Festival Levante divulga cinema independente

Por Thiago Lehn

Evento teve sua primeira edição em março nas plataformas digitais

O Festival Levante foi produzido e dirigido pelos alunos dos cursos universitários de Cinema de Pelotas, João Fernando Chagas e Rubens Fabricio Anzolin, através da lei Aldir Blanc, com o intuito de trazer ao público filmes ainda não vistos, produzidos de forma independente, seja no ambiente da faculdade, através de editais ou por iniciativa própria, porém sempre com a vontade de produzir cinema brasileiro. Teve palestras sobre distribuição alternativa de filmes, cinema de animação, e filmes brasileiros voltados para as classes trabalhadoras.

O evento teve parceria com os cursos de cinema da UFPel, a ACCIRS – Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, o Centro Técnico Audiovisual e o Navega – Rotas Criativas e teve a curadoria de André Berzagui, Lauren Mattiazzi Dilli, Victória Kaminski, Gianluca Cozza, Lucas Honorato e Matheus Strelow.

De forma virtual, toda a programação do Levante ocorreu no Youtube, o evento trouxe entre suas categorias a mostra animada, paralela, retrospectiva e a mostra levante (de curtas live action) além de debates com convidados. Ao todo mais de 500 filmes se inscreveram para o festival.

Em parceria com o CTAv o Levante proporcionou o prêmio CTAv, para o qual todos os projetos participantes das mostras competitiva poderiam enviar seus projetos em desenvolvimento para uma banca formada por Guilherme da Rosa, Lanza Xavier e Roberto Cotta e disputar a premiação que consistia em empréstimo de uma câmera Black Magic e acessórios de produção.

O vencedor foi “Jornada de 16 horas”, de Clara Henriques e Luiza França.

As mostras competitivas contaram com o júri popular, o júri da crítica (formado por Luciana Tubello, Thomás Boeira e Carlos André Moreira) e o júri oficial (com Marco Antônio Pereira, Analu Favretto e Leonardo da Rosa).

O vencedor do júri popular foi o filme “Dez Conto” de Bruno Maciel, a premiação foi de mil reais, uma cópia do livro “Lei da Ancine Comentada” e outra de “Leis de Incentivo para o Audiovisual”, cedidos pelo palestrante Marcelo Ikeda.

O júri da crítica decidiu por “As canções de amor de uma bicha velha” como vencedor o contemplando com a premiação dos livros “Lei da Ancine Comentada”, Leis de Incentivo para o Audiovisual” e “Fissuras e Fronteiras”, também cedidos pelo professor Marcelo.

O júri oficial teve o papel de decidir os vencedores da mostra Levante e da mostra animada concedendo os prêmios de mil reais e um curso na Navega para cada um. Os filmes escolhidos foram “Subnews”, como melhor filme de animação, e “Dez Conto”, como melhor filme live action.

Ao longo do percurso, foram mais de 13 apresentações no Youtube com média de uma hora entre trocas de experiências, conversas e perguntas relacionadas às obras selecionadas e o cinema em geral. Um dos pontos altos do festival foram as palestras e debates,.

Por uma distribuição alternativa dos filmes

No dia 24 de março, as sessões no Youtube tiveram início com uma conversa entre um dos idealizadores do evento, Rubens Fabricio Anzolin, com o professor Marcelo Ikeda. A temática da distribuição de filmes alternativos no Brasil marcou o início do primeiro Festival Levante.

Nascido no Rio, Marcelo foi para o Ceará ser professor da primeira turma do curso da Universidade Federal do Ceará. É autor de livros sobre o cinema, tais como “O cinema independente brasileiro contemporâneo em 50 filmes”.

A conversa flui com o professor lembrando das facilitações da modernidade em gravar filmes de ensaio, caseiros e até filmes independentes pela facilitação da tecnologia, reforçou a ideia de que os cineastas devem lutar pelos editais governamentais de financiamento, mas que eles próprios deveriam criar seus próprios meios de produção.

Ao mesmo tempo que elogia os festivais, crítica como esses eventos e a comunidade do cinema vivem em uma bolha. Segundo Marcelo, ela precisa estourar para que a cultura chegue em mais pessoas, assim completando seu papel social. A conversa durou mais de uma hora e se estendeu por diversos caminhos sobre a produção e a distribuição brasileira de filmes.

Curtas de animação

A palestra sobre curtas de animação foi entre as criadoras Amanda Trindade e Helena Hilário. As duas tiveram reconhecimento importante e recente por conta do seu trabalho com animação e contribuíram para expandir a conversa no Festival.

Amanda é artista 2D formada em cinema de animação na UFPel e foi a animadora do filme “O céu da boca” que passou por festivais, inclusive os importantíssimos Anima Mundi e o Grande Prêmio Brasileiro de Cinema, no qual foi finalista. Apaixonada pelo seu trabalho, ela conta que agora seu objetivo de vida é contar histórias desenhando.      

Amanda Trindade foi a animadora do filme “O céu da boca” que passou por importantes festivais

Helena Hilário é diretora e roteirista de “Umbrella”, curta de animação reconhecido em mais de 55 festivais e que entrou na lista prévia do Oscar, na qual acabou não se classificando. Foi o filme curta brasileiro que mais chegou perto da nomeação. O curta foi produzido com uma animação 3D de altíssimo nível durante dois anos, que é um período curto para esse tipo de trabalho.

A diretora conta que foi criada a empresa produtora Stratostorm, que tinha como um dos objetivos viabilizar o projeto de “Umbrella”.  Mais tarde, em 2018, verificou-se a necessidade de estabelecer uma equipe própria.

Memória de camponeses e operários

A palestra “O que Brilha no choque?” tratou de montagens de camponeses e operários no cinema brasileiro. O debate tratou sobre os estudos de filmes e a análise de como esses recursos audiovisuais criaram, ao longo do tempo, uma imagem e uma memória que definisse os trabalhadores. Foi discutido como essas parcelas sociais foram vistas durante épocas passadas e como são vistas hoje em dia, com semelhanças ou não. Essas pesquisas buscam fatores de identidade e marcas temporais nos filmes que permitem compreender diversos setores sociais em cada período analisado.

A apresentadora Analu Favretto é mestranda da Unisinos, formada em Cinema e Audiovisual pela UFPel. É também crítica de cinema e realizadora audiovisual, com passagem por festivais em diversas partes do Brasil. Durante sua formação, teve um trabalho longo e duradouro nas salas de cinema do Cine UFPel, em Pelotas. Outro palestrante, Maurício Vassali, é doutorando em Comunicação pela PUC-RS, com pesquisa voltada às imagens do operário no cinema brasileiro. É formado pela Universidade Federal de Pelotas e também é membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS). Durante anos, fez parte do Zero4 Cineclube.

Visite a página do Facebook do Festival Levante.

