Colleen Hoover traz verdades nuas e cruas sobre violência doméstica

Por Sabrina Lacerda Borges      

Na escrita envolvente de “É assim que Acaba”, autora texana incentiva mulheres a romperem  ciclo de agressões

Na história do livro “É Assim que Acaba”, a autora texana Colleen Hoover aborda a violência doméstica. Apresenta situações chocantes como o abuso psicológico, agressão e tentativa de estupro. Além disso, mostra a realidade “nua e crua” (termo utilizado algumas vezes ao decorrer do livro) que diversas mulheres vivem diariamente. O texto nos deixa apreensivos e faz o leitor repensar muitas coisas.

A personagem Lily cresceu vivenciando situações de violência. Ela se tornou adulta detestando o pai, que é uma figura influente na cidade e um “exemplo” de pessoa e profissional. Todos admiram aquele homem, todos menos Lily, que sabe quem ele é realmente.

Ela mora em uma cidadezinha no Maine, se formou em marketing, mudou para Boston e abriu a própria loja. Tenta buscar seus sonhos, corre atrás de seus objetivos e acaba envolvida em um relacionamento, que a princípio, como todos os relacionamentos abusivos, é apaixonante, envolvente e tranquilizador. “É perfeito”.

Ryle Kincaid, um lindo neurocirurgião, começa a demonstrar seu temperamento manipulador e agressivo aos poucos. As agressões físicas começam com empurrões, apertos nos braços e vão evoluindo pra tapas, quedas, mordidas, socos… até que chega a tentativa de estupro.

Escritora faz pensar sobre as relações abusivas

Lily volta com ele tantas vezes, acreditando que tudo vai ser diferente. Ela ama Ryle e fica grávida dele. Mas passa a viver com medo e quando não suporta mais, abre o jogo com amigos e com a mãe, que foi vítima da violência praticada pelo pai de Lily por anos.

“É muito difícil nadar quando você se sente ancorada dentro d’água”. 

De acordo com a pesquisa do Instituto Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgada no dia 7 de junho do ano passado, uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência no país.

A psicóloga Laís Bazzo foi coordenadora responsável pela Rede de Atenção às Mulheres (RAM) de Camaquã, durante cinco anos, deixando o cargo em setembro do ano passado. No entanto, ela se mantém ativa nas ações da entidade, observando que os índices de violência são muito maiores, pois mostram apenas as mulheres que “continuam a nadar” e realizaram uma denúncia. Muitas sofrem em silêncio.

“Temos a ideia do lar doce lar, mas sabemos que na realidade não é bem assim, é um ambiente humano de muito conflito”, falou a psicóloga. “Durante a pandemia, a violência doméstica encontrou um local de ampliação por que este esteve fechado por muito tempo, limitando o convívio das vítimas com outras pessoas”, explicou.

“Os fatores que impedem as mulheres de denunciar são diversos, porém quando reconhecem que estão em um ciclo de violência, o medo e a vergonha ainda são os que mais impactam”, afirmou.

Quando ficamos sabendo sobre casos de mulheres que retornam para lares violentos, é comum surgirem julgamentos. Esse livro apresenta ao leitor um pouco do que algumas dessas mulheres sentem, dos medos, dos desejos de mudança, de um lar, de uma família feliz… Elas sonham com vidas melhores. Elas demoram pra enxergar que o fim é a possibilidade de mudanças concretas.

Quebrando ciclos de violência 

Para a psicóloga é necessário haver um reconhecimento de que se está inserida em um relacionamento abusivo, buscar ajuda, ter acompanhamento em uma rede de apoio, em que psicólogos, assistentes sociais e policiais vão dar o suporte necessário para a vítima e seus filhos.

Em “É assim que Acaba”, a protagonista consegue dar um fim no ciclo de violência. Ela toma uma decisão muito difícil, mas que muda a vida de todos. Mesmo que não seja possível visualizar a princípio, é possível quebrar o ciclo de violência.

Quem está  vivendo uma situação de violência, ou conhece alguém, deve pedir ajuda, denunciar. A medida é entrar em contato com a Polícia Militar (190), Central de Atendimento à Mulher (180) e Rede de Apoio à Mulher da sua cidade. O sofrimento não deve continuar..

“E, por mais que seja uma escolha difícil, nós destruímos o padrão antes que o padrão nos destrua”.

Literatura no combate às agressões dentro de casa

Colleen Hoover é autora de romances e ficção para jovens adultos. Ela publicou seu primeiro romance, “Slammed”, em janeiro de 2012. “É assim que Acaba” é o 16º livro da autora, que já publicou 28 obras de 2012 até 2021.

Colleen Hoover escreve com base no processo de superação que viveu

“É assim que Acaba” é uma obra incrível e extremamente responsável, por retratar situações que muitas mulheres podem estar vivendo sem discriminação. É educativo, abordando diversas formas de abuso, que muitas vezes passam despercebidas e abre possibilidades para possíveis vítimas encontrarem a força necessária para romper relacionamentos assim.

Além disso, a autora mostra que a vítima e o agressor não têm sempre o mesmo perfil, qualquer pessoa pode passar por isso. Uma das grandes problemáticas da literatura atual também foi abordada aqui – o passado não justifica erros. Em muitos livros, é comum se deparar com um “mocinho” abusador, que é assim por conta de algum trauma. Colleen deixa muito claro que nada justifica a violência.

No final do livro, em suas notas, ela conta da lembrança mais antiga que tem da infância, em que o pai arremessou a televisão da família contra a mãe. Ponto que torna a leitura ainda mais importante é a relação com a própria história da autora.

