Quais oportunidades o início das negociações tarifárias entre China e Estados Unidos pode gerar para a economia global e para o Brasil? Scott Bessent, secretário do Tesouro dos Estados Unidos, e He Lifeng, vice-primeiro-ministro da República Popular da China, reuniram-se no último fim de semana (11 e 12 de maio), em Genebra, Suíça.
O encontro resultou em um acordo que prevê a redução temporária, por 90 dias, de até 115% das tarifas atualmente aplicadas entre os dois países, a partir da próxima quarta-feira (14). Com isso, as tarifas sobre produtos chineses passarão a ser de 30%, enquanto as tarifas sobre produtos norte-americanos cairão para 10% (BBC News Brasil, 2025). Como oportunidades, a iniciativa sinaliza a reabertura inicial dos canais de negociação e comércio entre os EUA e a RPC, a redução da guerra comercial e a diminuição da instabilidade política e econômica interna em ambos os lados.
A reunião entre He Lifeng e Scott Bessent simboliza a reabertura — ainda que em fase inicial — dos canais de negociação e comércio entre China e Estados Unidos. A República Popular da China (RPC) afirmou que a retomada do diálogo considera não apenas interesses nacionais, mas também globais. Entretanto, alertou que “jamais aceitará chantagens ou coerções disfarçadas de diálogo”. Por sua vez, os Estados Unidos destacaram que a iniciativa tem como objetivo “reequilibrar o sistema econômico internacional” (G1, 2025). Com o acordo ainda pendente de implementação, espera-se uma redução das tensões entre as partes nos próximos dias.
Com a iniciativa, abre-se também a possibilidade de atenuação da guerra comercial entre chineses e estadunidenses. A redução do confronto tarifário é particularmente relevante diante da intensa relação comercial entre os dois países. Em 2024, as exportações do país asiático para os Estados Unidos superaram os 500 bilhões de dólares, enquanto as importações oriundas dos EUA totalizaram 143,5 bilhões de dólares, resultando em um superávit expressivo para a China. Os principais produtos exportados pelos chineses incluem eletrônicos e componentes industriais, enquanto os norte-americanos vendem, sobretudo, produtos agrícolas, petróleo, gás natural, fármacos e semicondutores (UOL, 2025). Embora ainda em fase de implementação, as negociações representam também um freio potencial à fragmentação da economia global. Alinhamentos geopolíticos rígidos e negociações em blocos tendem a enfraquecer o comércio multilateral, elevando o risco de disputas — tanto no plano econômico quanto, em cenários extremos, no plano bélico.
Por fim, as negociações também sinalizam um potencial alívio das tensões políticas e econômicas internas em ambos os países. Na China, a preocupação com a desaceleração mais acentuada da atividade industrial nos últimos 16 meses levou o governo a preparar uma nova rodada de estímulos monetários. Nos Estados Unidos, registrou-se uma contração econômica no primeiro trimestre do ano, e muitas empresas anteciparam a compra de mercadorias antes do início oficial das tarifas, previsto para o segundo trimestre (GOLDMAN, 2025). O início das negociações, portanto, representa um avanço positivo, já que empresários, indústrias e investidores vinham acumulando perdas econômicas significativas em meio à imprevisibilidade — fator que pode ser atenuado com a reabertura de um canal de diálogo entre as duas potências.
Diante do recente acordo firmado entre China e Estados Unidos na Suíça, que estabelece a redução mútua de tarifas por um período inicial de 90 dias, observa-se um esforço estratégico de ambas as potências para conter os efeitos prolongados de sua guerra comercial. A retomada do diálogo sinaliza uma abertura relevante nos canais de negociação e representa um alívio momentâneo para a economia global. Nesse cenário, o Brasil deve se posicionar de forma estratégica como um ator confiável e proativo no comércio internacional, fortalecendo sua presença global em setores como produtos agrícolas, petróleo, gás, fármacos e semicondutores — segmentos nos quais os Estados Unidos enfrentaram barreiras tarifárias impostas pela China. Além de ampliar suas exportações, o país deve aproveitar as janelas de oportunidade criadas pela reconfiguração temporária das cadeias comerciais globais, aprofundar relações com mercados afetados e reforçar seu compromisso com a diversificação de parcerias e a defesa do multilateralismo, evitando alinhamentos rígidos com qualquer um dos polos.
Referências
BBC News Brasil. China e EUA entram em acordo sobre tarifas; entenda. São Paulo: BBC News Brasil, 12 mai. 2025. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4gr2q4vx42o>. Acesso em: 12 mai. 2025.
GOLDMAN, David. EUA e China iniciam negociação para conter guerra comercial nesta semana. São Paulo: CNN Brasil, 7 mai. 2025. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/eua-e-china-iniciam-negociacao-para-conter-guerra-comercial-nesta-semana/>. Acesso em: 7 mai. 2025.
UOL. China e EUA vão negociar “tarifaço” em meio a temores de guerra comercial. São Paulo: UOL, 7 mai. 2025. Disponível em: <https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2025/05/07/negociacao-comercial—china-e-eua.htm>. Acesso em: 7 mai. 2025.
* Glauco Winkel é pesquisador sobre China e Sudeste Asiático no Laboratório de Geopolítica, Relações Internacionais e Movimentos Antissistêmicos (LabGRIMA) e pesquisador associado no Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais (CENEGRI).