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Lançamento da série “Viver no Brasil falando Hunsrückisch: Extras”

Três anos após o lançamento do documentário “Viver no Brasil falando Hunsrückisch”, é lançada uma minissérie documental com extras, que propõe uma visão aprofundada em alguns tópicos específicos da língua hunsriqueana.

A partir de excertos de entrevistas do Inventário do Hunsrückisch como Língua Brasileira de Imigração (IHLBrI), em um primeiro momento não selecionados para compor o documentário “Viver no Brasil falando Hunsrückisch“, foi elaborada uma série de vídeos com cenas inéditas gravadas pela equipe do projeto. A série apresenta diferentes modalidades de entrevista, como relatos pessoais, traduções da Lista de Swadesh e conversas livres.

O primeiro episódio, lançado no Canal do Projeto ALMA-H no Youtube no dia 09/01/2022, traz a entrevista na íntegra realizada com Sílvio Meincke. Em tom de relato biográfico, Sílvio fala sobre sua formação em São Leopoldo, no Instituto Pré-Teológico e, posteriormente, na Escola Superior de Teologia (EST). Sílvio comenta também a respeito de seus anos como pastor e professor da EST e nos conta como a língua alemã permeou sua vida.

Apesar de Sílvio já ter aparecido no documentário, dessa vez, temos a oportunidade de conhecer toda sua história, sem os cortes que foram feitos pela produção a fim de adaptar seu relato à narrativa construída pelos roteiristas. Tais cortes, por um lado, são necessários para criar uma corrente de discurso coerente para o espectador, mas, por outro lado, suavizam diferentes visões e opiniões sobre a língua Hunsrückisch.

O segundo episódio, que foi ao ar no domingo dia 16/01/22, trouxe a entrevista gravada com Nair e Rosemarie em Linha Brasil – Nova Petrópolis, Rio Grande do Sul. Com base na Lista de Swadesh, que contempla cem vocábulos de uso cotidiano, a dinâmica dessa entrevista consistiu em os pesquisadores dizerem as palavras em português, deixando para as entrevistadas a tarefa de as traduzir para sua língua materna.

Além das interessantes respostas fornecidas pelas entrevistadas (que nem sempre concordam uma com a outra), esse episódio também traz momentos muito divertidos, quase sempre resultados de pequenas falhas na comunicação (como na pergunta sobre bom/pão) e é encerrado com uma mostra da alma artística hunsriqueana.

No terceiro episódio da série de extras, Helga Winck, Flavia Terezinha Winck e Joaci Terezinha Staudt (Lomba Grande – Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, Brasil) traduzem a Lista de Swadesh de forma bem-humorada, demonstrando seus conhecimentos acerca de diferentes variedades dialetais. As entrevistadas, com vasto repertório linguístico, abordam os hábitos linguísticos da sua região e seus próprios por meio de diversos exemplos e comentários. No que tange à legendagem dos vídeos, o code-switching entre português e Hunsrückisch, outra faceta do plurilinguismo regional, representou um desafio extra para a tradução.

Imagem do terceiro episódio

Aliás, um dos aspectos mais especiais da série (assim como no próprio documentário) é o cuidado com as legendas. Disponíveis estão quatro opções de língua: original (hunsrückisch e português), português, alemão e inglês.

Por fim, o quarto e último episódio da primeira temporada (sim, teremos no mínimo mais uma temporada da nossa minissérie!) também apresenta uma tradução da Lista de Swadesh, desta vez em Linha Schwerin/Linha Andrade de Neves – Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. Os entrevistados, Albino, Martina, Naiane, Douglas, Ronaldo e Lidiane Franz, interromperam sua rotina de trabalho para gentilmente atender os entrevistadores Angélica Prediger e Gabriel Schmitt.

Imagem do quarto episódio

De maneira geral, a série oferece detalhes da comparação entre português e hunsrückisch e uma parte da variação interna do hunsrückisch pode ser depreendido pela comparação entre as entrevistas. Esperamos que futuros pesquisadores que forem utilizar a Lista de Swadesh possam se inspirar nas entrevistas do IHLBrI, também para evitar algumas confusões e imprecisões, que pela nossa inexperiência à época, nos passaram batidos.

