Campo Minado
Alice Porto e Bruna Silva

Pelotas é uma cidade que, por sua planaridade, possibilita maneiras únicas de estar junto. Seus fluxos facilitam encontros. Ruas planas e largas convidam a caminhadas, e o ritmo da cidade incentiva pausas para conversas nas esquinas e cafés. Nos últimos anos, por essas ruas lentas, começaram a circular cada vez mais artistas que incorporam em seu trabalho, sozinhas ou em colaborações, as reverberações daquela que vem sendo chamada de primavera feminista no Brasil.
E por que falar daqui, e não de outro lugar? A presença ostensiva de artistas feministas (ou feministas artistas) nesse território sinaliza a construção de um lugar coletivo que abarca tensões e utopias. Da participação nas manifestações combativas internacionais no espaço urbano (as Marchas das Vadias) até as performances catárticas no Instituto de Ciências Humanas da UFPel ou no centro histórico, desde a publicação do livro Um Útero é do Tamanho de Um Punho, de Angélica Freitas (que já é um marco na poesia feminista nacional), até as inúmeras zines que circulam nos circuitos de publicações independentes, Pelotas demarca um espaço firme de resistência coletiva das mulheres contra o peso naturalizado e invisível da tradição.
Campo Minado é um recorte da produção artística latente nestas ruas, no interior das construções e do campo cultural. Tendo em vista aquelas que circulam e portanto constroem a paisagem pelotense, minas que minam este espaço, a exposição visa manifestar que ainda é preciso – e, talvez, nesse momento mais do que nunca – reinventar o cotidiano, o espaço da mulher na cidade, as redes de cuidado e afeto, mas também as de combate.
As artistas participantes estabelecem relações com o ativismo feminista – que se manifestam diversamente – e abarcam, de modo geral, possibilidades de articular as trocas interpessoais e com o lugar. Quer seja pela abordagem da afetividade e sexualidade entre mulheres, pelo questionamento dos limites do espaço público ou do lar a partir do corpo da mulher, pela arquitetura da cidade como metáfora da construção de uma linguagem, pelo corpo que opera ou é impactado pela imposição da feminilidade, e que também surge como paisagem ou abstração.
A produção de arte aqui se dá a partir da percepção de que não existe neutralidade no corpo que a produz. Pontua de modo crítico a cidade, o espaço e suas especificidades.

Artistas participantes:

Amanda de Abreu
Bruna Silva
Camila Cuqui
Fabiana Faleiros
Jessica Porciuncula
Julia Pema
Lua Miranda
Mariane Simões
Martha Gofre
Rafa
Rafaela Inácio
Stela Kubiaki

Conversa: 17 de maio às 17h
Vernissage: 17 de maio às 19h

Evento do Facebook: https://www.facebook.com/events/2167840363253026/