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Em turnê nacional, artista apresentou seu monólogo cômico-dramático no Theatro Guarany em Pelotas
Por Maikelly Silva e Rafaela Silveira
Com excelente expressividade corporal, Mateus Solano interpreta a vida rotineira de um personagem também ator Fotos: Dalton Valério/Divulgação
A peça teatral “O Figurante” conta a história de Augusto, um ator cheio de expectativas, que só consegue papéis de figurante nos trabalhos propostos, e que assiste à vida dos outros (e a própria) de camarote. Durante a peça, o público acompanha a frustração e as repetições na vida do ator, até um momento de delírio, em que se imagina e grita pedindo por reconhecimento e valor. Essa história ganha ainda mais potência ao sabermos que é o primeiro monólogo interpretado por Mateus Solano, e que nasce de improvisações reais. Poderia ser uma narrativa triste, mas é apresentada de uma forma envolvente, engraçada e extremamente humana. O texto foi escrito em conjunto por Isabel Teixeira, Solano e Miguel Thiré, este último também responsável pela direção. O público pelotense pôde conferir a montagem no dia 13 de novembro, no Theatro Guarany.
O ponto principal do espetáculo, além do talento notável do ator no palco, é a vulnerabilidade exposta. Acompanhamos momentos engraçados, tristes e constrangedores, que aproximam e mostram um lado íntimo, que todo mundo tem. A montagem simples, sem cenários, evidencia essa sensação intimista, em que tudo gira em torno do corpo e da voz do personagem. Pode ser que o desconforto e a tristeza tenham um certo poder para o desenvolvimento pessoal, então, entre as risadas, é possível que haja algum tipo de identificação com o personagem.
Mateus Solano
O que mais impressiona é o domínio técnico e emocional de Solano no palco. Formado em Artes Cênicas e com uma trajetória sólida, inclusive na televisão, ele mostra no palco um trabalho vocal e corporal impecável. Somos transportados para a vida solitária e miserável do personagem com as simples mudanças de postura, os tons de voz e o ritmo da respiração para criar ambientes completos. Além disso, chama a atenção como Solano domina cada canto do palco, mesmo quando os movimentos são mínimos. Ele transforma pequenos gestos em grandes acontecimentos, e isso só pode ser possível quando se tem uma consciência plena sobre o próprio corpo e o efeito que se pode causar no público.
Essa encenação “do mínimo” é um lembrete poderoso da essência do teatro. Solano reforça que basta um ator talentoso e um texto forte para mover pensamentos. Para quem adora a forma como o teatro funciona, é incrível ver o artista usar a arma mais poderosa para se conectar com o público: a vulnerabilidade. Além disso, é intrigante a inteligência do minimalismo, pois, assim, os olhares se prendem apenas no ator, em cada microexpressão que transforma a narrativa.
O personagem Augusto traduz sentimentos que todos já tivemos: a sensação de não ser notado, o medo de assumir a liderança e a tendência a se contentar com o papel passivo. É por isso que “O Figurante” é uma peça tão envolvente, principalmente considerando que vivemos em tempos de autocobrança e comparação constante.
Mateus Solano é impecável. Sua atuação transforma o mínimo em algo extraordinário, e ele convida a sair do teatro com a certeza de que, sim, talvez seja a hora de parar de figurar e, finalmente, assumir o papel principal da própria vida.
Com uma estética que dá valor aos mínimos detalhes ator faz com que cada um dos seus gestos ocupe todo o palco
No fim, a peça deixa uma sensação que ecoa. Solano transforma a vida de um homem “invisível” em um espelho, provocando uma reflexão sobre o lugar que ocupamos e o espaço que tememos, mas precisamos assumir. É o tipo de peça que acompanha o espectador por um bom tempo, não pela grandiosidade de cenários ou por um conteúdo didático totalmente explicado, mas pela simplicidade tocante e identificável.
“O Figurante” acerta em cheio ao tocar na nossa personalidade: a sensação de sermos figurantes de nós mesmos, sempre deixando o papel principal para depois. É uma peça que, mesmo com a simplicidade, obriga cada um a pensar sobre o controle da sua própria narrativa.
Que privilégio poder desenvolver um vasto repertório cultural com obras brasileiras, de atores que valorizam e apreciam o teatro. Um espetáculo envolvente, engraçado, íntimo e que gera uma reflexão profunda sobre o nosso protagonismo.
Nova adaptação do clássico do terror comprova as habilidades do diretor como um competente criador de histórias fantásticas, mas esquece detalhes que tornam o personagem da obra literária de 1818 tão único
Por Vinicius Terra
O filme “Frankenstein”, dirigido e escrito por Guillermo del Toro, foi lançado recentemente na Netflix, no dia 7 de novembro. O lançamento marca a segunda parceria cinematográfica da plataforma de streaming com o diretor, que antes havia colaborado na adaptação em stop-motion “Pinóquio por Guillermo del Toro” (2022), vencedor do Oscar de Melhor Animação, na cerimônia de 2023. De forma resumida, “Frankenstein”, baseado na obra homônima de Mary Shelley, lançada em 1818, conta a história de um cientista que dá vida a uma forma humanóide, criando uma série de acontecimentos ligados à responsabilidade bioética.
A Criatura (Jacob Elordi) se vê no espelho pela primeira vez ao lado de seu criador Victor Frankenstein (Oscar Isaac) (Fotos: Divulgação/Netflix)
Quando uma história é tão icônica e atemporal como “Frankenstein”, que inspira obras e que ainda é referenciada na cultura pop após 200 anos da publicação da obra original, no Reino Unido, é difícil evitar comparações ao avaliar uma nova adaptação. A fim de contextualizar, além da obra ser um clássico do horror, ela é considerada o precursor da ficção científica na literatura por muitos historiadores. Portanto, é inevitável fazer um paralelo entre as duas obras, isto é, os feitos positivos e negativos do diretor quando equiparado à obra gótica do século XIX.
Uma adaptação nada mais é do que uma interpretação. E na interpretação de del Toro, o diretor explora as lacunas para tornar o visual mais apelativo, enquanto o livro é contido e tudo se passa nos pensamentos e sentimentos dos personagens. Essa diferença é crucial na adaptação dos formatos e, não necessariamente, significa algo ruim ou bom por si só. O prelúdio do filme, a título de exemplo, começa com a aparição da Criatura (Jacob Elordi) em uma cena de ação, perseguindo os marinheiros e matando-os em um banho de sangue – enquanto no livro presenciamos algo mais soturno e assombrador.
Estes tipos de mudanças são necessários para a adaptação de um material, que até funcionam bem aqui. Porém, o filme parece perder um pouco de rumo quando se apresenta como uma versão pasteurizada e processada dos eventos de origem. Del Toro parece querer explicar demais as lacunas deixadas pelo livro, e transforma todos os atos cruéis cometidos pela Criatura em atos realizados pelo Victor Frankenstein (Oscar Isaac). O que antes era uma disputa filosófica entre quem é a verdadeira Criatura e o monstro de “Frankenstein”, no filme parece ser jogado em tela exatamente quem o diretor quer mostrar como o monstro real — o cientista Victor. Os questionamentos e a sutileza do livro de Mary Shelley transformam-se em cenas com diálogos mais apressados e sem tanta profundidade.
É no personagem de Victor que, talvez, possamos observar as mudanças de maior peso da adaptação, assim como as que tornam a obra menos sutil. No filme, Victor narra que seu pai odiava sua mãe e a ele, o que parece uma tentativa de Gillermo del Toro tornar o personagem amargurado por conta de sua criação e da perda da mãe enquanto ainda era uma criança. Enquanto no livro, o pai de Victor era bastante compreensivo e amoroso com a mãe. Parece que essa mudança serve para garantir ao filme uma razão de ser que na obra original não existia – às vezes, as coisas são apenas o que são e nada além.
Quanto aos personagens periféricos, Elizabeth (Mia Goth) parece ser um dos pontos centrais da mudança nessa adaptação. Ela está mais presente, ainda que, agora, talvez resumida a um papel mais romântico ainda do que na obra original, apenas reconfigurado. Ainda assim, ela tem uma personalidade própria, curiosa e interessada pelas pequenas coisas da humanidade. Um outro personagem especialmente simbólico na vida de Victor é Henry Clerval, que some completamente dessa adaptação, ainda que alguns traços sejam transportados para o irmão do protagonista, William (Felix Kammerer). No livro, Clerval é o melhor amigo de Victor, e o oposto dele. Essa troca entre eles, que era bastante intimista na obra original, faz falta na adaptação, que agora parece não ter um contraponto à megalomania de Victor.
William (Felix Kammerer) e Elizabeth (Mia Goth) acompanham com receio as ações do doutor Frankenstein
Apesar disso, o longa-metragem toma um rumo interessante quando começa a versão da Criatura sobre os fatos. A segunda parte do livro, da Criatura vivendo na floresta com a família pobre, é a mais importante para entendermos o processo de aprendizagem do monstro, principalmente, quando ele aprende que a violência é intrínseca à humanidade. Neste ponto, o diretor conseguiu transpor para o audiovisual perfeitamente como a Criatura se sente ao confrontar a humanidade pela primeira vez. Nessas partes mais isoladas da Criatura, o diretor consegue expandir e deixar o visual bem emocionante, da forma como a história merece.
E por falar em visual, provavelmente, o melhor aspecto desse “Frankenstein” é como as cores são trabalhadas e como os cenários são construídos. Não é mistério para ninguém que Guillermo del Toro sabe falar de monstros em sua obra e construir mundos mágicos como ninguém — desde o mundo de fadas distorcido de “O Labirinto do Fauno” (2009), até como ele mostra essa Europa do século XIX do jeito gótico imaginado por Mary Shelley. Além dessa parte positiva, há escolhas que funcionam bem dentro da proposta visual do diretor, entre elas a figura do anjo da escuridão nos sonhos de Victor, uma das maneiras pelas quais del Toro trabalha os aspectos mais simbólicos.
