Novos hábitos colocam em questão tradição doceira

Os doces de Pelotas são considerados parte do patrimônio cultural imaterial da região, mas também coexistem com tendências globais      

Por Isabella Barcellos         

Os sabores simbolizam os marcos, as tradições e as mudanças culturais    Foto: Isabella Barcellos

 

A passagem do tempo transforma nossas vidas por completo, tanto no individual quanto no coletivo. Portanto, algumas grandes tradições se transformam ou são perdidas com o avanço dos anos. Com a grande adesão do público às tendências globais de alimentação, hábitos locais como o consumo de doces finos podem se tornar obsoletos? Essa pergunta ganha um sentido muito especial no contexto cultural de Pelotas, em que os doces simbolizam as diversas mudanças que a cidade passou ao longo da sua história.

História marcada por hábitos gastronômicos

Entre tantos títulos que uma cidade pode receber, Pelotas (localizada no extremo sul do Rio Grande do Sul) foi agraciada com um título açucarado: A cidade do doce. E grande parte do patrimônio local é, direta ou indiretamente, relacionado a este título. O princípio deste legado começou com o ciclo do charque: As condições geográficas da cidade e o trabalho intenso da mão de obra escrava alavancaram o desenvolvimento econômico da região com a produção de charque. Em uma sociedade enriquecida, doces como camafeu e fatia de Braga, vindos das tradições portuguesas, passaram a ser preparados e oferecidos em comemorações, jantares e saraus.

Concomitantemente, o Brasil passava por uma forte política de imigração europeia promovida pelo governo imperial. Imigrantes da Alemanha, Itália, França e Espanha foram a maioria na construção de colônias da antiga Pelotas. Tanta diversidade cultural contribuiu para o surgimento de novas tradições que resultaram na criação de doces únicos para o patrimônio imaterial da cidade.

Segundo o Dossiê de Registro da Região Doceira de Pelotas e Antiga Pelotas, após “o fim do período áureo das charqueadas, os doces finos saíram do interior dos casarões e ganharam o espaço público da cidade, principalmente para, junto aos doces coloniais, tornarem-se fonte de renda de muitos pelotenses”.

         O morango é um ingrediente mais recente dos doces  e também um produto relevante da agricultura da região hoje      Foto: Prefeitura de Pelotas

 

A atualidade e suas demandas

Com o passar dos anos, o consumo de guloseimas com derivados de leite (leite condensado e doce de leite, por exemplo) ganhou popularidade no território brasileiro. Além disso, os produtos ultraprocessados passaram a fazer cada vez mais parte da rotina para grande parte da população, o que por consequência também distorce os conceitos de sabor e a qualidade da alimentação (tanto em nutrientes quanto em variedade cultural). Os doces coloniais, antes amplamente consumidos, passaram a ser substituídos por biscoitos, chocolates, sorvetes e, recentemente, até mesmo sobremesas estrangeiras como brownies e cookies ganharam mais popularidade entre os jovens.

O mercado pelotense passou a se adaptar às demandas do público com rapidez. Em um primeiro momento, os ingredientes tradicionais eram os seguintes: Ovos, açúcar, amêndoas, nozes, coco, pêssego e ameixa. Atualmente, os balcões das docerias e cafeterias oferecem cada vez mais opções que se utilizam do leite condensado como ingrediente básico: Bombons de brigadeiro, branquinho, chocolate, com confeitos multicoloridos e as conhecidas “trouxinhas” de diversos sabores. E, para além dos novos sabores, o tamanho dos doces aumentou consideravelmente, ocupando mais e mais espaço nas vitrines.

A partir destas informações, pode-se concluir que são muito poucos os doces que podem ser considerados tradicionais pela tradição pelotense. Em 2006, um processo conduzido por empreendedores pelotenses (com apoio do SEBRAE/RS) definiu 15 doces consagrados como tradicionais: amanteigado, beijinho de coco, bem-casado, broinha de coco, camafeu, doces cristalizados de frutas, fatias de Braga, ninho, olho-de-sogra, papo de anjo, pastel de Santa Clara, queijadinha, quindim, trouxas de amêndoa e panelinha de coco.

Bombom de morango é um dos preferidos

 

 

O polêmico sucesso de vendas

Um doce que dispensa apresentações aos pelotenses é o bombom de morango. Sucesso de vendas na Fenadoce e em todas as confeitarias da cidade, sua presença é requisitada em grande parte das comemorações locais. Entretanto, a partir dos dados já citados, podemos chegar a uma simples conclusão: O Bombom de Morango não é um doce tradicional. O morango, o leite condensado e o chocolate só foram incorporados na confeitaria local a partir da demanda do público e da produção local.

O morango é um fruto de origem europeia que muito se beneficia do clima subtropical sul-brasileiro para o cultivo em maior escala. E, atualmente, Pelotas é o quarto maior produtor do fruto no estado do Rio Grande do Sul. Dezenas de famílias se beneficiam diretamente do cultivo e colheita anual, contando com a ajuda de organizações como a Secretaria de Desenvolvimento Rural, Emater, Embrapa e do Sindicato de Trabalhadores Rurais. Em 2022, seis edições da Feira do Morango foram contabilizadas pela cidade, rendendo lucros aos produtores e frutos de boa qualidade para os consumidores.

O estado de tradição, por si mesmo, implica em moldar e categorizar determinadas práticas. Em entrevista ao diretor do Museu do Doce, Roberto Heiden, o professor Fábio Cequeira explica as peculiaridades das receitas modernas perante a tradição. Ao ser perguntado sobre o bombom, ele questiona: “O que pensar disto, como pesquisador que se defrontou com o caráter genuíno das tradições doceiras: de modo ranzinza, negando a validade das preferências atuais? Ou pensando, sim, que o novo cabe dentro do sentido de uma cidade doceira?”.

O professor também pontua: “Passadas algumas décadas, novas pesquisas falarão do ‘bombom de morango’ – que, na verdade, exagerando um pouco, encontra-se à venda em qualquer shopping center do país – como patrimônio cultural, pois, na ‘cidade doceira’, assim agora reconhecida, o antigo, que se quer salvaguardar, precisa do novo, para lhe garantir um sentido de pertença ao tempo, sem o que qualquer salvaguarda é nula.”

