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O que são políticas linguísticas?

Políticas linguísticas se referem, conforme Calvet (2008), a decisões sobre as relações da sociedade e das pessoas com as línguas. As políticas linguísticas têm relação, basicamente, com decisões em âmbito mundial, nacional, estadual, municipal ou familiar sobre o uso da(s) língua(s). Para quem quer ler mais, as revistas acadêmicas da Abralin, Revel, Working Papers in Linguística, Língua e Instrumentos Linguísticos e Cadernos de Letras têm edições especiais sobre o tema.

No Brasil, há um importante instituto que se dedica às políticas linguísticas, o IPOL –  Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística. Segundo o site do instituto, ele “é uma instituição sem fins lucrativos, de caráter cultural e educacional, fundada em 1999, com sede em Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, que representa os interesses da sociedade civil”. Recomendamos seguir o site do IPOL, também no Facebook. A missão do IPOL é desenvolver projetos de apoio às comunidades de falantes de línguas e variedades linguísticas minoritárias do Brasil e do Mercosul, no sentido de manutenção e promoção da diversidade linguística.

Um exemplo de ação de política linguística é na cooficialização de línguas em municípios brasileiros. Segundo o IPOL, várias línguas já foram cooficializadas no Brasil, conforme o quadro abaixo, e podem ser usadas em contextos oficiais em cada um dos municípios. Essas leis são, segundo Altenhofen (2013), um método de salvaguarda, mas são necessárias ações concretas para que cada uma das línguas esteja em um patamar semelhante ao status do português.

Fonte: Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística

 

 

REFERÊNCIAS:

ALTENHOFEN, C. V. Bases para uma política linguística das línguas minoritárias no Brasil. In: NICOLAIDES, C. et al. (Eds.). Política e Políticas Linguísticas. Campinas: Pontes Editores, 2013a. p. 93–116.

CALVET, L.-J. As políticas linguísticas. Tradução: ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

Por um Brasil e uma mídia sobre/em outras línguas

Neste blog, também queremos compartilhar boas reportagens veiculadas na mídia. A série “Brasil em outras línguas” do programa Como será? é um exemplo de que a mídia consegue fazer boas reportagens – com ajuda de linguistas – sobre o nosso tesouro linguístico. Afinal, temos mais de 200 línguas no nosso território!

O primeiro vídehttps://www.ethnologue.com/map/BR_xxo da série de reportagens mostra que em plena cidade de São Paulo existe uma aldeia que mantém viva a língua guarani, que dá origem a muitas palavras do português brasileiro. Nessa aldeia, ensina-se a língua para as crianças, com o objetivo de que a tribo e, principalmente o guarani, não se estingam. O segundo vídeo mostra a realidade de Assunção, no Paraguai, onde a língua guarani tem status de língua oficial juntamente com o espanhol e, por isso, mais respeito e valorização. O próximo vídeo conta que em Mato Grosso, na UNEMAT, estudantes indígenas cursam pedagogia para indígenas – Pedagogia em Licenciatura Intercultural. O objetivo é que eles retornem às aldeias, para darem aula de sua língua materna para seu povo (Aruak ou Nabimkwara). Por fim, o último vídeo mostra pesquisadores/linguistas visitando e convivendo com indígenas para gravar, digitalizar e transcrever a sua fala, uma riqueza no que se refere à diversidade linguística indígena. Isso ocorreu na Região Amazônica, mais precisamente nos estados do Pará e Rondônia.

 

REFERÊNCIA:

EBERHARD, David M.; SIMONS, Gary F.; FENNIG, Charles D. (eds.). 2019. Ethnologue: Languages of the World. Twenty-second edition. Dallas, Texas: SIL International.

 

 

 

Por que estudar pronúncia na aula de língua estrangeira?

Boa pergunta, né? A resposta é muito simples e tem relação com o funcionamento e o uso da língua estrangeira. Eliane Rosa nos responde à pergunta de uma forma acessível.

Falar é uma atividade complexa e dinâmica que precisa ser encarada como algo que os seres humanos fazem, não como algo que possuem. Essa atividade envolve, pelo menos, três facetas: a motora (movimentos dos órgãos fonadores), a perceptual (interpretação e compreensão dos sons pelo aparelho auditivo) e a mental (processamento neural). Além de ser considerada uma atividade cognitiva, ela também pode ser vista como uma atividade sociocultural em função da linguagem ser adquirida e utilizada por meio da interação com outros indivíduos.