Veja mais sobre o Festival Levante em “Diversidade de Ideias em Mostra Cinematográfica”

Entrevista com os realizadores do evento.

PRIMEIRA PÁGINA

COMENTÁRIOS

Identidade afro-brasileira em teatro on-line

Por Ester Caetano

“A Última Negra” estreia no dia 15 e vai com apresentações até 25 de abril

O espetáculo teatral “A Última negra”, com data de estreia nesta quinta-feira (15), enfatiza os debates sobre as questões raciais e as causas sociais no Brasil. Configura seu cenário a partir do encontro do corpo de uma mulher negra congelada há 100 anos. Em um período histórico em que não existe rastro de pessoas negras, reacende as discussões sobre o racismo institucional presente no País. A atriz gaúcha Hayline Vitória protagoniza o espetáculo, no qual dá luz ao papel de “Dandara”. O texto ficou a cargo do dramaturgo Pedro Bertoldi. E as apresentações vão até o dia 25 de abril. de quinta-feira a domingo, sempre às 20h, no Canal do Coletivo Projeto Gompa.

A peça tem a proposta de aguçar as reflexões sobre o apagamento histórico sistemático que a população negra vem sofrendo, como também instigar sobre como um ser humano sem memória tem a dificuldade de reconhecer seus vínculos e encontrar sua identidade. A situação de descobrir o corpo da mulher negra de outra época faz com que reacenda a discussão da história brasileira. 

A atriz Hayline Vitória diz que “as Dandaras de hoje, presas de algum modo pelo racismo e nas mazelas dessa sociedade, têm sede e urgência de libertação, pois desejam ecoar as suas vozes e estarem sentadas nos tronos que lhe são de direito”.

A atriz Hayline Vitória faz o papel de “Dandara” no espetáculo que fala de questões afro-brasileiras

Furando as estatísticas e desempenhado o papel principal na quebra de paradigmas, vencedora do prêmio Açorianos na categoria melhor atriz revelação em 2016, Hayline Vitória, professora formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e produtora cultural, mostra que mesmo sendo clichê, o lugar da mulher negra é “onde ela quiser estar”. Percorrendo caminhos que acredita que foram abertos por seus ancestrais, pensa que a memória é a melhor forma de encontrar seu “eu” e poder perpetuar a abertura das trilhas para o triunfo da população negra.

Como na realidade de muitos negros, que lutam para se reafirmar dia após dia, está estafada. “Eu estou cansada também de falar só de dor, estou cansada de falar só de racismo, mas parece que a gente precisa falar disso. Porque muitas pessoas ainda não entenderam que ele existe”, desabafa. Ela expõe a angústia das especificidades que o meio artístico a impõe. “Nos colocam em diferentes subcategorias, aí, atriz, negra. Ah, é dramaturgia negra. É um caminho longo, até a gente conquistar o lugar de sermos atrizes e dramaturgas, sem precisar dizer a nossa cor”, lamenta.

Com a vivência gritante de um Brasil racista estruturalmente e padronizado, nos vários casos de discriminação e preconceito que enfrenta, vê-se silenciada e sem resposta, mas acredita que a arte e o seu trabalho são o alvorecer, como, também, o seu escape.  “A arte é a válvula, o lugar onde eu liberto as minhas coisas, onde falo, eu me protejo ali naquele lugar. E, com a arte, eu consigo dar essas respostas, mesmo que, muitas vezes, fique paralisada diante de situações que, infelizmente, a sociedade não cansa de nos mostrar que existem”, explica.

No século XXI, ainda existe o discurso de que “somos todos iguais”, remetendo à declaração do ator estadunidense Morgan Freeman de que “para o racismo deixar de existir é só parar de falar nele”. Camufla-se falas racistas e discriminatórias. Contudo, não é preciso virar muito a cabeça para enxergar que existe muita diferença e desigualdade que paira sobre a sociedade brasileira. Hayline indaga sobre quem está nos postos de poder. Nas artes dramáticas, quem está nos papéis principais? Os negros estão em quais peças de teatro? Quem são os atores? Onde estão os dramaturgos? Os diretores? “Quando a gente não tem referência, a gente não se enxerga”, diz.

Retomada da cultura teatral negra

Dando um passo para a inclusão, o economista Abdias do Nascimento escreveu a história que tem relevância até hoje no teatro brasileiro. Em 1944, idealizou um resgate da herança da cultura afro-brasileira com o Teatro Experimental do Negro (TEN), que buscou promover o protagonismo do negro em detrimento às representações caricatas e estereotipadas que se figuravam nos palcos brasileiros. O TEN recriou diversas peças como Otelo, de William Shakespeare.

A presença de Nascimento é sentida na dramaturgia brasileira da atualidade. A atriz Hayline entende que o TEN é uma referência inegável para uma crítica ao sistema racista. “O Teatro Experimental do Negro é muito importante, sem dúvida, até hoje. É a referência de teatro negro que, infelizmente, eu não tive dentro da universidade”, lamenta.

Mesmo percorrendo um caminho que tem que ser de resistência todos os dias, lutando contra a discriminação racial, Hayline acredita na mudança, acima de tudo. “É preciso oportunizar que artistas negros e negras tenham seus espaços nos trabalhos, não só para as pautas raciais. Então, chamar, por exemplo, um dramaturgo negro, ou uma dramaturga negra, para fazer a dramaturgia de um espetáculo sobre tema X, mas de uma forma diferente. Chamar uma assessora de imprensa, uma diretora, uma atriz para protagonizar uma Bela Adormecida, uma Cinderela, não sei, um João Pé de Feijão, chamar pessoas, negras, artistas, negros, realocando. E é mostrando que a gente consegue. A gente pode, obviamente, embora, às vezes, as coisas não são tão óbvias. Mas a gente deve estar em todos os lugares. E fazendo todos os personagens”.   

Solidariedade

O projeto da peça “A Última Negra” incentiva o acesso à cultura. Adquirindo os ingressos de valor único, de cinco reais, pode-se fazer uma doação para que jovens das periferias do Estado tenham a oportunidade de assistir ao espetáculo, como também, o valor arrecadado será convertido em alimentos não-perecíveis e doados para a ONG MISTURAÍ, da cidade de Porto Alegre. O espetáculo está sendo realizado com recursos do Governo do Estado do Rio Grande do Sul por meio do Pró Cultura RS FAC – Fundo de Apoio à Cultura.

