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A internacionalização das universidades brasileiras e a importância do ensino de línguas estrangeiras no ambiente acadêmico

Em 2009, os membros da Conferência Mundial sobre Ensino Superior, organizada pela UNESCO, determinaram que um dos objetivos da educação superior no Brasil seria o da busca pela internacionalização das instituições de ensino superior. Mas o que é esse processo? De que forma uma universidade pode se internacionalizar? Qual o objetivo desse empreendimento? Como ele é atingido?

Dentre os propósitos da internacionalização, estão: a busca pela cooperação entre universidades do mundo todo; maior mobilidade acadêmica, enviando estudantes brasileiros a instituições de outros países; e estimular, de forma respeitosa, o contato entre diferentes culturas.

A professora Jane Knight (2008) classifica as razões pelas quais uma universidade se internacionaliza em quatro categorias: sociais/culturais, políticas, econômicas e acadêmicas. Essas motivações, no entanto, tendem a variar de país para país. De acordo com as pesquisadoras Laura Baumvol e Simone Sarmento (2016), em países do hemisfério norte, por exemplo, a principal razão para o processo de internacionalização tende a ser econômica. Instituições de ensino superior da América do Norte e da Europa, na sua maioria privadas, se beneficiam de alunos estrangeiros e das altas mensalidades que eles pagam. Já em países em desenvolvimento, as universidades, ao se internacionalizarem, buscam, sobretudo, parcerias com outras nações, maior mobilidade acadêmica, enviando alunos brasileiros para outros países (algo que se tornou particularmente desafiador em razão dos cortes de verbas mais recentes), além de oportunizar a todos os membros da comunidade acadêmica o contato com outras culturas.

Mas, na prática, como essa internacionalização acontece? Um dos carros-chefes nesse processo são os programas de mobilidade acadêmica, como, por exemplo, o Ciência sem Fronteiras (CsF), cujo objetivo era enviar alunos e pesquisadores do Brasil a instituições de outros países. Além disso, há também políticas de Internacionalização em Casa, cuja finalidade é oferecer a alunos não contemplados por bolsas do CsF o contato com aspectos internacionais e interculturais. Entre essas políticas, está a presença de alunos e professores internacionais em campi brasileiros, estudando/lecionando aqui.

Contudo, segundo os pesquisadores Gabriel Amorin e Kyria Finardi (2017), um dos maiores obstáculos rumo à internacionalização é a barreira linguística. A fim de que esta aconteça com sucesso, são de grande importância programas como o Idiomas sem Fronteiras (IsF) – originalmente Inglês sem Fronteiras (IsF) -, cujo propósito era, no seu princípio, o de ajudar os alunos contemplados pelas bolsas do Ciência sem Fronteiras a obter a proficiência em língua inglesa necessária para participar do programa. Com o passar do tempo, o Inglês sem Fronteiras evoluiu para Idiomas sem Fronteiras, passando a oferecer aulas de outras línguas também. Através de estratégias como essas, o processo de internacionalização acontece de forma democrática, tocando o maior número possível de pessoas.

Fonte: https://isf.mec.gov.br/

Referências

AMORIN, G. B.; FINARDI, K. R. Internacionalização do ensino superior e línguas estrangeiras: evidências de um estudo de caso nos níveis micro, meso e macro.  Avaliação, v. 22, n. 3, p. 614-632, 2017.
BAUMVOL, L. K.; SARMENTO, S. A internacionalização em casa e o uso de inglês como meio de instrução. Florianópolis: Echoes, 2016, p. 65-82.
KNIGHT, J. Higher Education in Turmoil: the Changing World and Internationalization. Rotterdam: Sense Publishers, 2008.

Autor: Leonardo Ribeiro, graduado em Licenciatura em Letras – Português e Inglês pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Atualmente, é aluno do mestrado em Aquisição, Variação e Ensino, com pesquisas em multilinguismo e translinguagem.