A criatura escapa para a floresta, em uma cena reminiscente de Hamlet
No fim das contas, não é um filme ruim, porém mediano, o que o torna decepcionante não só para quem já leu o livro, mas também para aqueles que conhecem a obra de Guillermo del Toro, que já produziu adaptações melhores e mais profundas. O diretor, de modo geral, domina a tradução de formatos, de um livro com uma narrativa baseada em cartas e narrações de personagens, para momentos de maior ação. Em síntese, o filme funciona bem para quem quer passar um tempo com cenas bonitas e momentos emotivos, ainda que um pouco superficiais. O longa-metragem já está disponível para streaming na Netflix.
Trazendo referências ocidentais o anime Gachiakuta se destaca fora do Japão e causa controversas no Oriente
Por Gustavo Oliveira
A arte sempre esteve profundamente ligada à cultura. Quando pensamos em um país ou região, são justamente os costumes, as cores e os símbolos mais recorrentes que moldam o imaginário coletivo. Com o Japão não é diferente. A simples menção à “Terra do Sol Nascente” costuma evocar imagens como quimonos, sakuras em flor (flores de cerejeira) e, claro, os animes. Estes são elementos que, para muitos, definem visual e culturalmente o país.
Durante milênios, o Japão consolidou uma tradição estética própria. Mesmo com o crescimento tecnológico e modernização de sua engenharia, buscaram por minimalismo, disciplina visual e harmonia com a natureza, mesclando referências históricas e uma modernidade estilizada. Essa identidade visual forte é uma das razões pelas quais a cultura japonesa conquistou o mundo tão rapidamente nas últimas décadas.
O crescimento tardio dos animes no Ocidente
Nos últimos anos, a cultura dos animes passou por uma expansão inédita no Ocidente. O que antes era nichado e difícil de acessar, hoje está disponível a poucos cliques, impulsionado pela globalização digital e pelo avanço das plataformas de streaming.
Um fato que reforça essa visão é a presença expressiva de animes no cinema, principalmente neste ano com títulos como “Demon Slayer” e “Chainsaw Man” que, respectivamente, atingiram um faturamento de U$ 700 milhões e U$ 168 milhões. Consolidaram a indústria dos animes no cinema e abriram os olhos de grandes empresas para um investimento maior nesse meio, já que “Demon Slayer”, por exemplo, lucrou 34 vezes o valor investido.
Mas por que esse sucesso só chegou agora?
Historicamente, os animes eram produzidos para o público japonês e refletiam valores, rituais, referências sociais e códigos culturais específicos. Até os anos 2000, a indústria não tinha como prioridade a internacionalização: concentrava-se em atender nichos domésticos, desde animações infantis até séries adultas exibidas no fim da noite. As narrativas, os arquétipos e até a construção visual eram moldados para fazer sentido dentro do cotidiano japonês, não para conquistar o mercado global.
O anime/mangá: Gachiakuta
Lançado em fevereiro de 2022, “Gachiakuta” — escrito pela autora Kei Urana — foge da estética tradicional que marcou a indústria por décadas. A obra apresenta um universo marcado pelo underground, pelo grafite, pela moda de rua e por uma forte influência do hip-hop.
A história de ação e fantasia sombria acompanha Rudo, um jovem da periferia de uma cidade flutuante que é falsamente acusado de assassinato e exilado para o “Poço”, um lixão infernal habitado por monstros. Lá, ele precisa dominar um novo poder e se unir aos “Limpadores” para lutar contra os monstros e buscar vingança contra aqueles que o injustiçaram.
Cena de Gachiakuta com um personagem de cabelos claros mostrando duas expressões intensas: primeiro com olhos arregalados e sorriso agressivo, depois com um sorriso fechado e tenso
Em vez de símbolos historicamente associados ao Japão, o mangá adota uma estética mais próxima das culturas urbanas ocidentais. Kei tem uma forte inspiração na cultura negra americana, principalmente no design de seus personagens, o uso de roupas largas e até o modo de agir e a personalidade de cada personagem é muito diferente do comum visto em obras vindas do Japão. Ao passar as páginas se percebe — mesmo que não proposital — uma relação da estética de Gachiakuta com o expressionismo alemão dos anos 1910/1920, os ambientes caóticos, a estética suja, quase feita à mão e as expressões dos personagens muito exageradas e extremas.
Gachiakuta: Medíocre no Oriente, sucesso no Ocidente
Essa escolha impactou diretamente sua recepção no mercado japonês. Antes do lançamento do anime, no início de 2024, Gachiakuta registrava queda nas vendas e era visto como uma obra mediana. Críticos e parte do público japonês consideravam a estética “pouco familiar”, distante da identidade visual que tradicionalmente molda a cultura do mangá.
No entanto, quando o anime chegou ao Ocidente, ocorreu o oposto. A estética street, o ritmo energético e a atmosfera suja e industrial chamaram atenção imediata. Com o aumento da visibilidade internacional, o mangá voltou a crescer em vendas dentro do próprio Japão, um fenômeno impulsionado justamente por seu diálogo com culturas externas.
Crunchyroll é uma plataforma on-line de streaming internacional com foco em distribuição de mídias orientais, incluindo anime, mangá, doramas (séries de TV asiáticas), música e entretenimento eletrônico. Camila Moura, 22 anos, recepcionista e fã de anime desde os nove, conta que conheceu Gachiakuta por meio de campanhas de divulgação no TikTok. “Estava aparecendo muito comercial da Crunchyroll, e de cara o que mais me chamou a atenção foi o traço e o estilo do anime. Ao mesmo tempo que a estética puxa para os anos 1990/2000, ainda é muito atual”, afirma.
Ela destaca também o impacto visual do personagem Enjin, especialmente por conta das tatuagens. Esse comentário evidencia um ponto importante para entender por que a obra pode ter menor repercussão no Oriente. No Japão, tatuagens — sobretudo quando visíveis — ainda carregam uma forte associação histórica com a yakuza (organização criminosa), o que faz com que muitos espaços, como piscinas e banhos termais, proíbam a entrada de pessoas tatuadas. Enquanto parte da população mais velha mantém a visão de desconfiança, as gerações mais jovens já encaram tatuagens como moda e expressão artística. A rejeição, com certeza diminuiu, mas nada comparado ao ocidente.
Painel do mangá de Gachiakuta mostrando o personagem Enjin, com cabelo de cor clara e tatuagens
Por que o Japão resistiu ao hip-hop por tanto tempo?
Para entender essa resistência inicial, é preciso lembrar que o Japão é uma sociedade de “alto contexto”, na qual grande parte da comunicação é implícita e, ao mesmo tempo, compartilhada por aqueles que se identificam culturalmente. Como afirma o professor japonês Shoochi Takaaki ao canal do YouTube “Eu Falo Japonês”, “na língua japonesa, mesmo que ninguém diga certas coisas, elas são óbvias para todos”.
Uma cultura de alto contexto é uma cultura ou sociedade que se comunica predominantemente por meio de elementos contextuais, como formas específicas de linguagem corporal, o status de um indivíduo e o tom de voz empregado durante a fala. As regras não são escritas ou declaradas de forma direta ou explícita.
Em culturas assim, os membros compartilham repertórios, códigos e expectativas muito rígidas. “Se um estudante japonês cometer um erro no modo de vida ou escolher uma palavra inadequada, pode receber uma resposta dura da sociedade”.
A cultura hip-hop só chegou ao Japão nos anos 1980 e, no início, não foi recebida como uma forma legítima de expressão artística.
O país, sendo pautado por normas sociais rígidas, educação disciplinada e forte expectativa de conformidade, via o hip-hop como uma manifestação ligada à rebeldia e à delinquência juvenil. O grafite era rotulado como vandalismo, enquanto roupas largas, correntes e visual de rua eram percebidos como uma ruptura com os códigos tradicionais de aparência e comportamento.
Painel do mangá Gachiakuta onde dois artistas encapuzados pintam um grande mural urbano
Com o tempo, o Japão reinterpretou o hip-hop de sua própria forma, criando versões locais que combinam moda, música e estética visual. Mesmo assim, a relação com o movimento continua carregada de contrastes entre tradição, modernidade e influências externas.
Gachiakuta surge justamente nesse ponto de encontro — no qual a cultura japonesa dialoga com o mundo, mas ainda enfrenta tensões internas quando elementos “estrangeiros” desafiam o imaginário estético local.
O questionamento final que fica é: o Ocidente tem força para sustentar uma obra oriental? Em uma sociedade cada vez menos rígida e continuamente moldada por uma globalização acelerada, a resposta tende a ser positiva. Gachiakuta, porém, segue o caminho inverso. Em vez de se adaptar às expectativas do público japonês, a autora Kei Urana aposta na própria identidade e incorpora livremente as referências que constituem seu repertório.
Do ponto de vista técnico, seja no roteiro, na quadrinização do mangá ou na animação, a obra pode agradar ou não. Mas há um ponto inegociável: Gachiakuta tem personalidade. E muita.
Novo álbum da cantora Demi Lovato reflete uma nova era do pop dançante que não deixa de lado composições com boas letras
Por Vanessa Stone Ferro
Lançamento é o primeiro de músicas inéditas da cantora em três anos Foto: Divulgação
Quem acompanha o mundo musical do Pop está acostumado com uma variedade de artistas e estilos que vão desde músicas dançantes a letras profundas e tristes. Demi Lovato se encaixa perfeitamente na caixa de cantores que testam, fazem e utilizam de estilos e ritmos diferentes a cada projeto novo. O novo álbum da cantora “It’s Not That Deep”, “Não é tão profundo” em tradução literal, mostra o retorno de uma artista que quer mostrar que também consegue se divertir e ser leve, sem deixar de lado canções com significado.