Espetáculo virtual A Última Negra

Datas: de 15 a 25 de abril – de quinta a domingo
(As apresentações dos dias 17 e 23 de abril, aos sábados, terão tradução em LIBRAS)

Ingressos: R$ 5 (+ taxa de conveniência)

Vendas online: pelo site EntreAtos | compre aqui seu ingresso  

Onde assistir: Canal do Coletivo Projeto Gompa no YouTube (receba os links ao comprar o ingresso para acesso ao espetáculo e ao bate-papo)

Duração: 60 minutos + 20 min de bate-papo com elenco

Classificação: 14 anos

Para mais informações sobre o espetáculo A ÚLTIMA NEGRA acesse o site e o Instagram @aultimanegra

PRIMEIRA PÁGINA

COMENTÁRIOS

Grupo de pesquisa inova com “anti-intervenção” artística

Por Vitor Valente

Evento conceitual foi desenvolvido por pesquisadores da Furg

Promovido pelo grupo de pesquisa Observatório em Arte Pública Entorno e Novos Gêneros, o evento “Anti-intervenção Artística Conceitual no Espaço (não)Urbano: Cola na Ideia” é uma ação cultural pensada e desenvolvida para subverter o conceito de intervenção cultural. O grupo criou o conceito de anti-intervenção com a intenção de interagir artisticamente no espaço público, mas sem gerar aglomerações.

O evento aconteceu no dia 7 de abril em uma pista de skate na Avenida Atlântica, no balneário Cassino, em Rio Grande. O método artístico escolhido foi a colagem de ‘lambes’. A decisão, segundo Janice Appel, doutora em Artes Visuais e especialista em Arte Pública, foi devido à facilidade de criação e disseminação dos lambes. Todo o processo é feito de maneira artesanal. Os participantes da ação tiveram a liberdade de escolher o que fazer com as criações. “Colar na parede do quarto, em um poste, ou em uma parada de ônibus? Não importa, o importante é colar na ideia”, disse Janice.

“Lambes” refletem sobre o momento vivido Reprodução/Instagram

A professora explica que o evento surgiu após ponderações em conjunto com os bolsistas do grupo de pesquisa, Leandro Castro e Olívia Godoy. Os artistas buscavam maneiras de intervir artisticamente sem gerar aglomerações, pois o próprio princípio da arte pública reside no convívio direto com a comunidade e seus entornos. O grupo mapeou praças, monumentos, parques, terrenos baldios, feiras, espaços culturais e festas populares ao redor da cidade do Rio Grande.

Desta forma, passaram a observar o contexto atual e como os espaços foram afetados pela pandemia. Após o período de observação e estudo, escolheram a pista de skate do Cassino, devido à ligação do espaço com a arte de rua e as aglomerações que, de acordo com Janice, acontecem no lugar. No entanto, a ideia não se limita ao local e busca espalhar os cartazes por diversos espaços urbanos da cidade, conforme a mobilização dos voluntários.

                                     Cartaz de divulgação do evento                                     Imagem Reprodução/Instagram

As artes estampadas nos lambes expostos trazem reflexões sobre o momento em que o Brasil vive. Janice traça um paralelo entre a curva crescente de casos e óbitos pela covid-19 e as curvas presentes nas pistas de skate. Appel ainda destaca a importância de dialogar sobre a paisagem, seus entornos e a comunidade. O conteúdo busca conscientizar a população da cidade sobre a necessidade de distanciamento social, principalmente em um momento que a cidade vive bandeira vermelha e o esgotamento de medicação e restrição de atendimentos no Hospital Universitário da Furg.

A organização incentivou os participantes a enviarem registros fotográficos dos lambes colados e, ainda,a publicação do material artístico e suas reflexões nas redes sociais, usando a hashtag ‘#colanaideia’.

PRIMEIRA PÁGINA

COMENTÁRIOS:

Parabéns pela iniciativa professores
Viver na arte é recriar o nosso cotidiano,
Fazer pulsar a energia poética que existe em cada um de nós !

Marione Jaques da Silva

Parabéns pela reportagem Vitor!

Andressa Siemionko Lacerda

 

 

Documentário divulga gastronomia baiana

Por Juan Tasso

Segundo episódio de “Street Food” mostra culinária de Salvador

Um dos temas mais populares entre os documentários do canal de streaming Netflix é o da culinária. A plataforma conta com produções renomadas como o “Chef’s Table”. Dentre os seus trabalhos está “Street Food: América Latina”, uma série documental que registra comidas de rua em seis países do continente: Peru, Argentina, Bolívia, México, Colômbia e Brasil.

No segundo episódio da série documental, os mesmos produtores de “Chef’s Table” vieram ao Brasil em busca de comidas de rua, na capital do estado da Bahia, Salvador. A intenção da série é valorizar a cultura culinária local, além de respeitar e representar a história da população negra baiana nesta edição.

Seis personagens participam do episódio. Para dar início a narrativa, Tereza Paim, chef do restaurante Caza de Tereza, traz para a discussão a importância da cultura africana na cultura gastronômica de Salvador.

Dona Suzana é famosa pelas moquecas do seu restaurante                                 Foto: Divulgação 

Além de Tereza, a série contou com a presença do professor de Antropologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Vilson Caetano de Souza. Com nomes de peso que informam com seu conhecimento histórico, a produção consegue transmitir as nuances da religiosidade, contexto histórico e importância cultural da gastronomia da capital.

A grande estrela do episódio é Dona Suzana, dona do RéRestaurante. Ela conta sua história do interesse pela culinária, que começou com sua mãe quando ainda era pequena. De origem pobre, Dona Suzana conta hoje com um restaurante reconhecido nacionalmente, e amado pela comunidade local. Ela conta também com a companhia de seu marido, Antônio, pescador.

A equipe da Netflix gravou durante uma semana em Salvador, e conseguiu captar com sensibilidade a importância da gastronomia local, além das dificuldades que os comerciantes passam na região. Como destaque, a produção da Netflix mostra a moqueca de peixe de Dona Suzana, que faz sucesso entre os moradores.

Outros personagens marcam a narrativa do documentário. Uma delas é Martinha Rodrigues, destacada pelo documentário pelo pirão de aipim que serve nas praias. A produção expõe os desafios de uma mulher negra de fazer o que ama. Com Cláudia Bárbara, o episódio reforça a representatividade e a tradição da cultura negra, destacada pelo acarajé baiano.

Também tem destaque de Bar dú Kabaça, capoeirista e cozinheiro. Com o seu testemunho, mais uma vez, a história da cultura africana é presente na trajetória gastronômica da cidade. Ele lembra que a capoeira, a sua paixão que vem lado a lado com a gastronomia, foi criminalizada por muito tempo, e ajudou a construir a cultura que hoje representa o povo brasileiro.

Por ser uma produção norte-americana, é normal que se identifiquem detalhes e representações que não condizem com a realidade do povo de Salvador. O mérito da série da Netflix, porém, vem na tentativa de montar uma narrativa com o recurso histórico de especialistas na área.

A capital baiana respira cultura. Isso é refletido na arte e gastronomia da cidade, que faz parte do cotidiano do soteropolitano. As comidas típicas refletem centenas de anos de história de repressão colonialista, resistência do povo negro, e histórias de pessoas que buscam tornar essa cultura eterna.

As expressões culturais são formas de resistência. A gastronomia da cidade de Salvador é resistência.

