O fascinante universo de Jéssica
– Reportagem de Calvin Cousin e Gabriela Schander –
Arte e representação feminina na cena artística pelotense –
Pintora, serigrafista, escultora, desenhista, tatuadora, poetisa, canceriana com ascendente em Áries, feminista e mulher artista. Jéssica Fernandes da Porciúncula, 23 anos, é um universo inteiro em uma pequena porção – ela mesma conta que seu sobrenome tem esse significado. E não é para menos: sua inspiração é a poética e a paixão pelo que faz transborda aos olhos.
Estudante do nono semestre do curso de bacharelado em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pelotas e atualmente participante do coletivo ArtCidade Criativa (rua Padre Anchieta, 949), a interiorana de São Luiz Gonzaga respira a arte desde menina – seu pai é artesão e sua mãe pinta tecidos. Explorando a linguagem na arte, Jéssica reflete em seu ofício o infra-ordinário: uma porta vira mesa, seu corpo vira poesia, sua arte vira exposição. Assim, Jéssica retrata seu pequeno mundo de porções extraordinárias. Confira a entrevista que fizemos com a artista.
Arte no Sul: Como surgiu teu interesse pela área da arte?
Jéssica Porciúncula: Desde criança eu sempre gostei de arte. Durante o colegial, eu cheguei a trabalhar em alguns estúdios de fotografia, na cidade onde eu morava, além de desenhar sempre em casa. Mas eu nunca tinha pensado na arte como uma profissão. Eu sempre gostei de ler, escrever e desenhar então esse perfil acabou se criando na infância, esse gosto pelo fazer mais manual, mais poético, mais artístico.
AS: E tu costumas trabalhar com quais materiais?
JP: Eu trabalho com vários materiais. Sempre procuro experimentar ou aprender uma coisa nova, mas a essência, para mim, é o papel e caneta, eu estou sempre desenhando. Qualquer outro trabalho que eu vá fazer, mesmo que seja um móvel, por exemplo, antes eu vou desenhar nos meus cadernos. Então, eu tenho um apego muito forte com o desenho e com a escrita, mas fora isso eu trabalho com madeira, xerox, colagem, estêncil, gravura, alguns trabalhos em cerâmica e também estou começando um estúdio de tatuagem.
AS: Quais temas tu costumas abordar no teu trabalho? Tens alguma inspiração?
JP: Eu não sei se eu tenho uma grande inspiração, eu vejo mais como uma poética, alguma coisa em comum no meu trabalho que eu já percebi que acaba sendo comum em vários outros trabalhos meus de forma inconsciente. Eu gosto muito de relacionar coisas com o universo, que dão a entender o quão pequeno nós somos diante dele e, ao mesmo tempo, o quão grande são as nossas decisões e o quanto elas afetam o mundo assim como ele nos afeta. Também gosto de ir ao significado das palavras, tenho um apego muito forte com a linguagem e com o que as palavras podem significar em certos contextos.
AS: Como tu enxergas o cenário em Pelotas para os artistas independentes?
JP: A gente tem que correr atrás, pois a cidade em si não dá suporte para os artistas. O que sustenta a cultura, nesse ponto de vista, é a universidade, mas universitário vem pra cá, fica quatro ou cinco anos e vai embora. Eu vim para cá em 2012, já passei desses quatro anos, então já dá pra ver a movimentação do pessoal que fazia o cenário cultural. As pessoas vão embora e surgem, aos poucos, outros grupos, outros coletivos e fica sempre assim, como se fosse uma maré.
AS: Tu participas do coletivo cultural ArtCidade Criativa. Podes explicar como ele funciona?
JP: O ArtCidade é um coletivo que existe há uns quatro anos, eu entrei nele faz quatro meses. Ultimamente a gente tem produzido mais eventos aqui dentro da casa, antes eram mais eventos de rua. A ideia é produzir eventos numa casa aberta com uma pegada mais política, social e que seja de graça. Vivemos fazendo oficinas, de estêncil, de mobiliário sustentável, de origami, etc. Além disso, sempre deixamos aberto para outros grupos realizarem eventos aqui. Queremos que as pessoas utilizem esse espaço, pois às vezes elas têm a ideia de produzir alguma coisa, mas não podem fazer isso na rua por questões de infraestrutura ou não têm recursos para fazer em outro lugar, então a casa está sempre aberta para esse tipo de proposta.