Lançado em outubro de 2025, o álbum é o primeiro projeto de músicas inéditas em três anos de Demi. “It’s Not That Deep” foi produzido pelo produtor Zhone, conhecido por trabalhar com artistas como Troye Sivan e Charli XCX. Foi lançado pela Island Records, uma das gigantes dos Estados Unidos, com 11 músicas e já tem turnê confirmada para 2026. Além disso, entre os compositores presentes na obra, estão nomes conhecidos como Sarah Hudson, Jake Torrey, Steph Jones e Brett McLaughlin
Nono disco de estúdio de Demi reflete nova fase da artista Foto: Jane Dylan Cody/Divulgação
Demi Lovato é conhecida pela versatilidade musical, com nove álbuns lançados, sendo o primeiro de 2008, já passando pelo Pop, R&B e Rock ao longo da carreira. Seu último álbum “HOLY FVCK” de 2022, trouxe a vertente rockeira para as obras da artista. Mas, quase sempre, ela é lembrada pelas músicas com intensa carga emocional. Álbuns como “Tell Me You Love Me”, de 2017, e “Dancing With The Devil”, de 2021, são exemplos disso. Muitas das composições refletem momentos emblemáticos da vida pessoal da cantora.
O álbum de Lovato chega junto a uma onda de projetos de cantoras pop que estão dominando paradas de sucesso e tomando cada vez mais lugar nos ouvidos do público, como Sabrina Carpenter e Tate McRae. O projeto começa com a dançante e eletrônica “Fast” e demonstra, logo de cara, a intenção de um álbum divertido, que não necessita de uma grande carga de profundidade. Outras músicas como “Kiss”, “Here All Night”, “Frequency” e “Little Bit” seguem a mesma lógica. Ritmo dançante e as letras com refrões que grudam na cabeça, mas feitas para representarem um novo ciclo da artista, deixam clara a proposta. Já as músicas “Say It”, “In My Head” e “Before I Knew You”, mesmo sendo um pouco diferentes, trazem leveza e mais letras dançantes.
Por outro lado, as canções “Ghost”, “Sorry to Myself” e “Let You Go” demonstram aquilo que Lovato faz com maestria, compor canções com sentimento. Entre desculpas para o “eu” do passado, a vontade de passar a vida ao lado de alguém, esquecer e ser esquecido, as músicas trazem a quantidade certa de profundidade para o “It’s Not That Deep”.
Cantora fez show especial em Los Angeles para comemorar lançamento do álbum e antecipar turnê de 2026 Foto: Christopher Polk/Divulgação
Por fim, o que Demi tenta, e consegue, é transmitir a ideia de que não, nós não precisamos ser profundos o tempo todo. As baladas tristes e emotivas têm um lugar importante no cenário musical, e fizeram muito sentido na voz da cantora ao longo dos anos. Elas, no entanto, não são tudo o que uma artista versátil tem a oferecer. Agora, o pop dançante constrói um papel importante e necessário na discografia de Lovato. O álbum espelha divertimento e emoção, na medida certa, e é um respiro de ar fresco para os fãs da cantora.
Cinematografia oriental influencia produção norte-americana tendo o silêncio como o coração do tempo
Por Gustavo Silva Fuchs
A tensão entre os protagonistas se revela nos olhares desviados e na composição visual Fotos: Divulgação
Dirigido por Wong Kar-Wai, “In the Mood for Love” completa 25 anos da sua data de lançamento (2000). É um dos filmes mais influentes do cinema asiático contemporâneo e, ao mesmo tempo, uma das obras que mais silenciosamente transformaram a sensibilidade do cinema americano. Com uma narrativa mínima e marcada pela contenção, Wong Kar-Wai criou uma estética que se tornou uma linguagem emocional própria, onde o sentimento é expresso não pelas palavras, mas pelo que fica entre elas: o gesto interrompido, o olhar suspenso, o corredor estreito, o som repetido de uma música distante.
O filme acompanha dois vizinhos, o Sr. Chow (Tony Leung) e a Sra. Chan (Maggie Cheung), que descobrem que seus cônjuges têm um caso. Em vez de se envolverem romanticamente, eles vivem um amor que nunca se concretiza, construído na ausência e na repetição dos encontros casuais. O que se desenrola é menos uma história de amor e mais um estado de espírito: um clima de desejo contido e melancolia que atravessa cada cena.
Em “In the Mood for Love”, a estética substitui o diálogo como forma de expressão. Wong Kar-Wai faz o silêncio falar. A fotografia de Christopher Doyle e Mark Lee Ping-Bing usa tons saturados e luz difusa, transformando cada plano em pintura. Corredores estreitos, portas semiabertas e reflexos em espelhos expressam o confinamento emocional dos personagens. Os cheongsams (vestidos chineses tradicionais) usados por Maggie Cheung marcam o tempo com elegância e repetição, funcionando como memória visual. As cores, que alternam entre vermelhos profundos, verdes escuros e amarelos queimados, não descrevem o sentimento, mas o traduzem em temperatura.
O isolamento do Sr. Chow (Tony Leung) é acentuado pela luz e pelos enquadramentos que o separam do espaço
A trilha sonora, com o tema recorrente “Yumeji’s Theme” dá ritmo ao tempo do filme. A montagem fragmentada e o uso de câmera lenta reforçam a sensação de que o tempo não corre, mas se repete e se dobra sobre si mesmo. O filme constrói uma relação direta entre memória, tempo e cinema: cada olhar é um passado que não volta, cada cena é uma tentativa de tocar o que já se perdeu.
Mais do que uma história de amor, “In the Mood for Love” é uma meditação sobre a ausência. O amor não é um acontecimento, mas o que resta depois que ele não acontece. Wong Kar-Wai transforma o espaço entre duas pessoas no próprio coração do tempo e esse sendo um tempo que não cura, mas conserva, que transforma o instante em lembrança e a lembrança em imagem. Esse amor interrompido é o centro da dor e também da beleza do filme: o que não se consolida torna-se eterno justamente porque permanece inacabado.
A influência de “In the Mood for Love” no cinema americano é profunda, embora muitas vezes discreta. Sua estética de melancolia urbana, suas cores saturadas e seu ritmo contemplativo aparecem em diretores como Sofia Coppola (“Lost in Translation”), Barry Jenkins (“Moonlight”), Todd Haynes (“Carol”) e Paul Thomas Anderson (“Phantom Thread”). Todos herdaram de Wong Kar-Wai a ideia de que o sentimento pode ser construído pela atmosfera, e não apenas pelo diálogo. O cinema americano, tradicionalmente direto e narrativo, aprendeu com o cinema de Hong Kong a valorizar o intervalo, o silêncio e a incompletude.
Sra. Chan (Maggie Cheung), envolta em cores suaves, representa melancolia e delicadeza de sentimento que não se concretiza
Ao tratar o amor como ausência e o tempo como memória, “In the Mood for Love” propõe uma estética da contenção que desafia as convenções do cinema tradicional. É um filme que pede um olhar atento, não de quem espera ação, mas de quem se deixa afetar pelo silêncio. Sua força está no que não mostra, nas pausas, nas paredes finas e nas palavras não ditas.
No fim, “In the Mood for Love” é um cinema que se lembra. Um cinema que não quer registrar o que acontece, mas o que permanece depois que tudo passou. Wong Kar-Wai transforma o amor em lembrança e o tempo em ferida. E é, nesse espaço entre o desejo e a perda, que nasce sua beleza: o amor que não acontece vira imagem, e o cinema se torna a própria memória do que não foi.
O diretor de cinema Diego Müller resgata a história marcante dos lanceiros negros na Guerra Farroupilha
Por Francisco Maihub
Filmagens estão fazendo reconstituição histórica de episódio controverso envolvendo racismo e a luta contra a escravidão. Nesta cena participam os atores Tiago Real, João Petrilo, Thiago Lacerda e Allan Rigs Fotos; Divulgação-GM/2 Filmes
O diretor de cinema Diego Müller está produzindo o filme “Porongos”, que visa retratar o massacre ocorrido durante a Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul, no qual os negros que participaram foram assassinados. A ideia do filme é retratar em uma produção cinematográfica inédita a história esquecida dos lanceiros negros. Ainda em andamento, as gravações vêm ocorrendo em localidades como Minas do Camaquã (Caçapava do Sul) e Bagé.
O Massacre dos Porongos foi um dos mais marcantes episódios envolvendo negros escravizados da história do Brasil. Ocorreu durante a Revolução Farroupilha (1835-1845), liderada pela elite gaúcha que estava insatisfeita com a política fiscal do governo imperial com os impostos sobre o charque (carne produzida no Estado). A produção local estava sendo desfavorecida frente à concorrência externa, especialmente do Uruguai.
A Revolução ficou também conhecida como “Guerra dos Farrapos”, pois as roupas usadas dos combatentes eram esfarrapadas, revelando tanto a violência do episódio como um tratamento inicialmente depreciativo dos soldados. Mas não era uma revolução popular, e sim, das elites gaúchas insatisfeitas com o governo imperial. Durante essa guerra, houve a participação dos lanceiros negros, homens escravizados que foram recrutados para lutar na guerra sob promessas de liberdade após o fim do conflito, o que acabou não acontecendo
Muitos negros viam na Guerra dos Farrapos a oportunidade de fugir da escravidão e o sonho de liberdade. Estima-se que os negros que participaram da guerra eram um terço das tropas, aproximadamente 500 homens.