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Ana Paula

Festival Varilux celebra cinema francês

Até o dia 8 de dezembro, uma variada programação diária em Pelotas com dramas, comédias e documentário

Catherine Deneuve está no elenco de “Enquanto Vivo”  e traz reflexões sobre a maternidade e o sentido da existência humana

Começou ontem o Festival Varilux de Cinema Francês, que tem continuidade até o dia 8 de dezembro nas salas do Cineflix Shopping Pelotas. É a décima segunda edição nacional do evento, que apresenta 17 longas-metragens inéditos e recentes, com drama, romance, comédia, animação e documentário. Dentre os títulos em cartaz, estão histórias de época, filmes com inspiração literária, enredos tratando de problemas atuais e visões divertidas das grandes questões humanas.

A programação traz uma seleção de gêneros e temáticas variadas, estreladas por astros e jovens talentos, com a direção de nomes novos e já consagrados. Entre os títulos, estão obras premiadas e participantes de festivais internacionais. Do diretor François Ozon, que é uma presença recorrente no evento, será apresentado o filme “Está Tudo Bem”. Outros destaques são “Ilusões Perdidas”, de Xavier Giannoli; “Enquanto Vivo”, de Emmanuelle Bercot; “@Arthur  Rambo – Ódio nas Redes”, de Laurent Cantet; “Adeus, Idiotas”, de Albert Dupontel;  e, “Paris, 13 Distrito”, de Jacques Audaiard.

Há atrizes e atores consagrados nos elencos, como Catherine Deneuve, Vincent Lacoste, Sophie Marceau, Virginie Efira, Jérémie Renier, Pierre Niney e Pio Marmai. Também estão presentes novos nomes do cinema francês como Noémie Merlant, Benjamin Voisin, Sami Outalbali e Rabah Naït.

Presença constante do festival, François Ozon traz sua mais nova obra, “Está Tudo Bem”, que integrou a seleção oficial da última edição de Cannes. O longa-metragem discute a eutanásia e o suicídio assistido quando um homem, em uma cama de hospital, pede ajuda de sua filha para morrer. A temática da morte também aparece no filme “Enquanto Vivo”, com a aclamada atriz Catherine Deneuve. Sob direção de Emmanuelle Bercot, ela vive a história de uma mãe que sofre com a doença incurável do filho.

 

O filme “Ilusões Perdidas” é inspirado na obra literária de Honoré de Balzac    Fotos: Divulgação

 

Temas atuais da sociedade mediada por novas tecnologias aparecem em “@Arthur Rambo – Ódio nas Redes”, dirigido  por Laurent Cantet. O enredo reflete sobre os julgamentos que se fazem nas redes sociais. As questões ecológicas aparecem no documentário “Nosso Planeta, Nosso Legado”, a mais recente produção do  diretor e fotógrafo Yann Arthus-Bertrand. Entre as suas produções  memoráveis, está “Home: Nosso planeta, nossa casa”.

Já o drama “Ilusões Perdidas”, com referência literária, traz no elenco principal os atores Benjamim Voisin, Cécile de  France e Vincent Lacoste. Inspirado no romance homônimo de Honoré de Balzac e dirigido por  Xavier Giannoli, o filme é ambientado no século XIX. Lucien, um jovem poeta  desconhecido, ávido por abrir caminho na vida, deixa sua cidade natal para tentar a sorte em  Paris. A produção foi indicada ao Leão de Ouro, além de outras duas categorias no Festival de  Veneza.

Entre as comédias, um dos destaques é “Adeus Idiotas”, escrita, dirigida e interpretada por Albert Dupontel. O longa-metragem ganhou sete Prêmios César – concorreu a 12 – e já foi visto por mais de um milhão de espectadores na França. Ao descobrir aos 43 anos que está seriamente doente, a personagem Suze Trappet embarca em uma missão surpreendente.

Entre a comédia e a tragédia, “Adeus Idiotas” traz uma visão humorada de alguns desafios

Já “Pequena lição de amor”, de Eve Deboise, mostra seus  protagonistas numa jornada por Paris por causa de uma inquietante carta de amor. “Mentes  Extraordinárias”, codirigida por Bernard Campan e Alexandre Jollien, – atores que também  assinam a direção do longa – conta a história de duas pessoas que se dirigem para o sul da França  num carro funerário.

Integrante da seleção oficial de Cannes e codirigida por Arnaud e Jean  Marie Larrieu, a comédia musical “Tralala” acompanha um cantor de ruas de Paris que,  milagrosamente, se reinventa na cidade de Lourdes.

Marca presença, com o longa-metragem de animação “A Travessia”, a diretora francesa Florence Miaihe. É uma das mais consagradas animadoras do mundo, com obras cheias de intensidade dramática. O veterano Jacques Audiard apresenta sua última produção “Paris, 13 Distrito”, que mira em três personagens jovens na busca de seus caminhos.

Um dos atores franceses mais populares, François Cluzet, está em “Um Intruso no Porão”,  no papel de um  homem de passado conturbado, que transforma a vida de um casal ao comprar um porão de um  imóvel na cidade de Paris.

O thriller psicológico “Caixa Preta”, de Yann Gozlan, conquistou o  Prêmio do Público no 38º Festival Reims Polar e busca a verdade sobre o que aconteceu a bordo  do voo Dubai-Paris antes de bater no maciço alpino, através da análise minuciosa das caixas  pretas. No elenco está Pierre Niney, que viveu o costureiro no consagrado filme biográfico “Yves Saint Laurent”. Já “Madrugada em Paris” retrata a  saga de Mikaël, um médico vivido pelo ator Vincent Macaigne, que tem uma noite para decidir  seu próprio destino.

