Show Miudinho com Ana Paula

 

Reportagem de Michel Farias dos Santos –

Musicista catarinense participou da Semana Acadêmica de música na UFPel – 

Cantora fez turnê no Rio Grande do Sul e Argentina

A valorização da Universidade acontece através da integração de personalidades do meio cultural com a área acadêmica. É natural. O compartilhamento de valores pessoais e sociais contribui para o aprendizado. No evento promovido pelos cursos de música da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em outubro, para a abertura da 1ª Semana Acadêmica Integrada dos cursos de Música, o nome de Ana Paula da Silva, catarinense, natural de Joinville e com mais de 20 anos de carreira, surgiu como nome ideal.

Ana Paula da Silva, em duas décadas de trabalho, já tem seis álbuns lançados, parceria com grandes nomes da música nacional e internacional. Mesmo assim, considera-se “eterna aprendiz” ao participar deste evento acadêmico.

O show “Miudinho”, de Ana Paula, aconteceu no Auditório 2 do Centro de Artes da UFPel. Com voz e violão, contou um pouco das duas décadas de trabalho. Em entrevista no Programa Federal Revista, da Rádio Federal FM, a cantora relatou a sua felicidade em estar na Universidade em contato com alunos e professores:

“Estou muito feliz em trazer meu trabalho para jovens e demais pessoas que estiverem presentes na apresentação. Senti a maior felicidade quando me convidaram pra vir a Pelotas, um expoente cultural. E, ainda mais feliz, por também realizar a apresentação em um espaço acadêmico. Espero que seja uma troca mútua de experiências e que todo mundo saia ganhando.”

Sobre ser convidada para um evento universitário, a cantora reconheceu e valoriza a oportunidade. “A importância de estar em locais como Universidade e em contato com outras culturas é o que me faz feliz. Me faz evoluir”, disse.

Em Pelotas, a cantora apresentou o show “Miudinho”. Um apanhado de músicas criadas ao longo de sua carreira, em voz e violão. “Miudinho especial para os gaúchos”, afirmou Ana. Além de Pelotas, Rio Grande e Herval também receberam shows da cantora. “Estou levando meu trabalho e um pouco da cultura catarinense para as cidades do Sul do Estado, pretendo aprender ao máximo”, disse a musicista catarinense.

CD traz 14 músicas, sendo 11 composições autorais

Novo álbum

Ana Paula da Silva lançou o disco Raiz Forte, em 2016. O lançamento ocorreu cinco anos após o do último disco Pé de Crioula. O disco entrou na lista dos 27 álbuns de maior representatividade lançados em 2016. O álbum é composto de 14 composições, 11 de autoria de Ana. Sua repercussão positiva valorizou o trabalho da cantora.

“Ser lembrada pela obra que a gente trabalha tanto para criar é sempre gratificante. Mas, como sempre busquei me aperfeiçoar, desejo ser lembrada mais vezes e que as pessoas vejam o quanto é de coração a minha produção. Tenho vivido um momento excepcional na minha carreira. Não posso deixar de agradecer quem também construiu e criou o Raiz Forte comigo.”

Depois da passagem pelo Estado, Ana Paula da Silva voltou a realizar a turnê do seu novo CD, na Argentina, no mês de novembro. “Vontade enorme de poder levar esse trabalho feito com tanta dedicação para outras línguas. Sorte que a música é linguagem universal”, completa. Conheça toda a carreira da cantora no seu site.

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Tem gaúcho no Grammy sim!

Reportagem de Larissa Moraes e Lucas Pereira –

O cantor e compositor Ian Ramil venceu Grammy Latino na categoria melhor álbum

Premiado com o trabalho Derivacivilização, Ian Ramil considera que o rock é uma forma de protesto

Os cantores gaúchos Ian Ramil e Thiago Ramil foram indicados ao Grammy Latino desse ano. Ian foi designado ao prêmio de Melhor Álbum de Rock em Lingua Portuguesa, juntamente com as bandas Versalle, Scalene, Bogarins e Jay Vaquer. Já Thiago representou o estado na categoria Melhor Álbum Pop de Música Contemporânea em Língua Portuguesa juntamente com Tiago Iorc, Marisa, Céu e Larissa Luz. Ian Ramil venceu o Grammy Latino na categoria de melhor álbum de rock em português com o disco Derivacivilização, lançado em 2015 pelo selo Escápula Records. Ian e Thiago são familiares dos cantores pelotenses Kleiton, Kledir e Vitor Ramil.