Ensino de português como língua de acolhimento para refugiados no Brasil

De acordo com Rosane Amado, refugiado é aquele que necessita se deslocar para salvar sua vida ou preservar sua liberdade. No Brasil, segundo a matéria de Lucas Vidigal para o G1, durante o primeiro semestre de 2020, o governo aprovou cerca de 38 mil solicitações de refúgio de venezuelanos, mas ainda há uma grande lacuna no ensino de português como língua de acolhimento, que é a modalidade de ensino que melhor comporta os refugiados.

O trabalho de ensino do português aos refugiados, segundo Lopez e Diniz (2018), geralmente é realizado por instituições não-governamentais, algumas por meio de parcerias com cursos ou voluntários, embora a maioria desses não tenha formação adequada. O Comitê Nacional para Refugiados (CONARE) foi criado pelo governo em 1997 e passou a desenvolver alguns cursos em diversas capitais do país, assim como a abertura de vagas em escolas públicas.

Assim, conhecer a língua majoritária de um país (ou as suas línguas) não apenas é fundamental no processo de inclusão, mas também um direito dos imigrantes. De acordo com Oliveira e Silva (2017), uma das maiores dificuldades encontradas pelos imigrantes ao chegarem num novo país é o idioma, embora essa experiência não seja igual para todos refugiados, assim ficando evidente a necessidade de programas específicos de ensino da língua para esse público-alvo, no caso, os refugiados.

A língua de acolhimento se refere também aos aspectos emocionais e à relação conflituosa presente no contato do imigrante com a sociedade que o recebe. Assim, o professor também deve tentar lidar com o conflito entre o imigrante e a língua para que o aluno passe a ver a língua de uma boa forma, até como modo de empoderamento.

É aconselhável o uso de temas próximos à realidade vivida pelos alunos, temas os quais podem fazer com que se sinta acolhido. Isso pode fazer com que o refugiado encontre maior facilidade em aprender a língua e sinta-se mais incentivado a produzir textos que contem sua história, suas narrativas pessoais. Dessa forma, não bastaria apenas adaptar o material já utilizado para ensinar português para estrangeiros, pois há muitas necessidades diferentes nessa situação de refúgio, como as condições psicossociais e o fato de precisarem urgentemente do idioma para encontrar empregos ou qualificação profissional.

Embora grandes avanços sejam realizados na área, ainda é necessário continuar a luta por políticas públicas de ensino de língua para refugiados, para que ocorra a adequação de muitos materiais às realidades migratórias. Também é necessário repensar um preparo especializado para os professores que trabalharão com os imigrantes e outros pontos que melhorem a condição de ensino do português como língua de acolhimento.

Referências
AMADO, Rosane de Sá. O ensino de português como língua de acolhimento para refugiados. Revista Siple. Brasília, v. 4, n. 2, p. 6-14. 2013.
BIZON, Ana Cecília Cossi; DINIZ, Leandro Rodrigues Alves. Apresentação: Português como Língua Adicional em contextos de minorias: (co)construindo sentidos a partir das margens. Revista X. Curitiba, v. 13, n. 1, p. 1-5, 2018.
BRASIL. Governo Federal. Refúgio. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Acesso em: 13 dez. 2020.
CAMARGO, Helena Regina Esteves. Portas entreabertas do Brasil: narrativas de migrantes de crise sobre políticas públicas de acolhimento. Revista X. Curitiba, v. 13, n. 1, p. 57-86, 2018.
LOPEZ, Ana Paula de Araújo; DINIZ, Leandro Rodrigo Alves. Iniciativas Jurídicas e Acadêmicas para o Acolhimento no Brasil de Deslocados Forçados. Revista da Sociedade Internacional Português Língua Estrangeira, Brasília, Edição especial. n. 9, 2018.
OLIVEIRA, Gilvan Müller de; SILVA, Julia Izabelle. Quando barreiras linguísticas geram violação de direitos humanos: que políticas linguísticas o Estado brasileiro tem adotado para garantir o acesso dos imigrantes a serviços públicos básicos? Gragoatá, Niterói, v. 22, n. 42, p. 131-153, 2017.
SÃO BERNARDO, Mirelle Amaral de. Português como língua de acolhimento: um estudo com imigrantes e pessoas em situação de refúgio no Brasil. Tese (Doutorado em Linguística). Universidade Federal de São Carlos. São Carlos, 2016.
VIDIGAL, L. Número de refugiados no Brasil aumenta mais de 7 vezes no semestre; maioria é de venezuelanos. Portal G1 – Globo. Julho de 2020.

