Rússia como ponte diplomática: o papel de Moscou na mediação do conflito Índia-Paquistão por Lisa Marie Bastos

Em 22 de abril de 2025, um ataque terrorista em Pahalgam, na Caxemira indiana, resultou na morte de 28 pessoas, incluindo turistas hindus e nepaleses. A Índia atribuiu a autoria a grupos militantes baseados no Paquistão, como o Lashkar-e-Taiba e o Jaish-e-Mohammed.

Nesse contexto de animosidades entre os dois países, o presidente Vladimir Putin demonstrou seu apoio ao primeiro-ministro indiano na luta contra o terrorismo, por meio de uma carta enviada ao líder da Índia. O chefe de Estado russo ainda mencionou que Moscou está pronta para desenvolver uma cooperação com seus parceiros indianos para combater qualquer forma de terrorismo.

Não obstante, na terça-feira, 6 de maio, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, expressou preocupação com a escalada do conflito entre Índia e Paquistão e enfatizou a necessidade de resolução dos desacordos por meio de vias diplomáticas. Essa declaração motivou uma resposta do presidente paquistanês Asif Ali Zardari sobre o papel russo no conflito: “O Paquistão enxerga a Rússia como uma potência global importante, um ator-chave na garantia da paz e da estabilidade regional”, afirmou o líder paquistanês.

Por sua vez, a Índia acredita que a Rússia entende os perigos do terrorismo e a necessidade de combatê-lo de forma resoluta, dado o histórico russo no enfrentamento dessa ameaça. Essa percepção foi reforçada por uma ligação privada entre os ministros das Relações Exteriores da Rússia e da Índia, Sergei Lavrov e Subrahmanyam Jaishankar, respectivamente, na qual o ministro russo reiterou o interesse de seu país em contribuir para um acordo político entre Índia e Paquistão, a exemplo do Acordo de Simla (1972) e da Declaração de Lahore (1999).

Diante desse cenário, é possível que a Rússia atue como um potencial mediador na desescalada das tensões entre Índia e Paquistão. Embora Nova Délhi relute em aceitar um mediador externo publicamente, o apoio de Putin e as conversas entre Lavrov e Jaishankar indicam que a Índia pode considerar propostas russas por meio de negociações privadas. Além disso, a aproximação com a Rússia se tornaria ainda mais evidente devido à desconfiança indiana em relação às declarações europeias e estadunidenses, que não parecem demonstrar um compromisso pleno com o combate ao terrorismo. Quanto a Islamabad, caso mediadas pela China, conversas também podem ocorrer com Moscou, que poderia facilitar negociações, como fez a União Soviética em 1966 com a Declaração de Tashkent para encerrar as hostilidades entre Índia e Paquistão.

Referências bibliográficas:

 Russia Stands United With India Against Terrorism. (2025, 23 de abril). Sputnik News. Disponível em: https://sputniknews.in/20250423/russia-stands-with-india-against-terrorism-9011743.html

Russia Stands Firm on Terrorism, Avoids EU and US Hypocrisy: Experts.  (2025, 5 de maio). Sputnik News. Disponível em: https://sputniknews.in/20250505/russia-stands-firm-on-terrorism-avoids-eu-and-us-hipocrcisy-experts-9068814.html

Putin, Modi share commitment to fight against terrorism in phone call — Kremlin. (2025, 5 de maio). TASS Russian News Agency. Disponível em: https://tass.com/politics/1953015

Russia concerned about escalation between India and Pakistan — MFA. (2025, 6 de maio). TASS Russian News Agency. Disponível em: https://tass.com/politics/1953865

Pakistani president hails Russia’s role in de escalating tensions with India. (2025, 6 de maio). TASS Russian News Agency. Disponível em: https://tass.com/world/1954017

India-Pakistan: Can other countries pull them from thee brink of conflict? (2025, 7 de maio). Al Jazeera. Disponível em: https://www.aljazeera.com/news/2025/5/7/india-pakistan-can-other-countries-pull-them-from-the-brink-of-conflict

* Lisa  Marie Bastos é pesquisadora do LabGRIMA>

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