A maldição de defender o título

Por Mateus Bunde

Não é a primeira Copa do Mundo em que o detentor do título dá vexame ao defender seu posto de melhor seleção do mundo. As edições do mundial no século XXI trazem consigo uma espécie de “maldição” àqueles que detêm o título de campeão da edição anterior. Os casos de França (2002), Brasil (2006), Itália (2010) e Espanha (2014) parecem fornecer uma pressão extra à seleção que defenderá seu título na Rússia, em 2018.

França –  Copa do Mundo 2002 – Coréia do Sul e Japão

Campeã na sua casa, em 1998, além de detentora do título da Eurocopa de 2000, a França vinha como franca favorita à Copa do Mundo. Comandados por Zinedine Zidane, os Blues vinham com a força de um Henry mais amadurecido e uma seleção mais experiente, além de uma camisa mais “pesada” que na edição anterior. Era a grande favorita ao bicampeonato.

Zidane não fez a diferença em 2002, como fez em 1998. Foto: Divulgação FIFA

Zidane não fez a diferença em 2002, como fez em 1998. Foto: Divulgação FIFA

Porém o paraíso entrou em chamas. Com a derrota para a caloura seleção de Senegal, por 1×0, logo na abertura do mundial, a seleção francesa – que ainda não contava com Zidane, que se recuperava de uma lesão –, acabou sendo inferior durante todo o jogo contra os africanos e sofreu uma das derrotas mais vergonhosas de uma seleção campeã do mundo em um mundial.

Nos outros dois jogos, contra Uruguai e Dinamarca, o vexame foi ainda maior. Após um 0x0 e um 0x2, respectivamente, a França deixou o continente Asiático fazendo apenas um ponto e sem nenhum gol marcado.

Brasil – Copa do Mundo 2006 – Alemanha

Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e Adriano, o quadrado mágico. Nove pontos na primeira fase. Uma goleada por três a zero nas oitavas de final contra Gana. Olhando os fatos, faz parecer que a seleção brasileira apenas saiu da competição por azar. Um gol de Henry numa desatenção da zaga brasileira culminou na eliminação da seleção canarinho nas quartas de final da competição. Aos olhares de leigos, a seleção pareceu ter um desempenho mediano para bom durante a competição, porém não é o que dizem os registros.

Treinos abertos ao público, mídia garantindo o título, o melhor do mundo pressionado. A seleção brasileira desmoronava jogo após jogo. A vitória contra a Croácia veio de um chute de fora da área de Kaká, num momento em que os europeus eram melhores no jogo. Nos três jogos seguintes, contra Austrália, Japão e Gana, a Seleção parecia cansada. Os gols pareciam ocorrer muito mais pela fragilidade dos adversários, do que propriamente pela qualidade dos jogadores.

“Muitos Sabem que alguns jogadores chegaram para aquele mundial um pouco acima do peso. A preparação é muito curta, ou você chega preparado ou não consegue tempo para isso”, disse o volante Zé Roberto em entrevista ao programa ‘Bola da Vez’, dos canais ESPN. “Naquela época, as decisões não vinham da comissão técnica, elas vinham, claramente, da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e da patrocinadora da época (a empresa americana de material esportivo, a ‘Nike’)”, completou o volante que atuou naquela seleção.

 

VEJA TAMBÉM:

Eliminada, Espanha desembarca em Madrid

Atual campeã perde para o Chile e está eliminada 

 

Itália – Copa do Mundo 2010 – África do Sul

Com um time mais envelhecido, uma média de idade alta (28,22 anos) e um treinador que já sabia seu destino pós-Copa mesmo antes de a bola rolar. A seleção italiana vinha com problemas internos que refletiram dentro de campo e no consequente desempenho da Seleção.

Lippi já sabia que seria demitido pós o mundial da África. Foto: Divulgação Portal Terra

Lippi já sabia que seria demitido pós o mundial da África. Foto: Divulgação Portal Terra

Apesar de ter Cannavarro (eleito melhor jogador da Copa do Mundo de 2006) e uma legião de campeões do mundo, a seleção italiana não mostrou o mesmo futebol que a credenciou ao título na Alemanha. Além do mais, a seleção nem mesmo chegou como uma das favoritas no continente africano.

Após dois empates, contra Paraguai e Nova Zelândia (ambos por 1-1), e uma derrota para a estreante Eslováquia por três a dois, aos comandados de Lippi restou apenas voltar mais cedo para a terra da bota.

Espanha – Copa do Mundo 2014 – Brasil

Uma seleção recheada de craques. O sonho de todo o treinador seria poder ter a   a sorte (e a dor de cabeça) de Vicente Del Bosque para escalar a melhor seleção do mundo.

A imagem não se repetirá no Maracanã. Foto: http://goo.gl/6O6FaM

A imagem não se repetirá no Maracanã. Foto: http://goo.gl/6O6FaM

A Fúria conquistou o mundial na África do Sul graças ao seu estilo de jogo inovador: o “tiki-taka”. A prática futebolística consiste no time manter a posse de bola em seu comando e marcar o adversário com pressão para roubar a bola o mais rápido possível, e, assim, efetuando a troca de passes entre os companheiros de equipe.

O tiki-taka foi a baixo. A bola murcha jogada pela seleção espanhola fez com que a Fúria deixasse o mundial na primeira fase da competição. E pior, na segunda rodada, após uma derrota por dois a zero para o Chile. Na derrota por cinco a um para a Holanda, a seleção espanhola demonstrou uma fragilidade nunca antes vista. Uma apatia que se confirmou na derrota para os chilenos. A Fúria se despediu do Brasil com uma vitória por três a zero contra a Austrália.

Comentários

comments

Você pode gostar...