Autora: Bibiana de Leon Sedrez – Acadêmica do curso de Letras – Português e Inglês – Licenciatura – Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

“Eles dança, eles olha, eles fica”? Em aulas de francês?

Vocês devem estar se perguntando: o que formas estranhas de concordância no português, como as que aparecem no título, têm a ver com uma língua aparentemente tão sofisticada quanto o francês? Pasmem e acreditem! Elas têm tudo a ver!

No entanto, antes de se mostrarem as relações entre as concordâncias ilustradas no título e as da língua francesa, é muito importante esclarecer que tais concordâncias nada estão erradas. Elas são, somente, uma variação dentro da língua portuguesa falada no Brasil, denominadas, linguisticamente, de variantes linguísticas não padrão do português brasileiro.

Esse assunto tão complexo, inclusivo e fascinante foi o que me levou, como professora de português e de francês, a dar espaço a variantes do português em aulas de francês língua estrangeira, sobretudo, àquelas que sofrem preconceito, desprestígio e estigma. Procuro, na medida do possível, trazer esse tipo de variação linguística para debater e confrontar com estruturas da língua francesa que é, sem dúvida nenhuma, uma língua de prestígio internacional.

Fonte: https://www.mlfmonde.org/tribunes/la-langue-francaise-est-elle-une-langue-laique/

Tudo isso, na intenção de mostrar aos alunos que algumas coisas em francês se dizem de maneira semelhante a algumas variantes no português. Nesse caminho, o aluno é levado a entender que as variantes nada têm de menor, de desprestígio, muito menos de erradas, mas são integradoras e fazem parte de todas as línguas (BAGNO, 1999; BORTONI-RICARDO, 2004; 2005; 2014).

É o que acontece com os verbos regulares no presente do indicativo: ambas as línguas têm várias pessoas em concordância verbal na escrita, porém, no registro falado, aparecem apenas duas. A divergência está no fato de que em português, tais concordâncias emergem em registros não padrão, enquanto, no francês, em registros padrão. Vejam só a explicação a seguir!

Tomando-se, por exemplo, a conjugação do verbo “falar” no português, têm-se todas as pessoas conjugadas na escrita [eu falo, tu falas, ele(a) fala, nós falamos, vós falais, eles/as falam, mas apenas duas nas variantes faladas por algumas pessoas, como em eu – [falu], tu, ele(a), nós, a gente, vocês eles(as) – [fala]. Observem, então, que em uma modalidade oral não padrão do português tem-se eu [falu] e o restante das pessoas, todo mundo [fala], enquanto na escrita, cada pessoa do verbo tem uma conjugação específica.

No francês, acontece a mesma coisa com esses verbos. Tomando-se, por exemplo, o mesmo verbo falar – parler [parle] no francês. Na escrita têm-se todas as pessoas conjugadas (je parle, tu parles, il/elle/on parle, nous parlons, vous parlez, ils/elles parlent, mas somente três aparecem na oralidade  (je, tu, il, elle, ils, elles, on [parl], nous [parlõ] e vous [parle].

Se observarmos com atenção, a similaridade parece não ser tão perfeita assim, já que o português tem duas pessoas e o francês, três na oralidade. Pois bem! Muitas pessoas falantes de francês utilizam on parle [õ parl] no lugar de nous parlons [nu parlõ], assim há uma espécie de apagamento do nous parlons e a utilização de on parle no lugar – o que resulta em duas pessoas na oralidade do francês. Vejam, então, que no francês existe vous parlez [parle] e o restante das pessoas tout le monde parle (todo mundo fala), absolutamente igual ao que ocorre com as conjugações verbais no presente do indicativo de verbos regulares em variantes não padrão do português, resultando nas concordâncias, aparentemente estranhas, que aparecem no título deste texto – eles dança, eles olha, eles fica, pronúncia que todos os falantes de francês usam em qualquer circunstância.

