O rap rompendo fronteiras

Em rápida passagem por Pelotas, o DJ foi do rap à MPB no Mercado Público

Por Mylena Acosta

Brasileiro. 29 anos. Desde 2003 faz da música a sua vida e da vida a sua música. Fernando Carmo da Silva, conhecido como DJ Nyack, aos 14 anos já era um jovem promissor no universo musical. Participou do projeto “Do Risco ao Rabisco”, promovido pela ONG União dos Negros pela Igualdade (UNEGRO), onde foi apoiado e incentivado por DJ Marco, KL Jay, DJ Will, DJ PR!MO, Kamau, Renato Dias e do rapper Emicida, de quem é DJ atualmente. Desde então estuda a música diariamente, discotecando em solo nacional e internacional.

Em uma passagem rápida pela cidade de Pelotas, DJ Nyack sintonizou no Mercado Central o espírito do município com o do público pelotense. Tocando do rap, R&B à música brasileira e reggae, o artista balançou quem passava por ali, desde os mais jovens até anciãos. Pela flexibilidade do público, o DJ busca contemplar a todos com o seu som. “Eu procuro sempre estar atualizado e priorizar aquilo que me agrada e acho que pode agradar o público. Não só as músicas novas, mas as antigas também, por que eu acho que DJ tem a função de educar e reeducar as pessoas que estão ali para te ver. Então acho que é mais que um trabalho, é uma missão”, disse.

Os gringos

Em terras estrangeiras, Nyack representa o Brasil nas pickups e leva a cultura nacional ao exterior, vendo em seu trabalho a oportunidade de mostrar ao público a tamanha diversidade musical que os brasileiros têm a oferecer. “Lá fora eu toco mais músicas brasileiras e fujo do convencional. Porque foram poucas vezes que eu vi gringo vir para o Brasil e só procurar discos clássicos, como Tropicália, por exemplo. E tem outros que só procuram o lado B de artistas que lançaram um disco só e são difíceis de encontrar. Acabam não prestando atenção no que aconteceu no final dos anos 70, começo dos 80. Tem muita coisa boa, e procuro colocar no meu set, sem perder a essência do hip hop”, ressaltou.

A primeira viagem internacional a trabalho de Nyack foi para os Estados Unidos, em 2011, a convite do Coachella Festival. Em 2012, Nyack comandou os toca-discos no show de Emicida e Criolo no Sesc Pompéia durante quatro apresentações. E então uma coleção de apresentações importantes faz parte da lista: Grito Rock Festival em Buenos Aires com o Emicida, Back2Black em Londres, Montreux Jazz Festival com Emicida e Cidade Negra, Born 2 Roll em Berlin com direito à discotecagem na festa.

Inspiração

Mesmo tendo iniciado com o rap, o DJ vê o ritmo como uma chave que abriu portas para conhecer outros estilos musicais. A inspiração vem de família. Os tocadores de disco de seu berço foram seu pai e tio. “Meu pai e meu tio são os caras que me introduziram nesse mundo da música. Meu pai ouvia muito funk soul. O meu tio ouvia mais melodia, samba rock. E com o decorrer do tempo a gente vai ouvindo outras coisas, pesquisando, e vai lapidando. Foi assim mais ou menos que eu surgi”, explicou. Para ele, o estudo constante é a maneira de se manter vivo. “A gente tá sempre estudando, somos eternos estudantes. O conhecimento não tem fim”.

Onde a música pode levar?

DJ Nyack acredita na música como um caminho a ser seguido. A vida em forma de nota musical, a consciência em forma de batida, os discos como forma de amor e esperança. A música rompe barreiras e explora a essência do ser. Naquele final de tarde, DJ Nyack, com o olhar sombrio e o riso, às vezes tímido, respondeu: Onde a música pode levar? “A música vai levar pra onde a gente quiser ir. Se hoje eu sou o DJ que eu sou, é por causa da música. Por que muito o que a gente não aprende na escola, a gente aprende nos livros, na rua… E eu aprendi nos discos que ouvi. Cultura africana, empoderamento negro. Eu aprendi muito ouvindo Gil, ouvindo Jorge Ben, eu fui educado pela música. Se hoje eu viajo o mundo fazendo o que eu amo, é por causa da música. Então ela tem um poder transformador incrível. Não dá para mensurar onde a música pode levar. E você precisa fazer por onde também, por que o que a música dá pra gente, a gente precisa devolver na mesma moeda”, falou com propriedade de quem ainda tem mais mundo para conquistar.

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