Além deles, outros grandes nomes da música nacional se reuniram no dia 17 de novembro em Las Vegas, nos Estados Unidos. Djavan, Elsa Soares, Martinho da Vila e Arlindo Cruz foram indicados a um dos maiores prêmios mundiais. Elza Soares levou o melhor álbum de música brasileira e Martinho da Vila ficou com o prêmio de melhor álbum de samba.

A música “Vidas pra contar”, de Djavan, foi escolhida a melhor em língua portuguesa. Paula Fernandes venceu como melhor álbum de sertanejo e a cantora Céu ganhou na categoria música contemporânea, com o álbum Tropix. Almir Sater, Renato Teixeira e Hamilton de Holanda também saíram com prêmios.

A reportagem conversou com Ian Ramil, antes das premiações serem divulgadas, e ele já começou dizendo que se sente lisonjeado: “Muito legal concorrer ao lado de pessoas já renomadas na música. Uma honra muito grande”. Ian já fez a abertura de shows de muitos artistas, inclusive o último em Pelotas foi o de uma das cantoras premiadas no Grammy, Elsa Soares.

Questionado sobre a semelhança do som dele com o de seu primo, Ian concorda e discorda ao mesmo tempo: “Acho que são muito parecidos e muito diferentes. Parecidos no sentido de que nos expressamos artisticamente de maneira muito livre, seguindo nosso impulsos criativos, respeitando nossas personalidades; e diferente porque somos pessoas completamente diferentes.”

O cantor de 31 anos tem dois discos gravados pela Escápula Records, o Derivacivilização vem pós o disco IAN, que segundo ele é um protótipo para o ‘Deriva’: “Deriva é um álbum muito mais consciente, composto em um período de um ano e gravado num momento onde eu já tinha mais domínio do que eu estava fazendo e logo de onde eu queria chegar sonoramente”.

Muitas músicas do álbum são em forma de protesto, como as canções Artigo 5° e Coquetel Molotov. Ian considera que o rock é sim uma forma de manifesto e isso pode ter influenciado os votantes da premiação: “Não saberia dizer. Acho que a crueza dele, a essência rock que ele tem, talvez tenha chamado a atenção dos votantes do Grammy Latino. Hoje em dia é tudo muito limpo e bonitinho. O rock não é assim, Deriva é rock”, finaliza o cantor.

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Visão sombria da era cibernética

Texto de Lunara Duarte –

Televisão – Crítica – 

Série trata do efeito “narcotizante” das tecnologias e questiona suas consequências                  Foto: Reprodução

Uma das mais notáveis produções da Netflix, o lançamento da série britânica Black Mirror, em 2013, incontestavelmente quebrou paradigmas. O criador da série, Charlie Brooker, revelou em sua coluna no jornal The Guardian que o título se refere “aquele [espelho negro] que você encontra em toda parede, em cada mesa, na palma de todas as mãos: a tela fria e brilhante de uma TV, de um monitor, de um smartphone”. Uma alusão bastante familiar ao nosso contexto histórico.

A série destacou-se pela elaboração de um roteiro que abdica de uma das premissas das produções cinematográficas: a linearidade. Em oposição à maioria das séries, Black Mirror possui apenas sete episódios, cada um composto por um elenco e histórias diferentes. Apesar da ausência de linearidade, a temática gira em torno da relação dos seres humanos com as tecnologias em um futuro distópico, mesclando ficção científica com os dilemas contemporâneos.

