A língua portuguesa deveria ser ensinada a todos do mesmo jeito?

Você deve pensar que essa resposta é simples. Será mesmo? Embora o ensino da língua portuguesa seja obrigatório em todas as escolas brasileiras, é preciso considerar as diferenças de uso da língua para pensar em uma forma de ensiná-la. 

Para começar, em nosso país não se fala só português. Segundo o professor Cléo Altenhofen, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no Brasil se falam cerca de 270 línguas. Há alunos surdos que usam a Língua Brasileira de Sinais (Libras), indígenas e falantes de línguas herdadas dos seus antepassados imigrantes. Todos precisam dar conta de estudar formalmente português que, às vezes, nem é o idioma falado na sua casa! 

Além disso, mesmo para os brasileiros que só falam português, há diferenças entre a língua que se usa no cotidiano e aquela da escola e dos livros didáticos. Essas diferenças se relacionam ao local em que se vive, à classe social ou, ainda, à formalidade da situação em que nos comunicamos. Existe, também, uma vasta região de fronteira em que a língua portuguesa se mistura à língua dos vizinhos na comunicação diária, fazendo com que os habitantes dessas localidades falem um português com pitadas de espanhol ou de outras línguas. 

Assim, estudar português na escola pode ser bem diferente de usá-lo no dia a dia.  Como, então, ensinar a língua portuguesa a todos considerando tantas diferenças? A resposta está no diálogo, no respeito e na reflexão sobre o idioma e toda diversidade linguística, que deveria ser a base do ensino em todas as escolas do país.

A sala de aula deve ser um espaço em que estudantes e professores respeitem a língua de cada um e, a partir disso, construam acordos coletivos que permitam que todos se expressem sem nenhum constrangimento. Estudar a língua portuguesa não significa esquecer ou condenar outros modos de falar, isso porque pensar toda essa diversidade linguística torna a aprendizagem mais significativa e interessante para todos. 

Carlos Drummond de Andrade, poeta brasileiro, escreveu em um de seus poemas que para estudar português na escola, precisava esquecer a língua em que conversava, brincava ou namorava. Isso não é verdade! Para estudar português na escola é preciso entender que ele não é nem um, nem dois, mas vários; tão diverso quanto o povo, a culinária e as paisagens do Brasil.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Monumento_a_Carlos_Drummond_de_Andrade#/media/Ficheiro:Carlos_DA_2.jpg

Referências 
ALTENHOFEN, Cléo Vilson. Bases para uma política linguística das línguas minoritárias no Brasil, 2013. In: NICOLAIDES, C.; SILVA, K. A.; TILIO, R.; ROCHA, C. H. (Org.). Política e Políticas Linguísticas. Editora Pontes, 2013. p. 93-113.
BAGNO, Marcos. A inevitável travessia: da prescrição gramatical à educação linguística. In: BAGNO, Marcos. GAGNÉ, Gilles. STUBBS, Michael. Língua materna: letramento, variação e ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2002. p. 13-80.

Autora: Vivian Anghinoni Cardoso Corrêa. Licenciada em Letras e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Pelotas e aluna do Doutorado em Letras na mesma instituição.

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