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O que são línguas minoritárias?

Você já parou para pensar quantas línguas há no Brasil? Com quantas delas você já teve contato ou quantas fala? Provavelmente você já se deparou com alguma língua minoritária. Ao contrário do que muitas vezes pensamos, o português não é a única língua do Brasil. Como Maher (2013) aborda, há uma variedade de línguas em cada estado, que possuem sua cultura e sua história.

Ao acessar o site Ethnologue, podemos ver que  há mais de 100 línguas minoritárias no Brasil, dentre elas, a língua brasileira de sinais (Libras) e línguas indígenas como o kaingang, macuxi, terena, guajajara, guarani, entre outras. Há também línguas que foram trazidas para cá por meio de imigrantes, como o talian, polonês, alemão, ucraniano, pomerano, chinês e hunsriqueano.

Fonte: Criado pela autora no site https://www.mentimeter.com/

O português é a língua oficial do Brasil, usada pelo governo em seus documentos e leis, nas escolas, na televisão e no rádio. Mas há outras línguas que são usadas em diferentes contextos, como no comércio, na rua, em casa, em bares e eventos comunitários. De acordo com Altenhofen (2013), essas línguas são chamadas de minoritárias, pois pertencem a grupos que não são tão prestigiados social, cultural ou politicamente como os grupos de línguas majoritárias (línguas com maior prestígio, como o português no Brasil). Assim, as línguas minoritárias do país possuem status social mais baixo do que o português.

Algumas dessas línguas não são reconhecidas oficialmente, a maioria é falada em pequenos grupos ou em comunidades locais como o pomerano, que é mais presente, por exemplo, em Santa Maria do Jetibá (ES), São Lourenço do Sul, Arroio do Padre e Canguçu (RS). Algumas línguas minoritárias também podem ser incorporadas na escola, como no Mato Grosso, que adicionou o xavante ao seu currículo.

No entanto, por terem um status minorizado, algumas línguas minoritárias correm risco de extinção. Um dos motivos mais comuns é o fato de a maioria delas ser mais presente no contexto familiar e, com o passar das gerações, os filhos e netos vão, aos poucos, deixando de aprender a língua da família. Assim, é importante que haja esforços para a manutenção dessas línguas, por exemplo, por meio de campanhas de conscientização e ações de intervenção nas comunidades. Por isso, também é de grande relevância que haja estudos linguísticos sobre essas línguas, para que também seja possível analisar qual o tipo de ação adequada para a sua manutenção.

Se você deseja conhecer um pouco mais sobre as línguas minoritárias no mundo, poderá acessar os seguintes links: Wikitongues, Endangered Language Alliance, ILoveLanguages!, e Indigenous Tweets.

Referências
ALTENHOFEN, C. V. Bases para uma política linguística das línguas minoritárias no Brasil. In: NICOLAIDES, C.; SILVA, K. A.; TÍLIO, R; ROCHA, C. H. (Org.) Política e Políticas Linguísticas. Campinas: Pontes Editores, 2013. p. 93–116.
MAHER, T. M. Ecos de resistência: políticas linguísticas e línguas minoritárias no Brasil. In: NICOLAIDES, C.; SILVA, K. A.; TÍLIO, R; ROCHA, C. H. (Org.) Política e Políticas Linguísticas. Campinas: Pontes, 2013. p. 117-134.

Autora: Gabriela Wally Griep
Possui graduação em Letras – Português e Inglês pela Universidade Federal de Pelotas (2017). Atualmente é mestranda em Letras pela mesma instituição e integrante do Laboratório de Psicolinguística, Línguas Minoritárias e Multilinguismo (Laplimm). É professora de inglês há mais de dois anos em escola de idiomas.

Afinal, o que é esse tal de bilinguismo?

Bilinguismo. O termo ainda não é muito popular no Brasil. No entanto, circula cada vez mais forte e frequente em discussões importantes sobre a educação bilíngue de surdos e de indígenas, além de estar na base das iniciativas que buscam revitalizar as línguas herdadas dos imigrantes, como o pomerano e o talian. De acordo com o francês François Grosjean, professor emérito da Universidade de Neuchâtel, metade da população mundial é bilíngue.

Afinal, o que significa bilinguismo? A definição é polêmica. Os dicionários, como o Michaelis, o definem como a qualidade “daquele que fala dois idiomas”. As pessoas comuns também. Porém, não só elas. No início do século passado, pesquisadores definiram bilíngues como indivíduos com domínio perfeito em dois ou mais idiomas. No entanto, as pesquisas mais recentes são unânimes em afirmar: bilinguismo não é exatamente isso.

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Bilíngues, ser ou não ser, eis a questão

O que podem ter em comum:
a) a criança que têm pais que falam duas línguas em casa e as aprendeu simultaneamente antes dos três anos de idade?
b) o adolescente brasileiro que participa de jogos virtuais em uma comunidade em que o inglês é a língua de comunicação?
c) o estudante que lê e escreve em espanhol, mas só fala frases básicas?
d) a criança que entende Kaingang, ou pomerano, usado pelos avós, mas não o fala?

Segundo a definição de bilinguismo de François Grosjean, todas as pessoas dos exemplos acima podem ser consideradas bilíngues. De que maneira? O pesquisador baseia seu conceito de bilinguismo na ideia de uso das línguas. Dessa forma, para o linguista, bilíngues são pessoas que usam as duas línguas que adquiriram/aprenderam em situações do seu dia a dia, alternando-as conforme suas necessidades e finalidades específicas: para conversar com os pais na língua materna deles; ler um artigo; participar de um jogo virtual; escutar uma história dos avós que falam uma língua minoritária, por exemplo. Portanto, bilíngues se valem, em menor ou maior grau, do conhecimento linguístico que possuem e das habilidades comunicativas que dominam (ler, ouvir, falar e escrever) nas duas ou mais línguas que fazem parte da sua vida, tanto para interagir com o outro quanto para experimentar o mundo que os cercam.

Referências
Bilinguismo. In: Michaelis, Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2020. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/bilinguismo/ Acesso em: 27 set. 2020.
FLORES, C. Bilinguismo infantil. Um legado valioso do fenómeno migratório. Diacrítica, v. 31, n. 3, p. 237-250, 2017.
GROSJEAN, F. Bilinguismo Individual. Trad. por Heloísa Augusta Brito de Mello e Dilys Karen Rees. Revista UFG, v. 10, n. 5, p. 163-176, 2017.
LICO, A. L.C. Ensino do português como língua de herança: prática e fundamentos. Revista SIPLE, v. 1, n. 2, p. 22-33, 2011.
LIRA, C. O português como língua de herança em Munique: práticas de desafios. Fólio – Revista de Letras, [S.l.], v. 10, n. 1, 2018.
MEGALE, A. H. Bilinguismo e educação bilíngue – discutindo conceitos. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL, v. 3, n. 5, p. 01-13, 2005.
MOZZILLO, I. Algumas considerações sobre o bilinguismo infantil. Veredas (on-line), v. 19, n. 1, p. 147-157, 2015.
SOUZA, A. Motherhood in migration: A focus on family language planning. Women’s Studies International Forum, v. 52, p. 92 – 98, 2015.

Autora: Andréa Ualt Fonseca
Licenciada em Letras – Espanhol e Literaturas de Língua Espanhola, mestre em Educação e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPel. Professora de Espanhol do IFSul-Campus CaVG.