A proprietária da confeitaria Imperatriz Doces Finos desde 1996, Maria Helena Jeske, afirma a preferência do público por misturas de sabores: “O público hoje em dia gosta muito da mistura de sabores: Por exemplo, o quindim tradicional é feito de gemas, açúcar e coco. Atualmente, temos quindins de morango, kiwi, leite condensado […] Sempre trazendo essa mistura com algo novo que está nascendo no mercado com algo já conhecido”.

Maria Helena Jeske está atenta às preferências do público     Foto: Isabella Barcellos

A resposta do tempo

Pode-se concluir que, apenas com a passagem do tempo é possível determinar se doces criados mais recentemente prevalecerão nas vitrines e no imaginário popular enquanto outros caem no esquecimento. Se o patrimônio por um lado prevalece intacto, as demandas populares se transformam a cada dia. Há 10 anos, alguns dos doces tradicionais poderiam ser vistos como antiquados, mas, atualmente, são apreciados por sua composição simples e livre de laticínios pelo público vegano ou até mesmo por quem tem predileção por doces “mais naturais”.

Maria Helena ressalta a permanência dos doces tradicionais na memória coletiva: “A novidade se mostra importante para nós do mercado. Sempre tem aquele jovem que busca por um sabor diferente, mas ele nunca deixa os doces tradicionais de lado por saber que tem algo por trás dele […] As empresas costumam apresentar como ‘carro chefe’ estes doces tradicionais”.

Existe espaço de sobra para a experimentação e degustação de novos sabores envolvendo a cultura doceira, ainda que o patrimônio imaterial permaneça catalogado como se encontra hoje. O que se ressalta importante é conscientizar a população (tanto em cenário local quanto nacional) o que são os doces coloniais e de que eles são feitos. Na entrevista citada, Fábio Cerqueira explica que o status de patrimônio afeta a percepção pública, “tanto no sentido de haver uma preocupação maior em preservar formas tradicionais de produzir os doces, como também em passar a ser mais crítico com a relação ao abandono de antigas receitas, tão somente porque o gosto atual, ou as imposições do mercado assim determinam.”.

Nesse cenário, a existência e a manutenção do Museu do Doce se fazem cada vez mais necessárias. Só é possível conscientizar a população sobre esse passado a partir de intervenções educacionais e políticas públicas de apoio à cultura. A tradição doceira pelotense conta sobre a história do extremo sul rio-grandense em cada detalhe, desde a vinda dos primeiros charqueadores, até a participação de afro-brasileiros e imigrantes em sua produção manufaturada e, por fim, sobre o desenvolvimento econômico regional.

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“053” é novo single de Perazo e Dizéro

“053 só falo uma vez, nois sabe quem é, nois sabem quem fez”

Vídeo musical pode ser conferido no YouTube

Rio Grande é a cidade natal dos artistas Matheus Perazo  e Dizéro, que criaram juntos a faixa “053. Este número faz referência ao código de telefone do município mais antigo do Rio Grande do Sul, na região Sul do Estado, em que os músicos residem até hoje. A composição tem o objetivo de trazer o sentimento de representatividade musical para o Estado. A vontade é evidenciar todo o potencial artístico e de resistência que existe na região, que, por muitas vezes, é mal representada dentro da cena do rap brasileiro, contribuindo para que haja uma exclusão da produção artística de vários artistas negros do Estado.

Além das questões de identificação, “053” traz o estilo clássico do hip-hop em um instrumental com sample, contrastando com um BPM alto, uma bateria rápida e 808s potentes, misturando o clássico e o atual para trazer uma sonoridade nova.

                        Matheus Perazo e Dizéro iniciaram parceria depois do evento Rap Contra o Frio                                      Fotos: Pâmela Rodrigues/Divulgação

 

Matheus Perazo, além de rimar na faixa, também marca autoria na produção do instrumental e pela mixagem e masterização de forma independente. Dizéro é conhecido na cena rio-grandina pela criação do evento Rap Contra o Frio, que ganhou sua sétima edição em 2022. A atividade busca fomentar a curadoria de artistas da região, oferecendo espaço para apresentação musical, de dança e grafitti, contemplando os quatro elementos do hip-hop.

Em “053”, Dizéro e Matheus Perazo deixaram que as rimas fluíssem em um embate constante com o instrumental, em que as viradas se tornam desafiadoras para qualquer MC. O videoclipe foi dirigido pela empresa de audiovisual Polvo, trazendo a cidade de Rio Grande em uma estética mais direta, com o evento de rap Batalha do Cassino.

Os dois músicos começaram a trabalhar juntos em 2022. “053” é a sua segunda parceria, a primeira foi em “Aurora”, a música tema do 7º Festival do Rap Contra o Frio.

Matheus defende proposta musical que valoriza hip-hop da região Sul        Foto: Pâmela Rodrigues

Matheus Perazo comentou a produção em conjunto com Dizéro em entrevista para o site Arte no Sul:

Arte no Sul – O que motivou a parceria?

Matheus – Eu já conhecia o trabalho do Dizéro antes de começar a trabalhar efetivamente com rap. Ele é da “velha escola” do rap rio-grandino. O ano de 2022 foi quando nós tivemos o primeiro contato por conta do festival Rap Contra o Frio, em que eu fui contratado para fazer a gravação das vozes para a música tema “Aurora”, e que, posteriormente, para a minha surpresa, motivou o convite para fazer parte do som como MC. O processo de criação, com tantas pessoas envolvidas, desde a produção ao videoclipe, (foram pelo menos 10 pessoas!) é bem extenso e, consequentemente, fez com que a gente tivesse contato quase que diariamente. Isso fez com que nós nos identificássemos um com o outro e tivéssemos vontade de continuar trabalhando juntos após a conclusão de “Aurora”, como de fato aconteceu. Eu enviei o instrumental de “053” para ele e Dizéro retornou com a letra pronta no mesmo dia. O resto é história.

Arte no Sul – As letras falam de quem tem dificuldades de conquistar um espaço no meio social e artístico?

