o código escrito é necessária a reflexão sobre os sons da fala e sua representação na escrita. Com o aumento no número de escolas que oferecem programas ou currículos bilíngues no Brasil, crescem também as demandas por pesquisas sobre biliteracia que considerem as peculiaridades da realidade brasileira. Com base no exposto, o objetivo desta palestra é apresentar os primeiros passos da elaboração da Bateria de Avaliação Metafonológica Bilíngue (BAMBI), que se encontra em fase de validação, para crianças em fase de alfabetização no Brasil. A BAMBI é composta por uma bateria de testes em português e inglês que contém 5 subtestes no nível da sílaba e 4 no nível do fonema. A BAMBI visa contribuir para informar a prática da alfabetização nas duas línguas, instrumentalizando profissionais das mais diversas áreas, podendo ainda ser utilizado em pesquisas acadêmicas na área da linguagem, cognição e educação.

Ao término desta etapa do Ciclo, serão fornecidos atestados de participação, e não haverá transmissão da palestra. A atividade é aberta ao público geral, e não é necessário inscrever-se previamente.

Financiamento: Programa de Pós-Graduação em Letras (UFPel) 

Participem!

Exposição: Imigração e Língua Alemã no Sul do Brasil

Entre 27/11 e 19/12/2024, ocorre a exposição sobre Imigração e Língua Alemã no Sul do Brasil. Conheça as línguas alemãs da Serra dos Tapes, Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil, abriga parte da diversidade cultural e linguística brasileira. Sua paisagem linguística inclui as línguas de imigrantes europeus, mas também herança de povos indígenas, grupos africanos e outros imigrantes que até hoje estão presentes ou passaram por esse espaço. Você é nossa(o) convidada(o) nessa viagem pelas paisagens da língua alemã.

A exposição ocorre nos corredores do Campus Anglo (UFPel) (Rua Gomes Carneiro, 1). Você também pode passear pela exposição virtualmente no link ou nos banners anexados abaixo:

Palestra: A influência das línguas no pensamento: insights da pesquisa sobre a mente bilíngue – 19/11/2024

Como as línguas que falamos influenciam a forma como pensamos? Essa é uma questão fascinante e, muitas vezes, controversa. Pesquisas sobre a mente bilíngue nos oferecem insights surpreendentes sobre como as línguas podem afetar nossa percepção, memória e atenção e como saber mais de uma língua pode mudar nossa forma de ver o mundo. Neste encontro, exploraremos algumas das descobertas nessa área.
No fim do ano, ao término desta etapa do Ciclo, serão fornecidos atestados de participação, e não haverá transmissão da palestra. A atividade é aberta ao público geral, e não é necessário inscrever-se previamente.

Participem!

Palestra: Leitura em/para crianças com TDAH ou dislexia – 01/10/2024

No dia 01/10/24, inauguramos um ciclo de palestras presenciais sobre psicolinguística! Na abertura, a Profª Drª Angela Inês Klein irá discutir um tema muito relevante atualmente: a leitura em/para crianças com TDAH e dislexia.

A conversa terá dois momentos: primeiramente, será caracterizada a leitura em crianças com dislexia ou com TDAH sob o viés dos movimentos oculares. Daí será apresentado o software “Vamos ler corretamente?”, baseado na orientação ocular, a fim de melhorar a fluência e a compreensão em leitura não somente deste grupo de crianças.

Convidamos todos a assistirem. Serão fornecidos atestados de participação, e não haverá transmissão da palestra.

Como o multilinguismo beneficia a sociedade?

Em seu livro “The Power of Language: How the Codes We Use to Think, Speak, and Live Transform Our Minds”, a Professora Viorica Marian explica os diversos benefícios do multilinguismo, tanto para a pessoa que usa várias línguas como para a sociedade onde várias línguas coexistem. Os seus efeitos são percebidos em aspectos positivos na cognição, bem como em aspectos externos, como a conexão com pessoas de diferentes culturas e a possibilidade de uma visão mais criativa e diversa no âmbito profissional.

Como mostra a pesquisadora, nossas experiências individuais não estão dissociadas do mundo e são parcialmente moldadas por fatores externos. Portanto, apresentamos alguns dos benefícios que o multilinguismo pode oferecer à sociedade:

A preservação da cultura de diferentes povos

As línguas não são apenas instrumento de comunicação, também são símbolos dos ideais e valores carregados por um povo. A língua é parte essencial da cultura! Dessa forma, uma comunidade que têm sua língua marginalizada ou “extinta” perde não apenas os aspectos formais de comunicação específicos daquela língua, mas também a história de seu povo, além de suas memórias e apegos emocionais mais significativos. Enquanto isso, o restante da sociedade também sofre uma perda: diferentes formas de enxergar o mundo, os conhecimentos produzidos e as narrativas naquele idioma.

Aumentar a consciência sobre a diversidade linguística e cultural de um povo e diminuir o preconceito

Diversos aspectos de uma língua (cor, gênero, tempo, entre outros) são capazes de influenciar como os seus falantes percebem a realidade. A mídia, os políticos e outras pessoas em posição de poder sabem disso. Através do contato com diversas línguas, a sociedade acaba desenvolvendo uma consciência mais apurada sobre as diversas formas de se falar a respeito de um assunto. Além disso, as pessoas podem notar que as palavras e termos utilizados, assim como a forma que uma frase é construída, são capazes de expressar o viés de um interlocutor.

A compreensão dos objetivos por trás de um discurso faz com que cidadãos se tornem mais críticos ao se depararem com debates, propagandas e notícias. Essa visão pode os proteger de governos e líderes totalitários, da propagação de notícias tendenciosas e de outros cenários onde a língua é utilizada como principal ferramenta em táticas de controle e persuasão.