A era do apogeu cibernético

Aqui a dependência tecnológica é levada às últimas consequências: as relações interpessoais passam a ser intermediadas por dispositivos e aplicativos. Tudo é mecanizado na cultura de massa (inclusive nós!). O que aguça ainda mais a curiosidade do espectador é o fato de que cada episódio nos convida a uma reflexão distinta sobre os impactos das tecnologias na psique humana. Os personagens, muitas vezes, são dotados de ambiguidade. O espectador não consegue apreender facilmente quem é o “vilão” e o “mocinho”. E as reviravoltas são arrebatadoras.

O efeito “narcotizante” das tecnologias provoca infindáveis questionamentos sobre os seus efeitos nocivos. Brooker sentencia: “Se a tecnologia é uma droga — e ela se assemelha a uma droga –, então quais são, exatamente, seus efeitos colaterais? Essa área, entre o deleite e o desconforto, é onde Black Mirror, minha nova série dramática, está situada.”

Sobre a decisão de tornar cada episódio independente, Brooker garante que o objetivo é romper com a familiaridade diante dos personagens, cenários e situações comuns às séries atuais. O espectador é estimulado a mergulhar em um mundo levemente diferente e a previsibilidade é deixada de lado. Sempre há uma surpresa. E, de fato, a sensação que nos causa é a de que cada episódio funciona como um filme de aproximadamente 50 minutos, com o roteiro e desfechos irretocáveis.

Os episódios “White Christmas”, “The Entire Story of You” e “Fifteen Million Merits” estão entre os que surpreenderam a audiência. Como os mais chocantes destaca-se o “The National Anthem” ou “White Bear” (o que nos deixa perplexos, particularmente). O Be Right Back é mais melancólico, mas escancara a destruição dos relacionamentos afetivos nesse cenário caótico.

Tecnologia e Sociedade do Espetáculo

Outro elemento constitutivo da trama é a referência aos realities shows, programas cujos índices de audiência ainda são bastante significativos ao redor do mundo, além dos famosos programas de auditório. Imediatamente, relacionamos a série aos conceitos do escritor francês Guy Debord – embora em dimensões muito mais catastróficas –, na qual o espetáculo torna-se um dos alicerces da contemporaneidade.

O espetáculo opera como um agravante na trama em virtude da hiperexposição dos indivíduos diante de plateias numerosas e telões. Em alguns episódios, situações do cotidiano tornam-se parte do show, de tal modo que não conseguimos distinguir a fronteira entre gestos espontâneos e calculados. A realidade e o show assumem proporções astronômicas (qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência).

 

O ônus e o bônus da tecnologia

Fato é que a tecnologia promoveu inúmeros progressos tais como a dissolução de fronteiras geográficas e difusão do conhecimento nas redes. Já cremos até na “imortalidade” dentro do ambiente virtual (condição pós-humana na qual os nossos perfis nas redes sociais simbolizariam a extensão de nossos corpos), então qual seria o outro lado desse apogeu tecnológico? Observamos com naturalidade o quanto a interação social no mundo “concreto” está comprometida devido a presença constante de smarthphones e tablets, mas não conseguimos refletir sobre os danos a longo prazo. Nem ousamos pensar com criticidade sobre isso.

A mensagem transmitida não se resume a uma visão meramente “tecnofóbica” (de aversão às tecnologias), não há apenas a tentativa de demonizá-las, e sim vê-las como um instrumento fruto de uma engenharia social, que tanto pode ser usada para o bem como para o mal. As tecnologias não nos corrompem, nós é que as corrompemos em benefício próprio. Não podemos exaltar o expansão tecnológica sem avaliar as consequências futuras. É disso que Black Mirror trata.

Visualmente a série também não decepciona. Com a produção, atuações e fotografia que dialogam com o que está sendo exibido, em pouquíssimo tempo nos sentimos cativados pelo enredo. Os movimentos de câmera às vezes fazem com que acreditemos que nós mesmos estamos “filmando” os personagens com a câmera dos nossos celulares.

A série retornou em outubro com seis novas tramas, em terceira temporada. Vale a pena conferir!

 Faixa indicativa: 16 anos.