A língua é um mecanismo que permite exprimir pensamentos em sons. Isto é, pode-se dizer que a língua é um mecanismo que possibilita emitir uma sequência de sons carregada de uma intenção linguística (ou significado). Por exemplo, quando um bebê olha para sua mãe e diz “mama” o que ele faz é produzir oralmente uma sequência de sons (/m/-/a/-/m/-/a/), enquanto a mãe compreende que ele está se referindo a ela. Isso demonstra que som está ligado a um significado armazenado na mente do falante e do ouvinte. Em virtude disso, verifica-se que o som não pode ser aprendido independentemente do significado.

Já que a comunicação se trata da emissão de uma sequência de sons que carregam uma mensagem a ser transmitida e captada pelo ouvinte, é fundamental estudar pronúncia na aula de língua estrangeira. O estudo dos sons faz parte da aprendizagem da gramática de uma língua. Aprender como articular de forma apropriada os sons da língua-alvo possibilita evitar mal-entendidos durante a interação comunicativa com falantes nativos e não nativos dessa língua. Por exemplo, em inglês, se o falante-aprendiz X pretende dizer a frase “The boy is thinking at the beach” (O menino está pensando na praia), mas produz o som “TH” do verbo “thinking” como se fosse um “S”, o que o falante-aprendiz Y vai compreender é a seguinte mensagem: “The boy is sinking at the beach” (O menino está afundando na praia). Em outros termos, esse ouvinte irá pensar que está ocorrendo uma tragédia com um menino em razão de ter entendido que ele está afundando na praia.  No vídeo We are sinking, podemos ver um exemplo de como a pronúncia inadequada (também do do th) pode trazer consequências negativas para a nossa interação social, inclusive provocar acidentes. Diante disso, percebe-se que a produção imprecisa de um som pode provocar uma interpretação falha da mensagem transmitida.

Nesse sentido, os exercícios de pronúncia na aula de língua estrangeira podem trazer contribuições positivas para uma interação comunicativa eficiente e compreensível.

 

Autora: Eliane Nowinski da Rosa
Doutoranda em Linguística Aplicada (UNISINOS), mestre em Fonologia e Morfologia (UFRGS), especialista em Ensino-aprendizagem da Língua Inglesa (Uniritter), graduada em Letras-Licenciatura Plena em Língua Inglesa (ULBRA). Atua como professora de língua inglesa há 17 anos.

 

Chamada para publicação no blog

Estamos aguardando contribuições sobre o seguinte escopo: materiais sobre aprendizagem de línguas, boas práticas relacionadas a línguas, divulgação de materiais em várias línguas, boas reportagens publicadas na mídia, textos sobre diversidade de línguas, contato linguístico, políticas linguísticas, paisagem linguística, vantagens de aprender línguas, estratégias e experiência de aprendizagem de línguas, entre outros temas afins.

Os textos podem ser enviados a qualquer momento (fluxo contínuo). Então, comece a preparar o seu!

DIRETRIZES PARA PUBLICAÇÃO

● O texto não deve ser longo (no máximo, 2000 caracteres sem espaços);
● O texto não deve ter termos técnicos e deve ser compreensível por quem não sabe sobre Linguística (sugestão: pedir para um leigo ler o texto antes de enviar);
● Se o texto tiver termos técnicos, eles devem ser explicados ao público não especialista;
● O texto deve estar inserido no escopo do blog;
● O texto deve ser enviado no formato Word ou em Google docs para o e-mail: laplimm.ufpel@gmail.com;
● Figuras e imagens devem ser enviadas separadamente; incentiva-se o uso de imagens no texto e outros recursos midiáticos, como vídeos, hiperlinks, postagens de redes sociais, entre outros;
● O texto será avaliado e revisado pela equipe do blog;
● O texto deve ser acompanhado de uma breve descrição do(s) autor(es), como pode ser visualizado nos posts anteriores;
● Se houver citação, o texto deve apresentar as respectivas referências e deve ser utilizado um formato para leigos entenderem, por exemplo:
– Segundo/conforme/de acordo com o/a pesquisador/a Nome e Sobrenome
– Segundo/conforme/de acordo com o/a professor/a Nome e Sobrenome
– Como diz/argumenta/menciona/descreve/explica… Nome e Sobrenome
● O autor pode indicar sites para hiperlinks.