E, para deixar os amantes da gastronomia com água na boca, a mostra apresenta “Delicioso: da  Cozinha para o mundo”. O filme de época conta um pouco dos primórdios da culinária francesa, bem como a criação do primeiro restaurante do país, antes mesmo da revolução francesa acontecer.

“Um Conto de Amor e Desejo” é o segundo longa-metragem de Leyla Bouzid O personagem principal é Ahmed, um jovem crescido nos subúrbios parisienses que, na universidade, conhece Farah, uma  jovem tunisiana cheia de energia e recém-chegada de Túnis. O longa mostra, com delicadeza e audácia, o despertar para a sexualidade e o ardor dos sentimentos e fantasias. A produção  integrou a Semana da Crítica de Cannes de 2021 e ganhou o prêmio de Melhor Filme no Festival  Du Film Francophone d’Angoulême 2021.

A edição 2021 traz de volta às telonas um filme memorável da cinematografia francesa para  compor os clássicos homenageados da mostra. A  comédia “O Magnífico”, de 1973, é dirigida por Philippe de Broca e conta com Jean-Paul  Belmondo no papel principal, além de Jaqueline Bisset, Vittorio Caprioli e Jean Lefebvre. A reexibição homenageia Belmondo, um dos mais populares atores franceses, que esteve no elenco de filmes hoje considerados clássicos e que faleceu no mês de setembro deste ano.

Em “O Magnífico”, de Philippe de Broca, François é um escritor de romances de espionagem, cuja figura principal é Bob Saint Clair, um espião muito esperto, inteligente e sedutor. Sua obra  desperta o interesse acadêmico de Christiane, uma estudante inglesa de Sociologia. Aos poucos,  o estudo e o relacionamento entre eles começam a se confundir com trechos do novo livro do  escritor. O filme cult é uma hilariante e feroz sátira dos filmes de aventura, espionagem, dos  super-heróis, sendo os filmes de James Bond o alvo mais específico. Com um humor ácido, a  comédia usa e abusa de todos os excessos do gênero com alegria contagiante e explora com  maestria o tema da vida dupla, real e sonhada.

O Festival Varilux de Cinema Francês é realizado pela produtora Bonfilm e tem como  patrocinador principal a Essilor/Varilux, além do Ministério do Turismo, Secretaria Especial da  Cultura, Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Cultura e Economia Criativa e Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. É uma parceria com  as unidades das Alianças Francesas de todo o Brasil; a Embaixada da França; empresas Club Med, Air France, Fairmont e Ingresso.com. As distribuidoras dos filmes desta edição são Bonfilm, California Filmes, Mares Filmes, PlayArte, Synapse e Vitrine Filmes; além de exibidores de cinema independente e de arte.

Veja aqui a programação dia após dia no Cineflix Shopping Pelotas.

Para assistir aos filmes, é necessário usar máscara e mostrar comprovante de vacinação com identidade.

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Obra valoriza a arte de mulheres negras da região Sul

Por Gabriella Cazarotti     

E-book “Do Fogo que Arde em Nós” registra poeticamente vivências de autoras gaúchas    

A pesquisa de mestrado de Ediane Oliveira rendeu muito mais do que conteúdo acadêmico. A jornalista e militante dos movimentos negros percebeu que o material que ela vinha estudando desde 2019 era poético e valioso, uma escrita potente o suficiente para virar algo a mais. Um e-book de “escrevivências”. A partir dos seus estudos, a pesquisadora percebeu a importância da escrita poética como expressão da identidade e o resultado mais recente foi a publicação “Do Fogo que Arde em Nós”, com livre acesso na internet.

Este projeto surge conectado à pesquisa de mestrado de Ediane em Antropologia na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O princípio do projeto era registrar a vivência de mulheres negras. “Eu estava estudando epistemologia e experiências de mulheres negras em Pelotas e um dos métodos que eu utilizei foi o método da ‘escrevivências’, termo cunhado pela escritora Conceição Evaristo. Esse método é utilizado dentro das Ciências Humanas para pensar a experiência vivida por mulheres negras”, explica a jornalista.

Entretanto, o que Ediane registrava ia além de academicismos com a poesia do que era dito e escrito. A arte contida nas palavras era muito forte para passar despercebida. A jornalista sempre teve mais afinidade com a área de Jornalismo Cultural, e soube identificar o conteúdo artístico que estava escrevendo. “Ao longo do processo do mestrado, eu comecei a perceber a potência dessa pesquisa. A construção desse estudo foi se transformando em uma reunião de ‘escrevivências’ de algumas mulheres muito referenciais para mim aqui na cidade de Pelotas.”

A experiência de pesquisa da jornalista se transformou em um projeto cultural, buscando dar visibilidade a outras expressões identitárias e poéticas. Em 2020, com a pandemia, Ediane resolveu escrever o projeto na categoria literária do edital diversidade das culturas da Fundação Marcopolo com o apoio da lei Aldir Blanc. Com o recurso que recebeu, pode dar início ao e-book que visa valorizar e divulgar as obras poéticas de mulheres negras.

O título do projeto é o mesmo da dissertação e ele se conecta diretamente com um poema da autora Conceição Evaristo que fala sobre “o fogo que arde”. Ediane logo relacionou a palavra “fogo” com o ato de resistência do povo negro. “O mercado editorial exclui as escritas negras, Conceição Evaristo foi uma autora que levou muito tempo para ser reconhecida dentro do espaço da literatura nacional, esse é um ponto que sempre me chamou muita atenção, como o racismo atravessa todas as estruturas da sociedade, inclusive os espaços da arte”, conta a autora.

