playlist – A SALA
exposição de Marion Velasco
Participações:  Marina Camargo e Joana Cecatto
Curadoria, texto e intromissões:  Adauany Zimovski

Quando entrei na página da artista para estudar seu repertório, que o primeiro vídeo que aparece é um dos mais antigos (Colette, de 1988). Nesse vídeo gravado por Elaine Tedesco e Lucia Koch, vi a encenação de um ritual de fim – a morte – como a possibilidade de um início, no caso, início da minha proposta de elaboração de uma playlist. Pensar num encadeamento de imagens/sons que se apresentará em looping subverte algumas características geralmente presentes nas narrativas lineares, como por exemplo, a presença de um início ou fim. Trabalhei com a forte impressão de estar lidando com a definição de uma sequência que logo se diluiria num ciclo. E antes mesmo de escrever essas linhas, consultei meu Oblique Strategies 1 , que me respondeu da seguinte forma:

– Remova especificidades e converta-as em ambiguidades

A ideia de ambiguidade já estava presente de certa forma, pela via da dupla consciência sobre o desenrolar da lista de vídeos, primeiro pensada como sequência, depois como ciclo. A pergunta que eu tinha em mente para poder me mover em direção à construção de um nexo sobre esse conjunto era: – como acessar a esse
lugar/tempo, que, depois de muitas voltas, não tem, necessariamente, uma indicação explícita de entrada?

Isso me lembrou de uma conversa, há bastante tempo atrás, quando um amigo perguntou numa roda de conversa: – no caso de uma catástrofe em que se precisasse abandonar a casa, que livro escolheria para salvar? A resposta a que chegamos foi “qualquer”. Arrisca-se, assim, a pegar uma tangente e, através dela, sair ou entrar, para se livrar o mais breve possível da necessidade de fazer uma escolha. Os elementos estão aí, ali. O vento, a água. O basalto, uma formação rochosa que, além da Terra, pode ser encontrada na Lua, nas proximidades do Mar da Fertilidade.

Além de propor uma seleção e uma sequência dos vídeos, tive a pretensão de interferir mais concretamente, inserindo fragmentos de imagens na Playlist, como uma reação/resposta e também desejo de compor com os diversos Instants da artista. Essas interferências (tempus fugit) também me lembram o que no universo do pixo é chamado de “atropelo”, mas, nesse caso, estão mais para intromissões. A tendência colaborativa é uma constância no trabalho de Marion. Talvez isso seja uma espécie de “efeito” que a artista produz em seus interlocutores, como acredito que foi o meu caso e, mais precisamente, se faz audível nas participações de Marina Camargo e Joana Cecatto. No entanto, há nessa Playlist duas exceções. Soro Nostrum trata de “ações solitárias destinadas ao fracasso” nas palavras da artista, e Música Silenciosa – Ações
em aberto na cidade, uma perseguição solitária por ruídos visuais. Retiro mais uma carta de Oblique Strategies:

– Ecos de fantasma

Tentei, nesse texto, escapar da descrição dos trabalhos para evitar um looping de re-apresentações. No exercício de leitura da lista/sequência/ciclo, busquei, como sugerido no oráculo de Eno, o lugar da ambiguidade que se fez visível nesse jogo de ver o começo no final e vice-versa. De minha parte a Playlist é uma tentativa de sublinhar coisas que já se moviam numa direção e que talvez se afirmem nos ecos que possam ressoar. De modo a não interditar a curiosidade pela sequência, mesmo que pareça contraditório, a colocamos a seguir:

Faixa 0 – Colette – 2’30" (1988) —– faixa fora do tempo // tempus fugit (pedra vira areia) – 15" (s/d)
Faixa 1 – Soro Nostrum – 15’46" (2015)
Faixa 3 – Shape is clear – A criação dos ventos – 12’23" (2014) —— faixa fora do tempo // tempus fugit (planície cinzenta) – 6" (s/d)
Faixa 4 – Instant Band / Shp s clr – 13’44" (2014) —— faixa fora do tempo // tempus fugit (sicut nubes) – 10" – s/d)
Faixa 5 – Instant Band / Pero esto no es Música – 9’35" (2016)
Faixa 6 – Música Silenciosa – Ações em aberto na cidade – 19"
Faixa 7 – Música Silenciosa – Ações em aberto na cidade – 17"
Faixa 8 – Música Silenciosa – Ações em aberto na cidade – 18"
Faixa 9 – Música Silenciosa – Ações em aberto na cidade – 15"
Faixa 10 – Música Silenciosa – Ações em aberto na cidade – 6"
Faixa 11 – Música Silenciosa – Ações em aberto na cidade – 3"
Faixa 12 – Música Silenciosa – Ações em aberto na cidade – 3" —— faixa fora do tempo // tempus fugit (mar interior)
Faixa 13 – Projeto SOLAR (sound) SYSTEM MISSIONS: peças sonoras Map of the Moon/Mar Aberto por Marion Velasco e Marina Camargo; Mercúrio por Marion Velasco e Carta-resposta à Mercúrio por Joana Cecatto.
Faixa 14 – Instant Band / Alta voz em Accións en el Núvol (noite de performances em terraço na cidade de Valencia-Espanha e na Sala de Debates do Piso Caio Graco do Centro Cultural São Paulo, com transmissão simultânea via Skype (11/06/2015).

Texto: Adauany Zimovski

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Instant Band Grrrls

IBG é uma proposição pluriautoral de performance em artes visuais com elementos sonoros e literários. Aborda questões políticas feministas com uma estrutura flexível que permite a difusão em diversos meios, mídias e formatos, tais como festivais, saraus, shows, Internet, rádio. É composta pelas artistas Alice Porto (poesia e voz), Andressa Cantergiani (teclados), Mariana Kircher (guitarra e pedais) e Marion Velasco (poesia, voz, Ipad e controlador de som).

IBG se estrutura na poesia escrita e recitada por Alice, que se constrói a partir de um arquivo de anotações cotidianas com implicações políticas feministas, recuperando e invertendo, temporariamente, através da escrita, a perspectiva e domínio narrativo sobre esses acontecimentos. As anotações têm sido transformadas em poesias, a partir de uma vivência de escrita com a escritora Angélica Freitas, em Vespasiano Correia-RS e, ganhado uma dimensão sonora, através da troca com as outras artistas da IBG.

A recitação de Alice é intersectada pela voz de Marion, que apresenta líricos próprios, trechos escolhidos na obra de poetas americanas da 2ª geração BEAT, como Mary Norbert Körte, Anne Waldman, de escritoras brasileiras, como Cecilia Meirelles e na publicação coletiva independente Xoxotas de Pelotas e, dispara, ao vivo, samples ruidosos (do maquinário industrial dos anos 1920), melódicos e ritmados dos padrões para baixo-bateria-percussão-efeitos, em estilos como: breaks, d&b, house, disponibilizados pelo app–controlador de som, baixado no Ipad. Com isso, Marion desenha a base eletrônica das peças sonoras e entende que a tecnologia, também, é coautora do trabalho, já que os equipamentos e aplicativos usados, várias vezes, travam, não “abrem” e ou desligam. As mudanças no pitch, em meio a execução das peças, os toques improvisados com a mão cheia sobre as células e o uso de filtros são bem-vindos. A recepção do “erro”, o que acontece no “acabar juntos” do espaço-tempo, corpo-máquina, é da ordem do performativo.

 

Abertura: 19 de setembro de 2018 às 18h
Visitação:
24 de setembro a 03 de outubro e  06  a 16 de outubro de 2018
Performance da INSTANT BAND_GRRRLS: 16 de outubro de 2018 às 19h
Local: Galeria A Sala
Conversa com a artista e curadora: 16 de outubro às 17:30
Local: Auditório 01 do Centro de Artes

Evento do Facebook: https://www.facebook.com/events/528056857616516/

Reportagens:http://ccs2.ufpel.edu.br/wp/2018/10/15/a-sala-recebe-performance-da-ibg-instant-band-grrrls/?fbclid=IwAR3l-om__GINXT80mx2m71wXaKetuPdzAEXBWvMaOFFTMBhgF7x82eKHZIU