Apesar de serem essenciais na guerra, os lanceiros negros, que eram guerreiros recrutados para ajudar nas batalhas, viraram um obstáculo nas negociações de paz com o governo imperial. Os farroupilhas não tinham como cumprir a promessa de libertação dos homens mantidos como escravos e o império exigia a devolução dos escravos aos seus proprietários.
Samira Carvalho (no papel de Mahín) e Emilio Farias (Adão Caetano) participam das filmagens em várias cidades
A Revolução Farroupilha não cumpriu a promessa de libertação dos negros, pois a escravidão sustentava a economia e o governo imperial. Os negros que lutaram na Revolução foram desarmados, ficando em desvantagem na guerra contra o governo imperial. Uma versão, envolvendo questões complexas e controversas, é que o general David Canabarro mandou desarmar os negros secretamente. Ao mesmo tempo, negociava com o representante do império, Barão de Caxias (mais tarde elevado a Duque de Caxias), e deliberadamente teria facilitado o massacre. Canabarro teria tramado com o Barão de Caxias a data e o local do ataque aos lanceiros negros.
Os homens negros foram desarmados na véspera da guerra e o resultado foi uma chacina, o Massacre dos Porongos, que ocorreu na madrugada de 14 de novembro de 1844. Apesar da Guerra dos Farrapos ser comemorada como parte da formação da identidade da cultura gaúcha, pouco é lembrado do massacre, do lado racista e da traição da Revolução.
Estima-se que aproximadamente 80 a 100 soldados negros foram mortos no confronto e os sobreviventes afrodescendentes foram capturados e devolvidos a sua condição de escravizados ou enviados para o Rio de Janeiro para permanecer como escravos até que a Lei Áurea viesse a libertá-los.
O Massacre dos Porongos é visto, hoje em dia, como um ato de covardia e racismo, um capítulo vergonhoso da história gaúcha e brasileira. Leva a questionar os ideais de liberdade da Revolução Farroupilha e a verdadeira imagem de seus líderes.
O Massacre, hoje em dia, é objeto de debates nas pautas do movimento negro, como parte do apagamento histórico da população negra no Brasil, sendo uma marca por reconhecimento e necessidade de reparação histórica.
Produção e elenco
Dirigido por Diego Müller e produzido por Pablo Müller, a equipe criativa do longa conta com Vanessa Rodrigues (direção de arte), Joanna Ramos (direção de fotografia), Thaíse Machado (consultora artística) e a atriz Tatiana Tibúrcio está à frente da preparação de elenco. Juntos, eles darão vida à história de Adão Caetano, um lanceiro negro cuja luta por liberdade e dignidade confronta as contradições dos líderes republicanos do Rio Grande do Sul.
Embora inspirado em fatos e personagens reais, o longa adota uma abordagem ficcional. O elenco dá vida a essa trama épica com nomes de peso: Emílio Farias interpreta Adão Caetano, Samira Carvalho vive Mahín, Thiago Lacerda assume o papel de Bento Gonçalves. Destacam-se, ainda, Tatiana Tibúrcio, Álvaro RosaCosta, Rafa Sieg, Jorge Guerreiro, Loma, Werner Schünneman, Nelson Diniz, Cássio do Nascimento, Roberto Birindelli, Tiago Real, Appolônio Cipriano, Marcos Verza, Kaya Rodrigues, Nicolas Vargas, Marcello Crawshaw, José Henrique Ligabue, Adriano Baségio, Marcos Contreras e Luis Franke, entre outros talentos do cinema, teatro e televisão.
Com mais de 20 anos no audiovisual, Diego Müller construiu uma carreira sólida como diretor, roteirista e produtor. Entre seus trabalhos no cinema, destacam-se “Cortejo Negro” (2008), prêmio de Melhor Direção no Festival de Gramado, “A Invasão do Alegrete” (2009), que conquistou os Kikitos de Melhor Roteiro em curta-metragem nacional e Melhor Ator, para Miguel Ramos, no 37º Festival de Cinema de Gramado. Em 2022, Diego lançou o documentário em longa-metragem “Bandoneando – A busca pelos bandoneonistas negros da Campanha Gaúcha”, exibido em festivais nacionais e internacionais. Em 2024, codirigiu “Infinimundo”, vencedor do Kikito de Melhor Filme Júri Popular no 53º Festival de Gramado.
Samira Carvalho e Emílio Farias com a preparadora de elenco e atriz Tatiana Tibúrcio (ao centro)
O site arte no Sul conversou com o diretor Diego Müller, que trouxe mais detalhes sobre a produção:
Arte no Sul: Você está produzindo um filme sobre o Massacre dos Porongos durante a Revolução Farroupilha, que recrutou os negros para servirem na guerra?
Diego Müller: Isso, eles foram incorporados às forças farroupilhas com a promessa de serem libertos ao final da guerra. E esta promessa, que acabou não acontecendo, foi um dos entraves para se encerrasse o conflito. Então, em 14 de novembro de 1844, eles foram reunidos no cerro dos Porongos, em Pinheiro Machado, foram desarmados e, à noite, o acampamento foi invadido. Em sua grande maioria, eles foram massacrados.
Arte no Sul: Qual é a importância de abordar esse tema em forma de produção cinematográfica, retratando um passado pouco lembrado no imaginário popular dos gaúchos?
Diego Müller:É a relevância de fazer a reparação histórica, e trazer ao debate este tema que foi invisibilizado ao longo dos tempos. Além disso, a gente humaniza esses personagens históricos, trazendo à luz suas verdadeiras faces, e não aquela falsamente construída numa ideia de torná-los simplesmente heróis.
Arte no Sul: De onde veio essa ideia de produzir um filme com essa temática tão polêmica?
Diego Müller: A partir da minha ideia de construir um personagem gaúcho histórico real, com a inclusão [mais efetiva] do negro nesta miscigenação, o que no meu entendimento, não havia sido feito ainda. Aí, a participação dos negros na Guerra dos Farrapos e o Massacre dos Porongos surgiram naturalmente nas pesquisas.
Arte no Sul: A Revolução Farroupilha, apesar de ter sido uma guerra perdida, é comemorada na tradição gaúcha. Seu passado é muito romantizado pelos gaúchos, que criam uma imagem de um passado heroico. Como você acha que o filme, retratando esse lado do passado pouco conhecido, vai impactar culturalmente?
Diego Müller:Acho que, de certa forma, a Revolução Farroupilha continuará a ser comemorada, pois teve seus méritos. O que o filme vai trazer é que erros aconteceram e que não podem ser ignorados, além de que sempre sejam lembrados. Existiram guerreiros muito importantes como os lanceiros e os infantes negros, que precisam ter seu lugar referenciado na história.
Arte no Sul: Você também disse em algumas entrevistas que o filme vai retratar os líderes militares Bento Gonçalves e Antonio Sousa Neto. Como o filme vai retratar essas figuras importantes da história do Rio Grande do Sul?
Diego Müller:De uma forma mais humana, sem esquecer suas virtudes, mas também apresentando estas figuras em suas épocas, e como eles, dentre desse contexto, tiveram que tomar decisões às vezes contraditórias em relação às próprias lutas que defendiam (principalmente o Bento).
Arte no Sul: Em quais cidades do Rio Grande do Sul o filme está sendo gravado?
Diego Müller: As cidades foram Bagé, Caçapava do Sul (Minas do Camaquã) e Aceguá. As próximas ainda não foram decididas.
Arte no Sul: O Brasil é conhecido por ter sido um dos últimos países a abolir a escravidão e, mesmo após o fim da escravidão, a população negra ainda enfrenta os efeitos do período escravocrata, como racismo e desigualdade social. Como o filme pode contribuir para o aumento da conscientização negra no estado do Rio Grande do Sul?
Diego Müller: Acho que vai trazer um debate positivo sobre este apagamento histórico, e como isso pode ser visto ainda hoje, como aquela realidade pode ser presenciada nos dias de hoje.
Arte no Sul: Que mensagem você espera que o filme traga aos gaúchos e aos demais brasileiros que forem assistir o filme?
Diego Müller: Que eles conheçam uma outra história da Guerra dos Farrapos, mais real e inclusiva. Espero que contribua para que sejamos conhecidos em [nossa] diversidade de forma mais realista, e que a contribuição do povo negro tenha seu lugar [reconhecido] na formação do Estado. Que essa história nos faça refletir sobre o passado e nos eduque enquanto sociedade!
Arte no Sul: Como está o andamento da produção do filme?
Diego Müller: Filmamos 80% do filme. Devemos filmar os 20% restantes dentro de duas semanas. A expectativa é que o filme fique pronto no final de 2026.
Quarto filme da franquia traz o provável fim dos trabalhos do casal Ed e Lorraine Warren
Por Daniel Santos
A família Smurl é atormentada com a maldição do espelho Fotos: Divulgação
“Invocação do Mal” é uma das maiores franquias cinematográficas de terror na história do cinema e conta com uma grande legião de fãs por todo o planeta, desde o lançamento do primeiro filme em 2013. Desde então, tem marcado uma geração de apaixonados pelo gênero e continua criando admiradores. O ano de 2025 ficou marcado pelo lançamento da quarta obra da saga principal, “Invocação do Mal 4: O Último Ritual” (“The Conjuring: Last Rites”), que, para muitos, será o final do ciclo do casal Ed e Lorraine Warren, provavelmente o encerramento dos trabalhos dessa dupla de detetives paranormais.
Lançado no dia 4 de setembro nos cinemas brasileiros, o filme é o décimo da franquia com a inclusão de spin-offs, estabelecendo conexões com as produções anteriores da trilogia “Annabelle” (2014), “Annabelle 2: A Criação do Mal” (2017) e “Annabelle 3: de Volta para Casa” (2019). Tem vínculos também com “A Maldição da Chorona” (2019); “A Freira” (2018) e “A Freira 2” (2023).