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Espaço para arte independente

Reportagem de Beatriz Coan Peterle –

Desde 2013, o Sofá na Rua contribui para que novas produções tenham visibilidade – 

O evento passou a ser um símbolo da livre expressão e de um novo modo de compartilhar o espaço público

O evento é símbolo da livre expressão e de novo espaço para as artes

O evento Sofá na Rua, criado pelo coletivo Casa Fora do Eixo, se tornou um espaço reconhecido no município de Pelotas para bandas e artistas independentes. Em 2013, o coletivo, que já possuía suas portas abertas, decidiu expandir, levar às ruas o ambiente cultural que existia na casa, com a proposta de estimular e fomentar a cadeia cultural da cidade.

A casa abrigava diversas pessoas, que trabalhavam com diferentes linguagens artísticas e entendiam todas as dificuldades no município para desenvolver eventos culturais. Havia falta de espaço, com o fechamento do Theatro Sete de Abril, a inviabilidade de alugar locais para abrigar eventos e a dificuldade de obter investimentos e aprovação de projetos. Surgiu a ideia de “tomar a rua”, fazer uso de um espaço público, entendendo-o como um ambiente democrático, onde as pessoas têm acesso à cultura de forma gratuita, levando então o sofá para a rua.

Através de parcerias com outros coletivos culturais, sociais e ambientais, produtores, artistas e demais colaboradores, o evento começou a se desenvolver, criar forma. Inicialmente faltavam instrumentos e equipamentos, que por meio de troca de trabalho foram supridos. Uma estrutura base foi montada para realizar o Sofá na Rua que foi crescendo através do diálogo construtivo com a cidade e também pela mídia alternativa e independente feita na internet.

Os produtores o consideram um evento que vai além do entretenimento, mas que também estimula a reflexão, transformação e consolidação de diversas maneiras. Traz espaço para bandas independentes e autorais, já foi palco de lançamento de discos, artistas de outras regiões e responsável pelo surgimento de fãs. E também deixa aberto o microfone para reflexões, pensamentos e questões a serem discutidas, entendendo que ali está a voz das ruas.

Ao longo dos seus três anos, o projeto Sofá na Rua cresceu e se tornou uma rede. Surgiram edições em diversas cidades e estados, chegando até mesmo na região Nordeste do país. Em Pelotas o evento tomou corpo e forma, atingindo um público de duas mil pessoas. Devido ao encerramento da Casa Fora do Eixo em Pelotas e da reativação da zona portuária, que trazia a discussão dos benefícios e malefícios que isso traria, o Sofá na Rua fez parceria com o então Galpão do Rock (atual Galpão Satolep), e mudou de local. Saindo da Rua Almirante Tamandaré, indo para a Rua José do Patrocínio, onde se localiza o Galpão Satolep.

O local, pertencente ao produtor cultural Manoval, já era conhecido por se envolver em atividades culturais na cidade, que abriam espaço para bandas autorais e locais. Entendendo que a cultura não é só entretenimento, mas também uma luta por qualificação local, a parceria com o Sofá na Rua foi entendida como óbvia e aconteceu facilmente.

O evento já abriu espaço para mais de 200 pessoas de diversos lugares da América Latina, sempre priorizando o trabalho autoral. E também conta com bancas de economia alternativa, o que se tornou essencial para os vendedores, que muitas vezes conseguem pagar as contas do mês ou incrementar o orçamento através de venda de alimentos e outros trabalhos.

Hoje o Sofá na Rua é um evento que reúne artistas autorais de diversas regiões, vendedores ambulantes e um público sedento por cultura e entretenimento de qualidade. Ele é responsável por trazer oportunidade de crescimento econômico e principalmente cultural para Pelotas.