AS: Quais eventos que já aconteceram no ArtCidade ou que vão acontecer em breve?
JP: Nessa nova sede, a primeira exposição que teve foi a minha, “Nebulosa”, e agora é uma exposição coletiva, “Mesma”, sobre a representação feminina, que deve ficar por uns dois ou três meses. Depois, nós vamos chamar um artista independente para expor, pois pra quem é artista a exposição individual tem um peso muito grande no currículo e queremos dar a oportunidade pra quem está aqui em Pelotas ter essa oportunidade.
AS: Qual tu acreditas que seja a importância do empoderamento feminino na arte?
JP: Historicamente, mulheres vêm sendo oprimidas e desde sempre temos homens no poder. Ser alguém que acredita, que age e que promove oportunidades para mulheres se expressarem é conseguir quebrar um pouco o machismo da sociedade. Na história da arte a gente só estuda sobre homens e tudo o que a mídia nos apresenta é uma ideia de mulher que não é real, uma mulher que foi escrita e pintada por homens que apresenta como devia ser nossos corpos e como deveríamos viver. Esse empoderamento é dar a voz para que uma mulher fale e faça por si. É colocar mulheres no cinema, no jornalismo, no teatro, enfim, em cargos de poder.
Dicionário Porciunculês
O trabalho de Jéssica vai para além da poesia – ela mistura linguagem, contextos e significados que produzem sentido às suas criações. Relacionando o universo com a natureza ínfima das situações cotidianas, a artista tem uma gama de palavras que ela toma como norte para retratar sua realidade. A seguir, selecionamos algumas dessas palavras que são a essência dos trabalhos de Jéssica e pedimos que ela desenhasse alguma delas, suscitando com papel e caneta sua arte.
INFRA-ORDINÁRIO – algo que está tão intrínseco à rotina que passa despercebido. É como aquele desenho na parede do trabalho ou uma pichação num muro pelos quais as pessoas passam todos os dias e não percebem.
INFINITESIMAL – termo matemático para se referir aos objetos que têm corpo de massa tão pequeno que não podem ser medidos, porém é maior que zero. É algo tão pequeno que não há como medir, porém sabemos que esses objetos de fato existem.
PATAFÍSICA – área da ciência que estuda as exceções. É a ciência do imaginário porque de certa forma não se faz ideia por que que existem certas exceções. Um exemplo seria o besouro. Anatomicamente, seu corpo não é aerodinâmico, impossibilitando que o animal voe. Porém, ele voa.
PORCIÚNCULA – termo para definir o diminutivo de porção. É a parte menor de algo.
Contato
O ArtCidade Criativa é um coletivo que funciona desde 2012 e procura fomentar o debate sobre economia criativa e cidades criativas por meio de oficinas, palestras, rodas de conversa e outras atividades, priorizando o caráter gratuita das iniciativas. A sede está localizada na Rua Padre Anchieta, 949 e tem uma página no Facebook. Especificamente os trabalhos de Jéssica Porciúncula também podem ser acompanhados na rede social.
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Festa contra o desperdício
– Reportagem de Diogo Funari, Gislene Farion e Luís Otávio Schebek –
Disco Xepa e Comida de Rua reúnem pelotenses e turistas no Largo da Estação Férrea
As atividades da segunda edição do Festival de Gastronomia da Fenadoce movimentaram o sábado, dia 12 de junho, no Largo da Estação Férrea, em Pelotas. Os eventos simultâneos Disco Xepa e Comida de Rua fazem parte de uma programação nacional do movimento Slow Food, o qual incentiva o reaproveitamento dos alimentos e ajuda na redução do desperdício.