Ediane Oliveira, organizadora e idealizadora do projeto literário

O processo de escolha das autoras e dos poemas foi feito por Ediane, que já possui experiência em curadoria com outros projetos que participa, como a revista de literatura Mandinga. Houve uma chamada pública de escritoras negras de todo o estado do Rio Grande do Sul, e em seguida, Ediane aplicou critérios para contemplar a arte de quatro autoras para participar do e-book “Do Fogo que Arde em Nós.” As participantes desta edição são Agnes Mariá, Claudia Daiane Garcia Molet, Eliana Marah e Pérola Negra.

A pesquisa não termina no e-book. Os próximos passos do projeto é um dos maiores desejos da organizadora, transformar o material on-line em livro físico e abranger mais pessoas. No site do projeto, o conteúdo de todas as escritoras que se inscreveram para participar do e-book será divulgado, para que todas tenham visibilidade em suas escritas.

Para a jornalista, a produção de literatura feminina negra no Brasil está passando por um grande processo de mudança. Um momento de visibilidade, fruto de uma resistência do movimento negro que lutou para ocupar esse espaço. Entretanto, nem tudo está resolvido, Ediane ainda acredita que os espaços de publicação editoriais de mulheres negras ainda são restritos e seletivos por parte das editoras. “O que se pode fazer para apoiar e viabilizar a existência de escritoras no Brasil são mais fomentos públicos para que se tenha de fato a valorização das produções artísticas. Que essas mulheres recebam conhecimento, não apenas simbólico, mas financeiro, pois viver de poesia não é fácil no Brasil.”

O e-book pode ser acessado neste site e os próximos passos do projeto podem ser acompanhados pelas redes sociais.

 

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Marina Sena: revelação da música pop brasileira em 2021

 

Por Helena Isquierdo    

Cantora conquistou o público com seu álbum de estreia “De Primeira”, e acumula quatro indicações para o Prêmio Multishow deste ano

                                Marina Sena: identidade visual única, vibrante, chamativa e com uma alta qualidade vocal                              Foto: Divulgação/Fernando Tomaz

 

Mineira de 24 anos, Marina Sena ganhou o coração do público com suas músicas que misturam sonoridades como pop, axé, reggae e MPB. O seu primeiro álbum em carreira solo, “De Primeira”, produzido por Iuri Rio Branco, possui 10 faixas que unem todas as referências que Marina cresceu escutando.

O nome “De Primeira” possui três justificativa. Segundo Marina. Inicialmente, por ser uma expressão muito dita por sua avó. Segundo, pelo disco reunir esforços para chegar à primeira qualidade, e também por ser uma aposta de que ele daria certo logo de cara.

A cantora e compositora começou sua carreira profissional aos 18 anos, e fez parte dos grupos Rosa Neon e A Outra Banda da Lua antes de apostar em seguir seus sonhos sozinha.

Atualmente, ela possui mais de 1,7 milhões de ouvintes mensais no Spotify e concorre a quatro categorias de destaque no Prêmio Multishow 2021: Álbum do Ano, Canção do Ano, Revelação do Ano e Experimente.

O sucesso não para

Recentemente, sua música de maior sucesso “Por Supuesto” entrou na onda de trends da rede social TikTok e viralizou ainda mais. Isso fez, inclusive, com que a faixa entrasse para a playlist “Viral 50 Global”, do Spotify. O hit chegou a atingir o topo desse ranking, que monitora as músicas que estão sendo mais ouvidas, comentadas e compartilhadas através das redes sociais.

Entre outros destaques de sua carreira em 2021, Marina foi a artista escolhida pelo programa Radar Brasil – playlist que divulga os novos talentos brasileiros. Ela também esteve entre os nomes da América Latina pelo YouTube Foundry, estrelando anúncios na Times Square, em Nova York.

Muito comparada com cantoras como Marisa Monte e Gal Costa, ela já está confirmada para os festivais Rock The Mountain e Sarará. Com identidade visual única, vibrante, chamativa, e com uma alta qualidade vocal, a sua notoriedade no mundo da música e as posições nos charts não param de crescer. Vale a pena escutar seu novo álbum!

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Poder e disputa na eletrizante guerra familiar de “Succession”

Por Milena Schivittez            

Série conta a vida conflituosa de um empresário de mídia e seus quatro filhos

Kendall (interpretado por Jeremy Strong), o primeiro da linha sucessória, e o patriarca Logan Roy (Brian Cox)

 

Polêmicas, intrigas e reviravoltas não são tão incomuns em dramas familiares, principalmente naqueles que abordam uma disputa por poder. Essa premissa básica pode exemplificar diversas séries televisivas, desde produções históricas até enredos mais contemporâneos. Mas afinal, o que torna “Succession” esse fenômeno de crítica e audiência?

À primeira vista, “Succession” apresenta uma trama muito comum aos olhos daqueles que cresceram assistindo novelas e dramalhões televisivos, recheados de personagens ricos, herdeiros, esnobes e pouco confiáveis. A família Roy, com as figuras centrais do enredo, não é nada diferente destes personagens, porém bem mais intragável.

Criada por Jesse Armstrong, a série da HBO acompanha Logan Roy (Brian Cox), um empresário de sucesso, dono de um conglomerado de mídia, e seus quatro filhos: Connor Roy, o filho mais velho do primeiro casamento que vive às custas do pai e sem nenhuma perspectiva; Kendall Roy (Jeremy Strong), o primeiro filho do segundo casamento e o principal nome para suceder Logan no comando da organização; Roman Roy (Kieran Culkin), o filho irresponsável, mas que almeja um lugar importante nos negócios da família; Siobhan Roy (Sarah Snook), a filha preferida de Logan que trabalha como coordenadora de campanhas políticas.

