O Coletivo da Língua Estrangeira (The Foreign Language Collective)

The Foreign Language Collective (em português: O Coletivo da Língua Estrangeira) é uma página do Facebook que compartilha fotos, artigos, vídeos e memes sobre línguas estrangeiras e sua aprendizagem. O site, seguido por mais de 283 mil pessoas, possui um enorme alcance justamente por tratar, com um tom humorístico, de situações com as quais qualquer aprendiz de língua estrangeira se depara frequentemente como o fato de esquecer palavras na língua materna ou na língua estrangeira, a vontade infindável de aprender muitas línguas e a dificuldade que se tem com a fala em língua estrangeira. O website, que geralmente faz postagens em inglês (a língua mais usada na internet segundo o Internet World Stats), é muito diversa, pois seus posts abrangem o aprendiz das mais variadas línguas: árabe, alemão, sueco, francês, português, espanhol chinês etc.

Fonte: The Foreign Language Collective

Mesmo com um tom cômico, o site valoriza a diversidade linguística e também apresenta um posicionamento crítico em vários de seus posts ao problematizar, por exemplo, o prescritivismo, que dita como a língua deve ser usada, e a crença equivocada, mas bastante comum, de que “todo mundo fala inglês”.

Fonte: The Foreign Language Collective

Além da página no Facebook, o coletivo também possui um website que dá dicas de aplicativos, audiolivros, filmes, séries e canais no Youtube para aprender línguas estrangeiras em diferentes níveis.

Os responsáveis pelo The Foreign Language Collective também criaram outra página no Facebook chamada Untranslatable (no português: Intraduzível) com o propósito de criar um dicionário multilíngue de gírias e expressões idiomáticas, seus respectivos significados e frases exemplificando seus usos. Além do mais, através deste site podemos enviar gírias e expressões que conhecemos e pesquisar submissões feitas por outros usuários.

 Fonte: Untranslatable

Finalmente, o The Foreign Language Collective é de extrema relevância, pois além de proporcionar conteúdo cômico para momentos de descanso, torna possível que pessoas do mundo todo compartilhem suas experiências como aprendizes de línguas estrangeiras. Além disso, o coletivo, por meio do Untranslatable, difunde um dicionário multilíngue gratuito construído pelos próprios internautas!

 

Autora: Raphaela Palombo Bica de Freitas
Graduada em Letras- Português e Espanhol pela Universidade Federal de Pelotas (2018). Atualmente é mestranda em Letras pela mesma instituição, professora particular de língua espanhola e bolsista do Idiomas sem Fronteiras.

Língua e descolonização

Os séculos de colonização portuguesa no continente africano – e em Angola de forma específica – deixaram suas marcas: na língua falada, nos costumes, na história, nas memórias, na literatura. Nesse sentido, mesmo com a conquista da tão sonhada independência, é impossível retornar a uma época na qual os africanos ainda não haviam mantido contato com os europeus.

Um desses impactos consiste na questão da língua utilizada no país africano para a comunicação no cotidiano, para a produção de documentos oficiais ou para a escrita de obras literárias. Após a conquista da independência angolana, em 1975, a língua portuguesa – a língua do ex-colonizador, do opressor – foi adotada como idioma oficial do país. Muitos poderiam se questionar sobre as consequências da escolha, da preferência pela língua portuguesa: os idiomas africanos não poderiam ter primazia?

Estudiosos, como Laura Padilha (2002), apontam que o uso da língua portuguesa pelos angolanos não acontece de forma passiva. Dessa forma, o português, anteriormente sinal e evidência do colonizador, da escravidão e da opressão, torna-se uma importante ferramenta de revolução social, a partir da reinvenção e da renovação da língua do silenciador pelo silenciado. Uma vez usada pelos novos falantes de acordo com suas necessidades, a língua do dominador se volta contra a dominação. Faz parte dessa transformação do português a incorporação de palavras, expressões e estruturas sintáticas das línguas africanas – e, dessa forma, a língua europeia vai ganhando contornos angolanos.

