Estereótipos em cena

Por Emmanuelle Schiavon

Infográfico

Infográfico: Emmanuelle Schiavon

O cinema do Brasil, muitas vezes, é renegado por seu estigma de vulgar. Muitas pessoas dizem não gostar de longas nacionais por seu palavreado inadequado e violência, sobrepujando filmes de qualidade por preconceito. Além disso, a lógica mercadológica acaba levando poucas produções brasileiras para as salas de cinema, o que torna o acesso do público ainda mais difícil.

Cintia Langie, cineasta e professora de cinema na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), fala que, em sua opinião, as corporativas escondem o cinema brasileiro, sendo que a televisão mantém o contato internacional muito maior do que com o nacional. Apesar disso, a nova fase das produções que se está vivendo no Brasil se dá à TV. Com o novo braço da Rede Globo, a Globo filmes, são produzidos filmes com a estética televisiva, a população, já acostumada com aquela identidade da imagem, vai aos cinemas também por isso.

Apesar da nova cara que se está criando, cerca de 24% das pessoas que participaram da pesquisa responderam não gostar de assistir filmes nacionais, por preconceito dos estereótipos criados. Admitem que a nova cena brasileira traz filmes mais lights na questão roteiro, no entanto ainda têm um pé atrás, graças aos primeiros sucessos lascivos, e de má qualidade fílmica comparados com produções internacionais.

As pessoas, acostumadas a verem filmes internacionais, com tecnologia 3-D e um suporte técnico muito grande, não querem pagar pelo ingresso do filme brasileiro, o que dificulta as produtoras. Apesar disso, a qualidade tem crescido, pois com a questão digital tem ficado mais barato. Cintia fala que: “teve uma época no cinema nacional que as pessoas não assistiam as produções por não conseguirem escutar o som, pois é um aspecto muito caro e difícil de fazer. Realmente era fraco, mas com as novas tecnologias digitais, os filmes ficaram melhores tecnicamente”.

Sobre os longas brasileiros, 29% declaram ter dúvidas. A partir do momento em que foi inserida uma realidade mais próxima das delas – pessoas de classe média, com idades variantes dos 20 aos 50 anos – os preconceitos começaram a se diluir aos poucos. Para eles, deve haver a conexão entre público e produção que ainda não foi atingida, mas está no caminho. Os outros 47% não enxergam problema. Como os internacionais, existem bons e ruins, apenas depois de olhar que poderão julgar alguma coisa. Apesar da caracterização negativa, produções ruins não denigrem a imagem geral de filmes que virão a seguir.

Ano passado, 127 filmes brasileiros chegaram às salas de cinema, o que foi um recorde desde o princípio das exibições no país. Muitas pessoas disseram que os longas mudaram, aumentando a qualidade dos roteiros. “Muda sempre, o cinema é reflexo da vida. Os tempos são outros e os valores também, o cinema só reflete isso”, comenta Langie. Investindo em comédias, gênero favorito da plateia, e em romances, os produtores estão acertando.

A lógica mercadológica interfere na hora de colocar filmes nacionais nas grandes telas. O preconceito da população ainda é uma pedra no sapato das produtoras, e a grande competição com gigantes do cinema dificulta a cena nacional de chegar ao grande público. Os filmes que vão para o cinema ficam pouco tempo em cartaz, mas isso é algo que acontece na grande maioria dos países latinos.

O cinema brasileiro se encontra em uma boa fase. Os filmes nacionais chegam aos holofotes com glórias, levando milhares de pessoas ao cinema. Filmes como Tropa de Elite, O Homem do Futuro e De Pernas Para o Ar ganharam o gosto popular, viraram sucesso de bilheteria e têm renovado a imagem das produções nacionais, que no final de contas, vêm conquistando cada vez mais público, apesar dos estigmas do passado. É uma utopia pensar que o cinema nacional conseguirá superar em número de exibições grandes blockbusters, no entanto, a cada novo filme, o público se acostuma com a estética brasileira e começa a dar mais valor para produções do país.

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