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Prefeitura requalifica Casarão

Reportagem de Mariana Andrade Florencio –

Projeto estimula cena artística e histórica de Pelotas –

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Desde 2005, o prédio vem sendo um espaço de apreciação das artes visuais

Em setembro, a Prefeitura de Pelotas publicou um edital que visa a requalificação das salas de exposição do Casarão 2, na Praça Coronel Pedro Osório. As salas Antônio Caringi e Inah D’Ávila Costa vão receber uma nova climatização, painéis de exibição e luminotécnica, possibilitando futuramente diversas exposições, sem o risco de serem comprometidas devido ao ambiente e a alta umidade da cidade.
Esse projeto vai ser financiado pelo PAC Cidades Históricas, que disponibilizou R$ 90.2031,04 para a requalificação. Os envelopes com as propostas foram abertos no dia 22 de setembro, e, como não houve retorno, uma nova data foi marcada para o dia 18 de outubro.

O Casarão 2, formalmente conhecido como Centro Cultural Adail Bento Costa, sede da Secretaria de Cultura de Pelotas, faz hoje parte do nosso patrimônio histórico. Em 1979, a casa corria risco de demolição e seu terreno serviria para a construção de novos prédios. O artista e grande ativista da arte histórica brasileira, Adail Bento Costa, a quem o local homenageia, lutou pela recuperação e restauração do edifício, tanto que conseguiu o apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para dar início a seus trabalhos de restauro. Após muitos atrasos e paradas, a restauração integral do local ocorreu em 2005, quando foi incluído no Programa Monumento.

Desde então o prédio vem recebendo diversas exposições, seja de pinturas, objetos artísticos e artesanais ou lançamentos de livros, entre outros eventos. O Casarão 2 ficou à disposição da cena artística pelotense. Quando inaugurou, o local propôs editais de ocupações para que os artistas se inscrevessem e assim pudessem utilizar os locais, mas sem um apoio financeiro.

A nova gestão, que vem atuando desde 2013, não era a favor desse tipo de política, como disse o secretário da Cultura, Giorgio Ronna. “Eu sou contrário a fazer edital apenas para ocupação de espaço. Acho que para fomentar a cena de artes visuais a gente deveria oferecer um pró-labore, um recurso para que os artistas possam pagar a produção do trabalho ou o transporte, algo assim”, afirma. Então uma nova política foi adotada e agora os editais disponibilizam recursos que ajudam os artistas a produzir, ou a realizar os eventos dentro das salas de exposições que a Prefeitura possui, beneficiando assim as salas do Casarão 2. Esse sonho só foi possível de ser realizado em 2015, quando o orçamento do ano conseguiu ser aprovado.

A partir de então treze editais foram lançados e diversos programas e artistas foram beneficiados, entre eles estão o apoio a eventos dos primeiro e segundo semestres do curso de Artes Visuais da UFPel, o Projeto do Sete ao Entardecer e o Procultura. Esses editais tentam beneficiar o número de projetos submetidos, mas tudo depende muito do valor disponibilizado pela Prefeitura e se as acomodações das salas de exposições eram capazes de receber as obras. Para Giorgio esse foi o “modo mais democrático de distribuir os recursos públicos, oferecendo condições iguais de participação a todos os agentes culturais da cidade”.

Nesse ano, infelizmente, não foi aberto nenhum edital novo, pois era necessário a requalificações das salas para a continuação dos trabalhos. Qualquer exposição realizada foi simplesmente possível através da conversa e interesse dos artistas ou parceria com instituições, como a UFPel, sempre visando contemplar o que fosse possível ser exposto. Agora, após a requalificação, novos editais serão abertos e a cena artística de Pelotas poderá mais uma vez ser contemplada.

O secretário ressalta que qualquer exposição realizada ali é aberta ao público, afinal espalhar a arte para a população é um dos objetivos do projeto. As pessoas podem visitar a casa das 8h às 18h, de segunda a sexta-feira, e conferir as exposições que estejam ocorrendo ou apreciar a arquitetura do local. O endereço é Praça Coronel Pedro Osório, Nº 2.