As literaturas das ex-colônias portuguesas são chamadas por Pires Laranjeira (2000) de literaturas calibanescas, pois foram obrigadas a deglutir a literatura portuguesa, misturada com a brasileira, afro-americana, africanas etc., para criar algo só seu, para marcar a sua diferença. Assim, tendo em vista a importância da apropriação da língua portuguesa e da sua transformação em um idioma angolanizado para a solidificação da nação, fica claro o papel de destaque da literatura no processo. Como explica Edward Said (2011), o imperialismo se reforçou a partir de um discurso que o tornava algo natural e correto e a literatura em muito contribuiu para a propagação desse discurso. Dessa forma, a literatura igualmente assumiu o papel oposto de marcar a necessidade da independência, do reconhecimento dos povos africanos e da violência perpetrada sobre eles ao longo dos séculos de colonialismo.

Fonte:   Mayombe               Teoria Geral do Esquecimento         Mãe, Materno Mar                    Os transparentes 

 

Referências
LARANJEIRA, Pires (org.). Negritude africana de língua portuguesa: textos de apoio (1947-1963). Coimbra: Angelus Novus, 2000.

PADILHA, Laura Cavalcante. Novos pactos, outras ficções: ensaios sobre literaturas afro-luso-brasileiras. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

SAID, Edward. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das letras, 2011.

Autora: Luara Pinto Minuzzi
Doutora em Letras pela PUCRS, com a tese “Escrever para tornar a escuridão mais bonita: um estudo sobre a construção simbólica da morte em quatro romances angolanos”. Atua como professora de Literatura e de Língua Portuguesa no Colégio Monteiro Lobato (Porto Alegre).

Funkeiros cults

Nas últimas semanas, a página do Facebook chamada Funkeiros Cults ganhou visibilidade, chamando a atenção dos jovens na rede social. A página combina literatura, em sua maioria clássica, com uma linguagem informal composta por gírias utilizadas nas periferias do nosso país. A página tem como objetivo quebrar o preconceito de que a literatura é consumida somente por uma classe social dominante ou por acadêmicos.

A página Funkeiros Cults passa a mensagem principal do livro apresentado no post em uma frase, utilizando gírias utilizadas nas periferias. Essa forma de se comunicar é motivo de preconceito na sociedade. A linguista Maria Marta Pereira Scherre relata que o preconceito linguístico seria um julgamento desrespeitoso em relação à fala de outra pessoa. Ela ainda afirma que existem algumas variedades linguísticas que sofrem mais preconceitos e que são geralmente associadas a um grupo de pessoas que possuem um menor reconhecimento na sociedade. Mas o que é uma variedade linguística? “Variedade linguística” é o termo utilizado para se referir a formas diferentes de utilizar a língua de um mesmo país. Essas variedades linguísticas resultam da variação de uma língua que ocorre devido a vários fatores, como por exemplo, a faixa etária, a escolaridade, a região, o contexto social e cultural.

De acordo com o linguista da Universidade de São Paulo, Ronald Beline, os grupos compostos por indivíduos que se comunicam de forma semelhante são denominados comunidades de fala. A variedade linguística presente em uma comunidade de fala se caracteriza por um vocabulário específico de um grupo social e é denominada “socioleto”. E é o socioleto do grupo do qual os funkeiros fazem parte que a página Funkeiros Cults usa para fazer as suas publicações. Podemos observar na página uma criatividade linguística do português, que deve ser valorizada como tal, porque todas as formas de comunicações são válidas.

 

REFERÊNCIAS:

ABRAÇADO, Jussara. Entrevista com Maria Marta Pereira Scherre sobre preconceito lingüístico, variação lingüística e ensino. Cadernos de Letras da UFF, n. 36, p. 11-26, 2008.

BATTISTI, Elisa. Redes sociais, identidade e variação linguística. In: FREITAG, Raquel Meister Ko (Organizadora). Metodologia de Coleta e Manipulação de Dados em Sociolinguística. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 2014. p. 79-98.

