Fronteiras e redes em conflito: a guerra cibernética indo-paquistanesa por Victória Camargo de Aquino Augusto

O ataque terrorista de 22 de abril em Pahalgam, que matou 26 civis, intensificou as tensões entre Índia e Paquistão. O atentado foi atribuído a grupos jihadistas vinculados ao aparato paraestatal paquistanês. Como resultado, o conflito bilateral passou a envolver também a guerra cibernética e a desinformação digital.

A República da Índia adotou medidas retaliatórias contra o Paquistão. Suspendeu unilateralmente o Tratado das Águas do Indo, deteriorou as relações diplomáticas e impôs sanções comerciais. Além disso, decretou o bloqueio terrestre da fronteira de Attari, na província do Punjab.

Em simetria reativa, o Paquistão fechou seu espaço aéreo à aviação indiana e interditou o acesso de navios indianos aos seus portos. Classificou a suspensão do tratado hídrico como um ato de beligerância estatal. Em declaração oficial, qualificou a medida como um casus belli, ou seja, um “ato de guerra”. (Ministry of Information and Broadcasting, Government of Pakistan, 2025).

No subcontinente sul-asiático, o conflito indo-paquistanês se projeta no ciberespaço por meio de campanhas intensificadas de Advanced Persistent Threats (APTs). Essas operações, marcadas por ataques coordenados e sustentados, foram atribuídas a grupos hacker vinculados ao Estado paquistanês. Destacam-se, entre eles, o HOAX1337, National Cyber Crew, Team Insane PK, IOK Hacker e a Força Cibernética do Paquistão, com alvos diretos em instituições militares e governamentais da Índia. (DECCAN HERALD, 2025)

Entre os alvos cibernéticos confirmados estão repositórios do Manohar Parrikar Institute for Defence Studies and Analyses (MP-IDSA), com riscos à segurança de doutrinas de defesa e análises geopolíticas. Também foram atingidos sistemas críticos dos Serviços de Engenharia Militar (MES) e da Armoured Vehicles Nigam Limited (AVNL), ameaçando a logística militar e a produção de veículos blindados. Não obstante, foram comprometidos portais educacionais e institucionais do Exército indiano, como escolas públicas militares e a Organização de Bem-Estar Habitacional do Exército (AWHO).

Especialistas alertam para o caráter híbrido e estratégico da ofensiva, que se soma a operações informacionais e à guerra convencional. Segundo Vishal Salvi, CEO da Quick Heal Technologies, os ataques visam desestabilizar a confiança pública e comprometer infraestruturas críticas, com ênfase especial nos domínios da defesa e da inteligência. Sundareshwar Krishnamurthy, da PwC Índia, aponta que os ataques deixaram de ser incidentes isolados para se tornarem extensões da estratégia geopolítica, intensificando-se em momentos de crise. (PwC Índia, 2025) 

Para além da escalada do conflito no ciberespaço — cuja natureza transnacional aumenta a preocupação com a segurança das fronteiras físicas —, o agravamento das hostilidades entre Índia e Paquistão também alcança os domínios aéreo e marítimo. No Mar Arábico, a Marinha Indiana estabeleceu uma zona de exclusão de navegação em resposta a exercícios de tiro realizados pelo Paquistão, vistos como ações de pressão militar. No espaço aéreo, a Índia retomou as operações com helicópteros Dhruv das forças armadas, reforçando sua preparação diante do aumento da tensão entre os dois países. (DEFENSE MIRROR, 2025) 

A atual conjuntura demonstra o alastramento do antagonismo indo-paquistanês  para múltiplos domínios de operação, estruturando um novo tipo de beligerância, onde as lógicas tradicionais da guerra se articulam a formas assimétricas de disrupção tecnológica, narrativa e territorial. Infere-se, ainda, que as ramificações do conflito denotam a limitação e obsolescência dos protocolos de contenção internacionais, ressaltando a urgência de adaptar os sistemas de segurança regional no Sul da Ásia diante da transnacionalização das operações cibernéticas e das estratégias de guerra não convencional diante de futuras projeções geopolíticas. 

Referências

MINISTRY OF INFORMATION AND BROADCASTING, Government of Pakistan. Pakistan announces suspension of Indian water treaty is an “act of war.” Islamabad, 2025. Disponível em: https://www.moib.gov.pk/News/65374#:~:text=MINISTRY%20OF%20INFORMATION%20AND%20BROADCASTING,-Government%20of%20Pakistan&text=Pakistan%20on%20Thursday%20announced%20to,an%20%E2%80%9Cact%20of%20war.%E2%80%9D. Acesso em: 15 mai. 2025.

DECCAN HERALD. Pakistan-allied hackers launched 15 lakh cyber attacks on Indian websites; only 150 successful. 12 maio 2025. Disponível em: https://www.deccanherald.com/india/maharashtra/pakistan-allied-hackers-launched-15-lakh-cyber-attacks-on-indian-websites-only-150-successful-3537123. Acesso em: 15 maio 2025.

 THE ECONOMIC TIMES. Pakistani cyber attackers claim to have accessed sensitive data from Indian defence websites. Disponível em: https://economictimes.indiatimes.com/news/defence/pakistani-cyber-attackers-claim-to-have-accessed-sensitive-data-from-indian-defence-websites/articleshow/120923625.cms?from=md. Acesso em: 15 maio 2025.

THE420.IN. Pahalgam Terror Aftermath: How Pakistan Is Waging Cyberwar Against India. 13 maio 2024. Disponível em: https://the420.in/pahalgam-terror-aftermath-how-pakistan-is-waging-cyberwar-against-india/.   Acesso em: 15 maio 2025.

PwC Índia. India needs a well-rounded, long-term cyber resilience strategy. Disponível em: https://www.pwc.in/budget/union-budget-2024/india-needs-a-well-rounded-long-term-cyber-resilience-strategy.html. Acesso em: 15 maio 2025.

DEFENSE MIRROR. India clears Army, Air Force ALH Dhruv helicopters for operations after safety review. [S. l.], 2 maio 2025. Disponível em: https://www.defensemirror.com/news/39418/India_Clears_Army__Air_Force_ALH_Dhruv_Helicopters_for_Operations_After_Safety_Review. Acesso em: 15 maio 2025.

LOHCHAB, Himanshi; GUPTA, Om. India, Pakistan hackers trade codes & command in digital firefight. The Economic Times, 1 maio 2025. Disponível em: https://economictimes.indiatimes.com/news/defence/india-pakistan-hackers-trade-codes-command-in-digital-firefight/articleshow/121128592.cms. Acesso em: 15 maio 2025.

* Victória Camargo De Aquino Augusto pesquisadora no LabGRIMA.

Translate »