PRIMEIRA PÁGINA

COMENTÁRIOS

Divergente: mais um drama adolescente?

Por Luma Costa

A protagonista Beatrice precisa decidir sobre sua vida e seu relacionamento familiar

Lançado em 2014, “Divergente” é o primeiro filme de uma trilogia baseada na obra literária de Veronica Roth, que conta ainda com “Insurgente” (2015) e “Convergente” (2016). Envolve romance, ficção científica e aventura. Baseado no livro homônimo, publicado em 2011, a história inicial se passa na cidade de Chicago, em um futuro distópico. Nesta realidade, após uma guerra que destruiu a civilização antiga, a sociedade é dividida em cinco facções, grupos sociais com funções bem definidas.

Os cinco grupos são divididos pelas causas da Abnegação, Audácia, Amizade, Franqueza e Erudição. Erudição é a facção dos inteligentes, de intelecto superior e com capacidade de aprendizado inigualável. Franqueza, como o próprio nome sugere, é a facção dos francos, sinceros e justos. Amizade é a facção dos bondosos, responsáveis pela agricultura. Audácia é a facção dos corajosos, responsáveis pela proteção da sociedade, de lá são os soldados.

Shailene Woodley está no papel de Beatrice e Theo James interpreta Tobias          Foto: Divulgação

Nossa protagonista, Beatrice, interpretada por Shailene Woodley (“A culpa é das Estrelas”), nasce na facção Abnegação, os altruístas, responsáveis pelo governo da civilização e pela caridade e pela distribuição de alimentos entre as facções. Este é ponto de partida da história. Quando Beatrice chega à maturidade, precisa escolher à qual facção pertence pelo resto da vida. O dilema inicial se dá porque, se Beatrice escolher uma facção diferente de sua família, não poderá mais ter contato algum com os pais e irmão.

Inicialmente a história pode parecer mais um drama juvenil, mas no fundo fala sobre liberdade de escolha, governos corruptos e, de maneira geral, a busca pelo poder. Até onde alguém iria pelo poder? Qual a importância da liberdade de pensamento para a manutenção de um governo democrático? Uma sociedade funcionalista, em que cada um tem sua função definida, a partir de suas habilidades e vocações, sem a possibilidade de alteração, seria o ideal?

Todas essas são questões que surgem a partir da obra, e que fazem perceber que não é mais um drama adolescente, e sim uma saga sobre política e a importância da liberdade de pensamento.

Alguns pontos negativos da obra são a necessidade que fica ao telespectador em entender melhor o que se passou antes do início do filme, como chegamos a esta sociedade. Talvez essas explicações sejam dadas na obra literária ou se deem nos filmes posteriores (“Insurgente” e “Convergente”). É certo que cairia bem uma explicação histórica a mais.

De maneira geral o filme vale a pena ser visto, e traz, sem dúvida nenhuma, a vontade de conhecer seu homônimo literário e desvendar o que mais Beatrice tem a nos mostrar.

 

PRIMEIRA PÁGINA

COMENTÁRIO:

Por que os divergentes são diferentes das outras pessoas?

Stephane

Resposta: Beatrice é uma  jovem divergente pois não se enquadra nos grupos e padrões estabelecidos pelo sistema implantado na cidade.

Qual o objetivo de separar as pessoas por facções?

Stephane

Resposta: Esta é a pergunta que a própria série faz e que a personagem de Beatrice coloca em questão. Parece a solução para estabelecer uma harmonia  que aquela sociedade encontrou naquele momento. Quem assistiu ou está assistindo a série pode trazer outros pontos de vista.

“Retalhos” de uma vida

Por Luana de Almeida Medeiros

Craig Thompson conta passagens de sua juventude em história em quadrinhos

Estamos passando por um período atípico em nossas vidas, carregado de medos e incertezas. A pandemia causada pelo novo coronavírus (Covid-19) fez com que a nossa rotina diária mudasse completamente, ambientes de trabalho e salas de aula deram lugar ao home office e semestres remotos. De fato, é um grande desafio se adaptar ao modelo de distanciamento social e à quarentena, por mais que saibamos o quanto essas medidas são importantes para preservar a nossa saúde e a de todos ao nosso redor, é normal que essa situação gere estresse e preocupação, seja por questões de adaptação à nova rotina, questões financeiras ou até mesmo pelo medo de contrair o vírus.

Diante desse cenário, é importante dedicar um tempo do nosso dia a dia a atividades que promovem o nosso bem-estar, como fazer boas leituras. Na modalidade quadrinhos, uma excelente indicação é o livro “Retalhos”, de Craig Thompson, uma graphic novel muito premiada, vencedora de três prêmios Harvey, dois prêmios Eisner e, também, vencedora do prêmio da Associação Francesa de Críticos e Jornalistas de Quadrinhos.

O livro é uma autobiografia, que conta a história de Thompson desde a infância até o final de sua adolescência. No Brasil, foi publicado pela editora Companhia das Letras no ano de 2009 e conta com 592 páginas, divididas em nove capítulos. A trama não é escrita de forma linear, em muitos momentos o autor insere flashbacks sobre acontecimentos de sua infância que ajudam a situar o leitor e a compreender o contexto da narrativa. As principais temáticas abordadas no livro são os conflitos que o autor enfrenta em relação à sua família, vida amorosa e religião.

Livro foi lançado em 2009 no Brasil

Ao iniciar a leitura, o primeiro aspecto apresentado é o relacionamento de Thompson com seu irmão Phil. Os dois eram obrigados a dividir a mesma cama durante a infância e, na maior parte do tempo, estavam sempre brigando (situação muito comum entre irmãos, não é mesmo?!), porém, também havia momentos de muita diversão entre os dois, principalmente quando a brincadeira envolvia a maior paixão de Craig: desenhar.

O autor nasceu em Traverse City, Michigan, e foi criado na zona rural de uma cidade do estado de Wisconsin, no Centro-Oeste dos Estados Unidos. Sua juventude foi fortemente marcada pela presença da fé cristã conservadora, religião imposta por seus pais. Essa relação de Craig com a fé, baseada no temor a Deus, interferiu diretamente na sua percepção do mundo e na sua visão sobre o que é certo ou errado, dessa forma, o autor cresceu atormentado pela ideia de ser um pecador pelo fato de perder seu tempo com atividades “mundanas” ao invés de se dedicar inteiramente ao criador.

No entanto, sua vida muda completamente após conhecer Raina, seu primeiro amor, em um acampamento de férias da igreja. Ela é dona de uma personalidade oposta a de Craig, é uma menina alegre, carinhosa e realista, enquanto Thompson é mais introvertido e sonhador. A conexão entre os dois acontece de forma natural, os dois se tornam muito próximos e passam a trocar cartas de amor depois do acampamento. Passado algum tempo, Craig convence os pais a permitir sua estadia na casa de Raina durante duas semanas. 