BELINE, Ronald. A variação Lingüística. In: FIORIN, José Luiz. Introdução à Lingüística. São Paulo: Contexto, 2003. p. 121-139.

 

Autor: Thomas de Julio Hopfengartner
Graduando do curso de Licenciatura em Letras – Português e Alemão na Universidade Federal de Pelotas. Faz parte do projeto de extensão: “Ações de Conscientização Linguística” na mesma universidade.

O desafio de registrar uma língua minoritária no caso do documentário “Viver no Brasil falando Hunsrückisch”

O Brasil é um país reconhecido mundialmente pela quantidade e principalmente pela qualidade dos documentários. Seja pela riqueza cultural que pouco foi documentada e tornada acessível para o grande público, seja pela criatividade e experimentação, a lista de documentários que exploram a fundo aspectos específicos e realidades únicas é imensa. Um exemplo é a obra vasta e transformadora de Eduardo Coutinho, cineasta referência no gênero no Brasil e no exterior.

Mas ainda há muito a ser documentado: um exemplo de tema que tem importância periférica nos circuitos de documentários é o registro das centenas de línguas do Brasil. É verdade que as línguas muitas vezes são abordadas, mas raramente tem o papel central em qualquer documentário. Tomemos por exemplo o filme/documentário “Guarani-Kaiowá Ivy Poty – Flores da Terra“, que tem por objetivo registrar a cultura e a resistência desse povo no Mato Grosso do Sul. A língua Kaiowá é registrada, mas o foco recai na cultura da comunidade.

Assim também é o caso dos documentários com presença da língua Hunsrückisch. Desde os documentários dirigidos Rejane Zilles, O Livro de Walachai (2007, 16min.) e Walachai (2009, 85min.), o Hunsrückisch está presente nesse gênero. Também segue nos documentários Heimatland & A História do Kerb (2009, 47min.), direção de Ernoy Luiz Mattiello; Berlim Brasil (2009, 70min.), dirigido por Martina Dreyer e Renata Heinz; também vale citar Land Schaffen (2014, 25min.) e Meio – o que é ser brasileiro? o que é ser alemão? Um filme sobre identidade, memória e imaginário, dirigidos por Clarissa Beckert & Pedro Henrique Risse; também o Glaube, Liebe und Hoffnung – Fé, amor e esperança (2018, 52 min.), direção de Vivian Schäfer; por fim, o documentário Für Immer: Gerações (2018, 46 min.), com direção de Marcelo Collar.

Então, tendo conhecimento dessa variedade de documentários que envolviam indiretamente o Hunsrückisch, Gabriel Schmitt e Ana Winckelmann assumiram a missão de elaborar um documentário sobre essa língua, a partir da seleção de trechos das entrevistas realizadas pelo Inventário do Hunsrückisch como Língua Brasileira de Imigração (IHLBrI), sob coordenação de Cléo V. Altenhofen (UFRGS) e Rosangela Morello (IPOL). O principal objetivo era receber o reconhecimento do IPHAN, financiador do IHLBrI, como língua Brasileira de Imigração, processo que está parado desde 2018.

Uma das premissas do IHLBrI era a elaboração de um material audiovisual que comprovasse a existência dessa língua. Assim, contando sempre com o apoio demais membros da equipe de pesquisa, Gabriel e Ana montaram o roteiro baseado nas seguintes temáticas, que na época lhes pareciam as mais urgentes para dar uma dimensão do que é o Hunsrückisch:

  • Denominações da língua;
  • Variação interna da língua;
  • Experiências de falantes maternos de Hunsrückisch na escola;
  • Espaços culturais onde se usa o Hunsrückisch (igrejas, administração pública, jornais);
  • Contato com outras variedades de alemão no Brasil;
  • Manutenção da língua.

Essas foram as balizas que auxiliaram no processo de seleção dos trechos de entrevista. Ou seja: o roteiro foi elaborado com base nas entrevistas realizadas pelo projeto IHLBrI. Não se foi a campo com um roteiro para o documentário Viver no Brasil falando Hunsrückisch. De maneira geral, ainda há muito a ser documentado no Brasil. E um dos campos que ainda podem ser aprofundados é o das línguas minoritárias.

