Além da lousa, a música age em papel transformador

Orquestra Estudantil Areal deixa sua marca na Feira do Livro 2018. Foto: Roberta Muniz

Por Roberta Muniz

A cultura de Pelotas é rica. Eventos culturais são sempre realizados no centro da cidade do doce. Teatro, música, grafites e tantas outras artes podem ser admiradas. Mas essa diversidade cultural não chega a todo mundo da mesma maneira, não é mesmo? Muitos bairros da cidade não têm sequer um único projeto cultural e foi esse um dos motivos que levaram a SEDUC (Secretária da Educação), a eleger a escola Areal para ser uma das contempladas com o projeto de orquestra.

Há quatro anos a Orquestra Estudantil Areal vem levando aos jovens de bairros marginalizados, a oportunidade de transformação além da lousa, livros, cadernos e lápis. Uma oportunidade única que muitos desses alunos jamais sonharam em um dia viver. Hoje, a música se faz presente e presenteia a comunidade que tanto lhe apoia. O projeto segue firme, mesmo enfrentando dificuldades cotidianas.

“Antes do projeto eu não conhecia absolutamente nada sobre música, era completamente leigo. Meu ingresso na orquestra ocorreu após um trabalho de divulgação da própria que me chamou atenção, na qual eu fiz minha inscrição para aulas de violão inicialmente. Desde então em 2015, faço parte da orquestra”, conta Andrew Borges, 17 anos, estudante da escola Areal.

A orquestra está ganhando cada vez mais visibilidade e tem sido convidada todos os anos para participar do Festival Internacional Sesc de Música, que reúne grandes instrumentistas. A música realizada por essa orquestra é tão transformadora e tem atraído tanto carinho de seus públicos, que um novo projeto surgiu a partir deste. A Orquestra Estudantil Municipal se tornou uma realidade e uma nova oportunidade para os alunos da rede, a partir do quarto ano do ensino fundamental. Os dois projetos são de coordenação da maestrina Lys Ferreira.

“Alguns professores já perceberam o quanto a orquestra resgatou muitos jovens que não tinham bons relacionamentos, muito menos, boas notas. Alguns alunos aprenderam muito sobre a necessidade do respeito às diferenças e organização, cuidado e responsabilidade com seus estudos individuais, bem como com o grupo, pois se faz necessário um trabalho de equipe onde todos têm papéis importantes além do papel de músico”, destaca Lys.

Jovens, como Andrew, às vezes só precisam de oportunidades como essa para que suas vidas tomem rumos diferentes. Para que possam sonhar com um futuro melhor. O próprio rapaz declara que notou uma mudança em si mesmo desde que começou a fazer parte da orquestra estudantil. A música é transformadora tanto para quem a faz, como para quem a escuta.

“Antes disso eu não sabia o que fazer em relação à carreira profissional, hoje em dia já tenho uma resposta graças a esse projeto. Me encontrei lá. Dentro desse meio nós aprendemos muito mais do que música, é um espaço de convivência em que todos devem aprender com os outros sobre todo o tipo de coisa. Aprende-se lá dentro a respeitar o próximo, entender que cada pessoa tem seu tempo e sua limitação, suas dificuldades que podem e sempre são superadas, é muito exercida a questão de democracia também. Passamos por todos tipos de situações, das mais comuns as mais complicadas”, conta Andrew.

A Orquestra Estudantil Areal não conta com verbas próprias para a manutenção dos instrumentos utilizados pelos alunos e por isso, desde 2016 é realizado o ‘Concerto Solidário’, que este ano acontece no dia 30 de novembro, no Colégio Gonzaga, para a arrecadação de fundos para os cuidados necessários.

Apresentação na Feira do Livro 2018

E na tarde de ontem, seis de novembro, a Orquestra Estudantil Areal marcou presença na feira. Durante aproximadamente uma hora, os jovens estudantes presentearam o público com a apresentação de um repertório variado, que trouxe desde Aquarela de Toquinho até o fechamento com o rock de Nirvana.

Mesmo morando próximo a escola, dona Maria Emília Santos de 74 anos, teve a sua primeira oportunidade de ouvir a orquestra nesta apresentação. “Eu fiquei emocionada, sinceramente, me emocionei. Porque tá demais, né? É linda. Depois da gente assistir umas eleições cheias de ódio, de rancor e de brigas e aí a gente se depara, sentadinha em uma praça escutando um som divino, vamos dizer assim: parece que veio do céu”, declara.

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