Dando ouvidos à diversidade linguística

Para (começar a) ter a percepção consciente da qual já falamos, é importante dar ouvidos às diversas línguas. Aqui, disponibilizamos alguns recursos encontrados na internet para cumprir esse objetivo e se divertir.  😀

Localingual
Mapa interativo que possibilita ouvir trechos de falas de pessoas de todas as partes do mundo falando diversas línguas e variedades linguísticas.

Audio Lingua
Audio-Lingua oferece gravações MP3 em 13 línguas.

BBC Languages
Cursos, áudio e vídeo em 40 línguas.

Forvo
Dicionário de pronúncia. É só digitar a palavra e se divertir.

25 línguas ameaçadas (Endangered Languages)
Áudios e informações (em inglês) sobre 25 línguas minoritárias.

A importância das línguas indígenas – Google Earth
Mapa do Google com áudios em línguas indígenas de várias partes do mundo.

O Grande jogo das línguas (The Great Language Game)
Jogo de adivinhação de línguas (em inglês).

Quiz do Nexo
Quiz de adivinhação de línguas (em português).

2019: Ano Internacional das Línguas Indígenas

Nada mais justo de começar as atividades do blog falando sobre línguas indígenas. Este ano é dedicado a elas pela UNESCO. A entidade tem um site exclusivo com informações sobre essas línguas, a fim de contribuir para a conscientização da necessidade urgente de se manter, revitalizar e promover esse tesouro.

A grande maioria das línguas do mundo são faladas sobretudo por povos indígenas. Se a situação crítica dessas línguas continuar assim, elas continuarão a desaparecer em um ritmo alarmante. Conforme o site da UNESCO do Brasil, “sem a medida adequada para tratar dessa questão, mais línguas irão se perder, e a história, as tradições e a memória associadas a elas provocarão uma considerável redução da rica tapeçaria de diversidade linguística em todo o mundo”.

No site do ano internacional das línguas indígenas, é possível se cadastrar para fazer parte da proteção das línguas indígenas. O leitor pode acessar muitas informações sobre essas línguas, como um mapa das línguas, vídeos, áudios, eventos, as organizações envolvidas e o infográfico abaixo traduzido, que aborda, de forma bastante resumida, o tesouro escondido nessas línguas e a necessidade de mantê-las.

Vamos falar mais sobre línguas e linguagem?

A linguagem é tão natural e automática e, por isso, não costumamos refletir e ler muito sobre ela. Como consequência da falta da necessidade em se aprofundar sobre aspectos linguísticos, podem surgir mitos e preconceitos, que são prejudiciais aos próprios falantes e também aos aprendizes de línguas. Além disso, a mídia costuma relutar em chamar especialistas em línguas e linguagem para os seus programas. Com isso, o linguista nem sempre é reconhecido como o cientista da linguagem e é colocado em xeque. Assim, são reforçadas crenças sem base científica, que não correspondem à realidade do uso e aprendizagem das línguas.

Seria bom se todos os falantes pudessem adquirir conhecimento sobre línguas e linguagem baseado em pesquisas.  Desse modo, podemos ter uma percepção consciente para reconhecer e respeitar que várias línguas podem coexistir. Além disso, podemos estar abertos à aprendizagem de línguas, conforme nos dizem os pesquisadores Altenhofen e Broch (2011).

Na ciência das línguas e da linguagem verbal, a Linguística, a definição desses dois conceitos é complexa. Porém, podemos afirmar que a linguagem humana é fundamental para a concepção do ser humano como tal. A linguagem é tão complexa que pode ser analisada e estudada sob diferentes perspectivas: biológica, histórica, social, psicológica, ideológica, filosófica, cultural, antropológica… Enfim, a linguagem é um diamante, tem muitas faces. Escrever um texto sucinto sobre algo tão complexo é mesmo muito complicado.

A capacidade da linguagem deu origem a mais de 7.000 línguas faladas no mundo. Tamanho tesouro linguístico precisa ser divulgado! Este blog propõe irmos atrás desse tesouro,  navegando no mundo da linguística, descobrindo juntos o que  há nele.

 

REFERÊNCIAS:

ALTENHOFEN, Cléo V.; BROCH, Ingrid K. Fundamentos para uma “pedagogia do plurilinguismo” baseada no modelo de conscientização linguística (language awareness). (L. E. Behares, Ed.). V Encuentro Internacional de investigadores de políticas lingüísticas. Anais… Montevideo: Universidad de la Republica Uruguay, 2011.