Arquivo mensais:dezembro 2019

Playlist: Tesouro linguístico

Criamos uma playlist multilíngue no Spotify. A lista das músicas e das línguas pode ser visualizada no arquivo do Drive. Há muita música boa em outras línguas, além das que costumamos escutar no nosso dia a dia. Aproveite e viaje nesse mundo musical! Aceitamos sugestões para inclusão de músicas e línguas.

Link da Playlist:
https://open.spotify.com/playlist/6VyqW9A1V5mzboYa7lW10F?si=TaiaR18CQL-3lacUcaXmRg

Link do Youtube:
https://www.youtube.com/watch? v=Hd8FWVeqqn8&list=PLCkPG4S44PBCDOrEP7KyWJZO2WCmccizq

Link do Drive:
https://drive.google.com/open?id=1L-gH1XCyZcYwpT–P9FRdnnIYiyhKqVFWw5DVfmzL44

Descrição e norma: abordagens linguísticas

Português é muito difícil!

Não é incomum essa formulação ocorrer entre estudantes, pessoas da mídia e (alguns) professores. Dentre os motivos, estão as escolas, o gargalo educacional no ensino básico e a finalidade desses estudos desaguarem no vestibular. E, quando se fala de língua e linguagem em veículos de comunicação, parte-se da norma: é certo falar assim, é errado falar daquele jeito (“porque a língua não permite tal uso”).

Esse olhar desconsidera que a língua é viva. Que ela muda. Que é, enfim, um objeto complexo. A impressão que se tem é que apenas a norma, a “lei gramatical” chega a público. Quando uma análise linguística “foge” de olhar à norma, a finalidade é outra: ao invés de dizer que tal formulação é errada, busca-se descrever os processos de sua ocorrência.

A Linguística consiste no estudo científico do objeto língua. Aqui são citadas duas abordagens, normativa e descritiva, mas existem tantas outras. A Linguística tem pouco mais de um século de existência, tendo como ponto inicial a publicação da obra Curso de Linguística Geral, de Ferdinand de Saussure, em 1916. Isso não significa que não houvesse reflexão sobre línguas e linguagens antes disso, mas o livro foi um divisor de águas em que houve, pela primeira vez, uma delimitação do objeto de estudo dessa ciência: a Linguística deveria estudar a estrutura, a língua, as regularidades: as normas.

Nesse primeiro momento, deixava-se de fora a linguagem, os aspectos individuais, históricos e sociais dos falantes. Com o tempo, linguistas notaram a necessidade de olhar para aquilo que Saussure havia ignorado: a língua era muito mais do que estrutura.

De acordo com Perini (2007, p. 21): “Não há a menor base linguística para a distinção entre ‘certo’ e ‘errado’ – o linguista se interessa pela língua como ela é, e não como deveria ser”.

Assim, os jeitos de se olhar para a língua e a linguagem são múltiplos, a depender do interesse do pesquisador. Só existimos enquanto seres de linguagem, é por ela que significamos o mundo. Com isso, busca-se considerar aspectos para além do certo e do errado, ou seja, para além da norma.

 

REFERÊNCIAS:

PERINI, Mario. Princípios de linguística descritiva: introdução ao pensamento gramatical. Parábola: São Paulo, 2007.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. Cultrix, São Paulo: 2009.

 

Autor: Gabriel Agustinho Piazentin
Graduado em Linguística pela Unicamp e em Jornalismo pela Unimep. É aluno do mestrado em Divulgação Científica e Cultural, da Unicamp, tendo como objeto de pesquisa a divulgação científica da Linguística. Atualmente, também, é voluntário no Cursinho Popular Podemos+, em Piracicaba, onde dá aula de redação.

Pomerano: uma língua brasileira

A língua pomerana teve origem na Pomerânia, uma região que se localizava entre os atuais territórios da Alemanha e da Polônia. Segundo Manske (2015, p. 17), devido a sua localização estratégica, com saída para o Mar Báltico, a Pomerânia foi alvo de inúmeras disputas territoriais. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a maior parte do território da Pomerânia foi anexada à Polônia, e a língua pomerana passou a ser considerada como uma língua moribunda na Europa. Por isso, muitas famílias deixaram de falar o pomerano e de ensinar aos seus filhos, fato que contribuiu para a sua quase extinção na Europa.

No século XIX, motivados por guerras, fome, pestes, crises no campo e desemprego, pomeranos migraram para o Brasil e outros países. Atualmente, os descendentes de pomeranos se distribuem pelos seguintes estados brasileiros: Espírito Santo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia e Minas Gerais. Estima-se que há, em todo o Brasil, cerca de 300 mil pomeranos (TRESSMANN, 1998). Você já imaginou se sentir em outro país mesmo estando no Brasil? Em algumas cidades do Brasil, como na região da nossa universidade, o pomerano é falado por boa parte dos habitantes.

A língua pomerana possui o status de língua alóctone (não dialeto!), isto é, língua não originária do Brasil. No entanto, hoje, há uma forte corrente para a língua pomerana ganhar status de língua brasileira, autóctone, porque praticamente não é mais falada na Europa. Segundo Rodrigues (2008), o pomerano sempre foi uma língua oral, não tinha regras de escrita (língua ágrafa). Com o intuito de normatizar a escrita do pomerano, Tressmann (2006) desenvolveu o Dicionário Enciclopédico Pomerano (2006), que possui 16.000 verbetes e 560 páginas. A língua pomerana apresenta particularidades distintas do português e do alemão, tais como a escrita, fala, pronúncia, estrutura das palavras e possui vários cognatos e semelhanças com o inglês e o alemão-padrão (por exemplo, Bauk, book e Buch ou Sonn, sun e Sonne, respectivamente).

Fonte: Hammes (2014, p. 209)

 

REFERÊNCIAS:

HAMMES, E. L. A imigração alemã para São Lourenço do Sul – Da formação da sua Colônia aos primeiros anos após seu Sesquicentenário. São Leopoldo: Studio Zeus, 2014.

MANSKE, C. M. R. Pomeranos no Espírito Santo: história de fé, educação e identidade. Vila Velha, ES: Gráfica e Editora GSA, 2015.

RODRIGUES, A. F. A narrativa de Thomas Davatz: relato de memória e documento histórico, sentimentos e ressentimentos na História (1850-1888). 2008. 116 f. Monografia (Graduação em História) – Instituto de História, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Minas Gerais, 2008.

TRESSMANN, I. Bilingüismo no Brasil: O caso da Comunidade Pomerana de Laranja da Terra. Associação de Estudos da Linguagem (ASSEL-Rio). Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Rio de Janeiro,1998.

TRESSMANN, I. Dicionário Enciclopédico Pomerano-Português. Santa Maria de Jetibá, Espírito Santo, 2006.

 

Autora: Daniele Ebel
Falante de pomerano e graduanda do curso de Licenciatura em Letras Português e Alemão na Universidade Federal de Pelotas.