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Duas mostras até domingo

Reportagem de Anahí Silveira e Larissa Patines –

Gotuzzo e Vinholes: conheça as duas exposições abertas no Malg

Obras de Gotuzzo foram reunidas através da colaboração de diversas famílias pelotenses

Obras de Gotuzzo foram reunidas através da colaboração de diversas famílias pelotenses         Fotos: Anahí Silveira

     Inaugurado em 1986, o Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (Malg), vinculado ao Centro de Artes (CA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), comemora seus 30 anos de fundação com duas exposições. Abertas no dia 17 de setembro, as mostras “Leopoldo Gotuzzo: outros acervos”, com curadoria de Carmen Regina Bauer Diniz, e “Sob o olhar do colecionador: Coleção L.C. Vinholes”, com curadoria de Jose Luiz de Pellegrin, apresentam ao público obras reunidas em um formato inédito. Além disso, proporcionam um resgate histórico na forma como cada “personagem principal” traçou sua relação com a cidade de Pelotas. As duas estão abertas à visitação até o próximo domingo, dia 23 de outubro, das 10h às 19h, com entrada gratuita.

 A relação intensa entre Gotuzzo e sua terra natal

      A professora de Artes Visuais do Centro de Artes, Carmen Diniz, conta que a curadoria se deu cerca de dois meses antes da inauguração, em um trabalho de contato verbal e pessoal com os colecionadores, que dispunham de obras do artista. “Leopoldo Gotuzzo: outros acervos” apresenta para o público 77 obras do patrono e que pertencem a 30 coleções externas ao Museu. Elas foram emprestadas por diferentes pessoas e famílias, e muitas passaram por um trabalho minucioso de restauro feito pela equipe do Museu.

     Carmen conta que José Henrique Pires, que já passou pela pasta da Cultura e hoje atua no Ministério do Desenvolvimento Agrário, foi quem lhe deu as primeiras dicas para começar a busca pelas obras. “Como sou bem agitada, telefonava, encontrava as pessoas e já ia perguntando: “Me disseram que tens dois quadros, podes emprestar?”.

     Eis que algumas descobertas foram surgindo, até mesmo fazendo a equipe repensar o que já se sabe sobre as obras de Gotuzzo. “Algumas obras que temos aqui fogem do padrão que conhecemos. Isso nos obriga a investigar outras possibilidades. “Será que ele fez?”. “Será que ele abriu outros caminhos?”. Além dos empréstimos particulares, o restante da coleção foi deixado por cláusula testamentária, incluindo móveis, que serão expostos a partir do dia 7 de novembro, data que marca o aniversário do Museu.

     O também professor do CA da UFPel, Jose Luiz de Pellegrin, que atua nas áreas de Pintura e Prática Profissional e integrante da comissão de curadoria do Malg, descreve suas impressões da exposição: “Sou catarinense, cheguei aqui em 1976 e nunca vi esse conjunto de obras. Estamos tendo acesso a uma produção do Gotuzzo que está em Pelotas, que conta um pouco das vezes que ele passou por aqui, e diz muito sobre ele, com uma variedade que a gente nunca teve a chance de ver. Vai levar uns 50 anos para isso acontecer de novo”.

    Carmen também fala sobre a relação com os doadores. “As pessoas que emprestaram foram muito legais. Tem muita gente e muitos colecionadores envolvidos”. Exceto os dois colecionadores de Porto Alegre – Paulo Raimundo Gasparotto e Bernardino Assis Brasil -, todos os outros são de Pelotas. Já Clarice Magalhães, membro da Sociedade de Amigos do Museu e também doadora, contribuiu muito para a curadoria.

Alguns desenhos do pintor apresentavam o tempo de produção, como este feito em menos de cinco minutos

Alguns desenhos do pintor apresentam o tempo de produção, como este feito em menos cinco minutos

Vida e obra

      O pelotense Leopoldo Gotuzzo nasceu em 1887 e morreu aos 96 anos no Rio de Janeiro, em 1983. Fez seus primeiros estudos com Frederico Trebbi – comerciante, fotógrafo, pintor e professor de arte ativo no Rio Grande do Sul entre os séculos XIX e XX -, que o aconselhou a seguir para Roma, onde permaneceu estudando. Transferiu-se para Madri aos 27 anos e retornou em 1919 para o Brasil, ficando no RJ. “Ele tinha uma relação muito forte com Pelotas. Era inclusive muito amigo de Marina de Moraes Pires, fundadora da Escola de Belas Artes de Pelotas, que o convidou para ser patrono da Escola”, conta Carmen. “Então, sempre que vinha para a cidade ele ia à Escola e desenhava. Eu inclusive tive o prazer de assistir o seu trabalho”, relembra. Por ser criador de uma extensa produção e ter mantido esse laço com o município, muitos pelotenses possuem suas obras em casa.