Durante o tempo em que conviveu com a família de Raina, o autor se deparou com uma realidade totalmente diferente da sua. Os pais da jovem estão em processo de divórcio e possuem uma filha com deficiência intelectual, todo o contexto apresentado deixa subentendido que Raina precisa assumir responsabilidades muito além da sua alçada. Nesse mesmo período, o relacionamento entre os dois é relatado de forma muito sensível e encantadora, o amor que sentem um pelo outro é lindamente expressado através das ilustrações do autor.

É nesse momento importante da vida de Craig que ele começa a questionar certos valores e aspectos que a ele foram repassados durante a infância e adolescência, principalmente sobre os ensinamentos cristãos e o relacionamento distante que mantinha com a família. Outros temas também são abordados ao longo da história, como bullying na escola e pedofilia. A narrativa é intimista e muito sincera, ao longo da história, o leitor vai se deparar com dilemas importantes da vida do autor, além de trazer reflexões sobre as diferentes realidades que nos cercam e que, muitas vezes, desconhecemos. Thompson nos mostra que é preciso ter coragem para enfrentar nossos medos e que a vida está sempre em constante mudança. Sem dúvida, uma história que vale a pena ser lida e compartilhada.

História conta o primeiro grande amor do autor desenhista

PRIMEIRA PÁGINA

COMENTÁRIOS:

Futuro distópico na série “O Conto da Aia”

Por Nathianni Gomes da Cruz

Produção faz analogias com o contexto político e social no século atual

A série “The Handmaid’s Tale”, ou “O conto da Aia”, na tradução para o português, é uma série norte-americana baseada no livro de mesmo nome, escrito pela canadense Margaret Atwood, em 1985.

Com três temporadas e disponíveis no Brasil pelo serviço de streaming Globoplay e na FOX Premium, a série Original do Hulu aborda assuntos bastante recorrentes e intensos do atual momento político mundial.

Foi vencedora de oito prêmios Emmy, incluindo o de Melhor Série Dramática de 2017, e tem direção de Bruce Miller.

Era uma vez a “América” 

Ao longo de 36 episódios em três temporadas, somos imersos em um Estado teocrático e ditatorial. O fundamentalismo religioso toma grandes proporções após um ataque terrorista matar o presidente dos EUA e um grupo intitulado Filhos de Jacó tomar o poder. Os golpistas suspendem a Constituição, e, assim, constroem as regras de Estado baseadas em interpretações da Bíblia.

Os Estados Unidos se tornam a República de Gilead. Esse Estado tem como base a superioridade do homem, as vontades de “Deus”, e a submissão das mulheres, que passam a fazer parte de castas com diferentes funções servis.

Propriedade estatal

Em Gilead, a submissão da mulher é constitucional. Essa mudança foi gradual, e como podemos acompanhar na trama, aconteceu primeiro com a revogação do direito da mulher de trabalhar, e, depois, com o bloqueio dos seus bens. Para então, em pouco tempo, as mulheres terem todos os seus direitos revogados. 

Somos apresentados a Offred, interpretada por Elisabeth Moss, uma aia enviada à família de um comandante dos Filhos de Jacó. As aias fazem parte dessa casta que faz o papel de barriga de aluguel do Estado, são “o útero com pernas”, como elas se descrevem durante a trama.

As aias são a parcela de mulheres ainda férteis, que são recrutadas e raptadas de suas famílias por conta da queda de natalidade e infertilidade em massa. Passam a serem receptáculos dos filhos dos comandantes e suas esposas estéreis.

Offred não é o nome real dessa mulher que acompanhamos, com a atriz Elisabeth Moss no papel. Nessa ficção aterrorizante, temos vislumbres de como era a vida da aia antes do Estado ser derrubado. Descobrimos que seu nome é June, que, nessa realidade, passou a ser “Do Fred”, ou seja, “Of Fred”, seu comandante, interpretado por Joseph Fiennes.

O ponto central que permite toda a barbárie que se instala é o preceito bíblico de Gênesis 30:1:3: “Vendo Raquel que não dava filhos a Jacó, teve inveja de sua irmã, e disse a Jacó: Dá-me filhos, se não morro. E ela disse: Eis aqui minha serva Bila, coabita com ela, para que dê à luz sobre meus joelhos, e eu assim receba filhos por ela”. 

Essa “coabitação” não é amigável, agradável ou qualquer concepção tecnológica aceitável como se pode pensar. “Bom, mas existe, inseminação artificial e implantação voluntária no útero”, alguém pode pensar à primeira vista. Mas, aqui, toda a ciência é negada. As cerimônias, nas quais as aias são obrigadas a participar, são verdadeiras violações aos seus corpos. Sem falar da violação psicológica praticada contra elas em todos os momentos.

As cores também oprimem

As mulheres são o elo em comum em “O Conto da Aia” – ao mesmo passo em que não possuem qualquer elo, já que o Estado totalitário faz questão de destruir qualquer interação de verdade entre elas.

Aqui, nenhuma mulher possui qualquer papel decisório, mesmo que algumas, como as esposas, achem que possuem algum controle. Na verdade, são iludidas com uma realidade deturpada: são oprimidas e opressoras de outras mulheres em posições inferiores. E as cores fazem parte dessa realidade.

Para explicar melhor: todas as castas possuem cores específicas. 

O azul escuro das “esposas” é atribuído a Virgem Maria. É opressivo e frio. Elas são as mulheres que odeiam a presença das aias e possuem um ciúme doentio destas. Fazem de suas vidas um verdadeiro inferno – além de todo o horror já bastante sofrido.

O uniforme vermelho das “aias”, junto com seus chapéus brancos que cobrem as laterais dos olhos, torna-as fáceis de serem percebidas em qualquer lugar. Elas, no entanto, não transitam por muitos. Estão no mercado, na casa a qual foram designadas, em algum parto ocasional e raro de outra aia, na vizinhança que habitam. 

O uniforme verde das “Marthas” as designa como as mulheres servis da casa, aquelas que limpam, cozinham, e que são como governantas da casa. O marrom, das “tias”, identifica como aquelas com a autoridade e responsabilidade de “treinar” as aias. Colocam ordem e medo através de torturas e humilhações. E, assim, as aias tornam-se inimigas uma das outras. 

Assim, temos uma realidade na qual a esposa é a honra do lar e da família, aos olhos da sociedade sobre o seu marido. A aia é aquela que dará um filho a ele e a sua esposa. As Marthas servem à sua casa. E as tias colocam ordem para que nenhuma aia se rebele contra o seu comandante.

Todo o sistema gira em torno do homem, com mulheres sendo satélites– e forçadas a não perceberem que são as verdadeiras protagonistas de suas histórias.

Qualidade da série

Os primeiros episódios da segunda temporada levantaram inúmeros argumentos e questões sobre a trama. A produção foi comparada à “torture porn”, um gênero cinematográfico que visa dar prazer ao espectador com violência sádica.