A trama começa a partir de um momento decisivo para a empresa de mídia e entretenimento Waystar Royco e para a família Roy, responsável pelo conglomerado. Logan Roy, fundador e CEO da empresa, decide finalmente deixar o comando e nomear o seu sucessor, seu filho Kendall. Contudo, o patriarca volta atrás e acaba lançando uma verdadeira disputa entre seus filhos e os funcionários. Até mesmo ele é desafiado para saber quem finalmente ficará no comando.

Com um texto muito afiado, diálogos pertinentes e alternando com perfeição entre o humor e o drama, a sátira apresenta personagens cruéis, que não medem esforços para apunhalar uns aos outros pelas costas, fazendo com que o próprio telespectador fique confabulando para saber de quem será o próximo golpe. O público é levado a torcer para que um deles finalmente consiga chegar ao tão cobiçado poder.

O que acaba tornando “Succession” uma das melhores séries atualmente no ar é justamente a forma fria, crua e direta na qual Armstrong decide construir e apresentar ao público essa família. Ela é completamente disfuncional, brigando por uma empresa que a cada dia se afunda mais perante os acionistas, ao governo e a opinião pública. Tudo em “Succession” é uma bomba relógio, prestes a explodir, que acaba nos deixando presos para saber quem vai restar no final desta guerra familiar.

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A resistência do cinema gratuito da UFPel

Por Gabriella Cazarotti   

Espaço universitário para filmes artísticos funciona desde 2015 voltado à comunidade

Projeto tem a missão de levar a produção cinematográfica relevante para toda a sociedade

A Sala Universitária de Cinema da UFPel é motivo de orgulho para Cíntia Langie. Professora dos cursos de Cinema e Audiovisual e de Cinema de Animação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), ela também coordena o projeto de extensão Cine UFPel.

O Cine UFPel é uma sala de cinema que foi constituída por iniciativa dos docentes do Colegiado dos cursos de Cinema do Centro de Artes através de um projeto de extensão.

No período pandêmico vivido coletivamente pelo planeta, a sala de cinema precisou se adequar às exigências de distanciamento social, portanto permaneceu fechada durante vários meses. Mas o que uma sala de cinema coletiva e pública representa não pode ser esquecido, e a história do Cine UFPel merece ser contada. Para isso, entrevistamos a professora Cíntia Langie. 

Arte no Sul: Como surgiu o Cine UFPel?

Cíntia: Em 2012, a gente sentiu a necessidade e o mundo estava confluindo para que fosse possível ter um laboratório de exibição. Era uma necessidade ampliada de ter um espaço para que os estudantes pudessem entender como funciona a exibição em uma sala de cinema de verdade: uma sala escura, com pisos inclinados, poltronas reclináveis, paredes pretas, telas grandes e som bom.

Arte no Sul: As exibições começaram imediatamente em 2012?

Cíntia: Em uma universidade pública, nem sempre todas as coisas são prontamente atendidas, então ficamos de 2012 a 2015 nessa gestão interna, entre diálogos com reitoria e a participação de alunos confabulando esse projeto. A sala mesmo passou a operar em 2015, na nossa primeira exibição.

O Cine UFPel existe desde essa época no mesmo espaço físico, sempre com a mesma meta: oferecer cinema de qualidade, tanto de produção quanto de programação. Além da qualidade, a gratuidade. Isso é muito importante quando se fala de extensão. O objetivo é levar cinema de graça para o público interno e a comunidade externa, que carecem de um espaço para discutir um cinema artístico.

Arte no Sul: O cinema e a arte dependem muito das pessoas, da coletividade. Como o Cine UFPel enfrentou o período de pandemia?

Cíntia: Essa é a parte complicada. Tem sido tenso esse momento geral no mundo inteiro, não só com a pandemia, mas também com essas ondas desses governos neofascistas. Há não só um descaso, mas um projeto de desmanche da educação e da cultura no Brasil.

Para as salas de cinema, esse período de pandemia foi um horror. A crise do setor é imensa. No projeto do cinema, tivemos que nos adaptarmos para seguir com os projetos culturais, e seguir a tendência geral da pandemia: realizar ações on-line

Se é que tem alguma coisa que a gente podia aproveitar do on-line, é trazer pessoas que não poderiam vir por serem de outras cidades. Então fizemos mostras de cinema com convidados de diferentes partes do Brasil. [Houve a Mostra Cinema Coletivo, a Mostra Virtual e o Festival Levante durante a pandemia.]

Mostras e encontros virtuais foram solução encontrada para o período da pandemia

 

Arte no Sul: Como ocorreram essas mostras?

Cíntia: Teve uma mostra com ex-alunos. Então os nossos alunos se formam aqui na UFPel e voltam para suas cidades, seja São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia ou Recife. A gente fazia mostras com curtas e realizava debates com eles.

Depois tivemos uma mostra voltada para Pelotas, o Cine UFPel Convida. A gente trouxe alguns coletivos da cidade para que eles escolhessem o filme. Convidamos a Usina Feminista, Bem da Terra, Grupo Também. Então a gente teve coletivos de cunho social da cidade que escolhiam os filmes e depois nós debatíamos sobre o filme. 

Arte no Sul: Como você interpreta o papel de um projeto de arte como o Cine UFPel para a comunidade?