Matheus – “053”, acima de tudo, fala sobre autoestima pra quem é do Sul. O rap é o gênero mais consumido no mundo e no Brasil e ele é protagonizado por artistas do Rio de Janeiro e de São Paulo, ou como nós chamamos: “O eixo”. Eles têm o protagonismo, uma maior facilidade para chegar em evidência por ter uma estrutura estabelecida. E é normal que alguns artistas usem isso como referência para a própria produção artística, o que, na minha opinião, é uma estratégia de alto risco. “053” é uma música que em sua essência diz: “Nós não precisamos ser eles para sermos ouvidos”. Nós, aqui do Sul, temos nossa própria maneira de se comunicar e é aí que mora nossa maior potência, nós somos diferentes deles, e isso é bom.

Arte no Sul – Quem de fato está sendo representado na música, os cantores de rap ou o público que houve rap?

Matheus – Primeiramente o hip-hop no sul do Brasil. Em segundo lugar, as pessoas daqui.

Arte no Sul – Como tem sido o contato de vocês com o público?

Matheus Pelo fato de que o Dizéro está morando em Pelotas e eu em Rio Grande, ainda não conseguimos fazer uma apresentação da música juntos, então nos últimos três shows que fiz, fiz sozinho. Mas tem sido bem legal a receptividade, tanto em show quanto online, muita gente de fora da minha bolha veio falar que gostou muito do som e do clipe.

Arte no Sul – Como a gravação de um clipe soma para manter ou aumentar a conexão com o público?

Matheus – Tenho pra mim que um videoclipe é uma ferramenta para ampliar os sentidos das obras. O videoclipe de “053” carrega uma estética de imagem “crua” e, muitas vezes, até um pouco nostálgica, gravado inteiramente pelas ruas de Rio Grande, reforçando ainda mais a nossa ligação com o lugar de onde viemos.

Arte no Sul – Como vocês batalham para manter a autenticidade do rap rio-grandino?

Matheus – Sendo nós mesmos. Rio grande é uma potência artística muito forte, em vários segmentos, mas que por falta de incentivo e de estrutura, os artistas acabam tendo sua voz diminuída. Projetos como o Rap contra o frio e produções como “053” são necessárias pra pensar novas alternativas para a construção de uma arte que fale mais da gente.

 Para mais informações sobre os próximos lançamentos de Matheus Perazo acompanhe as redes sociais, no Instagram:  e Youtube.

Ficha técnica do clipe “O53”:

Produção: Polvo

Roteiro, direção e montagem: Jean Amaral e Matheus Perazo

Fotografia: Pâmela Rodrigues

Música:

Voz: Matheus Perazo e Dizéro

Produção musical: Matheus Perazo

Captação de voz: Matheus Perazo

Mixagem e masterização: Matheus Perazo

Dizéro batalha por cena musical em Rio Grande                 Fotos: Pâmela Rodrigues

 

Veja a letra de “053”:

Matheus Perazo

Ame ou odeie, hoje não faz a menor diferença

Sempre soube que eu era diferente

Dona Ana sabe, desde nascença

Flow com febre, espalhei a doença

Assisto vocês e parece reprise

Novo Drake, Novo Thug, Novo yeezy

Olha meu bolso, deve ter uns 20

Mão fechada não recebe o prato,

Colher, faca ou garfo, nem senta com nois

Na mistura, Dizéro e Perazo

Resto tá abaixo igual água e óleo

Meu estilo é sempre ofensivo,

Eles se ofendem, só jogo no ataque

Ambidestro, escrevo com as duas

Uma é Hiroshima, outra Nagasaki

Faço por quem representa a cultura, a vera

Não por quem atrás da tela, é novela, o clone

Pelas crianças e pelos líderes fora da cela

Eu colei na tua área e nem sabem teu nome

Essa é por quem honra a terra das calçadas frias

E faz a chapa esquenta mesmo abaixo de zero

Quem chega junto e também sabe que é a nossa vez

Levanta o braço e grita alto zero cinco três

Refrão

Matheus Perazo e Dizéro

053, só falo uma vez

Nós sabe quem é, nós sabe quem fez

053, só falo uma vez

Nós sabe quem é e não foi vocês (2x)

Dizéro

(Dizéro a cem baby, made in cdn, yeah, okay)

Sem pressa andando na fé

Me inspiro em todo céu azul (céu azul)

Meu império continua em pé

Essa fita é tipo deja-vu

Desses deja-vu eu ja vi

Visão slow tipo Pimp C

Muitos caras derrubando prédio

Morrendo na praia, falsos Mc’s

Passam os dias, passam as semanas

Todos eles tão atrás de fama

O problema de quem foca em grana

Se não bate as nota, bate neura e drama

Essa parada me fez forte

Pra nos pegar tem que ter sorte

Proteja a cabeça com a Tork

Perazo no beat é tipo Storch

Elevando a potência

Na pura malevolência

Essa porra é minha essência

Fonte de resiliência

Eu boto fé na ciência

Cultura me fez elevar a vivência

Cruzando os dedos, metendo a sequência

Que nós vai vencer com talento e insistência

Eles não mandam tão bem

Não fazem isso também

O fato é que isso vai além

Do que ganhar alguns bens

Eu também quero uma Benz

Mas quero mais do que bens

Se tiver bom para nós

Então aí tudo bem (É isso)

Refrão

Matheus Perazo e Dizéro

053, só falo uma vez

Nós sabe quem é, nós sabe quem fez

053, só falo uma vez

Nós sabe quem é e não foi vocês (2x)

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Retorno aos palcos após a pandemia

Cantora Julie Schiavon traça novos planos para 2023        

por Tatiane Meggiato       

 

Julie Schiavon prepara-se para novas gravações

Julie Schiavon prepara novas gravações musicais

Atualmente com 25 anos, a artista pop pelotense Julie Schiavon já sabia desde seus cinco anos de idade que a sua vida estaria voltada para os palcos. A artista contou que, apesar de saber o que queria desde a infância, foi com a ajuda e apoio da família que, aos 13, começou a fazer aulas e apresentações e, desde 2017, canta profissionalmente.

Neste ano pós-pandemia, Julie conseguiu se reinventar, mas ela mantém as suas referências bem claras. “Eu sinto muita afinidade com o Pop e o Rhythm and Blues (R&B), são os gêneros que eu cresci ouvindo e que construíram minhas maiores referências musicais, mas também sou fã de Trap e de qualquer estilo que se conecte com a minha alma, sabe? Meu estilo favorito é o sentir! [risos].”