O fomento do acesso à cultura

Uma sociedade multilíngue significa uma sociedade mais multicultural, uma vez que a arte e a cultura são produzidas em todas as línguas, sem exceção. Quantas vezes queremos ler um livro ou assistir a um filme, mas ele está disponível somente em sua língua original, da qual não temos conhecimento? Através do multilinguismo, os diversos profissionais e órgãos do governo que promovem ações culturais podem compreender a importância do contato com o cinema, a arte, a literatura e a poesia mundial, diversificando as possibilidades de tradução e legendagem de obras estrangeiras (para além do inglês) e a possibilidade da promoção de eventos que visem ao contato com diversos idiomas.

A valorização do multilinguismo possibilita que percebamos que todas as línguas têm seu valor e aprendê-las nunca é um desperdício – muito pelo contrário, é a abertura de um novo mundo, com novos saberes, tradições, culturas e princípios. 

Dessa forma, é possível compreender que os benefícios advindos da promoção do multilinguismo na sociedade são diversos. Seu impacto é capaz de tornar a sociedade mais diversa e avançada tecnológica, política e humanamente. 

Referência

MARIAN, V. The Power of Language: How the Codes We Use to Think, Speak, and Live Transform Our Minds. 4. ed. New York: Dutton, 2023.

Como o multilinguismo torna a pessoa superpoderosa?

O multilinguismo, de forma geral, é o uso de três ou mais línguas pelo indivíduo. Esse fenônemo pode ser estudado a nível social e individual. Em seu mais recente livro, “The Power of Language: How the Codes We Use to Think, Speak, and Live Transform Our Minds” (2023), a Professora Viorica Marian (diretora do Laboratório de Bilinguismo e Psicolinguística, Universidade Northwestern, nos Estados Unidos), multilíngue de origem moldava, busca dissecar as principais características e os benefícios do multilinguismo no comportamento humano e na mente. A partir de exemplos de fenômenos culturais e, especialmente, experimentos científicos, a autora expõe as principais complexidades do multilinguismo com relação à cognição, bem como seus efeitos na experiência e interpretação de realidade individuais e subjetivas.

Como mostra a pesquisadora, ser multilíngue significa possuir diversos “poderes”, que muitas vezes não são reconhecidos e apresentados na mídia e na cultura popular. Isso faz com que os falantes multilíngues não tenham consciência de seu próprio potencial. Consequentemente, a maioria das pessoas não sabe da importância de aprender línguas. Portanto, a professora Viorica se empenha em expor os diversos poderes do multilinguismo, sendo alguns deles:

  • Diminuir o preconceito: valorizar a aprendizagem de uma nova língua pode fazer com que o indivíduo também enxergue valor em sua cultura e povo. Dessa forma, a pessoa pode se tornar mais tolerante e aberta às diversas realidades culturais existentes.
  • Fomentar relações interpessoais e profissionais com novas pessoas: utilizar diversas línguas pode auxiliar a ampliar a variedade de pessoas do seu círculo, seja no âmbito profissional, aumentando as possibilidades de emprego; ou no âmbito pessoal, como no caso de amizades e outros relacionamentos.
  • Servir como um “presente a si mesmo”: o processo de aprender uma nova língua é mais divertido e fácil do que as pessoas imaginam, e seus efeitos são mais do que favoráveis ao indivíduo em comparação com as dificuldades. Além de poder colher os vários bens advindos do estudo de línguas, o indivíduo pode fazê-lo com um sentimento de realização pelo seu próprio esforço. 
  • Diminuir a chances de ser manipulado linguisticamente: um dos efeitos do estudo da língua é compreender a sua importância não somente na vida pessoal, mas também em nossa sociedade. Consequentemente, isso faz com que o indivíduo perceba os padrões e nuances no uso da linguagem em diversas situações de possível manipulação, como, por exemplo, política ou religiosa.
  • Estimular a criatividade: falantes de múltiplas línguas costumam fazer mais conexões entre itens diferentes, devido à vasta quantidade de palavras e conceitos em seu sistema linguístico. Essas associações contribuem para o nascimento de novas ideias, uma maior abertura a novas experiências e fortalecem a habilidade de resolver problemas. Além disso, pesquisas sobre criatividade cognitiva mostram que relações interculturais também contribuem para aumentar a criatividade, como em inovações no ambiente de trabalho e empreendedorismo, e criatividade ao escolher nomes para produtos de marketing.
  • Fortalecer a capacidade cognitiva: o conhecimento de múltiplas línguas não é o único meio de melhorar a saúde cerebral, mas é capaz de reforçar todos os benefícios cognitivos encontrados em outras atividades, como, por exemplo, a capacidade de fazer conexões entre palavras e sentidos (encontrado no hábito de leitura) e o atraso na manifestação da demência (encontrado na atividade física). Conforme a pesquisadora, a mente multilíngue faz uma espécie de “ginástica cerebral” por conta da constante troca de informações entre as línguas.

Ao ter em vista os diversos proveitos psicológicos, sociais e profissionais advindos do multilinguismo, é possível reconhecer a importância do conhecimento e do estudo de línguas. O multilinguismo é uma habilidade valiosa não apenas para o indivíduo, mas também para a sociedade como um todo, ampliando a compreensão e o apreço entre pessoas de diferentes culturas.

Referência
MARIAN, V. The Power of Language: How the Codes We Use to Think, Speak, and Live Transform Our Minds. 4. ed. New York: Dutton, 2023.