Referências
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. M. Educação em língua materna: a sociolinguística em sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Nós cheguemu na escola, e agora? Sociolinguística & educação. São Paulo: Parábola, 2005.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Manual de sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2014.

Autora: Claudia Regina Minossi Rombaldi. Professora do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul), no Campus Pelotas-Visconde da Graça (CaVG). Realizou estágio pós-doutoral no Programa de Pós-graduação em Letras, do Centro de Letras e Comunicação (CLC), da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), sob a orientação da Profa. Dra. Isabella Mozzillo.

Como as políticas linguísticas podem beneficiar os cidadãos?

Já ouviu falar do termo “políticas linguísticas”? Consegue pensar no que ele pode significar? Para começo de conversa, você precisa saber que a Política Linguística é um ramo da política que lida com línguas e o que acontece com elas na sociedade, conforme diz Kanavillil Rajagopalan (2013), famoso linguista indiano que trabalha no Brasil há mais de 30 anos. Por meio dessas políticas, lida-se com a proteção de línguas em extinção, escolhem-se quais idiomas devem ser ensinados nas escolas, implementam-se e promovem-se programas que visam ao ensino de línguas estrangeiras para as comunidades. Porém, você pode estar se perguntando como essas políticas influenciam os cidadãos. Vou explicar como elas beneficiam as universidades, e, consequentemente, você e os seus conhecidos.

Na Universidade Federal de Pelotas, há cursos de línguas que são oferecidos pelo Centro de Letras e Comunicação. Esses cursos são oferecidos por uma taxa pequena desde a década de 1970 à comunidade e são ministrados pelos estudantes da graduação em Letras. Assim, os moradores da cidade podem acessar um ensino de idiomas de ótima qualidade pagando muito pouco, e os estudantes podem aprender na prática. Atualmente, os cursos estão funcionando de modo remoto.

Fonte: https://wp.ufpel.edu.br/clc/cursos-basicos-de-linguas/

Também há o Programa Idiomas Sem Fronteiras, vinculado à Rede ANDIFES. Nele, cursos de idiomas voltados para o meio acadêmico e para a internacionalização são oferecidos gratuitamente a alunos, professores e servidores da universidade. Eles aprendem sobre suas áreas em outras línguas e têm acesso a diferentes culturas, tudo nas aulas, que são planejadas por profissionais da área de Letras.

Fonte: https://www.facebook.com/IsFUFPel/photos/a.1500038670222661/3169908753235636/?type=1&theater

Tais cursos surgiram com a ajuda de políticas linguísticas voltadas para o acesso fácil e de qualidade da comunidade a cursos de idiomas. Então, através do acesso gratuito às universidades e ao que elas oferecem aos cidadãos, conforme o documento da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), tais instituições formam profissionais da área de Letras capacitados, o que melhora o ensino de línguas, por exemplo, e traz benefícios a cidadãos como você e seus conhecidos.

Referências
ANDIFES – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DIRIGENTES DAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR. Programa de expansão, excelência e internacionalização das universidades federais, 2012. Disponível em: <http://www.andifes.org.br/programa-de-expansao-excelencia-e-internacionalizacao-das-universidades-federais/>. Acesso em: 20 de setembro de 2020.
RAJAGOPALAN, K. Política linguística: do que é que se trata, afinal. In: NICOLAIDES, C.; SILVA, K. A.; TÍLIO, R; ROCHA, C. H. (Org.) Política e políticas linguísticas. Campinas: Pontes, 2013. p. 19-42.

Autor: Johann Bonow Neves
Formado em Licenciatura em Letras – Português e Inglês pela Universidade Federal de Pelotas. Atualmente, é aluno do Programa de Mestrado em Letras da mesma universidade. Já trabalhou como professor bolsista do Programa Idiomas sem Fronteiras e foi professor de Língua Inglesa da Câmara de Extensão do Centro de Letras e Comunicação da UFPel.