 

Confira: Lista de excelentes documentários brasileiros que estão disponíveis no Youtube.

 

REFERÊNCIAS:

ALTENHOFEN, Cléo V.; MORELLO, Rosângela; BERGMANN, Gerônimo L.; GODOI, Tamissa G.; HABEL, Jussara M.; KOHL, Sofia F.; PREDIGER, Angélica; SCHMITT, Gabriel; SEIFFERT, Ana Paula; SOUZA, Luana C.; WINCKELMANN, Ana C. Hunsrückisch: inventário de uma língua do Brasil. Florianópolis: Garapuvu, 2018. 248 p.

 

Autor: Gabriel Schmitt
Graduado em Licenciatura Letras e Alemão pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente é aluno do Mestrado Europeu em Lexicografia (EMLex), com pesquisa em dicionários dialetológicos e de línguas minoritárias.

O que é intercompreensão?

Ao pensarmos em Brasil, temos a ideia de que a língua portuguesa é a única falada em todo território nacional. Entretanto, excluímos as realidades imigratórias, indígenas e fronteiriças que moldam nosso país linguisticamente.

Em um minicurso do professor Francisco del Olmo, dois conceitos de comunicação são abordados e estão relacionados às realidades expostas acima. Segundo ele, o cenário onde somente uma língua circula é nomeado comunicação endolíngue (com muitos dialetos). Já situações fronteiriças e turísticas configuram uma comunicação exolíngue, pois existe mais de uma língua em uso. Aplicando esses conceitos em nosso âmbito nacional, constata-se que há uma comunicação exolíngue, visto que há também situações imigratórias, indígenas, fronteiriças e turísticas que demandam o uso de outras línguas.

Dentro dessa comunicação exolíngue, se encontra o cenário da intercompreensão, que segundo Möller e Zeevaert (2015), é um processo motivado pelas relações entre as famílias linguísticas que pode ser ocasionado pelas palavras cognatas, similaridades na estrutura frasal e na ortografia. Línguas derivadas do latim, como por exemplo, português, espanhol, francês, italiano têm maior possibilidade de intercompreensão, dado que fazem parte da mesma família linguística. Dessa forma, um brasileiro que lê ou escuta esses outros idiomas pode compreendê-los mesmo sem ter conhecimentos sobre eles. Além disso, para Francisco del Olmo, a intercompreensão pode ocorrer de forma que nenhum falante precise ceder sua língua para que a comunicação aconteça. Logo, cada falante escolhe sua forma de falar e ambos tentam o processo de intercompreensão. Segundo o professor, esse processo se torna democrático e eficaz. O portunhol falado na fronteira entre Brasil e Uruguai, por exemplo, é fruto do processo da intercompreensão, o qual evidencia a democratização linguística. No vídeo da Coopération Educative France au Brésil, é possível conhecer outras línguas da mesma família linguística do nosso português.

 

 

REFERÊNCIAS: 

MÖLLER, R.; ZEEVAERT, L. Investigating word recognition in intercomprehension: Methods and findings. Linguistics, v. 53, n. 2, p. 314-315, 2015.

MINICURSO – INTERCOMPREENSÃO: Minicurso – Intercompreensão: A chave para as línguas – Aula 1. Vídeo apresentado por Francisco del Olmo. [Curitiba: Parábola Editorial], 2020. Publicado pelo canal Parábola Editorial.

O QUE É INTERCOMPREENSÃO? Vídeo disponibilizado no YouTube pela Coopération Educative France au Brésil.

 

Autora: Larissa Caroline Ferreira
Graduanda de Letras – Português e Alemão e voluntária no Laboratório de Psicolinguística, Línguas Minoritárias e Multilinguismo da Universidade Federal de Pelotas.