Cíntia: É uma dupla missão. Fazer a arte chegar ao público brasileiro. As pessoas hoje vivem dentro de uma bolha de produtivismo, há uma dificuldade em manter-se no mundo capitalismo e elas não têm hábito, cultura ou tempo para usufruir de bens culturais, e isto é um problema histórico no nosso país. Essa é nossa grande missão, fazer a arte chegar ao grande público, não só àqueles que já gostam de cinema.

A segunda missão é entender cada vez mais o perfil da universidade que leva seus saberes para a comunidade de uma forma mais ampla. São coisas difíceis, pois é uma questão estrutural. A universidade ainda é elitista, muitas pessoas não se sentem pertencentes em alguns espaços. A população em geral, muitas vezes, passa no Theatro Guarany ou no Theatro 7 de Abril e, mesmo que houvesse algum espetáculo gratuito, não se sente convidada a entrar nesse espaço. É uma missão para a vida toda.

Links

As Mostras de Cinema do Cine UFPel podem ser assistidas pelo Youtube e as atividades da sala podem ser acompanhadas pelas redes sociais do projeto.

Conheça, por exemplo, a importância da parte elétrica na produção de filmes no debate com a chefe eletricista Carol Zimmer, na Mostra Cinema Coletivo #4. 

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“Pessoas Normais”: sutileza, desconforto e realidade nas relações afetivas

Por Milena Schivittez        

Segundo livro da irlandesa Sally Rooney desperta incômodo pelo não dito na trajetória de Marianne e Connell

A obra da autora Sally Rooney, é caracterizada pelas sutilezas que ficam nas entrelinhas dos seus textos   Foto: Divulgação

 

Marianne e Connell vivem vidas completamente diferentes. Connell é popular, Marianne é solitária. Connell tem uma origem humilde, Marianne vem de uma família rica. Connell gosta da atenção que recebe, Marianne preferia passar despercebida. Connell, a princípio, não entende Marianne, já Marianne entende Connell até demais.

Em qualquer outro livro, essa seria uma história sobre como os opostos se atraem. Mas esse não é o caso de “Pessoas Normais”.

Marianne e Connell se conhecem desde a escola, mas não são amigos. A única interação que os dois tiveram por muito tempo acontecia apenas quando Connell ia buscar sua mãe, que trabalhava como diarista na casa da família de Marianne. A troca de meia dúzia de palavras evolui para uma relação física e conturbada entre os dois, já que Connell pede para manter tudo em segredo.

Eventualmente, a insensibilidade de Connell e a necessidade de manter a fachada para os amigos acabam machucando Marianne, que decide terminar o relacionamento. O livro, que é inteiramente construído com passagens de tempo, avança para Connell e Marianne já na universidade. Desta vez, a história é diferente.

Connell chega na Trinity College e não conhece ninguém e ninguém o conhece. Ele enfrenta dificuldades com o mundo acadêmico, começa a conviver com pessoas ricas, enquanto ele tem que batalhar para se manter na capital irlandesa e não se encaixa em lugar nenhum. Até que ele reencontra Marianne, cercada de pessoas, o centro das atenções, aparentemente vivendo a melhor época da vida dela.

Não demora muito para que os dois comecem a se relacionar novamente, pois a atração que sentem um pelo outro é inegável. Entre idas e vindas, Marianne e Connel vão aos poucos construindo uma relação realmente plausível. Também vão se construindo como pessoas e se reconhecendo no mundo, possibilitando uma identificação com os leitores.

“Pessoas Normais”, antes de ser um romance entre dois jovens no início da vida adulta, é um livro desconfortável pelo não dito. O sutil, o que está nas entrelinhas, é o que caracteriza a obra de Sally Rooney, desde a estrutura ao não utilizar travessões ou aspas para indicar falas, aos movimentos, indicações e atitudes dos personagens que falam muito mais do que uma mera descrição.

Em nenhum momento Rooney entrega com todas as letras o que está acontecendo ou o que se passou com os personagens. E isso acaba nem sendo o importante, o leitor entende e sente sem precisar dos detalhes. Não é à toa que a autora é um dos maiores nomes da literatura contemporânea, tendo recém-lançado seu terceiro livro.

Por último, Sally Rooney nos mostra que o futuro de Connell e Marianne não é o essencial na história, mas sim a jornada que levou os personagens até onde eles chegaram. Mas por quê? Simples, a trajetória dos dois é nada diferente da minha, da sua, da autora ou de qualquer outra pessoa. É o que torna a história tão real e plausível.

No final, nada mais são do que pessoas normais.

Desenho sugere abordagem complexa das relações amorosas feita na obra literária       Imagem: Divulgação

 

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Músico lourenciano Miguel Lima inspira com sua trajetória

 

Julya Bartz Boemeke Schmechel   

Cantor e compositor começou a sua carreira artística aos 14 anos de idade

 Miguel Lima: “O que me inspira desde sempre é a alegria mesmo, sabe? A positividade”

A música é um dos meios culturais mais cativantes que existem. Ela está presente em todos os lugares e tem o poder de acalmar, divertir e principalmente inspirar. E, quando feita com entusiasmo, ela se torna ainda mais especial. E essa paixão pode ser sentida e ouvida através das músicas de Miguel Lima, musicista lourenciano que inspira jovens com sua trajetória.