Jussara Dutra, coordenadora do Festival de Gastronomia, faz o alerta que cerca de 40% de todo alimento produzido no planeta vai para o lixo, levando em conta desde a produção até a mesa do consumidor. “A nossa própria geladeira é um bom exemplo de quanto desperdiçamos, ao não dar um destino adequado para esses alimentos”, ressalta.
Combinando música e gastronomia, o Disco Xepa acontece em diversos estados do Brasil e caracteriza o Disco Xepa Day. Foram nove horas de programação (das 12h às 21h). Confraternizou pelotenses e visitantes, chamando a atenção para uma alimentação mais eficiente.
A edição pelotense do evento contou com a organização de um grupo de cozinheiros simpatizantes do movimento Slow Food, além do apoio da Secretaria Municipal de Cultura. A feira de Comida de Rua também esteve à disposição do público visitante com a participação de restaurantes locais e food trucks que comercializaram pratos, cervejas artesanais, sucos de frutas nativas e doces de Pelotas a preços acessíveis.
Um dos destaques foi a distribuição de uma refeição gratuita feita pela chef Regina Tchelly, do projeto carioca Favela Orgânica. Ela preparou um arroz colorido com cascas de abóbora, de batata e de cenoura. “É muito bom, além de ser super saudável e sem gordura,” garante. Foram usados alimentos descartados por supermercados e pela “xepa” de feiras, o que chamou a atenção do público.
Ana Soares, estudante de psicologia e apreciadora das atividades que restaurantes e bares organizam nas ruas da cidade, ficou surpresa com o objetivo do evento. “Eu nunca tinha parado pra pensar que muito mais que pratos bonitos e saborosos, esses eventos podem ser grandes aliados nessa luta contra o desperdício. Acompanhei a produção do prato que estão distribuindo e comecei a me dar conta do quanto podemos fazer na nossa própria casa pra contribuir com isso.”
Além de comida boa, o Largo da Estação Férrea foi tomado por muita música durante todo o evento. Os DJ’s Micha, Tainá e Helô foram os responsáveis por animar o público presente. “Nada melhor pra essa tarde fria do que muita variedade de comida com esse som bacana” comenta o visitante Leonardo Moreira.
Segundo a Guarda Municipal, cerca de 400 pessoas estiveram presentes. Apesar das baixas temperaturas durante as nove horas de programação na Estação, o público prestigiou os restaurantes e aproveitou o sábado para reunir os amigos e fazer parte da história de um evento com importância à nível mundial, o Disco Xepa Day.
ALGUMAS DICAS
O que é Sloow Food? É uma associação internacional sem fins lucrativos, fundada em 1986, como resposta aos efeitos padronizantes do Fast Food. O movimento conta com mais de 100 mil associados de 150 países, conjugando o prazer e a alimentação com consciência ambiental e responsabilidade social.
O que é Disco Xepa? É um evento do movimento Slow Food sobre desperdício e consumo responsável. São mais de 200 eventos realizados, em 75 cidades e 15 países. Os franceses iniciaram a ideia com a “Disco Soupe“. A experiência começa na feira (ou local onde houver desperdício), com a coleta de alimentos que deixaram de possuir valor comercial. A missão do Disco Xepa é sensibilizar o público em geral do desperdício de resíduos alimentares, apresentando meios simples e dinâmicos para agir no combate a essa problemática.
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Cursos de Desenho e Fotografia
– Reportagem de Ananda Danielle de Oliveira Vergara –
Projeto terá aulas em Rio Grande e convoca artistas para eventos no final do mês –
O projeto Agenda Cultural da Mundo Moinho em parceria com a Co place, em Rio Grande, promove os cursos de Desenho e Fotografia para os interessados de toda a região, a partir de amanhã, dia 14 de junho. Os organizadores também convocam os artistas da região para a 38ª Feira de Artesanato do Rio Grande (Fearg) e a 21ª Feira de Comércio, Indústria e Serviços (Fecis), que ocorrem no final do mês.