“Invocação do Mal 4: O Último Ritual” é dirigido por Michael Chaves, que havia comandado a direção da obra anterior da saga, “Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio” (2021), e outros dois filmes da franquia: “A Freira 2” (2023) e “A Maldição da Chorona” (2019). Já o roteiro ficou nas mãos de David Leslie Johnson que estava presente nos dois capítulos anteriores da saga, em “A Órfã” (2009) e “A Orfã 2” (2022).
Enredo
A história contada neste capítulo se passa em 1986, mas começa com uma cena de 18 anos antes apresentando o casal de investigadores Ed Warren (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga) no nascimento de sua filha Judy Warren. Nesse momento, é inserindo um objeto maligno ao contexto, um espelho que esconde uma entidade demoníaca que interfere no nascimento do bebê natimorto. Milagrosamente, a criança volta à vida após se conectar espiritualmente com sua mãe, assim, ela passou sua infância tendo pressentimentos ruins e vendo assombrações.
Há um salto temporal e é introduzida na história a família Smurl, com seus oito integrantes (um casal, quatro filhas e dois avós) que vivem em uma cidade tranquila da Pensilvânia. Eles passam seus dias em meio à calmaria da rotina, até que coisas estranhas começam a acontecer na residência.
Tudo tem início quando os avós presenteiam uma das netas, que acabou de ser crismada na Igreja, com um espelho antigo, o mesmo da cena inicial. Temerosos com as situações assustadoras, eles entram em contato com a Igreja que busca a ajuda do casal Warren. Mas eles negam o pedido, pois estão em pausa na carreira e querem aproveitar o seu tempo com Judy (Mia Tomlinson) que vive o início da fase adulta.
Depois de uma série de incidentes, Judy vem desenvolvendo suas habilidades psíquicas e se conecta aos Smurl de forma espiritual e, então, vai até a casa da família para ajudá-los. Lorraine, Ed e o namorado da Judy, Tony Spera (Ben Hardy) também vão até a casa dos Smurl e são praticamente obrigados a ajudar no caso.
O clímax ocorre quando o demônio do espelho possui Judy, desencadeando um ritual final, no qual os Warrens e a filha enfrentam a entidade para que ela se liberte dela. No final, o casal encerra sua trajetória de investigadores, Judy assume maior protagonismo. E uma cena pós-créditos revela imagens reais de Ed, Lorraine e do tal espelho, objeto que é o elo com “histórias reais” que inspiraram a franquia.
As atuações de Patrick Wilson (Ed Warren) e de Vera Farmiga (Lorraine Warren) são pontos fortes do filme
Muita emoção e pouco terror
O filme encerra a jornada dos Warren de forma melancólica e sem brilho, em uma obra que decepcionou a maioria dos fãs da franquia. Os pontos mais destacados no roteiro são os da despedida do casal e não os de terror. A história sofre com a falta de conexão entre os investigadores e a família atormentada, e busca uma forma de emocionar o espectador na relação de Judy com os pais e o namorado.
A maior parte dos feedbacks do público e da crítica indicam que fatores emocionais foram priorizados, assim deixando a obra sem a personalidade que o gênero exige. Então, nos raros momentos nos quais o filme tenta assustar, ele fracassa por conta da direção, que, na comparação com os capítulos iniciais da saga, deixou a desejar. O diretor Chaves já havia sofrido críticas em trabalhos anteriores dentro da franquia e, nesta oportunidade, não consegue mostrar algo novo, assim dependendo de ideias não originais e que não promovem a admiração dos espectadores.
Os elementos mais positivos do longa são as atuações de Vera Farmiga (Lorraine Warren) e Patrick Wilson (Ed Warren), que trabalham muito bem juntos, fazendo com que o público tenha muita admiração pelo casal que protagoniza o filme. Para fãs da franquia e do gênero terror, o filme pode ser chato, mas, para os leigos no gênero, a obra pode ser bem aproveitada, tendo um bom impacto em termos de emoções.
Ficha Técnica
Título: “Invocação do Mal 4: O Último Ritual”
Título original: “The Conjuring: Last Rites”
Duração: 2h 15min
Gênero: Terror
Direção: Michael Chaves
Roteiro: David Leslie Johnson-McGoldrick, Richard Naing
Elenco: Vera Farmiga, Patrick Wilson, Mia Tomlinson
Em cartaz nas salas do cinema traz um recorte criativo sobre o período da ditadura militar
Por Gabriel Ribeiro da Silva
O ator Wagner Moura e a atriz Tânia Maria são dois destaques do elenco diferenciado Fotos: Divulgação
“O Agente Secreto”, filme dirigido por Kléber Mendonça Filho e protagonizado por Wagner Moura, despontou como um dos principais títulos a representar o Brasil na temporada de premiações, sendo inclusive selecionado como nosso representante no Oscar. A trama se passa durante o período ditatorial, com um recorte regional, poucas vezes visto. Mas o que esperar do longa?
Na cena de abertura do filme, vemos várias imagens que referenciam o audiovisual brasileiro, como uma foto dos Trapalhões, Maria Bethânia e a novela “A Escrava Isaura”, que apontam para a cultura brasileira e seus símbolos. Logo em seguida, somos introduzidos a Marcelo, o personagem de Vagner Moura, conduzindo um icônico fusca amarelo em direção a um posto de gasolina. Ali já temos o primeiro choque do filme, e fator crucial para ditar o tom. Há um corpo abandonado no pátio, coberto apenas com um pedaço de papelão, há dias, largado ao sol. Um incômodo, mas normal e institucionalizado, pois, na sequência, dois militares chegam ao posto, não ligam para o cadáver, apenas para o ilustre veículo de Marcelo. O ser humano não é visto, é tratado como um objeto abandonado.
A cidade do Recife é o cenário principal de toda a trama. E, aqui, é importante destacar o trabalho sensacional de reconstituição daquele contexto nos anos 1970. Não é somente a reconstrução de alguns prédios, mas o cenário como um todo. A estética é vibrante, as roupas, acessórios e, até mesmo, os carros são partes fundamentais nessa composição, carregam com eles as cores e traços clássicos desse período, além dos aspectos regionais do Nordeste. A capital pernambucana torna-se personagem do enredo.
Registro das gravações, com o ator Wagner Moura sendo dirigido por Kleber Mendonça Filho
Kleber Mendonça opta por trabalhar com uma narrativa em duas linhas temporais diferentes, mas bem delimitadas. Com Marcelo, ficamos no Carnaval de 1970 durante o governo de Ernesto Geisel. Já, no tempo presente, vemos duas pesquisadoras investigando os arquivos da época e, consequentemente, as “memórias de Marcelo”. A opção de alternar as épocas, durante o filme, é uma tentativa de resgate, de contar a história daqueles que foram silenciados durante a ditadura. Porém, para alguns espectadores, isso pode gerar uma quebra na imersão narrativa. Embora por pouco tempo, saímos da bela e tensa Recife, para um cenário frio e calmo de um escritório.
Marcelo, mesmo que de volta em Recife, ainda não está em casa, e sendo um dos perseguidos pelo regime busca abrigo com Dona Sebastiana, interpretada pela apaixonante Tânia Maria. Ela administra uma espécie de pensionato, que concentra outros personagens que, assim como Marcelo, estão escondidos. Tânia toma pra si o protagonismo em todas as cenas em que aparece, traz leveza. É nítido que a personagem carrega consigo certas cicatrizes, mas não deixa que isso a abale. Até Marcelo parece se divertir na presença da senhora, com um olhar sempre de admiração.
Fora do pensionato, conhecemos a família de Marcelo, ou o que sobrou dela. Seu filho mora com os avós maternos, e descobrimos que sua mulher está morta. Nos silêncios, percebemos que não foi uma causa natural. Ele se emprega no centro de identificação da polícia, tendo como motivo razoável buscar os registros e a memória da sua mãe, há muito tempo falecida.
O diretor nos faz viajar por belos cenários, coisas que só quem viveu a Recife da época poderia contar. É sutil nos detalhes, faz referência ao filme “Tubarão”, mas utiliza a figura como símbolo da violência, do perigo que está à espreita. Mostra um gato de duas faces, em alusão à vida dupla do protagonista. Já de sutil, a polícia não tem nada, é fator central para a corrupção e manutenção dos privilégios, é cruel, e como o tubarão, age nas profundezas, fora da superfície.
O cine São Luiz fez parte da reconstituição da cidade de Recife nos anos 1970
O título do longa pode confundir os mais desavisados. Ao pensar no tema “Agente Secreto”, imaginamos um filme de ação e espionagem, o que não é o caso. O nome serve pra fixar a mensagem proposta pelo filme e os dilemas vividos por Marcelo, ou melhor, Armando. Esse é o verdadeiro nome do protagonista. E é, nessa dicotomia, que Wagner Moura brilha. As duas facetas do personagem começam sutis, mas à medida que nos envolvemos na narrativa, entendendo os nuances e trejeitos de cada um. Armando é um pesquisador e professor de universidade, e como um dos representados do corpo docente, tem uma postura mais confiante, sisuda, já Marcelo, é muito mais receoso, acuado, com ombros levemente caído, passa um pesar maior no olhar. Além das faces de Marcelo e Armando, o ator vai reaparecer na pele de mais um personagem, que dá um desfecho cheio de mensagens para a história.
Em o “Agente Secreto”, Kleber Mendonça possui como grande feito a capacidade de nos imergir em uma envolvente Recife nos anos 1970. E o recorte escolhido, bem segmentado, contribui muito para que o público se conecte com todos os membros desse grande emaranhado. Há os policiais sórdidos, violentos e corruptos, e, principalmente, as pessoas que escondem sua identidade para fugir da perseguição ditatorial, entendendo o que os move, mas, fundamentalmente, os seus medos. Mesmo com figuras ficcionais, a história é muito bem-sucedida ao resgatar sentimentos e memórias de um período obscuro e violento, e, ainda assim, permite momentos de alento, mesmo que breves.