O contato de Miguel com a música começou cedo: aos 14 anos ele participou de uma aula de violão gratuita para começar a tocar na igreja. Ele conta que não possuía violão para participar da aula e que Mário Freitas – artista de São Lourenço do Sul que Miguel carinhosamente chama de “padrinho musical” – disponibilizou um de seus violões para que ele pudesse participar das aulas. Na sequência, Miguel começou a compor e cantar e nunca mais parou. Esse amor foi ganhando mais espaço em sua vida e seu coração, até se tornar parte do músico. Hoje, Miguel é quem compõe todas as suas músicas. 

Quando questionado sobre as suas influências e inspirações na música, Miguel explica que nem sempre são as mesmas: “Sabe que isso é muito de época pra mim? Tem coisas que me inspiraram e hoje já não inspiram mais. E tem coisas que vão ser sempre inspiração”. Miguel cita Charlie Brown Jr.: “Essa banda sempre vai ser uma inspiração pra mim, principalmente as melodias e claro, as letras.”. Miguel também cita o cantor Vitor Kley como uma forte inspiração em sua carreira, o qual conheceu antes da fama e o descreveu como “uma pessoa simpática e acessível”. Lembra que, mesmo depois de conquistar o sucesso de público, Vitor seguiu sendo uma pessoa muito humilde, e que estas atitudes são muito inspiradoras.

Em 2017, ambos os artistas tiveram a oportunidade de conversar, pois dividiram o mesmo camarim no Facool Festival, que ocorreu em Pelotas. Após esse encontro, Miguel Lima e banda ficaram responsáveis por abrir o show de Vitor Kley que ocorreu em São Lourenço do Sul, no ano de 2018.

Vitor Kley e Miguel Lima em show de 2018 que marcou  a amizade entre os dois músicos

Além de outros artistas, o músico conta que os sentimentos também são uma forma de inspiração para ele: “O que me inspira desde sempre é a alegria mesmo, sabe? A positividade, a energia boa. Até se eu tiver que escrever uma música triste, eu tenho que estar feliz, tenho que estar bem”.

Hoje, aos 33 anos, seu currículo conta com músicas carregadas de sentimentos e com letras para lá de especiais. Suas duas últimas músicas, “Linda”  e “Teu sorriso”  tocam na Rádio Atlântida e Rádio Gaúcha e conquistam cada vez mais pessoas. Miguel conta que “Teu sorriso” foi escrita quando ele tinha apenas 14 anos e foi gravada em 2020, quando ganhou um clipe super especial, que mostra os diversos tipos de amor, como o amor entre avó e neta, mãe e filho e entre seres humanos e pets. 

Miguel e produtor Rick Bonadio, em workshop no estúdio paulista Midas em  2018

Entre suas atividades paralelas, Miguel é professor de violão há 10 anos e ensina o modo básico pessoal para todas as idades. Dá aulas particulares, mas já ministrou aulas nas escolas, através de projetos da Prefeitura de São Lourenço do Sul, nos quais conta que viveu momentos muitos bonitos com os alunos.

Apesar de ser um artista do interior, de um município pequeno, Miguel afirma que não vivencia obstáculos em relação ao seu trabalho, principalmente dentro do seu nicho, que é o estilo pop. “Eu não sinto essas barreiras, porque o trabalho autoral, através da internet, chega em qualquer lugar”. Um forte exemplo disso é o fato de que todos os seus clipes já foram transmitidos na televisão em canais como, RedeTV, SBT, Play Tv, entre outros. Esse é o resultado de anos de dedicação e comprometimento com a música, que tornam Miguel Lima um músico excepcional.

Miguel conta que seu maior sonho é que suas músicas atinjam cada vez mais gente: “Quero que elas atinjam o coração das pessoas, quero emocionar, quero fazer as pessoas serem felizes, pularem, cantarem, se emocionarem com as minhas músicas…”. E, com certeza, esse é só o começo da carreira do músico lourenciano, que possui enorme potencial de conquistar o Brasil.

Para acompanhar e conhecer mais sobre o trabalho de Miguel Lima, além do canal no Youtube, ele está no Spotify e no Instagram.

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Sex Education: Personagens amadurecem na terceira temporada

 

Por Vitória de Góes     

Série voltada para o público jovem trata da sexualidade sem preconceitos

A terceira temporada chegou ao streaming no dia 17 de setembro      Foto: Divulgação/Netflix

 

Seguindo a linha de dramas adolescentes, mas com uma temática totalmente diferente, é que chegou à Netflix a série “Sex Education”, de Laurie Nunn. Como o próprio título diz, ela aborda o sexo sem tabus entre personagens adolescentes que estão em fase de descobertas. A série, que recentemente lançou a sua terceira temporada, conquista o público por levantar temas bastante discutidos atualmente como assédio, a necessidade de educação sexual nas escolas e o preconceito de gênero e identidade.

Na terceira temporada, esses assuntos ganham mais força quando a escola Moordale recebe uma nova diretora, a Hope, e ela se mostra conservadora e preconceituosa. Os alunos, então, que já entendem a necessidade de falar sobre sexo de forma séria e sem tabus, unem-se para lutar contra as regras impostas.

Personagens principais como Otis, filho de uma terapeuta sexual, e Mave, uma adolescente que cresce sozinha devido aos problemas da mãe com drogas, também passam por amadurecimentos durante os episódios e exploram o amor e a empatia. Além disso, essa nova fase também é a que traz mais cenas sexuais e de pegação, mas tudo isso de forma ainda leve e que não anula as principais reflexões da série.