Diversidade linguística na Netflix

A Netflix, plataforma de streaming mais utilizada no Brasil, possui um catálogo de produções em diversas línguas. Às vezes, esses filmes ficam escondidos na plataforma. Por isso, fizemos uma lista com sugestões de filmes em outras línguas além do português e inglês. Produções audiovisuais são ótimas formas de conhecer outras línguas e outras culturas. Acessando um filme sugerido, é possível conhecer outros semelhantes. Os filmes são somente algumas sugestões e podem não estar mais disponíveis no futuro, devido às frequentes atualizações do catálogo da plataforma.

Árabe
Antes da explosão (Egito)
Barakah com Barakah (Arábia Saudita)
Tempestade de areia (Israel)

Alemão
Ele está de volta
3 turcos e um bebê

Bengali
Abby Sen

Coreano
O barbeiro do presidente
Tempo de caça

Chinês
Família a gente não escolhe (chinês cantonês)
Pérolas no mar (chinês mandarim)

Espanhol
Un padre no tan padre (México)
Roma (México)
Toc Toc (Espanha)
A noite de 12 anos (Uruguai)
A história oficial (Argentina)

Francês
Eu não sou um homem fácil
Sementes Podres
Bem-vindo a Marly Gomont

Georgiano
My happy family

Hebraico
Maktub

Híndi
Dhanak
Como estrelas na terra

Holandês
Layla M.

Iídiche
Menashe

Islandês
Inspire, expire

Japonês
Assunto de família

Khmer
First they killed my father

Marata
Killa

Nianja (língua do Malawi), junto com inglês
O menino que descobriu o vento

Mixteca (língua do México), junto com espanhol
Roma

Sueco
Jag älskar dig

Tâmil
Nila

Turco
Milagre na Cela 7
Confusão em família
Dügün Dernek

Urdu
Dukhtar

Wolof
Atlantique

Cartilhas informativas sobre Covid-19 para indígenas noroeste amazônico

A equipe do Instituto Socioambiental (ISA) organizou uma série de cartilhas informativas sobre o Covid-19 (Coronavírus). Colaboraram com o projeto, Dulce Morais, especialista em Saúde Coletiva, os tradutores indígenas André Fernando (Baniwa), Elizângela da Silva e Edson Gomes Baré (Nheengatu), Justino Sarmento Rezende (Tukano) e Roberto Carlos Sanches (Dâw). Além deles, participaram das adaptações Américo Socot Hupd’äh, Bruno Marques, Karolin Obert e Patience Epps.

O material faz uma retextualização e adaptação lingüística, cultural e intermedial de 4 línguas dos povos indígenas do Rio Negro, tendo em base todas as informações prestadas pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a respeito da prevenção e tratamento do novo Covid-19. A partir dos conteúdos destas cartilhas, a Rede Wayuri elaborou podcasts educativos com objetivo de compartilhar todas as informações através dos aplicativos WhatsApp e ShareiT e da plataforma SoundCloud às comunidades indígenas do Rio Negro.  Além desses canais de comunicação, o material também será disponibilizado nas redes radiofônicas das comunidades indígenas a fim de expor o agravamento da pandemia no Brasil e na região amazônica.

Além de a versão digital, a cartilha impressa será distribuída nas aldeias do Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Negro. A este respeito, o enfermeiro e responsável pelo DSEI ARN, senhor Sediel Ambrosio faz o seguinte comentário: “As cartilhas chegam em um momento excelente. Exatamente quando nossas 25 equipes multidisciplinares de saúde vão entrar em campo para trabalhar a prevenção ao Covid-19. Educação e saúde caminham juntas e a conscientização sobre essa nova doença é feita de forma adaptada ao contexto cultural. Isso é fundamental para o trabalho dar certo”.

 

REFERÊNCIAS:

FUNDAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS DO RIO NEGRO. Rede Wayuri.

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. No Alto Rio Negro, cartilha em idiomas indígenas orienta combate à Covid-19. 2020. Publicação elaborada por Juliana Radler.

 

Autora: Digmar Jiménez
Licenciada em Letras, Espanhol (Universidade Católica Andrés Bello), Mestrado em Estudos Hispânicos e Latino-Americanos (Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris 3) e Doutorado em Estudos da Tradução (Universidade Federal de Santa Catarina).