O filme está em cartaz no Cineart (Pelotas), no Cineflix Shopping Pelotas e no Cinesystem do Praça Rio Grande Shopping.
Título: “O Agente Secreto” (2025)
Duração: 158 min
País:Brasil, França, Países Baixos, Alemanha
Direção:Kleber Mendonça Filho
Roteiro: Kleber Mendonça Filho
Elenco:Maria Fernanda Cândido, Alice Carvalho, Gabriel Leone, Wagner Moura
Com direção de Diego Freitas, o filme trata de temas complexos como as doenças graves e a ameaça de morte
Por Adilson Camargo Pereira
Os dois personagens protagonistas são o cachorro caramelo Amendoim e Pedro (Rafa Vitti) Fotos: Divulgação/Netflix
O filme “Caramelo”, estrelado pelo ator Rafa Vitti e um cachorro caramelo – nome dos cães sem raça no Brasil – nos mostra o poderoso laço afetivo entre os seres humanos e o “amigo de quatro patas”, nas melhores e piores horas de nossas vidas. Dirigido por Diego Freitas, a produção estreou no dia 8 de outubro pela plataforma de streaming Netflix, chegando no topo mundial de produções de língua não-inglesa mais assistidas em pouco mais de uma semana, o que demonstra um poderoso feito para o cinema nacional.
Nos primeiros segundos do filme, um filhote de caramelo é deixado dentro de uma caixa de papelão por um carro à beira de uma estrada. Logo, o cachorro foge para São Paulo, onde vive em uma feira ambulante. Anos depois, encontra Pedro (Rafa Vitti), um jovem chef de cozinha, de 27 anos. A partir daí, começa o início de uma bela história de afetividade entre o “Amendoim” e o Pedro. Mas, de repente, o chef é diagnosticado com câncer na cabeça, um glioma cerebral, que não tem cura e necessita a realização de uma cirurgia de imediato. Então, o jovem se vê desesperado, mas o Amendoim é seu grande amigo no acompanhamento dessa doença.
Enfrentamento do câncer e respeito aos animais são dois temas que convergem
Para pessoas com câncer e familiares, o filme questiona o estigma da não aceitação da doença em jovens. Demonstra o que muitas pessoas pensam quando descobrem um tumor ao fazer para si a pergunta “Por que eu, jovem?”. O personagem demora a contar para a mãe, que mora longe. Só revela depois de raspar a cabeça, em decorrência da queda dos fios de cabelo, seguida de fortes enxaquecas, que também o obrigam a deixar o serviço, num momento de grandes realizações na sua vida profissional. É nesse período que o jovem pensa sobre a morte e o destino de seu amigo fiel.
A trama também mostra a dificuldade da adoção de animais mais velhos no Brasil, especialmente os vira-latas. Antes da descoberta do câncer, Pedro pensa em deixar o cão em um abrigo por conta da sua personalidade forte – um animal muito bagunceiro e desobediente dentro de casa – mas é alertado sobre as estatísticas, o que faz repensar. Esse é um grande ponto que o filme mira para além das telas: dias antes da estreia, a Netflix, em parceria com o Instituto Caramelo, promoveu uma grande campanha de adoção online de cães no Brasil, que muitas vezes são encontrados abandonados nas ruas, feridos, que precisam de um lar. No site da instituição, encontram-se informações de cada animal e onde são encontrados. Em paralelo, a marca automobilística Chevrolet pediu a internautas enviarem fotos por Whatsapp de seus cachorros caramelo, com o objetivo de criar uma paleta de cor única para um de seus carros ir a leilão e ajudar o Instituto Caramelo.
Filme conta com momentos emocionantes ao longo de sua duração
Caramelo tem um desfecho emocionante. Felizmente, Pedro é operado, mas segue o tratamento, sempre ao lado de seu amigo. Amendoim é testemunha do casamento de Pedro e o nascimento da filha, tempo suficiente para o cão apresentar sinais de velhice, uma fase que nenhum dono de pet gosta de vivenciar. Nos últimos segundos do longa, seu dono o leva a praia, num lindo pôr do sol – essa é a hora de estar com um lenço em frente à tela, pois muitos irão aos prantos.
Enfim, o filme é um retrato para o mundo da paixão que temos pelos animais. O cachorro caramelo é uma verdadeira febre nacional e amado pelos brasileiros. Por conta dos resultados obtidos com a repercussão do filme – dublado em vários idiomas, filme favorito da semana em pelo menos 80 países, a produção brasileira de maior alcance na Netflix -, lastima-se que não tenha sido exibido em telas dos cinemas pelo Brasil, pois é digno de ares hollywoodianos. Embora tenha sido produzido com exclusividade para a Netflix, merece um Oscar!
Ficha técnica
Título:“Caramelo”
Direção: Diego Freitas
Roteiro: Diego Freitas, Carolina Castro
Elenco: Rafael Vitti, Amendoim, Arianne Botelho, Kelzy Ecard, Bruno Vinícius, Ademara, Noemia Oliveira, Carolina Ferraz, Cristina Pereira, Paola Carosella
A dupla de jovens cantores e instrumentistas Ana Luisa Nunes e Mateus Kempfer começou a fazer shows neste ano e a interagir com o contexto cultural e artístico de Pelotas, com seus pontos favoráveis e desafiadores
Por Marco Ayala
Ana Luísa Nunes e Mateus Kempfer, formam a banda“Quarto Afora” Fotos: Divulgação
A banda pelotense “Quarto Afora” é integrada pelo jovem casal Mateus Kempfer – músico de 20 anos – e por Ana Luísa Nunes, com 17 anos, artista e estudante do IFSul (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense). Eles decidiram fazer seu próprio duo, com o intuito de levar sua arte, individualidades e gostos musicais de dentro das suas casas para a comunidade. A dupla começou a montar seu conceito, repertório e identidade entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, para apresentar seu primeiro show ainda no mês de janeiro deste ano. Além da sua dedicação, o apoio de familiares e amigos tem sido fundamental. Seu empenho e coragem em enfrentar os públicos em apresentações leva a uma reflexão sobre o contexto cultural de Pelotas e a as condições locais para o desenvolvimento dos trabalhos artísticos.
Segundo o casal, o projeto da banda une o útil ao agradável, uma vez que é a junção de um amor com duas carreiras artísticas e apreços culturais similares. Assim, além de trabalharem, divertem-se com o que fazem. Tratam o duo como algo que acrescenta em suas vidas pessoais e que fortalece seu relacionamento.
“Eu comecei um projeto, em 2020, na pandemia, montando um estúdio na minha casa, no meu quarto. […] Eu sempre fui muito inspirado pelos Beatles e pelo Paul McCartney, eles faziam esse tipo de coisa; e eu resolvi fazer um estúdio, então, no meu quarto. […] Fomos conversando para achar um nome para essa dupla acústica que a gente queria fazer juntos, com músicas que gostamos, e vimos que teríamos que sair quarto afora… E essa é a literal história [do nome]! Parece até mentira quando a gente conta […]! Quando eu escutei ‘quarto afora’ […] eu falei ‘Bah! É muito esse nome!’”
Mateus Kempfer
“E já fazia um tempão que a gente estava tentando achar um nome. Tem uma banda que a gente se inspirava muito no início que é ‘The Couch Band’ [‘A Banda do Sofá] [..] e eles tocam em palcos com vários sofás. Eles se sentam em sofás durante os shows. A gente achava muito incrível isso e queria encontrar uma vibe mais confortável, mais despojada… e daí veio esse nome!”
“Eu tive o privilégio de acompanhar toda a maturação desse projeto, […] apesar de eles serem muito jovens, eu acho que o comprometimento e a responsabilidade que eles tomam com o Quarto Afora é realmente de uma banda profissional, o que é algo bem diferente dos outros projetos que eles fizeram antes. […] Eles são um exemplo de uma juventude muito comprometida e apaixonada pelo que faz e pelo que eles estão compondo, né? […] Não tem nenhum desleixo e não tem nenhuma preguiça dentro do esforço que eles fazem [na preparação do] repertório para cada show. […] São jovens cheios de energia para transpor nos shows deles. […] É uma banda que tem muito a agregar no sentido cultural de Pelotas, […] a tornar visível muitos outros grupos jovens […]. Eles trazem um exemplo de muita dedicação, esforço, comprometimento, com muita vontade de se destacar […]!”
Lara Gomes Tavares (estudante de ensino médio fã da banda)
Influência dos estudos musicais
Mateus e Ana Luísa, antes do Quarto Afora, faziam parte da escola musical O Batuta, sede de ensaios da antiga banda deles – Soul’s Road – e de outros projetos que participavam. Ambos saíram juntos da instituição por conta da ideia de criar o próprio conjunto.
O casal já se apresentava junto anteriormente, além de suas trajetórias individuais. Mateus lembra que, após seu último show com a Soul’s Road (março de 2024), saiu da O Batuta e ingressou no curso de Bacharelado em Música Popular na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no qual ficou por seis meses. Depois de uma viagem de duas semanas a Nova York – com o objetivo de estudar inglês e música – precisou trancar a faculdade para dar mais atenção aos seus projetos musicais. Mateus ainda menciona a possibilidade de retornar à UFPel, uma vez que ele quer trabalhar profissionalmente com música ao longo da vida.