O curso de desenho visa explorar técnicas gráficas e possibilidades de aplicação na prática. Sem necessidade dos alunos terem o domínio da arte de desenhar, as aulas serão oferecidas para o público geral. A intenção do curso é proporcionar a chance das pessoas se expressarem através do desenho, e, com isso, estimular o desenvolvimento gráfico e sensorial de cada participante.
As aulas serão ministradas pelos ilustradores Alisson Affonso, Everton Cosme e Luciano Lima, nos dias 15, 16, 22, 23 e 24 de junho, no período da tarde, das 15h às 17h. Também ocorrem à noite, nos dias 14, 15, 16 e 17, das 19h às 21h30. As inscrições ocorrem somente na Co place, que fica na rua General Câmara, 435, em Rio Grande.
O curso de fotografia, com a fotógrafa Dida Moraes, é oferecido para alunos iniciantes que queiram aprender os recursos para fotografar com qualidade. Serão ensinadas técnicas para melhorar a qualidade das fotografias. Os participantes aprenderão modos de cena e formas de armazenamento e organização das imagens, além dos tamanhos adequados de impressão e tratamento das fotos. As aulas serão no sábado, dia 18 de junho, na Co Place em Rio Grande, às 9h. As inscrições serão feitas no local, no dia anterior ao curso.
MUNDO MOINHO, A CASA DAS ARTES
A Mundo Moinho, em parceria com outras empresas, busca sempre trazer inovações relativas à arte e a cultura na cidade de Rio Grande, contribuindo sempre para manter uma agenda cultural permanente na região. Sua visão é atrair o maior número de artistas para participar dos eventos ocorridos na cidade.
A Coordenadora do Núcleo Literário da Mundo Moinho, Andréia Pires, estará organizando mais um evento na cidade que será realizado junto à 38ª Feira de Artesanato do Rio Grande (Fearg) e a 21ª Feira de Comércio, Indústria e Serviços (Fecis), que tem início dia 30 de junho. A ideia da produtora artística é compartilhar o espaço que terá dentro da feira com os artistas locais, durante os 18 dias de evento, propondo uma interação entre o público e os artistas.
Essa iniciativa trará três projetos ao público, a Estante Coletiva, o Varal Fotográfico e o Varal de Ilustração. Esses projetos servem para incentivar e reunir os autores, ocupando o estande da Produtora na Feira, de modo que todos tenham a mesma condição de exposição dos seus trabalhos. A participação dos artistas será organizada por escala, sendo aberta a todos os interessados.
Durante a exposição, os autores participarão do evento. Os contatos podem ser feitos pelo e-mail contato@mundomoinho.com.br até o dia 17 de junho.
Durante todo o ano, a produtora Mundo Moinho procura estabelecer uma ligação cultural entre o público e os artistas, esse diálogo atrai e aproxima pessoas que não tinham oportunidades de conhecer a cultura local. A inovação artística e o intercâmbio cultural aumentam cada vez mais o conhecimento da população.
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Paixão pelas tradições lusitanas
– Reportagem de Manuela Soares –
Rio-grandina realiza trabalho social ensinando cultura portuguesa –
Anna Dias Lucia Morrison é rio-grandina, graduada no curso de Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e neta de portugueses, fato que a fez aprender muitas das tradições típicas lusitanas, tais como a arte, gastronomia, artesanato, música e a religião.
Após seu casamento, que ocorreu aos seus 20 anos de idade, Anna mantinha sua dedicação apenas aos assuntos do lar. Com uma vida tranquila, treinava canto e realizava apresentações culturais em clubes, apresentando fados. Usava considerável parte de seu tempo para cozinhar pratos tradicionais da culinária portuguesa. Mas a tranquilidade não durou muito tempo, após sentir uma série de sintomas, Anna foi diagnosticada com câncer de mama.
A doença fez com que Anna fizesse sessões de quimioterapia semanalmente em Porto Alegre. Um dia, quando estava retornando de uma de suas sessões, pediu a Deus que se sobrevivesse iria dedicar parte de sua vida a ajudar os outros. Lendo uma edição do jornal Zero Hora, Anna observou uma reportagem da jornalista, Angela Bastos, sobre os costumes praticados na semana santa na Ilha dos Marinheiros, localizada em Rio Grande. Este momento foi marcante em sua vida, pois foi com isso que Anna, no ano de 1993, iniciou um trabalho social e cultural na Ilha dos Marinheiros.
