Hipocrisia com o Brasil? UE suspende discurso ‘verde’ e agora faz ‘economia de guerra’ com carvão
A Sputnik Brasil conversou com especialistas em relações internacionais sobre a crise energética na Europa após o corte de fontes russas. Eles explicam o debate moral sobre o meio ambiente e o “desespero” europeu em um “cenário de beligerância” fomentado pelos EUA.
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Para Charles Pennaforte, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), as
preocupações geopolíticas dos EUA em enfraquecer a Rússia, em meio ao conflito ucraniano, arrastaram a Europa para o caminho das sanções e proibições de fontes energéticas russas, apesar da grande dependência do continente.
“Logicamente a União Europeia não tem a menor capacidade de se sustentar no curto prazo sem os insumos da Rússia. Então os países europeus são obrigados a reativar a indústria de poluentes para tentar diminuir o impacto durante o inverno. O impacto já era esperado, mas as sanções à Rússia provocam um impacto muito mais efetivo e direto nos europeus do que nos russos”, explicou Pennaforte à Sputnik Brasil.
Segundo o especialista, a volta da aposta em combustíveis fósseis pela Europa “é exatamente o desespero por não terem uma alternativa de curto prazo” ao gás russo.
O professor aponta que, ao contrário do discurso dos últimos anos da transição energética para fontes “verdes”,
a Europa agora promove uma “economia de guerra” ao recorrer ao pragmatismo das fontes mais viáveis após cortar o fornecimento de energias russas. E isso, argumenta, poderá ter
impactos nocivos sobre o meio ambiente mais adiante.
“A hora agora é de se salvar de alguma maneira. A reativação do carvão, sem dúvida nenhuma, vai ser responsável por impactos sérios, principalmente no cenário ambiental do continente. Trata-se de um processo em que os EUA fomentam todo esse cenário de beligerância, de competição, em que os norte-americanos sentem menos [a crise] que a Europa”, afirma.
‘Europa foi epicentro inicial da degradação ambiental’
Enquanto recuam por necessidades urgentes, os países europeus vinham
pressionando o Brasil e outros países emergentes a reduzir suas emissões de gás carbônico na atmosfera.
Pennaforte diz que havia uma “questão moral” por trás das acusações contra o Brasil. Ele lembra que de fato o país precisa ter atenção quanto ao desmatamento, em ritmo crescente nos últimos anos, mas afirma que o Brasil está longe de ser um dos responsáveis por poluir o meio ambiente com o uso de combustíveis fósseis.
“No Brasil, na questão ambiental, o mais importante é o desmatamento, não necessariamente a utilização de recursos fósseis, a não ser a questão da gasolina, por exemplo. Mas, no geral, o principal ponto de entrave para o Brasil é o desmatamento, seja para o plantio ou criação de gado. O Brasil, então, não colabora na questão da poluição ambiental exclusivamente com esses insumos fósseis”, disse.