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Libras e português: algumas provas de que essa relação pode dar certo!

Muitas pessoas ainda se questionam se o aprendizado da Libras (Língua Brasileira de Sinais) poderia prejudicar, de alguma forma, o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita em língua portuguesa pelas pessoas surdas. Em 2014, um grupo de estudiosos da área da educação de surdos publicou um documento que deve servir de base para a construção de uma série de orientações para o ensino de pessoas surdas. Já em muitas escolas se está tentando trabalhar nessa linha de pensamento: Libras como a língua em que o aluno irá interagir durante as aulas e português como a língua da leitura e da escrita, pois é a língua oficial do Brasil. Veja algumas das instituições gaúchas, por exemplo, a Escola Bilíngue Professor Alfredo Dub, em Pelotas, e a Escola Bilíngue Profª Carmen Regina Teixeira Baldino, em Rio Grande.

Além disso, a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Carina Cruz, fez uma pesquisa sobre a possibilidade da consciência fonológica em línguas de sinais ser uma grande aliada na leitura em uma língua oral escrita. A fonologia é uma área da linguística que estuda as pequenas partes de uma palavra ou de um sinal que tem significado. Na pesquisa publicada pela professora, temos estudos feitos em outros países e no Brasil que mostram que os surdos, mesmo crianças, já conhecem essas pequenas partes e as usam para relacionar ou construir novos significados. Isso poderia auxiliar na sua reflexão sobre a escrita da língua oral na qual escrevem e leem.

A pesquisa de Carina Cruz mostra estudos feitos na Suíça e nos Estados Unidos. A maioria comprovou que aqueles surdos que tiveram contato com a língua de sinais de seu país na tenra idade são os mesmos que conseguiram perceber a sua fonologia e que têm maior habilidade na leitura da língua oral escrita. Um outro estudo dos EUA mostrou que alguns professores de surdos já estão usando essa relação como estratégia de ensino da leitura e escrita do inglês. No Brasil, a professora destacou trabalhos que trazem essa consciência fonológica em surdos que começaram a aprender a Libras antes dos quatro anos. Seguindo o que aconteceu nos outros países, eles poderiam ter maior facilidade no desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita da língua portuguesa, graças ao seu conhecimento da Libras! Libras e português, uma relação que dá certo!

Referências
CRUZ, Carina Rebello. Consciência fonológica da língua de sinais: implicações na linguagem e na leitura. ReVEL, edição especial, n. 15, p. 63-82, 2018. 
MEC/SECADI. Relatório do Grupo de Trabalho, designado pelas Portarias no 1.060/2013 e no 91/2013, contendo subsídios para a Política Linguística de Educação Bilíngue – Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa, 2014

Autora: Joseane Maciel Viana, graduada em Licenciatura em Letras – Português e Inglês, com Mestrado em Letras, pela Universidade Federal de Pelotas. Atualmente, é aluna do Doutorado em Aquisição, Variação e Ensino, na mesma universidade.