O trabalho iniciou com a realização de entrevistas com todas as famílias que residem na Ilha dos Marinheiros, no propósito de realizar um resgate dos costumes deixados pelas famílias portuguesas naquela localidade. A entrevistada explica que “muito do que foi deixado na Ilha é típico da cultura portuguesa, alguns exemplos disso seriam as capelas, arcos de romaria, graspa e a gastronomia típica”. Este trabalho deu origem ao primeiro livro de Anna, “A ilha dos três Antônios”, editado e publicado pela gráfica Artipol – Artes tipográficas de Águeda, Portugal, no ano de 2003.
O lançamento do livro foi incentivado pelo governo português e, atualmente, Anna tem mais dois livros sobre cultura que também foram encaminhados a Portugal para serem publicados. São os títulos “Alma Lusa” e “Jogos e brincadeiras da cultura portuguesa”. Com a produção de textos sobre cultura portuguesa para seus livros, Anna também passou a ser uma das colaboradoras da revista Décima Ilha Açoriana, produzida pelo Instituto Cultural Português, de Porto Alegre.
Além da escrita, Anna criou um projeto social na qual ela realiza aulas de cultura portuguesa nas escolas Dolores Garcia e Renascer de Rio Grande. Nas aulas, leva artigos portugueses para as crianças conhecerem, explica a questão da colonização portuguesa no município e ainda mostra a importância das origens e o quanto elas interferem em nossas vidas. Após diversos professores terem conhecimento sobre seu trabalho, Anna foi convidada a realizar uma aula especial na Escola Álvares de Azevedo, que atende apenas estudantes cegos. Na aula levou trajes típicos da região portuguesa do Minho para que os alunos pudessem tocar e sentir o relevo das costuras nos tecidos e ter a oportunidade de adquirir conhecimentos sobre esta cultura.
Outro trabalho social e cultural que Anna realiza em benefício da comunidade é a realização de oficinas que mostram como podem ser de confeccionadas Marafonas, bonecas típicas, originárias da região portuguesa do Alentejo, que são realizadas a partir de práticas utilizadas por artesãs portuguesas. Nestas oficinas, Anna sempre salienta que “portuguesas confeccionavam estas bonecas para celebrar a fertilidade e a felicidade conjugal e que a tradição também advém da festividade das cruzes, que é realizada em Portugal no dia 3 de maio”. As oficinas já foram efetuadas em Encontros das Comunidades Portuguesas e Luso Descendentes do Cone Sul, no clube Centro Português Rio Grande e em parceria com a Secretaria de Cultura de Rio Grande, com o intuito de ensinar práticas artesãs da cultura portuguesa e mostrar o artesanato como uma fonte alternativa de geração de renda.
Em relação ao incentivo financeiro para desenvolver seus trabalhos, Anna conta que sempre foi em busca, mas que “é muito difícil e na maioria das vezes não teve êxito em suas tentativas, mas se mantém perseverante e não desiste”.
Sobre a questão política, acredita que “o Estado necessita incentivar a profissionalização da cultura” e conta que sua grande inspiração é o prefeito da cidade portuguesa Águeda, Gil Nadais, que “tem uma proposta diferenciada, mostrando a arte e cultura portuguesa por todos os lados da cidade, motivando o turismo e o desenvolvimento econômico”.
No ano de 2016, Anna continua com todos os seus projetos em andamento e permanece trabalhando voluntariamente para a valorização e o aprendizado da cultura em Rio Grande contabilizando 33 anos de trabalho com a disseminação de conhecimentos e pesquisa sobre a cultura portuguesa. Em seu mais novo projeto, Anna trabalha com os Centros de Tradições Gaúchas (CTG) Sentinela e Farroupilha mostrando as contribuições fornecidas pela cultura portuguesa para a criação da cultura gaúcha, a semelhança entre as danças, costumes e trajes.