Outro aspecto importante que Julie destacou sobre sua carreira foi o fato de ser mulher em uma profissão que o sexo masculino predomina tanto ainda. A artista destacou pontos negativos como a falta de credibilidade, ser questionada quanto à sua capacidade, além de estar exposta a assédios.

“Não somos levadas a sério e ainda criticadas quanto a nossa firmeza em defender o que acreditamos. Diferente dos homens que, muitas vezes, são, inclusive, ovacionados por serem agressivos”, observa.

Sobre a pandemia e este período de retomada, Julie contou que a crise veio logo quando estava começando a fazer a sua agenda de shows individuais. A artista lembra que, no início, como para todos os artistas, foi muito angustiante. Mesmo com tudo isso, ela foi muito privilegiada em relação aos seus trabalhos na internet. Conseguiu usar o tempo para manter e ampliar a sua rede de público. Como ela já gravava no modo home office, pode seguir com seu trabalho, além de obter novos contatos com produtores que jamais imaginava.

“Minha maior dúvida [durante a pandemia] era se, na retomada dos eventos, eu conseguiria fazer shows novamente. E, hoje, no finalzinho de 2022, posso dizer que sou muito grata e realizada com as oportunidades que tive no decorrer do ano!”

Julie conta que a retomada aos palcos não foi fácil, que não gosta nem de ver os vídeos das primeiras apresentações pós-pandemia. Mesmo com os resultados alcançados, a reconexão com a energia do palco, depois de tanto tempo longe, não foi fácil nem imediata. O preparo vocal precisou ficar em dia com a retomada das aulas de canto apenas no início deste ano.

Agora, Julie busca principalmente dar continuidade ao seu trabalho. “Espero de coração que a gente não precise enfrentar novamente aquele cenário pandêmico, mas meu plano atual, na verdade, é concluir alguns projetos musicais que tenho produzido há um tempo e que são minhas grandes apostas para me inserir de fato no mercado musical”, diz.

Sobre os planos para 2023, Julie Schiavon está otimista, com dois projetos de gravação a caminho. Um deles será com o produtor musical e engenheiro de mixagem Kass e o outro com uma de suas maiores inspirações que é o Dj Micha, um dos maiores talentos da nossa região. “Já estou animadíssima para soltar estes sons para o mundão e dar mais este passo na minha trajetória! Muito obrigada pelo papo e por me permitir compartilhar um pouquinho de mim e do meu trabalho!”, despede-se a cantora.

Veja no YouTube, o vídeo “Anos 2000”:

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Bodies, Bodies, Bodies: terror satiriza geração Z

Filme lançado pela produtora A24 recria tradicional slasher, mas com uma pitada de humor e crítica social sobre a geração das redes sociais         

Por Helena Isquierdo          

Amandla Stenberg (Sophie), Maria Bakalova (Emma), Chase Sui Wonders (Bee) e Rachel Sennott (Alice) no filme de Halina Reijn    Fotos: ©A24/Divulgação

 

Traduzido para o português como “Morte, Morte, Morte”, o filme longa “Bodies, Bodies, Bodies”, de Halina Reijn, conta com 95 minutos de duração que equilibram terror e humor, enquanto satirizam o universo da “geração Tik Tok”. Quando o roteiro do filme surgiu, a ideia era manter o tradicional estilo envolvendo jovens sendo mortos e um assassino misterioso à solta. Mas não espere isso desta produção. O gênero de terorr slasher, em que as vítimas são geralmente mulheres ou adolescentes mortos por ataques violentos, é repaginado e trata de assuntos atuais.

No início, tudo parece rotineiro aos nossos olhos. Um grupo de jovens ricos de 20 e poucos anos se reúne durante uma tempestade para passar o final de semana em uma mansão – claro que afastada da cidade. Começamos conhecendo a história de Sophie (Amandla Stenberg), uma jovem em recuperação da sua dependência química, que após meses longe dos amigos leva a namorada Bee (Maria Bakalova) para o encontro tão planejado entre o grupo. Por ser a única personagem que destoa do restante do grupo, Bee nos causa dúvidas e desconfianças ao longo do filme.

O grupo de amigos que se encontram na mansão é formado por Jordan (Myha’la Herrold), Emma (Chase Sui Wonders), Alice (Rachel Sennott) e David (Pete Davidson). Além disso, também conhecemos o namorado de Alice, Greg – um homem mais velho e desconhecido por todos.

Poster de “Bodies, Bodies, Bodies”     Imagem: A24/Divulgação

Mas a história só começa, mesmo, quando desavenças e brigas levam Sophie a sugerir um jogo de detetive: as luzes se apagam enquanto o assassino da rodada persegue suas vítimas, que podem ser “mortas” através de um toque. Sempre que alguém é morto no jogo, as luzes se acendem e os sobreviventes precisam descobrir quem foi o assassino. Mas enquanto todos estão fugindo do tal “assassino”, o rumo da brincadeira é alterado quando um amigo aparece morto de verdade.

É nesse momento que o caos começa e o ego de cada personagem vem à tona. Afogados em futilidades, o grupo não entra em acordo e encontra como solução mais fácil um acusar ao outro.

A trama resulta em situações que acontecem apenas porque os personagens estão envolvidos em um universo raso e não conseguem dar a devida importância ao caos que estão vivendo. A vontade de mostrarem-se superiores uns aos outros cria a armadilha perfeita para o destino de cada um que está na história.

Enquanto tentamos descobrir quem está mentindo, e responder a tradicional pergunta do “Quem matou?” compreendemos a acidez e a perspicácia do roteiro ao retratar os jovens da geração Z. Em meio ao terror, sangue e tragédia, o filme satiriza a geração tão obcecada pelas redes sociais. A preocupação com status, e assuntos como cancelamento, toxicidade e a problematização excessiva de tudo são expostos no filme. A linguagem das mídias sociais é presente o tempo inteiro, trazendo, inclusive, uma das cenas mais cômicas e marcantes do filme. A produção tem como peça-chave a crítica à Geração Z, já que todo o enredo é criado a partir de diálogos que só serão absorvidos pelo público que está inserido nesse meio. Apenas quem está dentro desse universo compreende as piadas e as pistas deixadas nas entrelinhas. Sentimos raiva dos personagens, ao mesmo tempo que nos identificamos com eles.

