Theatro Avenida: um espaço de cultura abandonado em Pelotas

O Theatro Avenida atualmente, em estado de abandono. Foto: Camila Santos

Por Camila Santos

Ele passou de teatro para cinema e de cinema para casa de shows, todas essas mudanças em um só local. Construído pela empresa Xavier Santos, na Avenida Bento Gonçalves, o Theatro Avenida foi inaugurado no dia 13 de julho de 1927, após um atraso de três dias devido à demora na entrega das cadeiras. No dia da inauguração foi passado o filme “Cavalheiro Audaz”. No dia seguinte, estreava a companhia Brasileira de comédias Álvaro Fonseca, com a peça: A dama dos cinemas.

A transição para cinema começou dez anos após sua inauguração. Assim, o cinema ganhava um impulso enorme e a população enchia as plateias. O Theatro Avenida foi o grande programa de entretenimento e ponto de encontro para multidões. Os pelotenses só queriam assistir filmes. Os namorados marcavam encontro na porta do cinema, era moda. As exibições cinematográficas faziam um enorme sucesso e rendiam muito. Além disso, há relatos de trocas de gibis nos intervalos entre as sessões.

Jornal anuncia show da banda Legião Urbana no Avenida. Foto: Diego Queijo

Em 1985, com uma nova roupagem, abriu as portas para atender a um grupo de quase quatro mil pessoas, as quais foram prestigiar o show do grupo de rock Paralamas do Sucesso. Essa nova fase do teatro teria como objetivo usar o espaço voltado à cultura e ao lazer, como proposta inicial, e dar ênfase ao teatro. Ilustres artistas passaram por aquele palco, que atualmente está jogado as traças. Artistas como Chico Buarque, Engenheiros do Hawaii, Legião Urbana, Ed Motta, Tim Maia e Roupa Nova. Companhias de ballet também passaram por lá, os bailarinos da Moldávia e o Ballet Folclórico da União Soviética e, não menos importante, também houve a presença de pianistas no palco.

Os sábados eram voltados aos shows, desfiles de moda e concursos das mais belas estudantes. O concurso Garota ETFPEL e Gata Pelada (do colégio Pelotenste) eram os que mais chamavam atenção do público e enchiam o teatro. Aos domingos, passou-se a realizar uma danceteria que levou o nome de Mamão com Açúcar, destinada a adolescentes, uma matine de domingo que perdeu sua credibilidade quando teve um tiro dentro do teatro. Além disso, ocorreram algumas formaturas no Theatro Avenida, muitas vezes pelo aluguel ser mais barato que o do Sete de Abril e do Guarani.

A artista, Luciáh Tavares, que aproveitou bastante o teatro, parte da sua carreira foi lá, a qual desfilou, dançou, atuou naquele palco. Lembra que os primeiros shows que ela foi, foram no Avenida.  Segundo a artista, teve uma efervescência cultural que se originou dali, sobretudo no início dos anos noventa com a galera do Acid House, concursos de dança que criaram uma agitação cultural na dança da cidade enviando gente mundo afora. “A minha dor de ir a Pelotas é ver que todos os meus referenciais estão em ruínas, com exceção do Theatro Guarany, todos os demais locais viraram ruínas ou deixaram de existir, virando igrejas, estacionamentos ou até mesmo farmácia” completa Luciáh.

“O Teatro tinha que ser público. Na atual realidade política do Brasil, não sei dizer se deveria ser do Município (levando em conta que o município sequer consegue reabrir o Sete de Abril) do Governo Federal ou do Governo do Estado… Ainda acho que seria o mais correto, Pelotas com um teatro estadual e se pensarmos bem o governo do estado, há muitos governos, está em dívida com Pelotas. Um teatro estadual na avenida! Iriam faltar os trailers do x, mas tudo bem afinal a gente não quer só comida!” comentário da artista Luciáh sobre a falta de atenção a cultura, principalmente a teatral, na cidade.

Relembrando um pouco sobre a estrutura interna do teatro, através de relatos de frequentadores, o palco dele se assemelhava ao do Theatro Sete de Abril de caixa cênica e plateia mais italiana, as cortinas eram da cor caramelo, tinha um mezanino ou camarotes na parte superior. Quando passou a ser danceteria, destruíram uma parte, retiraram os camarotes desfazendo as frisas, na parte inferior retiraram as poltronas para abrir espaço para a pista de dança.