Lisa Miller, do veículo The Cut, levantou a questão: “é feminista ficar vendo mulheres sendo escravizadas, degradadas, espancadas, amputadas e estupradas?”, ao anunciar que não assistiria mais a série. 

Apesar dos episódios sim, serem chocantes, tem algo que ainda a torna boa. Margaret Atwood escreveu o livro, que é o guia para a trama televisiva, baseado em acontecimentos sociais e políticos do começo dos anos 80. Projetou um futuro fictício sem as mais comuns suposições sobre um futuro distópico, ou seja, sem naves espaciais e tecnologia de ponta. 

De acordo com a autora, “ficção científica tem monstros e naves espaciais, a ficção especulativa poderia acontecer de verdade”. Quão real e assustador pode se tornar “O Conto da Aia” se comparado à realidade da política mundial nas últimas décadas? E, especialmente, nos últimos cinco anos, em governos que subjugam mulheres, com a ascensão do fundamentalismo cristão e críticas à liberdade feminina e de seus corpos?

“É entretenimento ou uma profecia política aterrorizante? Pode ser ambos? Eu não antecipei nada disso quando estava escrevendo o livro”, explicou a autora em entrevista para o jornal americano The Guardian.

Por isso, mais que uma obra feminista, a série “O Conto da Aia”, complementando a obra literária de Atwood e adicionando elementos atuais de tecnologia e modernidades (como as redes sociais, por exemplo, em flashbacks que ocorrem à personagem principal), traz uma trama ainda mais chocante, fazendo com que o público compare a realidade com a ficção, ao perceber que essa história poderia facilmente se tornar a nossa realidade. 

Ou seja, há uma ligação entre processar a realidade através da ficção – e é o simbolismo da série que a torna tão atrativa, apesar dos pesares.

Próximos passos

A quarta temporada da série já está marcada para estrear em 2021, após ser adiada em decorrência da Covid-19. Lançado em junho deste ano, o teaser promocional demonstra a vontade e a esperança de June, personagem principal, de derrubar a estrutura de governo e mudar toda a realidade de Gilead.

               Elisabeth Moss interpreta June, uma mulher subjugada                      Foto: Divulgação Hulu

PRIMEIRA PÁGINA

COMENTÁRIOS: 

Uma homenagem a Lobo da Costa

Por Rafaela Rosa

Poeta pelotense tem sua história contada em curta-metragem

Francisco Lobo da Costa é o nome do cidadão e poeta pelotense que foi homenageado no curta-metragem chamado “A Pelotas Caridosa – Poemas lidos de Lobo da Costa”. A produção é resultado do edital FAC Digital RS, do Governo do Estado. O diretor Flávio Dornelles conta que a ideia do filme apareceu no meio da pandemia, impulsionada pelo auxílio do edital. Ele ressalta a vontade de produzir o curta e comenta que “a cultura foi a primeira a parar nesta pandemia e certamente será a última a retornar”.

Dornelles relembra que chegou em Pelotas em 1982 para cursar Edificações na então Escola Técnica Federal, hoje IFSul. Assim que iniciou as atividades do curso também começou com o teatro e nunca mais parou. Foi lá que o ator e diretor conheceu e se apaixonou por Lobo da Costa. “Pelos seus versos, pela vida marginal que ele acabou tendo”, destaca. Recorda que o pelotense só foi reconhecido após a sua morte.

Lobo da Costa: personagem carismático de Pelotas

Apesar da ideia ter surgido já durante a pandemia, ela causou as maiores dificuldades. Neste momento, “o maior desafio é não ter como escalar o elenco para fazer o trabalho”, diz. Por isso, foi necessário uma série de adaptações e quem era responsável pelo áudio e pelas câmeras também acabou virando ator. A cena da morte do poeta retratada na produção foi gravada ao ar livre, com a participação de apenas mais três artistas, para evitar qualquer tipo de aglomeração. “Foi um trabalho gravado em dois sábados e editado em menos de um mês”, revela, orgulhoso, contando sobre o esforço para cumprir os prazos do edital.

Mesmo desapontado com o cenário de pandemia, no qual os artistas estão sem produzir e sem fazer com que seus trabalhos circulem, o diretor classifica a experiência como magnânima. “Sempre desejei que essa história fosse contada nas telas, então, quando soube do edital foi a primeira coisa que pensei”, afirma. Para vencer esse desafio, Dornelles contou com o experiente apoio do Coletivo Fio da Navalha. O diretor do grupo, Luis Fabiano, conta que o aceite ocorreu logo ao receber o convite do realizador. “Li o roteiro do  Flávio e procurei avaliar a melhor maneira de realizar a fotografia do filme. Com uma equipe enxuta, obedecendo aos protocolos de segurança, realizamos a gravação tranquilamente e sem riscos”, diz.

Além disso, Luis Fabiano relembra que Lobo da Costa foi um personagem carismático no seu tempo. “O artista e poeta boêmio encantava com sua verve, narrando seus poemas viscerais de uma Pelotas diferente mesmo naquela época”, completa. Sobre a falta de conhecimento sobre a vida do pelotense, Fabiano questiona: “O Francisco foi o invisibilizado e o Lobo da Costa virou nome de rua, eles são diferentes? Claro que não! Quantos artistas atualmente que as pessoas sequer sabem como vivem? Sobretudo neste momento pandêmico”. Além do mais, ele resgata que a história de Lobo da Costa foi festejada em teatros, casarões e saraus, mas a cidade esquece do homem Francisco que “atravessou uma quadra de extrema miséria”, vindo a morrer como indigente. “Foi um desafio para ficar na memória de todos os envolvidos”, finaliza.

Confira a produção disponível no Youtube:

PRIMEIRA PÁGINA

COMENTÁRIOS:

Meu pai, que nasceu em 1903, tinha, copiadas por ele em letra gótica, alguns poemas de Francisco Lobo da Costa, tio dele. Tenho alguns comigo. Eu tenho 86 anos, nasci em 1936, em Teresópolis (RJ). Meu pai , Fausto Lobo da  Costa, minha mãe Genina Rodrigues Lobo da Costa. Casei com Camila, tenho dois filhos, Paula, professora titular de Educação Física da UFSCar, Eduardo, que leciona em faculdades de São Paulo, capital, e Eduardo, produtor cinematográfico.

Fabio Rodrigues Lobo Da Costa

Olá Fábio Rodrigues, vc sabe dizer se ele era de alguma religião de Matriz Africana? Pois no busto dele tem um fio de conta de Oxalá… Aí me despertou essa curiosidade

Tom Golgenstein

Universo do jogo de xadrez em “O Gambito da Rainha”

Por Roger Vilela

Nova minissérie criada por Scott Frank, de “Godless”, tem mais de 60 milhões de espectadores

No fim de outubro deste ano, chegou à Netflix a produção que se tornou a minissérie roteirizada mais assistida do serviço de streaming. Em 28 dias desde sua estreia, “O Gambito da Rainha” (“The Queen’s Gambit”, no original) foi assistida por 62 milhões de usuários em todo o mundo. A produção chegou ao Top 10 em 92 países, alcançando o primeiro lugar em 63 deles.

