Virtudes e limitações do fim do mundo

Segunda temporada de Record Of Ragnarok estreia na Netflix com as virtudes e limitações da primeira. Anime baseado no mangá Shuumatsu no Walkure acompanha torneio onde humanos e deuses lutam para decidir o destino da humanidade

Douglas Dutra / Em Pauta

Após um ano e meio de espera, no dia 28 de janeiro, finalmente a netflix lançou a segunda temporada de Record Of Ragnarok. O anime inspirado no mangá Shuumatsu no Walkure estreou em junho de 2021 e chegou a estar entre os mais assistidos da plataforma de streaming no Brasil e em alguns outros países. Criada pela dupla Shinya Umemura e Takumi Fukui e ilustrada por Azychika, a animação acompanha o “Ragnarok”, uma batalha entre deuses e humanos para decidir se a humanidade será, ou não, extinta. Na tradição da mitologia nórdica o Ragnarok é o momento do fim do mundo. Mas será que vale a pena assistir?

Antes de tudo é preciso saber que a produção – uma parceria da Warner Bros. Japan com o estúdio Graphinica – é recheada de clichês. O que não é necessariamente ruim. Quem consome animes e mangás sabe que o gênero seinen na maioria das vezes conta com uma estrutura narrativa bastante tradicional e que os personagens tendem a repetir-se.

E entre os maiores clichês (mas também um dos favoritos dos fãs) certamente está a realização de um torneio em que os personagens lutam entre si ou em equipe. É justamente este o centro de todo o enredo de Record Of Ragnarok: uma batalha proposta por Brunhild (uma das 13 irmãs valquírias da mitologia nórdica) entre os “campeões” da humanidade e divindades das mais diversas origens.

O ritmo da história em si é bastante acelerado, apesar dos combates apresentarem uma duração semelhante ao que normalmente encontramos em animes. Não há a construção de uma narrativa sólida capaz de dar consistência à trama ou apontar seus protagonistas, por exemplo.

Este, aliás, é um problema recorrente em produções do gênero assinadas pela Netflix. A plataforma parece não entender bem as características do público que consome obras desse universo e tem uma certa tendência de apressar os eventos. O fato positivo é que, mesmo com tantos clichês, esta velocidade torna os embates surpreendentes.

Aliás, essa é uma constante em Record of Ragnarok: um lado positivo e um negativo para quase todas as particularidades da produção. A variedade das mitologias, eras e personagens explorados é um bom exemplo disso. Quem procura alguma coerência ou fidelidade histórica certamente ficará decepcionado. Já quem gosta de imaginar encontros (no caso confrontos) bem improváveis entre figuras como Adão (o primeiro homem segundo a tradição cristã) e Jack (o estripador) com deuses como Zeus, Buda ou Shiva, provavelmente irá gostar do enredo.

Resta mesmo como ponto forte a construção dos personagens. Suas vidas pregressas (nem sempre com grande rigidez histórica como já dito), dilemas, motivações e relações são bem exploradas. É realmente possível se ver envolvido pela narrativa recheada de flashbacks durante as lutas. Nesse aspecto a produção é, no mínimo, efetiva. O que parece ser a melhor explicação para a pontuação média do público de 70% no Rotten Tomatoes e de 6.70 no My Anime List.

No entanto, lembre-se que se trata de uma produção japonesa e, portanto, algumas figuras apresentadas como heróis podem simplesmente não significar nada para você. Será preciso dar uma chance para samurais, espadachins e até mesmo lutadores de sumô. Algo que ao final pode até ser divertido e despertar nossa curiosidade sobre suas histórias reais.

Visual

Os gráficos, todos no tradicional 2D (com alguns complementos de paisagens em computação gráfica), são razoáveis. Nenhuma aberração como as encontradas em Nanatsu No Taizai (2012), mas também muito longe dos visuais, traços e cenários perfeitos de produções como Sword Art Online (2012) – outras duas animações disponíveis na Netflix.

Humor

Se o enredo tem problemas, as pitadas de humor introduzidas deixam ainda mais a desejar. As partes cômicas quando não estão infantilizando – ou mesmo imbecilizando os personagens – são levemente machistas. A receita, infelizmente, não é nova nos seinens e parece que não será superada em um futuro próximo.

Avaliação Final

Para quem já tem bastante familiaridade com o universo das animações nipônicas e está em busca de animes para uma experiência mais imersiva, provavelmente a produção não é uma boa pedida. Há alternativas na própria plataforma de streaming (One Punch Man, por exemplo) com trama e características semelhantes, mas com um enredo bem melhor trabalhado.

Por outro lado, se a busca é por um pouco de distração sem grandes expectativas ou complicações, alguns personagens cativantes, batalhas inusitadas e uma boa dose de ação e emoção, Record Of Ragnarok certamente pode proporcionar boas horas de entretenimento.

Obs: Todas as informações referentes ao enredo apresentadas neste texto estão no primeiro episódio da produção. Portanto, não são consideradas spoilers.

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