     Em uma viagem ao passado, a professora explica que, por galerias de arte serem espaços recentes, antigamente as obras de Gotuzzo eram expostas em clubes como o Caixeiral, no Grande Hotel, na Bibliotheca Pública, e ainda em vitrines de lojas. As primeiras exposições dele são feitas em 1919, logo depois de retornar da Europa, em Pelotas – quando vendeu cinco quadros, quatro paisagens e uma figura – e em Porto Alegre.

 A riqueza das gravuras japonesas pelas coleções de Vinholes

 

“É a vida gráfica do Japão”, diz o curador Pellegrin sobre acervo reunido por Vinholes

“É a vida gráfica do Japão”, diz o curador Pellegrin sobre o acervo reunido pelo colecionador

     A relação de Pellegrin com o doador das obras integradas de cerâmicas e de gravuras japonesas do século XIX de “Sob o olhar do colecionador: Coleção L.C. Vinholes”, ou seja, o pelotense Luiz Carlos Vinholes, já vem de algum tempo. “Eu fui a pessoa que apresentou o ‘aceite’ quando ele fez a tentativa de doação”, explica, adiantando que a intenção era tornar público um material que não tivesse apenas sentido em si mesmo, mas que fornecesse informações para facilitar a sua apreciação: “Às vezes, as pessoas têm vergonha de perguntar porque não querem mostrar que não sabem, e acham que têm obrigação de saber. Ninguém tem obrigação de saber nada, tem sim o direito de ter acesso”.

     Vinholes é um poeta concretista, pioneiro da música aleatória no Brasil, crítico musical, músico de vanguarda e divulgador da cultura brasileira, que saiu de Pelotas em 1953 para ir a São Paulo estudar música. Em 2014, foi escolhido patrono da Feira do Livro de Pelotas. “Desde o começo as pessoas me diziam: Por que você vai aceitar isso pro Malg? Gravuras do século XVIII e XIX, o que tem a ver com Gotuzzo? Bom, como pintor, sabia que tinha uma importância por se tratarem de obras originais, que artistas do período do começo da modernidade, como Van Gogh e Monet, se encantaram com aquilo e aprenderam muito”, diz Pellegrin. “É uma experiência de conhecer um tipo de solução plástica maravilhosa”, completa.

     Os dois professores explicam que, conforme os livros de História da Arte, em meados do século XIX, há o registro do período do japonismo, quando o Japão abre os portos às nações amigas, levando à Europa diversas mercadorias, louças e cerâmicas, embrulhadas em tecidos com riqueza de estampas e gravuras. “A gravura tinha o papel de registrar o cotidiano”, explica Pellegrin. O ukiyo-e – “mundo flutuante” – é um tipo de gravura japonesa que tinha exatamente essa função.

     É curiosa a semelhança de Vinholes com Gotuzzo, entre idas para o exterior e vindas para a Princesa do Sul, conforme explica Pellegrin. O poeta acaba indo para o Japão como estudante, através de uma bolsa, e lá começa a divulgar a música erudita contemporânea e a poesia concreta. A Embaixada Brasileira percebe então que ele passa a fazer uma grande divulgação do país e o contrata. O foco que Pellegrin buscou foi em abordar a figura do colecionador. Portanto, duas páginas escritas por Vinholes estão presentes na exposição, nas quais ele conta como iniciou a coleção. “Ele fala sobre quando chegou no Japão, no período pós-guerra, e por isso faz essa conexão Pelotas-Japão, através de cidades irmãs. Conhece duas americanas que estavam procurando arte japonesa e iam para os antiquários, e ele foi junto. Nisso, fica amigo do professor Kenzo Tanaka que lhe apresenta a história de Suzu [cidade japonesa]”, explica. Artista plástico e ensaísta, Tanaka concebeu o projeto da Praça Jardim de Suzu, que inicialmente ficaria ao lado da Rodoviária de Pelotas, depois seria no Aeroporto, e hoje se localiza na avenida República do Líbano.

