Exposição AGÔ
De Felipe Caldas
Agô, em iorubá, é um pedido de permissão para momentos de entrada, saída, passagem, além de proteção ou perdão, conforme o contexto. Felipe Caldas pede assim licença para ocupar, de forma simbólica e matérica, o espaço da Galeria A Sala, na exposição que marca o retorno às atividades presenciais após o período de restrições causadas pela pandemia. Trazendo uma reflexão sobre as condições que nos levam a recorrer às mais variadas crenças (sejam elas religiosas, de ordem política, ou outras) para buscar um refúgio, um alento, uma orientação, a instalação recobre o piso da galeria com mais de meia tonelada de carvão – elemento simbólico de proteção. O artista convoca o público a interagir com esse elemento, ao mesmo tempo em que provoca um questionamento sobre aquilo que acreditamos.
Conheça o artista:
Abertura:
05/05/2022, das 17h às 20h.
Período de visitação:
06/05 à 17/06, de segunda à sexta das 8h às 22h.
Endereço: Galeria A Sala, Centro de Artes UFPel, sala 111 (acesso pela Álvaro Chaves, 65)
Coordenação: Profa. Dra. Laura Cattani
Realização: equipe do projeto de extensão A SALA – Ações de produção e difusão cultural: Barbara Calixto dos Santos, Eduardo Soares Devens, Fernanda Oberg de Miranda, Gabrielli Mourige Barbosa Nazario, Jesiel Rocha Lofhagen, Katiane Letícia Ferreira da Silva e Yuki Ynagaki Escate Zarate, com o apoio de André Gustavo de Campos e Pedro Augusto dos Santos Navarro.
Foto: Rodrigo Marroni
Projeto Gráfico: Yuki Zarate
Agô
Quando não temos a quem apelar, só nos resta convocar aquilo que não vemos, ou que vemos, mas não conhecemos e por necessidade, muitas vezes, passamos a acreditar. Quanto mais desesperadora a situação, mais acreditamos e buscamos por algo que transcenda a nós e seja capaz de solucionar, dar sentido ou apaziguar a situação vivida. Quanto maior o desespero, mais desejamos o milagre e dispomos livremente de nossos sentidos e razão para tal.
Este trabalho é o encontro de meus interesses de reflexão, de investigação e de fascínio, ou seja, dos sistemas de crença, tanto de ordem religiosa, mística, espiritual, quanto de ordem econômica, social, artística e política num país como o nosso.
Cresci na periferia da região metropolitana de Porto Alegre e, como outras periferias neste país, a fé é o combustível da esperança, mas também seu entorpecente. As casas de batuque, como chamamos, amontoam-se ao lado das igrejas evangélicas e suas variadas vertentes, além da católica. É comum aquele que vai à missa aos domingos consultar os exús ir também no Centro Espírita. As igrejas evangélicas adotam rituais provenientes das matrizes afro-brasileiras; concomitantemente, a sessão no terreiro inicia com um pai nosso. Somos aqueles que, ao olhar ao redor, para a situação vivida, apelamos à fé e, por vezes, elegemos ídolos de carne e osso que nos parecem ser o meio da salvação. Buscamos de todas as maneiras outra realidade ou, simplesmente, fugir da presente. Quem crê não precisa de provas, índices, dados, ou argumentos – inclusive no âmbito dos discursos políticos e econômicos. A verdade está sempre ao seu lado.
A crença exacerbada, qualquer que seja, por vezes, é capaz de cegar-nos e ensurdecer-nos e, ao invés de despertar-nos a conhecer a nós mesmos, ao outro e a suas perspectivas, provoca o ódio ou a indiferença; enquanto desejamos outra realidade e esperamos o milagre, nosso destino é ser meio, cuja finalidade e o sentido escapam-nos.
Felipe Caldas
Rio Grande, 21 de abril de 2022