O espanhol andino na cidade de La Paz, Bolívia

A língua espanhola é muito rica, pois é falada em muitos países. Segundo o Ethnologue, é a quarta língua mais falada no mundo, considerando o número total de falantes.

Em La Paz, Bolívia, expressões como “Nunca no me ha escuchado” ou “Sabe jugar futbol los domingos” podem chamar a atenção de um falante nativo de espanhol de outro lugar ou de um aprendiz da língua pela sua estranheza ou peculiaridade. Essas construções sintáticas são próprias de um dialeto do espanhol: o espanhol andino ou espanhol motoso, predominante nas regiões que compõem a Cordilheira dos Andes (ROSA, 2012). Esse dialeto nasce da influência que exerce o aimará e o quechua (em menor medida) na produção oral e escrita do espanhol. Neste curto texto, são apresentadas algumas características deste dialeto, tendo como foco o espanhol falado na cidade de Chuquiago Marka, ou La Paz, como é comumente conhecida.

Algumas das particularidades são mantidas desde a época do Vice-Reino do Peru (século XVI). Prova disso são os registros escritos que se tem de três ilustres personalidades da época: Guamán Poma, Santa Cruz Pachacuti y Tito Yupanqui (MENDOZA, 2012). De textos deles foram retirados alguns exemplos que cabem apresentar pela sua vigência:

– Uso de artigos definidos com nomes próprios: al San Francesco;
– Sequência pronominal me lo com valor de cortesia: me lo diesse mano;
– Uso da preposição en com verbos de movimento: lo lleve en casa de los pentores.

Nos textos de Aguilar, Huet e Pérez (2014), Mendoza (2012), Rivanedeira (2014, 2016a, 2016b) e Rosa (2012), encontramos outras propriedades deste dialeto que a qualquer paceño, habitante de La Paz, serão familiares, pela sua abundância num contexto informal de fala:

– Uso particular de posposições: Dámelo nomás pues pero.
– Dupla negativa: Nunca no me ha escuchado.
– Alteração da ordem da frase, uso de duplo possessivo e uso da preposição en mais locativo: De mi mamá en su tienda estoy yendo.
– Uso da preposição de ao invés de por: Ha llovido, de eso se ha mojado.
– Uso do verbo saber com sentido de hábito: Sabe jugar fútbol los domingos.

Esperamos que este breve resumo das características do espanhol andino tenha sido de utilidade ao leitor, expandindo seu conhecimento sobre Bolívia e sua cultura.

Fonte: Max Glaser (Google Earth).

 

REFERÊNCIAS:

AGUILAR, M. J.; HUET, M.; PÉREZ, S. Diccionario ejemplificado e ilustrado de bolivianismos, DEIB. In: XVII CONGRESO INTERNACIONAL ASOCIACION DE LINGUISTICA Y FILOLOGIA DE AMERICA LATINA (ALFAL), João Pessoa, 2014, p. 2209-2219.

MENDOZA, J. Antecedentes lingüísticos para una fisonomía del castellano de Bolivia. Discurso de ingreso a la ABL, Centro Cultural de España, 2012.

RIVADENEIRA, R. Bolivianismos en el dicionário de la lengua espanola. 23. ed. La Paz – Bolivia: Plural, 2014.

RIVADENEIRA, R. El castellano hablado en La Paz. Khana, La Paz – Bolivia, p. 1 – 4, 2016.

RIVADENEIRA, R. Registros lingüísticos. Academia boliviana de la lengua, La Paz – Bolivia, 2016.

ROSA, J. M. Diatelogia do español. Natal – Brasil: IFRN Editora, 2012.

 

Autora: Camila Alejandra Loayza Villena
Graduada em Letras – Português e Espanhol pela Universidade Federal de Pelotas (2019). Atualmente é aluna especial do mestrado em Letras na linha de pesquisa Aquisição, variação e ensino.

Quais são as línguas mais faladas no mundo?