Eric e Adam descobrem a si mesmos enquanto constroem um relacionamento     Foto: Divulgação/Netflix

Outra personagem que ganhou o carinho do público na última temporada é Aimee. Agora, ela segue uma jornada para reencontrar e aceitar o corpo após o assédio sofrido no ônibus, o que ensina muito a construção de amor-próprio e restabelecimento de segurança. Mais uma história de vida que motiva a audiência é a de Adam. Ele iniciou a série como um rapaz violento e homofóbico e, ao longo da trama, descobre-se homossexual e assume um relacionamento com o irreverente Eric.

Mesmo em seus momentos mais leves, a série deixa claro que as conversas entre os personagens estão cada vez mais complexas, demonstrando o amadurecimento de cada um. A trama e, ainda mais, a terceira temporada, mexe com os sentimentos dos jovens que estão assistindo. Também o público adulto está se descobrindo entre os erros e acertos vividos nos episódios. “Sex Education” é uma série para maratonar, divertir-se e também se emocionar com a história de cada personagem e sua busca por se identificar em um mundo plural.

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Uomini Rispettati:  “Frank Sinatra está Resfriado”

Por Milena Schivittez  

Problema para fazer reportagem da revista Esquire deu origem a um texto célebre

Serendipitoso. Adjetivo masculino. Pessoa com capacidade de fazer descobertas úteis ou felizes.

Gay Talese: expoente do Novo Jornalismo

Essa é a forma como Gay Talese se descreve, serendipitoso. E teria como descrevê-lo de outra forma? Foi a serendipidade de Talese que o levou a escrever uma reportagem que se tornaria um marco do Jornalismo Literário, um perfil de Frank Sinatra, sem Frank Sinatra.

Em 1965, Gay Talese ficou encarregado de entrevistar Frank Sinatra para um artigo da revista Esquire que seria capa da edição. Na época, Sinatra estava prestes a fazer 50 anos, ia protagonizar um especial de Natal para a televisão e tinha um documentário sobre sua vida prestes a estrear.

Talese ia escrever um perfil de Sinatra, explorar um pouco mais essa figura tão conhecida da música estadunidense. Contudo, Sinatra desistiu de conceder uma entrevista. Estava resfriado. Em uma situação dessas, qualquer outro jornalista diria “a pauta caiu”, viraria as costas e iria embora.

Talese, dotado de serendipidade, resolveu que iria produzir o perfil mesmo assim.

Sinatra era uma pessoa pública e, como toda pessoa pública, tinha sua vida exposta para seus admiradores e críticos. Seus affairs saíam nas colunas de fofoca, seus fãs o perseguiam na rua e nos estabelecimentos, sabiam por onde ele passava e corriam para encontrá-lo. Ele concedia entrevistas, seus filhos eram reconhecidos, era difícil encontrar um americano que não soubesse pelo menos um detalhe da vida de Sinatra, quiçá impossível.

O que tornaria “Frank Sinatra está resfriado” um símbolo?

Impossibilitado de entrevistar Sinatra, Talese resolveu traçar um perfil de Sinatra através das pessoas ao redor dele. Quem era o Frank Sinatra pai? Chefe? Amigo? Filho? Companheiro? Faces até então desconhecidas por aqueles que só conheciam um, o Sinatra artista.

É destrinchando as relações com o Rat Pack (como era conhecido seu grupo de amigos artistas), sua família e seus funcionários, coletando testemunhos e entrevistas dos mais próximos do cantor que Gay Talese vai construindo uma imagem de um Sinatra diferente e até mesmo dicotômica.

Sinatra era poderoso, irreverente, fiel aos seus chegados e eles ainda mais fiéis àquela figura que Gay descreve, muitas vezes, como Il Padrone. Era sensível e implacável. Era generoso, mas sabia ser difícil quando contrariado. Era alguém que todos respeitavam, desde seus familiares até seus adoradores. Suas vontades estavam acima de qualquer coisa e todos estavam a postos para que ele não fosse incomodado com nada além do necessário.

As pessoas queriam estar ao redor de Sinatra de qualquer forma, era impossível vê-lo sem sua “gangue” em volta. Em um certo momento, Talese relata uma situação na qual só havia um lugar na fileira de Sinatra, para assistir uma luta em Las Vegas, e o cantor Joey Bishop deixa a mulher para trás para poder sentar-se próximo do artista.

Artigo criou perfil biográfico de Sinatra através de depoimentos daqueles que conviviam com o cantor

Esse era o Frank Sinatra que Gay Talese nos apresentou. Sinatra além das baladas românticas, do charme, de Hollywood e da fama. 

Aos poucos, Talese vai construindo, destruindo e reconstruindo essa imagem quase santa de Sinatra, na qual seus companheiros são devotos fervorosos. Mesmo cheio de defeitos, é quase impossível não sentir Frank Sinatra como uma figura imaculada através das descrições feitas pelo jornalista. É assim que todo mundo o enxergava, talvez tenha sido a única forma de enxergá-lo.

Talese conseguiu captar os diferentes Sinatras presentes em um único astro, como se mesmo sem conhecê-lo diretamente, o entendesse. E é possível dizer que sim, ele o entendia. Gay e Frank têm origens próximas, são ítalo-americanos, filhos de imigrantes e excepcionais em suas áreas. São uomini rispettati, homens de respeito, grandiosos, brilhantes.

É de forma crua e direta e ao mesmo tempo com uma estrutura narrativa próxima de um romance de ficção, que Gay Talese vai nos apresentando o artista de um jeito nunca visto antes, fazendo de “Frank Sinatra está resfriado” uma aula de Jornalismo Literário, uma expressão da arte não-ficcional. Um astro pelas palavras de um ícone.

O texto completo pode ser lido na coletânea “Fama e Anonimato”, lançada no Brasil pela editora Companhia das Letras.    

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