Sophie e Bee buscam a verdade por trás das mortes
Foto: A24/Divulgação

O enredo pode até começar simples. Apresenta um jogo entre jovens e uma sequência de mortes trágicas. Ao longo do filme, as histórias de cada personagem se entrelaçam, e a cada momento acreditamos e desconfiamos de alguém diferente. O conflito cria um ambiente que, o tempo inteiro, é tenso e nos deixa ansiosos para a revelação final. E o que poderia ser monótono, termina de forma surpreendente, gerando uma pitada de inconformismo para o espectador. No final, a mensagem para quem assiste pode transmitir uma sensação semelhante a que cada vítima sentiu com o seu desfecho.

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Fenadoce escolhe nova corte para 2023

Cerimônia elegeu as três novas Baronesas que irão representar a Feira no próximo ano   

Por Micael Carvalho      

Formam a corte eleita de Baronesas da 29ª Fenadoce, as candidatas Kayane Medina Teixeira, representando a Empresa Sertec Serviços Técnicos Contábeis, Larissa Dias Lima, representando a Empresa Óptica Bella Vista e Martaneli Gonçalves de Bittencourt, representando a Empresa Goldee Colchões              Fotos: Michel Corvello

 

Na noite do dia 30 de novembro, foi realizada a cerimônia de escolha da nova corte da Feira Nacional do Doce, no Centro de Eventos de Pelotas. O evento, idealizado pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) Pelotas, teve a participação de 15 candidatas, das quais, três irão representar a 29ª edição da Fenadoce no ano de 2023.

Após as duas primeiras etapas do concurso, compostas por oficinas, atividades em equipe e entrevistas com as candidatas, as participantes realizaram desfiles com trajes finos e casuais.

 

O vice-prefeito e secretário de Desenvolvimento Rural, Idemar Barz, cumprimentou as candidatas vencedoras

 

O vice-prefeito e secretário de Desenvolvimento Rural, Idemar Barz, parabenizou a organização pela realização do evento e destacou a importância das eleitas como Baronesas da Fenadoce. “Nós sabemos a importância que a Fenadoce tem para Pelotas, sendo reconhecida nacionalmente como a Feira do Doce. Desde já estendo meus cumprimentos à corte que deixa a Fenadoce hoje e desejo sucesso às novas soberanas, visto que são elas que levam o nome da Feira e da nossa cidade para diferentes lugares do Estado e do País”, destacou o vice-prefeito.

Os representantes do Executivo Municipal e do conselho gestor do CDL, Daniel Centeno, realizaram a entrega de presentes para as Baronesas que se despedem da corte. Desde a última edição, o concurso deixou de premiar as escolhidas como rainha e princesas, passando a instituir a percepção de equidade entre as soberanas elegendo-as como Baronesas da Fenadoce.

A 29ª edição da Feira Nacional do Doce acontece entre os dias 2 e 18 de junho de 2023, no Centro de Eventos Fenadoce. Na sua programação, as atrações artísticas e culturais são sempre um destaque.

 

A cerimônia de escolha ocorreu no dia 30 de novembro no Centro de Eventos de Pelotas

 

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“Hiroshima”: horrores da bomba atômica através do olhar jornalístico

Mesmo sem trazer grande apelo emocional, livro comove ao narrar com detalhes experiência vivida por seis sobreviventes do ataque nuclear          

Por Ana Beatriz Garrafiel            

Um clarão silencioso. Segundo depois, um barulho estrondoso. Após, uma nuvem de poeira e somente destruição. Esse foi o cenário descrito por John Hersey, quando aproximadamente 77 mil pessoas perderam suas vidas, e outras tantas ficaram com sequelas para sempre. O livro “Hiroshima” acompanha e narra a história de seis sobreviventes da bomba atômica, lançada pelos Estados Unidos nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em 6 e 9 de agosto de 1945, respectivamente.

Com um texto mais objetivo e direto, bem característico do chamado Novo Jornalismo (gênero jornalístico/literário do qual Hersey era um dos principais representantes), a obra traz, aos mínimos detalhes, o cenário antes do atentado. Descreve onde cada um dos sobreviventes estava no momento da explosão e tudo aquilo que eles viveram após a tragédia, até 40 anos depois. 

Hiroshima em 1945, após a explosão da bomba atômica. Foto: Reprodução/The New Yorker

  

Mesmo sendo seis pessoas distintas, com histórias diferentes acontecendo ao mesmo tempo, o livro consegue manter uma narrativa que flui e não deixa o leitor perdido. Na verdade, muito pelo contrário. Apesar de não trazer um apelo emocional muito grande, o livro é capaz de nos envolver e nos conscientizar sobre o que realmente aconteceu naquela cidade japonesa rodeada por belas ilhas e com um futuro próspero, mas que se tornou símbolo de uma das maiores destruições já presenciadas pelo ser humano.

Apesar de sua edição mais recente ter sido lançada há 20 anos, a obra ainda é considerada um clássico atemporal. E não é à toa. “Hiroshima” é uma aula de conhecimento, de humanidade e, principalmente, de empatia. Nos faz entender (ou pelo menos achar que entendemos) o que é perder seus entes queridos, seus amigos, seus objetos pessoais, sua terra natal, sua história. E, quanto mais lemos, na verdade, mais desejamos nunca precisar entender o horror e o sofrimento que aquelas seis vidas ali contadas passaram.

O autor

John Hersey, apesar do nome americano, nasceu em Tianjin, na China, em 17 de junho de 1914. Filho de missionários, retornou aos Estados Unidos com dez anos, onde formou-se jornalista e começou a trabalhar para revistas renomadas, como a Times. Cobriu grandes confrontos, como o de Sicília e a Batalha de Guadalcanal, mas obteve maior êxito e reconhecimento em 1946, após lançar o artigo “Hiroshima” na The New Yorker, narrando a vida de seis sobreviventes da bomba atômica. Entre alguns de seus trabalhos mais notáveis estão “A Bell for Adano”, livro de ficção que o trouxe um Prêmio Pulitzer, “Men on Bataan” e “Into the Valley”. Faleceu em 24 de março de 1993, aos 78 anos.