O Coletivo da Língua Estrangeira (The Foreign Language Collective)

The Foreign Language Collective (em português: O Coletivo da Língua Estrangeira) é uma página do Facebook que compartilha fotos, artigos, vídeos e memes sobre línguas estrangeiras e sua aprendizagem. O site, seguido por mais de 283 mil pessoas, possui um enorme alcance justamente por tratar, com um tom humorístico, de situações com as quais qualquer aprendiz de língua estrangeira se depara frequentemente como o fato de esquecer palavras na língua materna ou na língua estrangeira, a vontade infindável de aprender muitas línguas e a dificuldade que se tem com a fala em língua estrangeira. O website, que geralmente faz postagens em inglês (a língua mais usada na internet segundo o Internet World Stats), é muito diversa, pois seus posts abrangem o aprendiz das mais variadas línguas: árabe, alemão, sueco, francês, português, espanhol chinês etc.

Fonte: The Foreign Language Collective

Mesmo com um tom cômico, o site valoriza a diversidade linguística e também apresenta um posicionamento crítico em vários de seus posts ao problematizar, por exemplo, o prescritivismo, que dita como a língua deve ser usada, e a crença equivocada, mas bastante comum, de que “todo mundo fala inglês”.

Fonte: The Foreign Language Collective

Além da página no Facebook, o coletivo também possui um website que dá dicas de aplicativos, audiolivros, filmes, séries e canais no Youtube para aprender línguas estrangeiras em diferentes níveis.

Os responsáveis pelo The Foreign Language Collective também criaram outra página no Facebook chamada Untranslatable (no português: Intraduzível) com o propósito de criar um dicionário multilíngue de gírias e expressões idiomáticas, seus respectivos significados e frases exemplificando seus usos. Além do mais, através deste site podemos enviar gírias e expressões que conhecemos e pesquisar submissões feitas por outros usuários.

 Fonte: Untranslatable

Finalmente, o The Foreign Language Collective é de extrema relevância, pois além de proporcionar conteúdo cômico para momentos de descanso, torna possível que pessoas do mundo todo compartilhem suas experiências como aprendizes de línguas estrangeiras. Além disso, o coletivo, por meio do Untranslatable, difunde um dicionário multilíngue gratuito construído pelos próprios internautas!

 

Autora: Raphaela Palombo Bica de Freitas
Graduada em Letras- Português e Espanhol pela Universidade Federal de Pelotas (2018). Atualmente é mestranda em Letras pela mesma instituição, professora particular de língua espanhola e bolsista do Idiomas sem Fronteiras.

O que é intercompreensão?

Ao pensarmos em Brasil, temos a ideia de que a língua portuguesa é a única falada em todo território nacional. Entretanto, excluímos as realidades imigratórias, indígenas e fronteiriças que moldam nosso país linguisticamente.

Em um minicurso do professor Francisco del Olmo, dois conceitos de comunicação são abordados e estão relacionados às realidades expostas acima. Segundo ele, o cenário onde somente uma língua circula é nomeado comunicação endolíngue (com muitos dialetos). Já situações fronteiriças e turísticas configuram uma comunicação exolíngue, pois existe mais de uma língua em uso. Aplicando esses conceitos em nosso âmbito nacional, constata-se que há uma comunicação exolíngue, visto que há também situações imigratórias, indígenas, fronteiriças e turísticas que demandam o uso de outras línguas.

Dentro dessa comunicação exolíngue, se encontra o cenário da intercompreensão, que segundo Möller e Zeevaert (2015), é um processo motivado pelas relações entre as famílias linguísticas que pode ser ocasionado pelas palavras cognatas, similaridades na estrutura frasal e na ortografia. Línguas derivadas do latim, como por exemplo, português, espanhol, francês, italiano têm maior possibilidade de intercompreensão, dado que fazem parte da mesma família linguística. Dessa forma, um brasileiro que lê ou escuta esses outros idiomas pode compreendê-los mesmo sem ter conhecimentos sobre eles. Além disso, para Francisco del Olmo, a intercompreensão pode ocorrer de forma que nenhum falante precise ceder sua língua para que a comunicação aconteça. Logo, cada falante escolhe sua forma de falar e ambos tentam o processo de intercompreensão. Segundo o professor, esse processo se torna democrático e eficaz. O portunhol falado na fronteira entre Brasil e Uruguai, por exemplo, é fruto do processo da intercompreensão, o qual evidencia a democratização linguística. No vídeo da Coopération Educative France au Brésil, é possível conhecer outras línguas da mesma família linguística do nosso português.