Uma frase que a entrevistada deixa de incentivo para as pessoas que também trabalham com cultura é “o trabalho é bem difícil, mas vale muito a pena, pois isso é o que deixamos para contribuir com o conhecimento das futuras gerações”.
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Coletivo valoriza negritude
– Reportagem de Paulo Renato Ienczak –
O Centro Cultural Marrabenta inspira-se na música e dança de Moçambique –
O Centro Cultural Marrabenta surgiu a partir da vivência de um dos seus fundadores, Vinicius Britto Moraes, que passou um período de cinco meses em Moçambique. No seu retorno para o Brasil foi logo tratando de reunir pessoas envolvidas com o movimento negro e produção cultural negra, para assim viabilizar a criação de um coletivo, um centro cultural, em contato direto com o país que ele havia conhecido e pelo qual havia se encantado. A comunicação foi facilitada pelo fato de Moçambique ter também o português como linguagem oficial, por ser tratar de uma ex-colônia de Portugal, assim como o Brasil. Marrabenta é um gênero musical e um estilo de dança muito tradicional em Moçambique.
No dia 21 de março, foi inaugurado o espaço cultural, exatamente na esquina das ruas Coronel Alberto Rosa com Três de Maio, na zona central de Pelotas, mas já quase no Porto. Entre coordenadores, colaboradores e realizadores são quase 20 pessoas trabalhando para que o espaço funcione. A maioria divide seu tempo com outras atividades profissionais, estudantis e familiares. A verdade é que a experiência de se trabalhar em conjunto por uma causa em comum exige uma relação de confiança, e então o grupo de trabalho acaba também se tornando a segunda família daqueles que ali convivem.
Marielda Barcelos Medeiros, 50 anos, professora, coordenadora do coletivo Marrabenta e militante do movimento negro desde os 14 anos, leva sua filha para muitas das atividades desenvolvidas no local. Marielda possibilita, assim, que sua filha tenha a mesma vivência que ela, envolvida desde cedo com os movimentos sociais negros. Entre as diversas parcerias com outros coletivos e movimentos, o Marrabenta cede o seu espaço e dá suporte para eventos de diversas causas. O foco de suas atividades semanais se mantém na produção e discussão da cultura negra. “O espaço se propõe a trabalhar pra essa cultura que é tão desvalorizada, e que às vezes chega pra gente de maneira distorcida, então o compromisso do espaço é estar mesmo trabalhando com essa questão da cultura negra”, ressalta a coordenadora.
Nas terças-feiras, ocorre a Terça do Improviso, evento em parceria com o movimento Hip Hop local. Promove improvisação de rimas, poesias, debates e o encontro dos diversos poetas e admiradores da palavra improvisada, e da poesia livre. Ocorre em algumas quartas feiras à noite também a Rap Session, promovido pelo Dasmina, um coletivo composto por mulheres, visando a promoção da cultura, o debate do feminismo e o combate do machismo dentro do movimento Hip Hop. Também nas quartas-feiras ocorre o Black Cine, um clube de cinema com a temática exclusiva do cinema negro, que aborda temas como a experiência do negro na sociedade, sua história e cultura, bem como o cinema produzido no continente africano.
Todas as quintas-feiras no Marrabenta ocorrem os encontros do Grupo de estudos de Filosofia Africana, buscando o conhecimento e aprofundamento do pensamento do continente negro no contexto global.
Nas sextas, para começar bem o final de semana, sempre tem muita música com o Marrablues, sendo o Blues um dos pilares da música negra estadunidense, e símbolo da resistência negra no mundo.
Além das atividades periódicas no Marrabenta, existem muitas outras atividades paralelas. Há também a promoção de eventos nos bairros- o MarraVila- visando atingir a população periférica e a comunidade negra de Pelotas, que na sua maioria vive afastada do centro e da zona das universidades. Em Pelotas, muitos que vêm de fora nunca chegam a (re)conhecer a sua comunidade negra, que carece de iniciativas culturais.
