Em 2023, de acordo com a câmara dos deputados, havia cerca de 2 milhões de japoneses e descendentes vivendo no Brasil, o que faz do nosso país a maior comunidade japonesa fora do Japão. Esse contato gerou uma língua chamada koronia-go no nosso território, mas você sabia que isso não acontece só aqui e que também existe uma variedade do português brasileiro no Japão?
Estamos falando do dekasseguês. Nos anos 90, o governo japonês lançou campanhas para atrair descendentes de japoneses que viviam fora do país, os nikkeis, incluindo os nascidos no Brasil e falantes de português, oferecendo-lhes oportunidades de emprego. Esses trabalhadores ficaram conhecidos como dekasseguis (出稼ぎ), termo que junta os verbos “sair” (出る, deru) e “ganhar dinheiro” (稼ぐ, kasegu) em japonês. Muitos se estabeleceram no país e formaram comunidades em cidades como Hamamatsu, Nagoya e Oizumi, que abrigam o maior número de brasileiros. Nessas cidades, surgem cenas do encontro da cultura brasileira com os japoneses. Um exemplo é o intercâmbio com samba na cidade de Oizumi (“Brasil Town”), província de Gunma, Japão, como mostra a imagem.

E é justamente nesse cenário de contato entre línguas que surge o dekasseguês, que, segundo a professora Nilta Dias, se caracteriza pela mistura espontânea de vocabulário em português e japonês e/ou pela criação de novas palavras através da união entre as duas línguas. O pesquisador Felipe Dall’Ava (2021) explica, todavia, que essa mistura também aparece na forma como as palavras japonesas são faladas e escritas, seguindo padrões do português. A tabela abaixo exemplifica o uso, por parte dos falantes de dekasseguês, de sufixos do português em adjetivos e substantivos do japonês para criar diminutivos e aumentativos:

Hoje, além do dekasseguês, já se identifica no Japão — e em países de língua espanhola — outra variedade usada por nikkeis, que mistura japonês com espanhol, o Japoñol. No entanto, ambas ainda enfrentam preconceito dentro das próprias comunidades latinas.
Esses exemplos mostram que, mesmo em países vistos como “linguisticamente homogêneos” como o Japão, há espaço para diversidade e criatividade linguística — inclusive com o português do Brasil.
Referências
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Agência Câmara de Notícias, 2023. Câmara dos Deputados comemora, em sessão solene, 115 anos da imigração japonesa ao Brasil.
ALMEIDA, Karina. «O Japão do Caruso é assim…». Blog Meu Japão, 2006.
DALL’AVA, Felipe. Dekasegi Portuguese: Towards a Nomenclature and Outlining of the Existence of a Portuguese Language Variety in Japan. Asian Journal of Latin American Studies, [S.L.], v. 34, n. 1, p. 129-161, 2021.
DIAS, Nilta. Dekasseguês: Um português diferente? Variações linguísticas e interculturalidade nas migrações contemporâneas dentro do sistema-mundo moderno. Horizontes Decoloniales, [S.L.], v. 1, n. 1, p. 62–101, 2015.
FLORES, Tanya; WILLIAMS, Aja. Japoñol: Spanish-Japanese Code-Switching, Indiana University Linguistics Club Working Papers, [S.L.], v. 19, n. 1, p. 1-21, 2019.
ILSHI, Angelo. Brasileiros no Japão. Instituto Diáspora Brasil, 2023. Disponível em:. Acesso em: 02 jul. 2025.
ONNO, William Yoshi. O que é ser um “Dekassegui” no Japão? Japão em foco, 2015.Disponível em: . Acesso em: 02 jul. 2025.
Autora: Giovana Canez Valerão, graduada em Letras – Português e Espanhol pela Universidade Federal de Pelotas, mestranda em Letras no Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL) da mesma universidade, é responsável pela página @hallyucoreanoemultilinguismo no Instagram.