 

 

REFERÊNCIAS: 

MÖLLER, R.; ZEEVAERT, L. Investigating word recognition in intercomprehension: Methods and findings. Linguistics, v. 53, n. 2, p. 314-315, 2015.

MINICURSO – INTERCOMPREENSÃO: Minicurso – Intercompreensão: A chave para as línguas – Aula 1. Vídeo apresentado por Francisco del Olmo. [Curitiba: Parábola Editorial], 2020. Publicado pelo canal Parábola Editorial.

O QUE É INTERCOMPREENSÃO? Vídeo disponibilizado no YouTube pela Coopération Educative France au Brésil.

 

Autora: Larissa Caroline Ferreira
Graduanda de Letras – Português e Alemão e voluntária no Laboratório de Psicolinguística, Línguas Minoritárias e Multilinguismo da Universidade Federal de Pelotas.

Por que estudar pronúncia na aula de língua estrangeira?

Boa pergunta, né? A resposta é muito simples e tem relação com o funcionamento e o uso da língua estrangeira. Eliane Rosa nos responde à pergunta de uma forma acessível.

Falar é uma atividade complexa e dinâmica que precisa ser encarada como algo que os seres humanos fazem, não como algo que possuem. Essa atividade envolve, pelo menos, três facetas: a motora (movimentos dos órgãos fonadores), a perceptual (interpretação e compreensão dos sons pelo aparelho auditivo) e a mental (processamento neural). Além de ser considerada uma atividade cognitiva, ela também pode ser vista como uma atividade sociocultural em função da linguagem ser adquirida e utilizada por meio da interação com outros indivíduos.

A língua é um mecanismo que permite exprimir pensamentos em sons. Isto é, pode-se dizer que a língua é um mecanismo que possibilita emitir uma sequência de sons carregada de uma intenção linguística (ou significado). Por exemplo, quando um bebê olha para sua mãe e diz “mama” o que ele faz é produzir oralmente uma sequência de sons (/m/-/a/-/m/-/a/), enquanto a mãe compreende que ele está se referindo a ela. Isso demonstra que som está ligado a um significado armazenado na mente do falante e do ouvinte. Em virtude disso, verifica-se que o som não pode ser aprendido independentemente do significado.

Já que a comunicação se trata da emissão de uma sequência de sons que carregam uma mensagem a ser transmitida e captada pelo ouvinte, é fundamental estudar pronúncia na aula de língua estrangeira. O estudo dos sons faz parte da aprendizagem da gramática de uma língua. Aprender como articular de forma apropriada os sons da língua-alvo possibilita evitar mal-entendidos durante a interação comunicativa com falantes nativos e não nativos dessa língua. Por exemplo, em inglês, se o falante-aprendiz X pretende dizer a frase “The boy is thinking at the beach” (O menino está pensando na praia), mas produz o som “TH” do verbo “thinking” como se fosse um “S”, o que o falante-aprendiz Y vai compreender é a seguinte mensagem: “The boy is sinking at the beach” (O menino está afundando na praia). Em outros termos, esse ouvinte irá pensar que está ocorrendo uma tragédia com um menino em razão de ter entendido que ele está afundando na praia.  No vídeo We are sinking, podemos ver um exemplo de como a pronúncia inadequada (também do do th) pode trazer consequências negativas para a nossa interação social, inclusive provocar acidentes. Diante disso, percebe-se que a produção imprecisa de um som pode provocar uma interpretação falha da mensagem transmitida.

Nesse sentido, os exercícios de pronúncia na aula de língua estrangeira podem trazer contribuições positivas para uma interação comunicativa eficiente e compreensível.

 

Autora: Eliane Nowinski da Rosa
Doutoranda em Linguística Aplicada (UNISINOS), mestre em Fonologia e Morfologia (UFRGS), especialista em Ensino-aprendizagem da Língua Inglesa (Uniritter), graduada em Letras-Licenciatura Plena em Língua Inglesa (ULBRA). Atua como professora de língua inglesa há 17 anos.