A violência em Pelotas está presente tanto no Centro quanto nos outros bairros, de diferentes formas. A cultura é uma maneira de discutir essa realidade social em que o problema da criminalidade está diretamente ligado à desigualdade social e ao racismo. Todos nós sonhamos com um mundo melhor, com menos desigualdade e violência, e com mais música, mais consciência, mais cultura. Por essa causa também luta e resiste o Marrabenta, que dois meses depois de sua inauguração já contabiliza dois arrombamentos, que dificultam ainda mais o equilíbrio das contas e o pagamento do aluguel do espaço. No entanto, já conta também com dezenas de encontros, apresentações, rodas de conversa e eventos bem-sucedidos, além de muitos corações tocados e mentes modificadas.
Que esses dois meses se tornem dois anos, duas décadas, e que esse lindo trabalho acabe marcando a história do movimento negro em Pelotas. E que o futuro seja mais ameno.
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Excelente texto, ótimo de ler.
Marina Fonseca Silveira
Poesia de Lobo da Costa em foco
– Reportagem de Patrícia Tanaka –
Houve música, dança e gastronomia no I Sarau Dedo de Moça –
O atelier gastronômico Dedo de Moça organizou o seu primeiro sarau que aconteceu no dia 21 de maio. A ideia de Izabel Brum, proprietária do bistrô e criadora do evento, era de reunir várias expressões artísticas em seu espaço. Os artistas podiam se inscrever gratuitamente para fazer as suas performances. O tema principal foi o poeta e jornalista pelotense Lobo Da Costa.
Poesias de vários poetas foram distribuídas e lidas em voz alta. Um varal de poesias de Lobo da Costa foi montado para inspirar as pessoas. Aline distribuiu poesias, e fez a leitura oral para os presentes.
Após a leitura dos poemas, as pessoas se dirigiram para dentro do bistrô para degustar as delícias vendidas. No cardápio opções invernais, como sopa, chás e brownies de chocolate.
Quem foi Lobo da Costa?
Francisco Lobo da Costa – (Pelotas 1853-1888), que dá nome a uma das principais ruas do bairro Centro de Pelotas, foi um poeta, jornalista e teatrólogo brasileiro. É um dos autores mais expressivos do movimento romântico na literatura gaúcha.
A obra poética de Lobo da Costa foi publicada em jornais, em especial Eco do Sul, Diário de Pelotas e Progresso Literário. Alguns de seus poemas mais conhecidos são: “Isabel”, “Fragmento”, “Sombras e Sonhos”, “Amor”, “Melodias”, “Aquele Ranchinho”, “Os Romeiros da Morte” e “Adeus”.
No sarau, houve uma performance com a apresentação da poesia “A última confissão de Eugenia Câmara”.
A última confissão de Eugenia Câmara
O padre era um tipo venerado,
Mais pálido que o mármore de Carrara;
Tinha os olhos no chão – O seio arfando.
Deserto estava o templo, porém quando
A voz do sacerdote se escutara,
Abriu-se a porta da secreta ara
E um arcanjo de luz passou chorando.
– Crê em Deus, minha filha? – Eu o idolatro.
– De que se acusa, que pecado há feito?
– Meu padre, perdoai-me, eu tenho quatro.
– Credo em cruz! – brada o velho, a mão no peito.
– Amo a glória, o prazer, amo ao teatro,
E Castro Alves morreu por meu respeito.
Serviço: O atelier gastronômico Dedo de Moça fica na Rua Gonçalves Chaves, n: 3285a, funciona de segunda a sábado das 11:30 às 18:30.