Ana Luísa, antes mesmo de entrar na O Batuta, participou de outras escolas de música. Dentro da instituição – a qual ingressou antes de Mateus – já participava de outras bandas, antes da Soul’s Road. Após o encerramento das atividades desse grupo, e diferentemente de Mateus, Ana Luísa seguiu na O Batuta, até que também precisou se afastar por causa da rotina exigente do curso de Edificações do IFSul.
Foi depois de ambos saírem da O Batuta que surgiu a ideia da Quarto Afora, sendo que o casal já era convidado para se apresentar antes da criação oficial da dupla com a identidade que é conhecida hoje em dia.
“Eu acho que essa coisa de fazer o que tu amas com quem tu amas é muito mais fácil! Fazer o que tu gostas, o que tu sabes, com quem tu estás sempre junto! […] A gente já era chamado para tocar em aniversários de conhecidos, por exemplo. […] por que não ter um nome, uma identidade, e ter um repertório montado?”
Ana Luísa Nunes
A partir da estreia em janeiro deste ano a dupla tem sidoconvidada para novas apresentações
Presença na região
A primeira performance aberta ao público como Quarto Afora foi no Stúdio Anchieta, no dia 31 de janeiro. Segundo Mateus, a demanda das apresentações abertas, inicialmente, era bem menor. Com o tempo, ocorreram outros shows e o crescimento da procura pela dupla em Pelotas – em lugares e eventos importantes para o município, como a 31ª Feira Nacional do Doce (Fenadoce) – além de uma presença fora da cidade (em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul). Hoje em dia, o duo tem contatos mais frequentes com bares e lojas, além de se manter presente em eventos privados.
“Nosso show é montado para agradar a todo o tipo de gente […]. É um show muito ‘família’! Quando acabamos uma apresentação, chega um senhor dizendo que a gente reviveu toda a vida dele com as músicas, ou, então, vem uma criança que quer tocar no nosso pé de bateria!”
Ana Luísa Nunes
Embora a banda produza um repertório capaz de agradar distintos tipos de pessoas, eles não se apropriam de todo ou qualquer gênero musical em seu repertório e fazem questão de mostrar o seu gosto musical. Essa manifestação é uma imposição da própria identidade, sem apelar para culturas padronizadas da atualidade ou se deixar levar por produtos, lugares e eventos que são mais consumidos e frequentados pela sociedade. Essa imposição poderia deixar de lado as essências de Mateus e Ana Luísa. O jovem afirma que o trabalho perderia sentido ao tocarem algo que não vai de encontro com seus gostos.
“Acredito que o Quarto Afora tem uma contribuição grande no que se refere à qualidade, repertório e gênero musical para nossa cidade. Eles trazem um som diferente daquele mais consumido atualmente, com a predominância do pagode, sertanejo e funk. A música deles traz referências do folk, rock suave, bossa nova, jazz e MPB. Eles trazem o melhor da música nacional e internacional, com uma pegada jovem, moderna e inteligente.”
Liziane Kempfer, mãe de Mateus
Portfólio da banda: vídeo que mescla as variações de seu repertório
“A gente consegue se expressar dentro das vontades das pessoas. [.,.] Tem uns eventos aos quais vamos e acabamos sendo só ‘música de fundo’, e gostamos disso! Eu acho interessante a experiência de estar ali só como uma coisa secundária; e tu não tens que ficar se preocupando tanto com uma performance, nos divertimos mais até! […] Quando a gente está com toda a atenção em cima, nos satisfazemos de uma outra maneira. […] Ficamos felizes quando tocamos uma música dos Beatles, ou outra que a gente gosta muito. E, daí, as pessoas recebem bem, aplaudem, cantam junto, ou alguém invade o palco e começa a cantar […] ou quer tirar uma foto com a gente.”
Mateus e Ana Luísa, em resposta conjunta
Sob esse cenário, os resultados de seus trabalhos agradam a ambos. De acordo com Mateus, o crescimento da visibilidade do Quarto Afora da forma que ocorre hoje era inesperado. O padrão musical em Pelotas era considerado algo muito distante do que o que se poderia alcançar (em alguns quesitos, como contatos, equipamentos e ferramentas). Entretanto, com o tempo, passou a ser possível.
O retorno do público quanto ao repertório é positivo. Mesmo que a dupla pense que não faça nada que seja “revolucionário”, o casal se entusiasma muito e é bem acolhido pelo que faz.
“Pelotas já tinha uma comunidade musical feita. É uma cidade que já tem suas bandas favoritas, bares que têm suas bandas; não esperávamos conseguir se inserir nessa comunidade tão facilmente. Não era só conseguir o nosso público, mas também ter as pessoas [desse círculo] como nosso público.”
Ana Luísa Nunes
“A gente é mais jovem. Isso interfere muito! As pessoas que já tocam nesses lugares estão com o nome consolidado […]. E chegam as novas gerações […]. O pessoal fala da ‘nova geração dos músicos’ e pensamos ‘nossa’! A gente não carrega todo esse peso nas costas!’.”
Mateus Kempfer
Registro do show do Quarto Afora no Stúdio Anchieta, em 31 de janeiro de 2025
A cena cultural pelotense
O cenário cultural em Pelotas atravessa paradoxos. A história da cidade – principalmente no século XX – é marcada por uma cultura rica, autêntica e forte. Esse quesito é manifestado na qualidade, variedade e representatividade da tradição doceira (principal marca do município), da música, do teatro, das artes visuais, da dança, do esporte, entre outros. Há um reconhecimento de que o povo pelotense costuma ter uma “vocação natural” e “sensibilidade estética” para uma diversidade de manifestações artísticas.
A valorização e o investimento estrutural, no entanto, não são devidamente proporcionais à produção cultural local. A resposta governamental às manifestações pode ser considerada insuficiente, seja pelo comportamento e pela visibilidade na sociedade, seja pela carência de políticas públicas e leis de incentivo e inovação.
Há uma evolução no quesito artístico ao longo do tempo. Entretanto, falta disponibilização de espaço, subsídios e “holofotes”. Logo, essa evolução é lenta e não acompanha o processo de produções. Muitos artistas não têm recursos suficientes para sobreviver apenas trabalhando com cultura – dessa maneira, viver somente de arte pode ser encarado como um privilégio.
Essa situação pode ser demonstrada em alguns acontecimentos. Um deles é a interrupção das atividades do vitorioso e histórico Teatro dos Gatos Pelados – do Colégio Municipal Pelotense – por 20 anos (existe desde 1905 e paralisou entre 2001 até a retomada de suas atividades em 2021). Outro exemplo é o acidente de trânsito que culminou na morte de integrantes do projeto de remo “Remar Para o Futuro”, que poderia ser evitado se houvesse uma preocupação do sistema público no deslocamento seguro da equipe para o campeonato no Rio de Janeiro. Outra perda grande do município é a desistência da Seleção Brasileira de Hip Hop Unite – grupo de danças urbanas da categoria Mega Group Adulto – de disputar o campeonato mundial por falta de recursos financeiros e apoio público para a viagem até a República Tcheca. Muitos outros grupos e cidadãos também são afetados negativamente para prosseguir na cultura (na arte, no esporte, etc.):
“Infelizmente, como pelotense, não tenho como negar. Aqui a gente tem uma cultura de ‘como tá, tá bom’; e isso me fez ser meio acomodada e medrosa também. Então, pensar em trocar minha vida por uma exposição pública na internet dava muito medo! Mas como eu ia saber se eu não tentasse? […] Evoluir dói, mas vale a pena!”
Bruna Sedrez, influenciadora digital de Pelotas(relato em vídeo comemorativo de um ano de produções de conteúdos digitais, em 10 de Junho de 2025)
“Meu grupo de dança iniciou ano passado e eu abri o estúdio esse ano. […] Eu vejo que a dança é, sim, uma parte forte da cultura pelotense, mas que acaba, às vezes, ficando em nichos, né? […] Eu que acabei de fazer um espetáculo, por exemplo: eu que corri atrás de tudo, né? O espetáculo foi completamente bancado pelo valor dos ingressos e também recebeu apoio de algumas empresas para que ele acontecesse […]. Acho que a gente se insere nesse local de empreendedores, de pessoas que tem que correr e batalhar pelo ‘seu próprio’, sabe?”
Isadora Marten Brião (bailarina, coreógrafa e proprietária do Studio de Dança Isadora Marten)
“Tudo faz parte de uma engrenagem. A sociedade não valoriza a arte. Logo em seguida, os nossos governantes também não. O comércio também não tem possibilidade de oferecer uma estrutura melhor pra quem está fazendo entretenimento, para quem está fazendo esse tipo de coisa. […] A estrutura não é preparada para receber novos músicos, e sim, só os músicos que já têm uma carreira consolidada.”
Mateus Kempfer
Sob esse cenário, há fatores estimulantes, mas há contextos limitantes para uma ascensão bem-sucedida de todos os que se envolvem profissionalmente com cultura em Pelotas.
“Com certeza, uma coisa que tem que destacar é que, se eles [Teatro dos Gatos Pelados] tivessem mais apoio e ajuda, estariam muito mais adiantados e alcançariam muito mais pessoas. Muitos não conhecem, não sabem que podem participar, não sabem onde assistir! O trabalho de divulgação do jornalista dentro da cultura é fundamental para que o público entenda e conheça o que está acontecendo. São as oportunidades que se tem e que se está perdendo por não poder participar ou contemplar essas obras, esse esforço […]. Por exemplo, um jogo de futebol é fácil de todos saberem […]. Mas sabe quando uma peça de teatro está em cartaz? […] Então, sem dúvida, assessoria e os canais de imprensa são fundamentais e colocam mais um holofote em cima desses talentos que querem brilhar!”