“O Gambito da Rainha”, adaptação do livro homônimo de Walter Tevis, conta a história de Elizabeth “Beth” Harmon, interpretada por Anya Taylor-Joy, uma jovem órfã que com o seu talento conquista o “mundo” do xadrez, um esporte predominantemente masculino, entre as décadas de 1950 e 1960.

O responsável pela adaptação é o cineasta Scott Frank, que dirigiu e roteirizou os sete episódios da minissérie. Em 2017, ele criou outra fantástica produção para a Netflix, “Godless”, um drama de faroeste recheado de ação e grandes personagens. Ambas as obras funcionam como um filme de sete horas, característica que dá fluidez às tramas. 

“O Gambito da Rainha” começa com a chegada de Beth Harmon, com nove anos (Isla Johnson interpreta a versão jovem da personagem), a um orfanato do Kentucky, nos EUA, após a morte de sua mãe. É nesse local que a jovem conhece duas coisas que terão grande impacto em sua vida: os tranquilizantes e o xadrez. O responsável por apresentar o jogo de tabuleiro é o zelador da instituição, Sr. Shaibel (Bill Camp). É ele que reconhece o talento natural de Beth e a incentiva a mostrá-lo ao mundo.

A atriz Anya Taylor-Joy é a personagem principal Beth Harmon

Outros personagens são importantes para a vida da protagonista. Alice Harmon (Chloe Pirrie), sua mãe que conhecemos por meio de flashbacks, Jolene (Moses Ingram), que também é órfã e a sua melhor amiga, Alma (Marielle Heller), sua mãe adotiva, e os enxadristas D.L. Townes (Jacob Fortune-Lloyd), Harry Beltik (Harry Melling), Benny Watts (Thomas Brodie-Sangster) e Vasily Borgov (Marcin Dorociński). Há uma relação simbiótica entre eles e Beth. Há uma troca de influências (benéficas ou não), seja em suas vidas pessoais, seja no esporte que está no centro da história da minissérie.

A construção do enredo de “O Gambito da Rainha” segue uma estrutura bem conhecida: a protagonista órfã tem uma infância difícil; em um certo momento demonstra ter um dom natural para algo; com suas habilidades conquista um grande sucesso; depois de um tempo passa por turbulências e começa a se questionar; no fim, com ajuda, consegue driblar os problemas para vencer o seu maior desafio. Seguindo esse caminho, Scott Frank entrega uma produção não muito inovadora nesse quesito, mas que tem uma ótima execução.

As áreas técnicas da minissérie ajudam a dar brilho à trama. O design de produção nos transporta para meados do século passado. A fotografia utiliza magistralmente cores como o vermelho e o verde na composição das cenas. O uso da luz cria quadros lindos. A trilha sonora de Carlos Rafael Rivera é imersiva e trabalha muito bem com a edição de Michelle Tesoro.

O xadrez pode ser maçante para quem assiste, com partidas que podem durar horas. O silêncio é necessário para que os jogadores mantenham a concentração. Mas a trilha e a montagem transformam as cenas dos duelos de Beth. Eles se tornam divertidos, emocionantes ou tensos, dependendo do momento.

A minissérie também desmitifica algumas ideias, por exemplo, as visões de que o xadrez não é algo para todos e que os russos (soviéticos se levarmos em consideração o contexto da época retratada na obra) não são amigáveis. 

A primeira visão tem relação com o Sr. Shaibel. Sempre que Beth dizia que foi o zelador do orfanato quem a ensinou a jogar, as pessoas ficavam surpresas. “Um zelador?”, perguntavam com um certo grau de desconfiança. Até hoje o xadrez é considerado elitista, algo que não é verdade. O que falta é mais acesso ao esporte. Com o sucesso da minissérie, a procura pelo xadrez na internet cresceu em todo o mundo. O jornal britânico The Guardian mostrou que, desde o lançamento de “O Gambito da Rainha”, o site de vendas on-line eBay registrou nos EUA um aumento de quase 215%  no número de vendas de tabuleiros e acessórios de xadrez. A publicação também revelou que a Federação de Xadrez dos Estados Unidos (US Chess Federation) atingiu em meados de novembro a maior quantidade de novos membros desde o início da pandemia, incluindo muitas mulheres.

Durante a Guerra Fria (1947-1991), se criou nos EUA e nos países sob sua influência a visão de que os russos eram frios, pouco amigáveis e até sanguinários. Mas no final da minissérie, quando Beth é recebida de braços pelo povo de Moscou durante o auge das tensões entre os blocos oriental (URSS) e ocidental (EUA), essa idealização é posta em xeque.

Você pode se perguntar: por que do antagonismo russo em “O Gambito da Rainha”? Após a Revolução Russa (1917), Lenin, um aficionado pelo xadrez, passou a promover o esporte no país. A partir de 1922, com a formação da União Soviética, o Estado começou a investir na formação de enxadristas, que iniciavam a jogar ainda muito jovens. Como resultado do investimento, os jogadores soviéticos dominaram os campeonatos mundiais, tanto no masculino quanto no feminino, até 1991, quando a URSS foi dissolvida. A Rússia também é o país com o maior número de Grandes Mestres – titulação máxima do xadrez –, com 240 no total. Os Estados Unidos são o segundo, com 94. Devido a esse predomínio, era muito difícil o maior antagonista (que não significa ser vilão) de Beth não ser um russo ou de outra república soviética. 

Outro assunto que a minissérie trata e que permeia o mundo do xadrez é o machismo. Como já foi dito, o esporte é predominantemente masculino. Na primeira competição oficial de Beth, antes de começar a vencer seus oponentes, ela é vista praticamente como uma intrusa por estar jogando com homens, mesmo existindo uma categoria feminina. O simples fato de existir categorias que dividem os sexos em um esporte puramente intelectual implica que haveria diferenças cognitivas entre homens e mulheres, o que é uma ideia totalmente estapafúrdia.

A minissérie não aborda apenas assuntos relativos ao xadrez. As desilusões amorosas, amadurecimento, vícios, preconceitos e o papel da mulher na sociedade também fazem parte do escopo da obra.

É unanimidade que o ponto mais forte de “O Gambito da Rainha”, além da representação fidedigna das partidas de xadrez, é a interpretação de Anya Taylor-Joy, dona de um olhar penetrante. A atriz entrega uma protagonista complexa e humana, com a qual o público não tem dificuldades em se conectar.

Anya vive um ótimo momento em sua carreira, participando de sucessos como o filme “Fragmentado”, do diretor M. Night Shyamalan, da série “Peaky Blinders”, da BBC, e de “Emma”, nova adaptação para os cinemas do romance homônimo de Jane Austen, que tem grandes chances de receber indicações para o Oscar de 2021. 