                    John Hersey, fotografado por Alfred Eisenstaedt                          Foto: Reprodução/Internet

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Projeto arquitetônico para Molhes da Barra vence seleção estadual

Ideia contemplada com segundo lugar visa inovação e restauração de local histórico de Rio Grande     

Por Rayla Ribeiro e Vitor Porto     

Obra constitui marco da engenharia marítima  e foi inaugurada em 1915         Foto: João Gabriel de Moura Rosa Cordeiro

 

O projeto da cidade Rio Grande, que irá revitalizar os Molhes da Barra, ficou como segundo colocado entre os cinco vencedores do concurso Iconicidades, promovido pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Também da região Sul do Estado, a cidade de Pelotas foi agraciada com o primeiro lugar voltado para o estabelecimento de um Centro de Gastronomia.

A vereadora Lu Compiani Branco (MDB) foi responsável por realizar a indicação propositiva na Câmara de Vereadores do Rio Grande do Ecoparque Turístico Molhes da Barra. O secretário de Município do Meio Ambiente da Prefeitura do Rio Grande, Pedro Fruet, acredita que o projeto do Ecoparque irá fomentar o turismo, ressaltando a importância histórica da cidade. “Será mais um passo para o futuro da economia e desenvolvimento do Rio Grande, trazendo uma arquitetura sustentável e integração com a beleza natural que os Molhes da Barra proporcionam”. Segundo Fruet, a proposta prevê a revitalização da Praia da Barra, píer para turismo náutico, áreas de gastronomia, passarelas e um minimuseu.

O projeto Iconicidades

O Iconicidades é um projeto lançado em 21 de junho deste ano e faz parte do programa Avançar, criado pelo Governo do Rio Grande do Sul com o objetivo de crescimento econômico e melhorias na prestação de serviço à comunidade gaúcha. Busca inovar, ressignificar e restaurar conjuntos arquitetônicos históricos para atrair o público e fomentar o turismo no Estado.

Primeiramente, foram indicados 11 conjuntos arquitetônicos que poderiam ser revitalizadas pelo projeto, logo após foram selecionadas cinco para participar do concurso para seleção de projetos. As propostas foram lançadas através de um edital aberto para escritórios de arquitetura de todo o País. A escolha das ideias premiadas aconteceu por avaliação de arquitetos independentes contratados para participar da comissão.

Os cinco projetos definidos, levando em conta a seleção inicial entre 11 municípios, e a escolha dos projetos feitos por arquitetos foram os seguintes:

1° lugar: Pelotas – Centro de Gastronomia

Projeto vencedor: Ricardo Felipe Gonçalves (SP)

2° lugar: Rio Grande – Ecoparque Turístico Molhes da Barra

Projeto vencedor: João Gabriel de Moura Rosa Cordeiro (PR)

3° lugar: Santa Maria – Clube dos Ferroviários: Centro de Inovação e Economia Criativa

Projeto vencedor: Augusto Longarine (SP)

4° lugar: Cachoeirinha – Complexo Casa de Cultura

Projeto vencedor: Rodrigo Troyano Prates (RS)

5° lugar: São Leopoldo – Complexo Casa da Feitoria/Museu do Imigrante

Projeto vencedor: Patrícia de Freitas Nerbas (RS)

O Iconicidades pagará aos arquitetos responsáveis pela elaboração dos projetos vencedores prêmios de 1°, 2° e 3° colocados entre R$10 mil e R$20 mil. As cidades que tiveram suas arquiteturas selecionadas entre os primeiros colocados receberão valores aproximados de R$580 a R$749 mil. Além disso, os municípios terão o compromisso de executar e implementar as iniciativas necessárias para a realização das obras.

A proposta é voltada para ressignificar e estimular a retomada de espaços arquitetônicos icônicos nas regiões escolhidas – ambientes que façam parte da identidade local, seja pela localização, pelo estilo arquitetônico que imprimem, ou mesmo pelo uso que deles se fez no passado.

Na primeira etapa do projeto, foram selecionadas arquiteturas simbólicas de cinco municípios gaúchos, bem como as propostas de cada um para dar a elas um novo sentido, promovendo o estímulo à inovação e à economia baseada no capital intelectual e contribuindo para criar ecossistemas criativos e que estimulem novos negócios.

O projeto selecionado de Pelotas contemplou as melhores propostas de edificação anexa à antiga sede do Banco do Brasil no município, bem como um plano de ocupação do prédio histórico, a fim de que o conjunto contemple o Centro de Gastronomia.

A história dos Molhes da Barra

A construção dos Molhes da Barra, em Rio Grande, é considerada um marco na história gaúcha e da cidade do Rio Grande, sendo uma das suas maiores obras de engenharia marítima.

Durante séculos, navegadores lutaram para vencer os desafios da natureza na região sul, pois os navios enfrentavam sérias dificuldades para alcançar o Porto do Rio Grande. Ventos fortes, bancos de areia, tempestades e o baixo calado do canal, cerca de quatro metros no século 19, limitavam o potencial da cidade.

A ideia, ou sonho, de construir um quebra-mar na entrada da Lagoa dos Patos surgiu ainda em meados do século 19. Com um convite do Imperador D. Pedro II, o engenheiro brasileiro, Honório Bicalho – homenageado na rua do atual Porto Novo – elaborou o projeto de dois quebra-mares, um de cada lado do canal, como a solução definitiva. Visionário, Honório faleceu antes de ver o início das obras.

Foi somente na presidência de Rodrigues Alves e Afonso Pena, em 1909, que as obras iniciaram. Em um esforço colossal, 120 quilômetros de ferrovia foram construídos para transportar pedras vindas de Monte Bonito e Capão do Leão, cerca de 1,7 toneladas por dia. Dois guindastes Titan foram instalados para moverem as pedras gigantescas e cerca de quatro mil operários trabalharam na construção dos dois moles. No total, quatro milhões de toneladas de pedras foram usadas na construção.

No dia 1° de março de 1915, o navio Benjamin Constant, da Marinha do Brasil, cruzou os dois braços de pedra que se estendiam por quatro quilômetros mar adentro, assim, inaugurando os Molhes da Barra.

Atualmente, os Molhes permitem que o Porto do Rio Grande tenha um calado de 15 metros de profundidade, comportando a navegação de grandes navios, como plataformas de petróleo, em águas calmas e seguras no terceiro maior porto marítimo do Brasil.

