Por Michel Peterson
A exposição Onde estão/são os ossos… é oriunda do projeto de pesquisa ROBAA (RoadsofBonesandAshes/A estrada dos ossos e das cinzas). Nascido no final dos anos noventa, de um trabalho clínico de consulta psicanalítica em instituição e em consultório privado junto a requerentes de asilo que sofreram tortura, o projeto concentra-se, no primeiro momento, nos riscos psíquicos dos traumas extremos (guerras, genocídios, democídios, massacres de todo gênero) para em seguida expandir-se e tocar nas questões de natureza paleontológica, arqueológica, antropológica, filosófica, literária, política e econômica.
Onde estão/são os ossos… permite ver e ouvir um momento, um estado provisório de ROBAA, o nó de um rizoma, uma temporalidade mais próxima do movimento do inconsciente que de um terreno “empírico” e “fenomenológico”. Trata-se de um ato geopoético para o qual os pesquisadores da partida propuseram aos artistas-acolhedores da UFPel um material que eles se apropriaram e transformaram. Esta proposta corresponde, aliás, a um momento em que ROBAA, instigado pelo antropólogo Fillipo Furri, transformou-se, em 2016, em MédiaLab ROBAA. O que mostra bem que os ossos deixam rastro nas estradas desde os tempos mais antigos da humanidade – o próprio originário. Embora o projeto fosse mais pessoal, inclusive mais íntimo, ele agora se torna uma plataforma e um entroncamento em que se encontram pesquisadores e artistas de várias instituições de muitos países (Canadá, França, Tunísia, Itália, Grécia, Polônia, Brasil). Além disso, as universidades (McGill, York, Amsterdam e de Catane), diversas ONGs e grupos de trabalho participam da reflexão: UNHCR, Missing Migrants, Humanitai recitoyen, Carovanes Migrantes, GISTI, Migreurop, Human Cost of Border Control, ARCI, Boats4People, MSF, Chairs disparues, Restoring Family Links, ANCI, assim como diferentes associações da Tunísia e do Marrocos.
Através destas pesquisas e destes “deslocamentos”, nós nos deixamos levar por uma migração rumo a uma etnografia transnacional do luto, que abre, então, a enorme questão dos traumas individuais e coletivos, com os cortejos de fantasmas que os inspiram. A circulação e o desaparecimento dos ossos permitem, através de mares, terras e cemitérios, levar, assim, a refletir sobre as condições de possibilidade dos genocídios e dos crimes de massa, sobre os espectros e sobre a transmissão coletiva e individual dos grandes traumatismos. Assim, um trabalho sobre o retorno do recalque provoca a necessidade de não cessar de retornar à memória humana. Combater o esquecimento dos genocídios, o apagamento, o apagamento do apagamento – isto é foraclusão -, eis um dos eixos centrais de Ondees(t)ão os ossos… Este caminho através de alguns cemitérios do mundo imprime um trabalho de transmissão.
Curadores da exposição:
Carolina Rochefort
Helene Sacco e
Cláudio Azevedo
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Michel Peterson
Coordenador de ROBAA e psicanalista
Coordenador do projeto ROBAA (Roads of Bones and Ashes / Estradas de ossos e de cinzas)
Cadeira Oppenheimer em Direito Internacional Civil,
Faculdade de Direito, Universidade McGill, Canadá
Professor visitante no Curso de Psicologia, FURG
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Grupo de pesquisa ROBAA :
Christian Peterson Fotógrafo e videasta, vice-coordenador do projeto ROBAA, Toronto, Canadá
Donald Boucher Psicoterapeuta e trabalhador social, Montreal, Canadá
Filippo Furri Antropólogo, MIGERUROP, PPG Antropologia, Universidade de Montreal, Canadá/França/Italia
Gabriela Peterson North-South Studies, Dawson College, Montreal, Canadá
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Organizacão e realização
Michel Peterson, Louise Jutras (assistência têcnica)
Jacson Piovesan, Centro de Artes Visuais, UFPel
Karina Gallo, Centro de Artes Visuais, UFPel
Rômulo Guedes, Centro de Artes Visuais, UFPel
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Fotos
Christian Peterson e Michel Peterson
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Textos
Donald Boucher, Filippo Furri, Guy Parent,
Jacques Derrida, Marilyn Monroe,
Michel Peterson e Robert Harrison
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Tradutora
Rosa Rockenbach, Instituto de Letras e Artes, FURG
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As passagens (imagens de síntese)
Philippe Internoscia, Master in Fine Arts, Universidade Concordia, Montreal, Canadá
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Música (trilha sonora)
Pascal Langlais, Montreal, Canadá
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Edição Vídeo Fotos Exposição
Karina Gallo, CA UFPel
Renan Silva do Espirito Santo, CA UFPel
Abertura:16 de maio de 2017 às 18h
Visitação: 17 de maio a 16 de junho de 2017
Local: Galeria A Sala
Mesa Redonda: 26 de maio
Michel Peterson
Prof. Dra Renata Azevedo Requiã – Pesquisadora de Arte e Literatura; Curso de Bacharelado em Artes Visuais UFPel
Prof. Dra. Luiza FN Carvalho – Pesquisadora de Arte Funerária; Curso de Bacharelado em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da UFPel.
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Video de Alexandre Silva da Silva (PPGEA, FURG): Exclusão, Memoria, Julgamento, Conflito
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Fervilhamentos /Her Hviler, Michel Peterson e Melissa Velasques (UFPel)
Evento do facebook: https://ps-af.facebook.com/events/1183579635104304/permalink/1194607377334863/
Reportagem: https://ccs2.ufpel.edu.br/wp/2017/05/16/a-sala-recebe-mostra-onde-estao-sao-os-ossos/