Outras atuações também merecem destaque. Entre elas, a de Marielle Heller, que interpreta a mãe adotiva de Beth, e a de Thomas Brodie-Sangster, que dá vida ao enxadrista Benny Watts.

“O Gambito da Rainha” é uma obra que não fica restrita aos tabuleiros e campeonatos. Ela desnuda seus personagens, expondo vícios, aflições e desejos. Também desmascara a sociedade, questionando e revelando sua hipocrisia, ambiguidade e preconceitos. Com o sucesso que a minissérie alcançou, não será nenhuma surpresa ela ganhar uma continuação ou um derivado.

Bill Camp interpreta Sr. Shaibel, o primeiro professor de  Beth Harmon

O título da minissérie

Como a palavra “gambito” se assemelha a “cambito”, sinônimo para “perna fina”, o título da produção da Netflix se tornou alvo de inúmeros memes nas redes sociais, que utilizaram até as pernas da rainha Elizabeth II para fazer piada. Enquanto “cambito” tem origem na palavra “camba”, que significava “perna” no latim vulgar, “gambito” deriva do italiano “gambetto”, que tem o sentido de rasteira. No dicionário, gambito tem o significado de artimanha ou estratagema que tem como objetivo derrotar o adversário. No xadrez, é uma abertura que consiste no sacrifício de um peão para adquirir vantagem ou causar a perda de uma peça importante ao jogador adversário.

Existem mais de um gambito no esporte. O da rainha, ou melhor, dama (como a peça é realmente chamada pelos enxadristas), é um dos mais populares. Inclusive é uma das aberturas favoritas de Beth Harmon, que combina perfeitamente com estilo de jogo da personagem que tem como característica “acabar” com adversário logo no início da partida.

PRIMEIRA PÁGINA

COMENTÁRIOS:

Fenadoce Especial de Fim de Ano até dia 31 de dezembro

Por Danieli Schiavon

Feira híbrida e fora de época viabiliza a realização do evento em 2020

A tradicional Feira do Doce de Pelotas não pôde acontecer em maio deste ano, mês em que o evento ocorre tradicionalmente e reúne as principais docerias da cidade, shows, apresentações artísticas, parque de diversões e exposições dos mais diversos setores. Em 2020, a 28ª edição teve que ser adiada, ainda em março, com o avanço desenfreado do novo coronavírus. A Câmara de Dirigentes Lojistas de Pelotas (CDL) divulgou nota comunicando o adiamento da Feira para o segundo semestre do ano. Agora, em dezembro, uma Fenadoce diferente foi idealizada para  possibilitar que a cultura doceira da cidade possa ser celebrada. A Feira híbrida ocorre a partir de amanhã, dos dias 5 a 31 de dezembro.

O evento especial de Natal traz uma programação presencial em pontos estratégicos da cidade, como o Calçadão Central, Mercado Central, Praia do Laranjal, Chácara da Baronesa e Shopping Pelotas. Também haverá apresentações artístico-culturais que poderão ser assistidas de forma gratuita pela internet. Além disso, a Fenadoce vai contar com decorações de Natal pelo centro da cidade, substituindo a programação “Pelotas Doce Natal”, que ocorre tradicionalmente nesta época.

De acordo com a organização, a proposta deste evento especial está focada em reforçar e fomentar a tradição doceira, valorizar a arte e a cultura locais, promover ações sociais e estimular o comércio local. Para a gerente executiva da CDL, Adriane Silveira, foram os desafios que levaram a organização do evento a criar estratégias para que o evento acontecesse. “Como realizadores de uma feira que recebe quase 300 mil pessoas, movimenta nossa economia e valoriza a cultura e a tradição doceira, é um desafio realizar uma edição especial da Fenadoce no formato híbrido e descentralizado, levando a tradição doceira a diversos locais da cidade para não gerar aglomeração”, explica.

Quiosques de doces presentes em diversos locais da cidade neste Natal

Confira a programação da Fenadoce – Especial de Natal 2020:

TRADIÇÃO DOCEIRA
A Associação das Doceiras de Pelotas é a responsável pela fabricação dos tradicionais doces pelotenses. Os Quiosques de Doces serão instalados no Calçadão, no Shopping Pelotas, Parque da Baronesa e na Praia do Laranjal. Além disso, um aplicativo para celular estará disponível para compras.

AÇÕES ARTÍSTICO-CULTURAIS
As tradicionais apresentações que encantam a todos que frequentam os pavilhões da Fenadoce não ficaram de fora da programação deste evento especial. Nesta edição, os artistas da cidade vão se apresentar de forma remota e as apresentações poderão ser assistidas na Página do Facebook e no Canal do Youtube da Fenadoce.

Além das apresentações, a feira terá a decoração natalina, com ambientação, iluminação e as famosas formigas da Fenadoce espalhadas pela cidade. No Mercado Central, uma árvore de 15 metros de altura fará parte da decoração, que conta também com a Vitrine de Natal, onde o Papai Noel, a Formiga e as Baronesas estarão presentes.

HOMENAGEM A KLEITON & KLEDIR
A dupla musical pelotense completa 40 anos de carreira em 2020. Para homenagear os cantores, foi criada a campanha “Pelotas sempre volto pra ti”, que vai contar com a valorização de espaços da cidade citados por Kleiton & Kledir nas suas músicas.

QUEM CRESCE AQUI NÃO ESQUECE, QUEM AJUDA TAMBÉM!
Outra ação que vai compor a programação da feira deste ano é a campanha de doação de brinquedos novos e usados, promovida para resgatar a infância e ajudar quem precisa. Os artigos arrecadados na campanha serão entregues à Secretaria de Assistência Social e distribuídos às instituições de apoio infantil. Os pontos de arrecadação são o Quiosque de Doces no Calçadão Central; Vitrine de Natal no Mercado Central; Loja de Doces no Shopping Pelotas e o Quiosque Laranjal.

DOCE VANTAGEM
Visando estimular o comércio local, O CDL e a Fenadoce lançaram a campanha “Doce Vantagem”. As lojas e os empreendimentos associados à CDL que participarem dessa ação serão adesivadas com um Selo da Formiga, e os consumidores que fizerem compras nestes locais poderão trocar suas notas fiscais no valor de R$ 100,00 por um cupom da Fenadoce, concorrendo a cestas de doces para o Natal e o Ano Novo. Para participar, o consumidor deve responder à pergunta: “Por que a tradição doceira de Pelotas é tão importante?” As melhores respostas serão premiadas com as cestas. Mais informações sobre o evento podem ser acessadas nas redes sociais Facebook e Instagram e no site da Fenadoce.

Formiguinha da Fenadoce celebra comércio e arte

PRIMEIRA PÁGINA

COMENTÁRIOS: