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Você também pode ser ativista!

O ativismo linguístico, segundo a pesquisadora Haley de Korne (Universidade de Oslo, Noruega), é um projeto social que busca combater as desigualdades linguísticas e pode abranger muitas pessoas e ações. No livro publicado em 2021, a autora apresenta várias formas de ativismo, relacionadas à defesa, à promoção e à tomada de posição como parte de um projeto político que resiste às desigualdades e cria novos caminhos através da equidade linguística.

Para ser um ativista linguístico, segundo a autora do livro “Language activism” não é necessário ter estudado Letras ou alguma área afim nem trabalhar diretamente com a linguagem. Algumas atividades do ativista, como traduzir, interpretar, criar dicionários, ministrar oficinas, ter conhecimentos de línguas específicas requerem conhecimento técnico; porém, muitas outras requerem habilidades que um especialista em Letras normalmente não possui. Diferentes habilidades são necessárias: manejar softwares, lidar com redes sociais, articular-se politicamente, criar materiais didáticos, saber um pouco de design, editar áudios e vídeos, dirigir carro para ir até as comunidades, coordenar ações, entre muitas outras, dependendo do objetivo da ação.

Cada pessoa pode contribuir com as habilidades que possui. Pessoas que pertencem às comunidades a que o ativismo se destina e até mesmo as que não pertencem podem trabalhar em conjunto, contribuindo para a equidade linguística. Algumas ações requerem diversas pessoas, outras requerem apenas uma. Ou seja, você pode ser ativista!

O que você pode fazer?

  • Compartilhar conhecimento linguístico com familiares, amigos e colegas em qualquer momento oportuno (por exemplo, na mesa de bar, durante refeições, na rua etc.).
  • Posicionar-se diante de qualquer preconceito sobre manifestações linguísticas (por exemplo, linguagem inclusiva, sotaque, dialetos não padrão etc.).
  • Ministrar oficinas e organizar rodas de conversa sobre línguas e linguagem em escolas ou outras instituições.
  • Auxiliar migrantes ou outras minorias linguísticas, como surdos e falantes de línguas minoritárias, em tradução e interpretação.
  • Possibilitar o acesso fácil à informação (por exemplo, editais, leis e normativas) por meio da linguagem simples ou explicações.
  • Disseminar conhecimento linguístico útil para a comunidade em geral nas redes sociais.
  • Não se excluir de pessoas falantes de outras línguas e/ou variedades linguísticas, mas sim tentar se comunicar com elas.
  • Lutar para que uma língua/cultura não seja excluída ou não se sinta excluída da sociedade.
  • Criar recursos audiovisuais e textuais em línguas minoritárias (por exemplo, receitas culinárias, panfletos/folders/cartazes com informações de interesse público e de acesso a serviços públicos, livros de poemas, ditos populares e contos).
  • Valorizar repertórios plurilíngues como um tesouro linguístico.  
  • Documentar línguas, criar dicionários, glossários ou outros materiais. 
  • Preservar materiais escritos como cartas, livros e outros artefatos com escritos em diferentes línguas.
  • Incluir línguas minoritárias em plataformas digitais.
  • Possibilitar que mais línguas além do português possam ser usadas em eventos oficiais e não oficiais, incluindo cartazes, sinalizações e orientações, podendo-se, inclusive, empregar recursos audiovisuais disponíveis por QR-code para línguas sinalizadas e orais. 
  • Criar estruturas como escolas bilíngues e aulas de língua minoritária na universidade. 
  • Formar professores e tradutores de línguas minoritárias. 
  • Criar condições para que falantes possam ler e escrever em língua minoritária. 
  • Envolver falantes de língua minoritária na escola e na universidade. 
  • Promover e legitimar línguas minoritárias e variedades não padrão e lutar para que elas sejam mais bem aceitas na sociedade. 
  • Fazer as línguas minoritárias e outras variedades linguísticas serem mais presentes no cotidiano das cidades por meio da paisagem linguística.
  • Ouvir e divulgar filmes, vídeos e músicas em línguas minoritárias.
  • Incentivar a aprendizagem de línguas de forma geral, o que auxilia em uma postura aberta a outras línguas.

Apresentamos aqui somente algumas ideias que coletamos no livro de Haley de Korne e, a partir dessa leitura, incluímos outras que debatemos no nosso grupo de pesquisa. Caso você tenha outras ideias, sinta-se à vontade para comentar! Encontre a sua causa! Vamos nos unir no ativismo linguístico!

Referência
DE KORNE, Haley. Language activism: imaginaries and strategies of minority language equality. Boston/Berlin: De Gruyter, 2021.

Autores: Bernardo Kolling Limberger, Andrea Cristiane Kahmann, Isabella Mozzillo e Lucas Löff Machado, ativistas, docentes da UFPEL e integrantes do Laboratório de Psicolinguística, Línguas Minoritárias e Multilinguismo – Laplimm.

Só viajar conta? Explorando línguas e culturas na internacionalização

A internacionalização tem, sim, relação com viagens, mas ela vai muito além disso. Trago aqui algumas ações de internacionalização em casa, conceito criado por Jos Beelen e Elspeth Jones em 2015, que são importantes para o processo.

A primeira delas é a tradução de websites. O site de uma universidade, muitas vezes, é a sua vitrine para estrangeiros. Quando ele tem a opção de ao menos uma língua estrangeira, ele capta estrangeiros que podem não saber português. Conhecendo algum projeto de pesquisa, a pessoa pode solicitar mobilidade para cá, ou até ingressar regularmente, principalmente se já souber um pouco de português.

Falando em estrangeiros, eles podem chegar com pouco conhecimento de português, mas precisam cumprir as mesmas tarefas de um estudante brasileiro, ou seja, escrever e apresentar trabalhos e fazer provas em português. É com auxílio dos cursos de português para estrangeiros – outra ação de internacionalização – eles cumprem essas demandas e, além disso, se integram à comunidade local.

E mais: a tradução de textos. Um artigo em português tem um certo impacto, enquanto o mesmo artigo em uma língua estrangeira, principalmente (mas não só!) em inglês, pode ter um impacto maior, chegando a públicos que não falam português. Essa é uma ação disponível em muitas universidades – além de pessoas que buscam a tradução por conta própria.

Finalmente, temos a possibilidade de aulas DE e EM língua estrangeira. Essas são duas ações próximas, mas diferentes. Em uma aula DE língua estrangeira, a pessoa se prepara para ler, escrever, e talvez viajar e se comunicar em outra língua. Uma aula EM outra língua exige que tanto o professor quanto os alunos tenham boas habilidades em determinado idioma, para que o conteúdo normal seja passado e avaliado naquela língua. Isso é uma ação que pode ajudar ainda mais alunos estrangeiros que chegam na instituição e querem participar ativamente das aulas.

Então, essas foram algumas das ações de internacionalização em casa focadas em políticas linguísticas que não necessariamente têm a ver com mobilidade, mas que sim, impactam profundamente o contexto acadêmico para todos os alunos e servidores – e agregados – da instituição. Então, na próxima vez que falarem que internacionalização é só viajar, responda que: NÃO!

 

Referência

BEELEN, Jos.; JONES, Elspeth. Redefining Internationalization at Home. In: CURAJ, Adrian. et al. (Org.) The European Higher Education Area: between critical reflections and future policies. Cham: Springer,  2015. p. 59-72.

Autora: Marília Lima Martins – doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com mestrado e licenciatura em Letras e bacharelado em Relações Internacionais pela mesma instituição. É professora de inglês e professora de português como língua adicional.