Ficha Técnica

Direção:
Gabriel Schmitt

Legendas:
Gabriel Schmitt
Sofia Froehlich Kohl
Geronimo Loss Bergmann

Textos e traduções:
Sofia Froehlich Kohl

Revisão:
Jussara Maria Habel
Angélica Prediger
Siegwalt Lindenfelser

Entrevistadores:
Jussara Maria Habel
Angélica Prediger
Gabriel Schmitt

Coordenação: Cléo Vilson Altenhofen (PPGL/UFRGS)

Entrevistados:
Sílvio Meincke
Nair Fröhlich
Rosemarie
Helga Winck
Flavia Terezinha Winck
Joaci Terezinha Staudt
Albino Franz
Martina Franz
Naiane Franz
Douglas Franz
Ronaldo Franz
Lidiane Franz

A série é um produto do IHLBrI (Inventário do Hunsrückisch como Língua Brasileira de Imigração), coordenado por Cléo Vilson Altenhofen (ALMA-H/UFRGS) e Rosângela Morello (IPOL).

Produção: Inventário do Hunsrückisch como Língua Brasileira de Imigração, com apoio do IPHAN.

Autor: Gabriel Schmitt, graduado em Licenciatura Letras e Alemão pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente é aluno do Mestrado Europeu em Lexicografia (EMLex), com pesquisa em dicionários dialetológicos e de línguas minoritárias.

Chamada para publicação no blog

Estamos aguardando contribuições sobre o seguinte escopo: materiais sobre aprendizagem de línguas, boas práticas relacionadas a línguas, divulgação de materiais em várias línguas, boas reportagens publicadas na mídia, textos sobre diversidade de línguas, contato linguístico, políticas linguísticas, paisagem linguística, vantagens de aprender línguas, estratégias e experiência de aprendizagem de línguas, entre outros temas afins.

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Vamos falar mais sobre línguas e linguagem?

A linguagem é tão natural e automática e, por isso, não costumamos refletir e ler muito sobre ela. Como consequência da falta da necessidade em se aprofundar sobre aspectos linguísticos, podem surgir mitos e preconceitos, que são prejudiciais aos próprios falantes e também aos aprendizes de línguas. Além disso, a mídia costuma relutar em chamar especialistas em línguas e linguagem para os seus programas. Com isso, o linguista nem sempre é reconhecido como o cientista da linguagem e é colocado em xeque. Assim, são reforçadas crenças sem base científica, que não correspondem à realidade do uso e aprendizagem das línguas.

Seria bom se todos os falantes pudessem adquirir conhecimento sobre línguas e linguagem baseado em pesquisas.  Desse modo, podemos ter uma percepção consciente para reconhecer e respeitar que várias línguas podem coexistir. Além disso, podemos estar abertos à aprendizagem de línguas, conforme nos dizem os pesquisadores Altenhofen e Broch (2011).

Na ciência das línguas e da linguagem verbal, a Linguística, a definição desses dois conceitos é complexa. Porém, podemos afirmar que a linguagem humana é fundamental para a concepção do ser humano como tal. A linguagem é tão complexa que pode ser analisada e estudada sob diferentes perspectivas: biológica, histórica, social, psicológica, ideológica, filosófica, cultural, antropológica… Enfim, a linguagem é um diamante, tem muitas faces. Escrever um texto sucinto sobre algo tão complexo é mesmo muito complicado.

A capacidade da linguagem deu origem a mais de 7.000 línguas faladas no mundo. Tamanho tesouro linguístico precisa ser divulgado! Este blog propõe irmos atrás desse tesouro,  navegando no mundo da linguística, descobrindo juntos o que  há nele.

 

REFERÊNCIAS:

ALTENHOFEN, Cléo V.; BROCH, Ingrid K. Fundamentos para uma “pedagogia do plurilinguismo” baseada no modelo de conscientização linguística (language awareness). (L. E. Behares, Ed.). V Encuentro Internacional de investigadores de políticas lingüísticas. Anais… Montevideo: Universidad de la Republica Uruguay, 2011.