Ira!: Um girassol com folk

Por: Henrique König

“Já não tenho a mesma idade, envelheço na cidade. Juventude se abraça, se reúne pra esquecer.” Um feliz aniversário com o Ira! em turnê. A banda paulista voltou ao Sul para mais um show em Pelotas, no Theatro Guarany, no último dia 8. Com adaptações para uma aparição mais intimista, Nasi e Scandurra apresentam o Ira! Folk em turnê.

No histórico, uma passagem por Satolep em 2004, ano de turnê do Acústico MTV, com direito à reabertura do esquecido Theatro Avenida. Já em 2014, o Ira! tocou no Centro de Eventos durante a realização da Fenadoce e trouxe rock para contrastar com a temperatura praticamente zerada no passar da meia-noite, em local aberto.

A banda, que tenta se erguer às próprias custas, cai sempre no gosto de seu público e trouxe neste 2016 uma novidade em apresentações: o Ira! Folk. O vocalista Nasi e o guitarrista Edgard Scandurra em voz e violão, em um formato ainda mais minimalista em relação ao concerto do Acústico MTV. Completa o palco Daniel Scandurra, filho de Edgard.

Edgard Scandurra e Nasi. Foto: Divulgação/Ira! Oficial
Edgard Scandurra e Nasi. Foto: Divulgação/Ira! Oficial

Os shows começaram em 13 de maio, em Curitiba, e passam de Norte a Sul do Brasil com variadas distribuições da longa carreira. Desde os anos 1980 na estrada, com canções, por exemplo, como a do primeiro longplay de maior alcance, o Vivendo E Não Aprendendo, com uma das músicas de maior sucesso: Envelheço na Cidade. Na época, alguns críticos apontavam o veloz canhoto Scandurra como o melhor guitarrista do país.

Descer ao Rio Grande do Sul remete lembranças aos músicos de São Paulo. Em 1985, o Ira! continha mudanças, com a saída do baterista Charles Gavin e a indefinição do novo ocupante do cargo. Já o baixista Ricardo Gaspa estava definido no lugar de Dino, mas ainda não tinha participado de shows com a banda. O período conturbado foi amenizado com os ares de Bagé, terra do pai de Edgard Scandurra, onde havia um sítio, que serviu de retiro e inspiração aos paulistas. “Foi realmente um distanciamento, a gente ficou num ambiente familiar, o sítio dos pais do Edgard. Foi uma viagem prazerosa que deu pra gente a energia necessária para voltar e reinventar o Ira!”, disse Nasi em entrevista ao site cultural eCult.

O resultado desse retiro, oposto à rotina e aos ritmos urbanos descritos em canções como Nas Ruas e Saída, foi uma formação que perdurou por duas décadas: André Jung assumiu a bateria, com Gaspa no baixo, Scandurra na guitarra e Nasi nos vocais.

Exatamente do site eCult, o editor e fundador Deco Rodrigues acompanhou a um show do Ira! pela primeira oportunidade. Experiência positiva descrita por ele, que idenfica o Ira! como uma banda de referências sulistas: “Como apaixonado por Rock Gaúcho, é a banda fora do Rio Grande que mais se aproxima da pegada, sendo que gravaram alguns clássicos de algumas bandas do RS”. A mais famosa é o clássico Bebendo Vinho, originário do gaúcho Wander Wildner, ex-vocalista da banda punk Replicantes. Muitas pessoas pensam, inclusive, que Bebendo Vinho é originária do Ira!, tão famosa sua versão.

“Como fã, foi uma grande oportunidade. Eles souberam fazer as adaptações das músicas para o formato que chamaram de Folk e foi gratificante ver a alegria e descontração deles para com o público presente, que estava igualmente alegre com o show”, completa Deco Rodrigues na avaliação da noite. Ele afirma gostar muito das músicas do Acústico MTV e curtiu as moldagens especiais para Mariana foi pro Mar e Bebendo Vinho.

O Ira! Folk, edição limitada do show, segue no Rio Grande do Sul. Passou por Novo Hamburgo e Porto Alegre nas noites anteriores a Pelotas, assim como na agenda de 2004. Em 23 de setembro estará em Santo Ângelo e 24 em Ijuí, na passagem pelo noroeste gaúcho.

Nasi e Scandurra admitem o interesse de um novo disco. São 11 gravados em estúdio na carreira do Ira! e as canções surgem aos poucos para o novo trabalho. Nos shows, o “ABCD” está na setlist desde a volta deles em 2014. Recentemente, cada músico agregou obras aos projetos-solo: Nasi é responsável por Egbe e Scandurra tem o álbum com Sílvia Tape, chamado de Est, produções finalizadas e lançadas no segundo semestre de 2015.

Dessa forma, o Ira! envelhece pelas cidades, mas envelhece como quem está bebendo vinho. E, com o público, não segue só o caminho de invenções e reinvenções das músicas da carreira.

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