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COMENTÁRIO

Imagem tocante no filme policial “A Suspeita”

Drama tem enredo com fragilidades, mas ganha com uma incrível atuação e uma representação sensível dos efeitos do mal de Alzheimer     

Por Giéle Sodré         

A atuação de Glória Pires como Lúcia é um destaque da produção            Fotos: Divulgação/Imagem Filmes

“A Suspeita”, filme protagonizado por Glória Pires, estreou no 50º Festival de Cinema de Gramado, ocorrido neste ano, e lhe rendeu o prêmio Kikito de Melhor Atriz, já indicando o que é possível esperar do filme dirigido por Pedro Peregrino e com produção da própria Glória.

Na trama, somos apresentados à Lúcia (Glória Pires), uma comissária da inteligência da polícia do Rio de Janeiro que, após ser diagnosticada com Alzheimer precoce, luta para fechar seu último caso antes da aposentadoria forçada pela doença. Como se isso não fosse o suficiente, ela é levada a ter que lidar com a corrupção policial em seu local de trabalho e com a suspeita de que ela teria cometido uma queima de arquivo, assassinando duas pessoas.

O longa acompanha o fim da lucidez de Lúcia conforme a doença se agrava e a narrativa nos dá a sensação de peças faltando, assim como ocorre na mente da protagonista. A personagem fica entre a cruz – seu trabalho ao qual dedicou a vida sendo corrompido e destruído – e a espada – sua própria mente se destruindo, perdendo sua noção de tempo, espaço e memórias. Lúcia ainda se nega a aceitar um destino de esquecimento em que nada de seu esforço e dedicação teriam valido a pena.

Embora categorizado como um suspense policial, “A Suspeita” poderia muito bem se encaixar como um drama psicológico. O sofrimento íntimo que a atriz Glória consegue passar em sua atuação como Lúcia é de um brilho magistral. Demonstra a maneira como seu cérebro não mais acompanha o tempo e os acontecimentos da mesma forma, conforme a doença vai avançando. Em seus momentos de desespero, ela luta pela lucidez, por manter memórias, por não esquecer e não ser esquecida.

Os dilemas de Lúcia são muito mais o foco do filme do que a própria investigação. Sua dedicação à polícia a impediu de formar uma família, algo que a mesma expressa com dor e desespero, refletindo se seu trabalho valeu tudo aquilo que sacrificou por ele.

A solidão de Lúcia é dolorida, reflete a vida que, em algum momento, poderia ter tido e pressente seus temores mais profundos. Há o medo de se ver desamparada em seus momentos mais frágeis, quando não mais puder exercer aquilo pelo que batalhou e não tiver mais ninguém à sua volta que cuide de sua integridade física. Seu tio, um padre mais velho, não pode cuidar dela por causa de suas obrigações da igreja. Lúcia se perde durante atividades que podem causar danos físicos e ressente-se de relacionamentos sobre os quais abriu mão.

O drama psicológico da personagem compete com elementos do suspense policial na narrativa do filme

 

A fotografia do filme reflete o estado mental da protagonista. Os cortes e os planos soam por vezes como retalhos soltos de uma narrativa a qual perdemos uma parte, mesmo que ainda possamos acompanhar a história. Os lampejos mentais de Lúcia também são acompanhados pela imobilidade da câmera, pelo desfoque em volta da personagem e pelos efeitos luminosos. As imagens refletem o que se passa com a policial  com o encontro e a perda de foco nos objetos. São eles que ajudam ela a lembrar-se das suas atividades do dia a dia. É como se a história fosse vista por dentro do cérebro de Lúcia em conflito consigo mesma.

A narrativa trata da vida da personagem, mas o enredo acaba por se perder muito na forma típica de um suspense policial. Não acompanhamos de onde saem as conclusões de quem estaria envolvido nos acontecimentos, além da superficialidade a que Lúcia se apega, pelas informações que ela mesma rabisca e faz lembretes repetitivamente enquanto investiga. É um roteiro fraco, ainda que brilhe com a atuação de Glória Pires e sua franqueza e sutileza ao lidar com a decomposição da mente humana pelo mal de Alzheimer. Ao acompanharmos como Lúcia se perde, nós mesmos nos perdemos na história que estamos acompanhando.

Mesmo assim, é um filme tocante que nos carrega pela mente perdida de uma pessoa com ideais e missões que vê todo um futuro e um passado ruindo frente a algo que não pode ser mudado. É uma imagem vívida do que a doença causa e uma atuação sensível e de impressionante maestria para o gênero.

Uma pedra preciosa do cinema nacional que, embora não tão bem lapidada, ainda brilha com diferentes cores lindamente.

Veja o trailer do filme que está disponível nos serviços de streaming Amazon Prime Video e Youtube.

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Cordão Carnavalesco agita comunidade pelotense

Atividade promovida por grupo de instrumentistas reuniu uma multidão na rua Sete de Setembro       

Por Alexsandro Santos        

 

O Centro de Pelotas foi animado com uma pequena prévia do Carnaval com os sambistas do Ponto Chic

Na tarde do sábado, dia 12 de novembro, aconteceu mais uma roda de samba do Grupo Cordão Carnavalesco do Ponto Chic. Geralmente promovido no Mercado Público de Pelotas, a ação aconteceu na rua Sete de Setembro, no Centro da cidade, e contou com a participação de diversas pessoas que passavam pelo local. Com o objetivo de retomar a tradição dos antigos carnavais de rua, o público cantou e dançou músicas consagradas por escolas de samba locais.

Caroline Nunes, 28, atendente de uma farmácia próxima do local, participou do evento ao final do seu expediente: “eu trabalho aqui perto, na farmácia da esquina e vi uma aglomeração estranha de pessoas. Fui ver o que era e adorei o que encontrei. Convidei uma amiga e já vim participar do samba. Melhor rolê para um fim de sábado.”

Já para a Eliana Araújo, 65, aposentada, eventos como esse são essenciais para retomar a tradição e promover a integração da comunidade. “Adorei relembrar algumas músicas, dançar e descontrair neste fim de tarde. Acho que esses tipos de ações são super importantes para a valorização da cultura local”, conta Eliana.

 

A tradição do Carnaval empolga várias gerações com a lembrança de várias músicas consagradas

 

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Mostra de Cinema Latino-Americano de Rio Grande acontece em dezembro

Quarta edição do evento ocorre entre os dias 5 e 9 do próximo mês     

Por Vitor Valente      

A edição deste ano volta a ter programação totalmente presencial

Com cinco exibições de cinema ao ar livre, a 4ª edição da Mostra de Cinema Latino-Americano de Rio Grande promete ser a maior já realizada. Com uma temática ligada às intersecções da cultura portuária da cidade, a Mostra promove atividades gratuitas de lazer e capacitação audiovisual, além de exibições de filmes e mesas de debate. Com cinco dias de programação, a edição inova ao descentralizar as atividades que acontecem entre os dias 5 e 9 de dezembro.

As exibições de cinema ao ar livre ocorrem em diferentes localidades do município. Além do Centro e do Cassino, bairros periféricos como a Junção, Ilha dos Marinheiros e Taim recebem parte da programação. Segundo os organizadores, o objetivo é abraçar a comunidade rio-grandina com um espaço de arte, cultura e educação. As demais atividades acontecem no Campus Rio Grande do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), localizado na Rua Engenheiro Alfredo Huck, 475, Centro.

Após dois anos de atividades limitadas pela pandemia, a Mostra de 2022 acontece de maneira totalmente presencial. Segundo o produtor executivo Victor Pinheiro, um dos objetivos é promover discussões, além de fomentar a produção de cinema por meio das oficinas de formação. “A gente busca proporcionar um espaço de capacitação, informação e discussão sobre audiovisual, cinema, sobre o que é produzido na cidade, no Estado, no Brasil e também na América Latina. Contamos com a participação de realizadores de diferentes lugares”, explica Pinheiro.

     Terceira edição foi realizada em formato híbrido devido à pandemia, com cine drive-in como única atividade presencial         Foto: Divulgação

 

Com cinco exibições de cinema itinerante, Victor garante que o objetivo é expandir as atividades. “A ideia é conseguir fazer com que esse evento tão importante para a cidade saia do centro urbano e chegue em outros lugares. Além de discutir, através do cinema, a progressão desses espaços”, destaca. “A temática cultural que vem do porto e da relação com o mar tem toda uma influência com a cultura das cidades portuárias. Então, esse é o nosso interesse, saber como esse espaço influencia na construção e na cultura dessas cidades”, conclui.

O idealizador acredita que a Mostra tem potencial para contribuir com uma visão renovada sobre o cinema latino-americano. “A gente tem que discutir o cinema como comunidade, na América Latina. É um cinema diferente das grandes produções que a gente vê, geralmente norte-americanas. Então contar um pouco sobre o que é cinema latino-americano, sobre nossas próprias discussões, nossas histórias, nossas problemáticas, incentiva que a comunidade se aproprie dessas temáticas”, expõe Pinheiro.

Ele ainda expõe a importância de pensar novas narrativas através de uma estética latino-americana. “Possibilitar essa discussão sobre alguns projetos específicos que têm histórias marcantes, interessantes e até inspiradoras pode vir a influenciar outras pessoas. A ideia é falar também dessa estética de cinema”, explica. “É importante para que os artistas tenham uma visão, um olhar diferente sobre suas próprias obras, qual o objetivo delas, como atingir outras pessoas e o que você quer tocar nessas pessoas. Vai ser um processo bem bacana”, conclui o produtor.

                 O diretor Ah Nanse participa da mesa sobre videoclipe no dia 5 de dezembro              Foto: Reprodução/Instagram @oahnanse

Uma das mesas de discussão tem como temática os videoclipes musicais. Um dos debatedores será Nicollas Farias, mais conhecido pelo nome artístico Ah Nanse. Natural de Rio Grande, atua como diretor, fotógrafo e editor. Com mais de 60 videoclipes dirigidos, Ah Nanse afirma que o público pode esperar uma conversa honesta e transparente. “Sobre os processos, sobre todo o bastidor por trás da construção de videoclipes, com histórias sobre os percalços que a gente passa por estar geograficamente distante do mainstream”, assegura.

O diretor ressalta a riqueza cultural do município. “Rio Grande é, historicamente, uma cidade muito rica, com muitos artistas e produção cultural”, frisa. “O que falta é essa articulação de projetos e eventos gratuitos e públicos. Por isso alguns eventos têm pouca divulgação e chegam a um número muito limitado de pessoas, que são aquelas que são agentes da cultura e já estão envolvidas. Acho que é muito importante criar esse movimento do cinema dentro da cidade, para que a gente não fique limitado a assistir os filmes que os streamings oferecem ou então fadados ao circuito de cinema que fica limitado às produções de maior clamor popular, como filmes de heróis ou de comédia”, declara.

Ah Nanse garante que a realização da Mostra de Cinema Latino-Americano de Rio Grande o inspira. “Eu tenho muito interesse em entrar em ambientes que merecem e carecem dessa cultura, como a própria periferia. Então é importante que a gente mostre que é possível. Porque muita gente da periferia, gente preta, acaba não tendo acesso e sequer sonha com o que se pode tornar, como um diretor que trabalha com audiovisual, e nem sabe que é possível, que existem pessoas que ganham a vida e trabalham fazendo arte dentro da própria cidade”, finaliza.

A programação completa está disponível abaixo e todas as atividades são gratuitas. As inscrições nas oficinas podem ser realizadas no site do evento.

Segunda-feira (5/12)

14h30 – 17h: Mesa sobre Videoclipe com  A Corte Filmes e Ah Nanse – IFRS

20h30 – Cinema de Rua – Rincão da Cebola, Centro

Terça-feira (6/12)

14h30 – 17h: Oficina Introdução à Produção Audiovisual por Flávia Seligman – IFRS

20h30 – Cinema de Rua – Orla da Rua Henrique Pancada, Junção

Quarta-feira (7/12)

9h – 12h30: Oficina Narrar com a câmera por Roberto Cotta – IFRS

20h30 – Cinema de Rua – Praça do Taim

Quinta-feira (8/12)

9h – 12h30: Oficina A imagem é uma sereia por Lívia Pasqual – IFRS

20h30: Cinema de Rua – Recanto Nossa Senhora de Lourdes, Ilha dos Marinheiros

Sexta-feira (9/12)

9h – 12h30: Oficina A imagem é uma sereia por Lívia Pasqual – IFRS

20h30: Cinema de Rua – Praça Didio Duhá, Cassino

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