Para responder a esta pergunta, o IPOL (Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística) publicou recentemente no seu site um diagrama do WordTips produzido com dados do Ethnologue e organizado de acordo com as famílias linguísticas. É interessante conferir o diagrama, pois dependendo do critério, o ranking muda. A língua que possui mais falantes nativos, por exemplo, é o chinês mandarim. Além disso, logicamente, o ranking se torna desatualizado com o passar dos anos. Considerando o número total de falantes (nativos e estrangeiros), atualmente (30/03/2020), estas são as línguas mais faladas no mundo:

1) Inglês: 1.132.366.680 falantes
2) Chinês mandarim: 1.116.596.640 falantes
3) Hindi: 615.475.540 falantes
4) Espanhol: 534.335.730 falantes
5) Francês: 279.821.930 falantes
6) Árabe padrão: 273.989.700 falantes
7) Bengali: 265.042.480 falantes
8) Russo: 258.227.760 falantes
9) Português: 234.168.620 falantes
10) Indonésio: 198.733.600 falantes
11) Urdu: 170.208.780 falantes
12) Alemão: 132.175.520 falantes
13) Japonês: 128.350.830 falantes
14) Suaíli: 98.327.740 falantes
15) Marati: 95.312.800 falantes
16) Telugo: 93.040.340 falantes
17) Punjabi ocidental: 92.757.700 falantes
18) Chinês wu: 81.501.590 falantes
19) Tâmil: 80.989.130 falantes
20) Turco: 79.779.360 falantes

Qual é a diferença entre língua e dialeto?

Há quem diga que o que identifica falantes de uma mesma língua é a mútua compreensão. Ou seja, sei que eu e meu interlocutor falamos a mesma língua porque nos compreendemos um ao outro. Mas há problemas nessa definição. Por exemplo, falantes de português e espanhol frequentemente conseguem manter uma conversa sem muita dificuldade, cada um falando o seu idioma. Por outro lado, não é incomum pessoas do Brasil e de Portugal ambas dizerem que falam português e serem incapazes de se compreender. Seriam, então, espanhol e português a mesma língua, e o português brasileiro e o europeu línguas diferentes?

Nos Balcãs, os habitantes de Bósnia e Herzegovina, Croácia, Sérvia e Montenegro se orgulham de suas línguas – respectivamente, o bósnio, o croata, o sérvio e o montenegrino. Faz parte de suas identidades étnicas e é até perigoso discordar dessa divisão, visto que ela é uma das consequências de antigas disputas e de uma recente guerra. No entanto, do ponto de vista linguístico, as quatro são exatamente a mesma língua.

O critério da compreensão mútua também é utilizado em definições típicas de dialetos, que seriam variantes geográficas, étnicas ou socioeconômicas de uma língua. Se há compreensão mútua entre falantes de variantes diferentes, diz-se que falam dialetos de uma mesma língua. O que dizer da língua árabe, então? A maioria da população de Marrocos, no norte da África, diz falar árabe. A mais de 6 mil quilômetros ao leste de lá, nos Emirados Árabes, também ouviremos das pessoas que a língua delas é o árabe. Curiosamente, um marroquino e um emiradense não se compreendem. Eles dizem falar a mesma língua, mas sequer preenchem o critério de dialeto. Será que precisamos rever nossos critérios e definições?

Em geral, para a maioria dos linguistas, a diferença entre língua e dialeto interessa pouco, mas já que foi justamente para esclarecê-la que resolvi escrever este texto, trago a definição pontual e acertada de Max Weinreich: “dialeto é uma língua sem um exército e uma marinha”. Isto é, a real diferença entre os dois é política, não linguística. Dialetos, todos eles, são línguas.

 

Autor: Renan C. Ferreira
Graduado em Letras – Licenciatura em Língua Inglesa e Literatura (2010) e Mestre em Letras – Estudos da Linguagem (2018) pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Atualmente desenvolve sua pesquisa de Doutorado sobre Relativismo Linguístico e a Cognição Bilíngue na mesma instituição. Faz parte do grupo de pesquisa Línguas em Contato e atua como professor de língua inglesa há 13 anos.