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Orquestra prima pelo repertório
– Reportagem de Rafael Duval Pinto –
Grupo de Teutônia fez apresentação dia 7 de maio no aniversário da APUFPel –
A Associação dos Aposentados e Pensionistas da Associação dos Aposentados e Pensionistas da UFPel (APUFpel) comemorou o seu aniversário de 21 anos no dia 7 de maio. O evento foi realizado no Clube Diamantinos. Centenas de pessoas, entre elas, associados, familiares e não sócios prestigiaram a celebração, que teve como principal atração a Orquestra de Teutônia, lotando as dependências do local. Nesta noite, programada para grandes emoções, também foram vistas as coreografias do grupo de dança da APUFpel, entre outras apresentações. Após o jantar, iniciou o show mais esperado da noite, sob o comando do maestro Astor Jair Dalferth. Os músicos começaram cantando o “Parabéns para Você”, com a participação do público, que continuou a vibrar com o repertório diversificado.
A Orquestra de Teutônia, como o nome diz, nasceu como uma conjunto municipal, que remete a denominação da cidade natal. Criada em 1983, logo após a emancipação político-administrativa de Teutônia, contou inicialmente com 13 músicos, que se encontravam semanalmente, sob a coordenação do professor Airton Grave. Tinha como função principal levar a música instrumental para festas comunitárias e outros eventos socioculturais.
O maestro Astor Jair Dalferth é músico, compositor e arranjador. Possui graduação em Música pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS). Rege a orquestra desde 1989. A ideia de formar o grupo nasceu através de um sonho pessoal, compartilhado por todos os integrantes. Sendo uma pessoa motivadora, disciplinada e inovadora, o maestro foi um dos responsáveis diretos pela introdução de coreografias nas orquestras onde trabalha, pois, segundo sua visão, “a música popular é movimento, é fazer música para todos os sentidos do ser humano”.
Inspirada nas grandes orquestras de Glenn Miller, Ray Conniff, James Last e Perez Prado, tem um grande diferencial: o balanço brasileiro que proporciona um espetáculo diferenciado, moderno e inovador. Com uma apresentação que dura aproximadamente 90 minutos, inclui no seu repertório música popular, jazz, rock e pop rock. Com o passar dos anos esse destaque fez com que a orquestra deixasse um pouco sua cidade para tocar em outras partes do Estado, do País e do mundo.
Atualmente, o conjunto conta com 24 músicos, todos profissionais, mais da metade com formação universitária em Música. O grupo é distribuído em naipes (saxofone, trompetes, trombones, teclados, guitarra, baixo elétrico, bateria, percussão e vocais). A idade dos integrantes está entre 24 a 58 anos. A Orquestra de Teutônia é conhecida no sul do Brasil pelo seu repertório sempre atualizado, pela vibração, energia e balanço impostos pelos instrumentistas, que fazem o público vibrar, dançar e se emocionar. Segundo o maestro, quando surge uma vaga, é feito um processo seletivo, no qual há treinamentos que duram três meses, compostos de ensaios intensos, para depois ser feita uma avaliação para saber se a pessoa está apta para entrar na Orquestra.
Devido a toda sua versatilidade, a Orquestra foi premiada em várias ocasiões, sendo os dois prêmios mais importantes, os conquistados na Europa, em 1997 e 2000, no festival internacional da cidade alemã de Grimma. Foi destacada em 1997 na categoria Orquestras de Sopro, concorrendo com mais de 25 grupos europeus. A sua participação ocorreu graças à parceria com o MINC (Ministério da Cultura), que concedeu 12 passagens aéreas. Em 2000, participou do 4º Festival Internacional de Música de Grimma, na categoria Orquestras Estrangeiras, quando mais uma vez conquistou o primeiro lugar, concorrendo com orquestras do Japão, Iugoslávia, Hungria, Polônia, Holanda, Chechênia e República Tcheca. Novamente a Orquestra contou com o apoio do MINC, que concedeu 14 passagens aéreas.
No final do baile, a Orquestra foi muita ovacionada pela plateia, que pediu bis. Ao encerrar, o maestro em nome da orquestra agradeceu o convite e prometeu vir mais vezes à nossa cidade. Após a apresentação, a festa ficou por conta do DJ Vinícius Marques que animou o público por mais algumas horas. Para contratar a orquestra os interessados devem manter contato pelo site da orquestra , ou pelos telefones (51) 3762.1045 e (51) 9995.2314.
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