Dos inúmeros frequentadores ou até mesmo artistas que tiveram a possibilidade de conhecer e fazer parte da história do Avenida, demonstraram sentir falta do Teatro/cinema/danceteria, muitos relatos sobre ter sido um lugar agradável pra se divertir e valorizar a cultura na cidade. Lamentam pelo estado deplorável que o prédio se encontra e se o teatro reabrisse eles voltariam a frequentar, assim como o Régis e o Luiz Antônio retratam.

Theatro Avenida na década de 80. Foto: acervo/Olhares Sobre Pelotas

Régis Oliveira, 59, radialista, vivenciou alguns momentos no Teatro/cinema Avenida, mas o seu momento mais marcante lá, foi quando assistiu o filme Sansão e Dalila, em 1974, ele se lembra da grandiosidade do cinema, a grande quantidade de pessoas que ali estavam e passavam por lá “eu me sentia pequeno perto das pessoas, no ambiente e perto do telão, tudo era grande pra mim”, retrata Régis. A riqueza de detalhes também ficou bem evidente para ele, no alto da sua juventude. Ele tinha vontade de retornar ao teatro, um lugar agradável e bonito para Régis.

Luiz Antônio, 61, agente de portaria, não considera o Theatro Avenida como teatro, pra ele sempre foi o cinema Avenida. Um momento marcante para Luiz foi quando estavam desmanchando a estrutura de cinema do teatro, a transição para a casa de shows. Retiram todas as cadeiras do local, mas a tela de cinema continuou ali e as pessoas passaram a se sentar no chão para assistir os filmes. “Se o Theatro Avenida reabrisse como cinema eu voltaria a frequentá-lo, pois faz falta na cidade, seria mais uma opção de diversão para Pelotas”, diz um fã de cinema, Luiz Antônio.

De acordo com o Jornalista, Luiz Carlos Vaz, 66, Pelotas era uma cidade muito profícua no teatro, aconteceu alguma coisa na cidade que fez  perder várias companhias teatrais, a cidade possuía na época a “step” sociedade, teatro e Pelotas, que produzia peças e também patrocinava peças de fora. Luiz Carlos Vaz, teve a oportunidade de assistir algumas peças teatrais no Avenida, mas como a maioria ele frequentou muito mais o lugar como cinema, lembra de ter assistido a estreia do filme Poderoso Chefão, também lembra das grandes filas para as sessões. Era um cinema pequeno, mas para Luiz era o tamanho ideal para um teatro municipal, até para as outras atividades como shows e cinema, por ser pequeno dava a sensação de “casa cheia” sempre. Claro que não tinha a grandeza do Theatro Guarani, também não tinha aquela “coisa” do Sete de Abril. Depois que ele virou cinema, tornou-se difícil manter as peças teatrais.

Para o estudante de Teatro da UFPel, Carlos Escolto Finger, é direito da sociedade ter acesso às artes e as culturas em suas diversidades. Quando os municípios não possuem espaço que possam oferecer isto para a sociedade, a sociedade fica empobrecida culturalmente e artisticamente. Por outro lado, espaços abertos como o Teatro Avenida possibilitariam que grupos de artistas locais possam pesquisar, trabalhar e criar suas artes e oferecer para a sociedade. Por isto a importância de se reabrir o Teatro Avenida, o Teatro COP, o Sete de Abril e todos os espaços culturais que hoje estão fechados.

Um prédio tão belo, em um lugar privilegiado da cidade e cheio de história, que passa despercebido pela população. É muito difícil achar informações e fotos dele na internet, a pesquisa foi baseada em livros do acervo da Biblioteca Pública de Pelotas e pessoas que frequentaram ou fizeram parte da história do local. A cidade tem que acordar para o que antes era o seu grande diferencial: a cultura o belo.

O Theatro Avenida entrou em sua ruína ao virar churrascaria.

O Sete de abril está do jeito que está só na promessa de reabrir.

O Teatro do Cop não existe mais.

O cine Capitólio virou estacionamento…

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