Recentemente, tem se disseminado a crença de que o bilinguismo seria uma forma de prevenir o Alzheimer. No entanto, essa afirmação está baseada em um mito. Para começar a questioná-lo, é importante ressaltar que tanto pessoas que falam uma língua quanto pessoas que usam duas línguas podem sofrer de Alzheimer, embora de maneiras diferentes.
O Alzheimer é uma doença que afeta as células cerebrais e provoca uma perda progressiva da memória. Esse declínio afeta a comunicação, o comportamento e a capacidade de raciocínio dos pacientes.

No caso dos bilíngues, além desses sintomas, observam-se outros. Para ilustrar, imaginemos um paciente que fala português e inglês e vive no Brasil. Ao falar, ele poderia misturar, de maneira não intencional, as duas línguas, usando palavras ou frases em inglês enquanto fala português. Além disso, ele poderia se dirigir aos seus familiares brasileiros em inglês, acreditando que está falando português. Como podemos ver, a comunicação com pacientes bilíngues traz desafios específicos.
Então, se qualquer pessoa pode desenvolver Alzheimer, existe alguma vantagem em falar várias línguas, como sugere o mito? Sim, pode ser que seja o tempo. Segundo os pesquisadores McLoddy Kadyamusuma, Eve Higby e Loraine Obler, há uma tendência na pesquisa que mostra que os bilíngues são diagnosticados com Alzheimer de 4 a 5 anos mais tarde do que os monolíngues, e os sintomas tendem a demorar mais a aparecer.
Esses benefícios do bilinguismo são resultado do que se conhece como “reserva cognitiva“, mudanças na constituição do cérebro que o tornam mais capaz de resistir a danos ou doenças. Aprender mais de uma língua pode contribuir para o desenvolvimento dessa reserva cognitiva. No entanto, é importante ter em mente que os bilíngues que obtêm maiores benefícios cognitivos costumam ser migrantes que utilizam as duas línguas em sua vida diária.

Porém, não é necessário começar a aprender idiomas de forma compulsiva; outros fatores, como a educação, o estilo de vida saudável, leitura, atividade física e as relações sociais, também desempenham um papel fundamental na reserva cognitiva. Por isso, recomendo desafiar as capacidades mentais e físicas, encontrar prazer nas atividades e, claro, aprender uma nova língua.
Referência
KADYAMUSUMA, McLoddy; HIGBY, Eve; OBLER, Loraine. The neurolinguistics of Multilingualism. In: SINGLETON, David; ARONIN, Larissa (ed.) Twelve Lectures on Multilingualism. Bristol: Multilingual Matters Limited, 2019. p. 271-298.
Autora: Camila Alejandra Loayza Villena. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPel. Professora de espanhol para adultos.