Carolina Mattos(ex-assessora de imprensa do Teatro dos Gatos Pelados)
“Sempre que eles [Ana e Mateus] vêm aqui, o trabalho deles é muito bom! Muito profissional e muito interessante! […] O nome daqui é Utopia Casa Bar. Assim como uma casa, aqui se abre pra novos intérpretes! […] A importância é ter um espaço para que artistas se apresentem! Um espaço de coração aberto! […] A casa está aberta pra isso!”
Guillermo Ceballos(proprietário do Utopia Casa Bar)
“Nós vimos recentemente uma banda lá [no ‘Del Patio’: estabelecimento de eventos culturais e sociais], chamada ‘Funk You’. Foi uma das melhores bandas que a gente viu de Jazz Fusion; […]. O pessoal veio de Porto Alegre e foram umas 40 pessoas ver o show. A gente fica muito feliz de existirem esses lugares que tinham que ser mais valorizados. As pessoas, por algum motivo, não vão assistir […]. Na verdade, Pelotas tem shows de extrema qualidade! A coisa não é ‘qualquer’! […] Tem uma qualidade muito interessante, de Pelotas especificamente, em que o músico dificilmente toca o que o público quer. Isso é muito bom; porque o que eu observo é que as pessoas tocam o que elas gostam! […] Aqui tem banda de Jazz, de Soul, ritmos que as pessoas não costumam escutar tanto. Claro que temos bandas de samba, choros, que também são ótimos; e eu tenho certeza que eles estão tocando o que amam também! Mas aqui tem gostos mais diferentes da ‘curva’, não se tem medo de botar a cara a tapa e fazer os projetos! É diferente de outras cidades menores [do interior do Estado].”
Mateus Kempfer
As dificuldades do contexto cultural pelotense têm sido enfrentadas pela banda Quarto Afora com bons resultados. O duo sente que a repercussão de seu trabalho é muito positiva e acima da média, mesmo sabendo que a música deveria ser mais contemplada em Pelotas. Ambos se sentem privilegiados porque conseguiram investir para ter seus próprios equipamentos e instrumentos, tinham conexões com outras pessoas que poderiam promover a dupla, além de contar com alto auxílio familiar e de amigos. Sob esse cenário, o casal considera que, infelizmente, não são todos que têm esse apoio e essas ferramentas para conseguir investir na música com rentabilidade, e que essas pessoas demandam mais tempo e dedicação para obter sucesso.
Além da base de investimento, o próprio processo justifica o bom reconhecimento do Quarto Afora. Existe muito estudo, em muitos sentidos – saber como se manter no complexo meio artístico pelotense; evolução musical e em técnicas da área; o uso do meio digital, no qual a população se encontra em maior “peso”; além da modernização e ampliação de alcance de suas produções culturais – para que a banda cresça e amplie a acessibilidade de sua arte.
Registro de show do Quarto Afora na 31ª Feira Nacional do Doce (Fenadoce)
“Em Pelotas, a gente tem muitos exemplos de músicos maravilhosos […]. A maioria dessas pessoas […] são mais velhas e ‘instaladas’ no contexto artístico de Pelotas; já que não há muita oportunidade de novos nomes, né? E isso em várias cidades sem ser as capitais! Eu acho que não há muita perspectiva de crescimento em Pelotas […] e por isso há poucos jovens e novos grupos que se instalam […]. Tem muita gente que conhecemos que canta, mas nunca é considerado: ‘a carreira dele é ser músico!’, sabe? A gente geralmente dá uma subestimada nesse sentido dentre os artistas de Pelotas. […] O Quarto Afora quebra um pouco com esse panorama, porque traz a perspectiva de dois jovens – que seriam ‘jogados de lado’, considerados não aptos a serem realmente profissionais – que estão sendo contratados para shows bem profissionais e estão sendo reconhecidos pelo meio profissional que eles estão conquistando”
Lara Gomes Tavares
Quarto Afora tocando música “I’ve got a feeling” – da banda The Beatles – no Stúdio Anchieta
Iniciativa que é influência e motivação
A banda Quarto Afora é um exemplo de uma rica peça para preencher algo que falta no quebra-cabeça da cultura em Pelotas; modificando-a e saindo de um padrão repetitivo. Segundo Ana Luísa, a dupla contribui para as produções artísticas pelotenses fazendo o que eles realmente querem, evidenciando que dá para os cidadãos viverem com o que gostam e, simultaneamente, estar no mercado da região.
De acordo com Mateus, mesmo que cumprir as metas demore mais com um repertório “incomum”, a satisfação – à longo prazo – se torna mais prazerosa do que investir em algo que não vá de acordo de sua personalidade. O Quarto Afora considerou a possibilidade de usar outros repertórios para evitar de ter seu trabalho oprimido, mas optou pelo melhor para ambos, que é seguir seus reais desejos.
Esse fator contagia a comunidade. A quebra desse padrão fica evidente pelos relatos de admiradores de seus trabalhos.
“[Em Cruz Alta] teve um músico que me contou que ele gostaria de fazer justamente o que a gente está fazendo, que é música no estilo de Beatles, de rock. […] Ele nos disse que se prostituía nos shows; tocava uma coisa que ele não estava a fim, mas que sabia que ia dar dinheiro. […] Ele se inspirou muito na gente! Já estava há anos tocando; e vendo que alguém começou diferente!”
Ana Luísa e Mateus, em resposta conjunta
“Eu acho que isso tem muito a ver com o esforço do Mateus e da Aninha […] e de eles realmente terem muita paixão envolvida […].É uma banda que tem muito a agregar no sentido cultural de Pelotas, […] a tornar visível muitos outros grupos jovens que geralmente são invisibilizados por causa dessa cultura tão estagnada de Pelotas – de reconhecer sempre os mesmos músicos […] e acabar deixando de lado essa juventude que está por vir tão forte! […] Isso me incentiva a ser alguém maior e incentiva qualquer um que presta o mínimo de atenção neles! […] Espero que eles sejam um estímulo para que a estrutura de Pelotas se expanda e esteja mais preparada!”
Lara Gomes Tavares
Na noite de 31 de outubro, durante show do Quarto Afora no Utopia Casa Bar, ouvintes comentaram sobre a apresentação. O público – que contava com familiares de Ana Luísa e de Mateus, pessoas que acompanham a dupla há mais tempo, outros que os conheceram pela própria divulgação pelas redes sociais, e ainda aqueles que os viram pela primeira vez no Utopia. Elogiaram o trabalho da dupla, lhes deram importância e legitimidade, além de deixar mensagens motivacionais como um feedback da apresentação no bar:
“É maravilhoso o que eles conseguem fazer: renascer uma música que, tanto tempo, ficou parada! É magnífico mesmo! […] Eu, que acompanho eles – e como músico também – posso dizer que é nota 10! Muita qualidade de música!”
Francisco Igansi (primo de Ana Luísa e professor de piano)
“Eu gostei muito do que eu vi hoje! Eu pretendo continuar acompanhando o trabalho deles. Desejo muito sucesso e ressaltar que as vozes deles são muito bonitas!”
Gustavo Maciel Zurschimittem (estudante de Ciências Biológicas)
“Saliento que o trabalho deles é um trabalho muito bom! Que tragam isso para mais lugares e mais pessoas conhecerem! Que eles tenham muito sucesso na carreira e possam se desenvolver como cantores. Estão no caminho certo!”
Guilherme Rodrigues de Moraes(estudante de Enfermagem)
“Eu conheci a banda faz poucos dias pelo Instagram e gostei bastante do trabalho deles! Apareceu um vídeo ‘do nada’ pra mim […] e eu achei as vozes deles muito bonitas. […] Quando eu vi que viriam para cá, chamei meus amigos [Gustavo e Guilherme] para virem! […] Desejo uma boa sorte na sua jornada e quero vê-los mais vezes!”
Juliane da Cunha Luçardo(arquiteta)
Registro do show do Quarto Afora no Utopia Casa Bar, em 31 de outubro de 2025
E o futuro da Quarto Afora?
Ana Luísa – mesmo que se dedique profissionalmente à banda – considera a música majoritariamente como um passatempo, quer se dedicar para o curso de Edificações e ingressar uma faculdade de Arquitetura. Enquanto isso, Mateus tem o sonho de viver a música como profissão. Ainda assim, considerando esses fatores, ambos têm uma paixão muito forte pela Quarto Afora e desejam seguir essa jornada juntos.
Nesse sentido, considera-se o prosseguimento do projeto a longo prazo. A banda é o ponto de encontro principal de Mateus e Ana, que unem o hobbie ao profissional, o útil ao agradável, o amor e a arte. Por meio do conjunto, o casal se satisfaz de diversas maneiras, e a cultura pelotense é muito bem representada.
“Tenho muito orgulho da trajetória que estão seguindo. Eles são muito corajosos no que diz respeito a buscarem um espaço cultural em que a música é mais refinada e, portanto, tem um público menor e mais exigente. O talento deles, que vem desde a infância, é lindo, e nos faz ter a certeza de que vale muito a pena apoiar sonhos quando estes são acompanhados de profissionalismo, dedicação e dom!”
Liziane Kempfer
“São inspirações, pessoas que eu realmente admiro do fundo do meu coração e que eu tenho completa confiança de que têm um futuro brilhante; e que eu sou só uma espectadora de estar ali e poder acompanhar desde o princípio!”
Lara Gomes Tavares
“Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade
E constrói a manhã desejada
Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente
E segura o rojão
Como é que não?
Eu ponho fé é na fé da moçada”
Trecho da música “E Vamos À Luta”, do cantor e compositor Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (Gonzaguinha)
Este site é uma produção da disciplina de Práticas Laboratoriais, do curso de Bacharelado em Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), sob coordenação do professor Gilmar Hermes.
A proposta é reunir informações e reportagens sobre as atividades artísticas e culturais da região Sul do Estado.