     O acervo de doação de Vinholes tem em torno de duas mil obras. “O que está exposto é um recorte mínimo que eu fiz. Minha escolha foi pela gravura porque tem essa importância de influenciar a arte moderna. E, ao mesmo tempo, apresenta uma grande qualidade gráfica”. Exemplo disto são artigos como um livro, em forma de “mostruário”, datado de 1890, um pôster escolar que ilustra todas as posições de um exercício físico, e um material que demonstra o “tintamento” feito em peixes para registrar dados como que tipo foi fisgado e quem realizou a pescaria. “É a vida gráfica do Japão”.

     Pellegrin se apropriou de um recurso utilizado por Vinholes, com a inclusão na mostra das definições das técnicas presentes nas obras, como recurso informativo e como forma de apresentar o “discurso dele”. “Tem muito texto por causa disso e também para que as pessoas possam ler e entender. Acho que a exposição é generosa nesse sentido. Alguém que visitar a exposição vai ter informação pra ler, saber quem doou e de onde veio”.

     A exposição também conta, como de praxe, com um texto do curador. “Eu quis que a gente começasse a pensar: O que são coleções? Como se formam coleções? O que move o colecionador? É juntar, escolher, procurar, comparar, discutir, organizar e depois pensar: O que eu faço com isso?”.

     “É bonito como esses dois homens têm um carinho por Pelotas, como eles percebem que a cultura aqui tem um valor grande, tanto é que querem que a cidade cuide da cultura que eles produziram e recolheram. Eles fazem uma trajetória semelhante com 50 anos de diferença”, avalia Pellegrin, que também traça um paralelo com o outro evento: “A exposição que a Carmen faz é uma prova do reconhecimento que a cidade tem com o Gotuzzo”.

     Os dois curadores destacam também a atuação de toda a equipe do Museu, sobretudo da museóloga Joana Lizott, que “tem muita paciência” e é responsável pela manipulação das obras.

     Carmen é presidente da Sociedade Amigos do Museu e aproveita as exposições para divulgar a existência de um grupo que colabora com o fortalecimento do local. “O Museu é da Universidade, ele tem seus custos fixos, mas os gastos diários, com as exposições, aquisição de obras novas, sai da Sociedade”. Para se tornar sócio, basta preencher a ficha de inscrição disponível no Museu e contribuir com o valor de R$ 30 por trimestre. Alguns impedimentos, por exemplo, são enfrentados pela equipe do Malg e não chegam ao conhecido público, como é o caso do pagamento do seguro das obras, recurso indisponível para o Museu.

     Os dois professores ressaltam ainda a importância da gratuidade no local – tanto para entrada no Museu, como na visitação das exposições. “Muitas pessoas não sabem que o Museu é gratuito e não entram com medo de terem que pagar entrada ou que se sentem constrangidas. E é justamente isso que a gente não quer. Esse Museu é da cidade, é dos estudantes, e ele deve ser frequentado”, enfatiza Pellegrin. O Malg fica localizado na rua General Osório, nº 725, no Centro de Pelotas.

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COMENTÁRIO

 

A era de Aquarius resiste

Texto de Calvin Cousin e Gabriela Schander –

Cinema – Crítica –

Aquarius, dirigido por Kléber Mendonça Filho e com Sônia Braga estrelando, estreou no Brasil dia 1º de setembro

Aquarius, dirigido por Kléber Mendonça Filho e com Sônia Braga estrelando, pode ser visto em várias salas

Depois de causar polêmica no Festival de Cannes graças ao protesto da equipe contra o impeachment de Dilma Rousseff, o filme Aquarius, dirigido por Kléber Mendonça Filho e com Sônia Braga no papel principal, é exibido em todo o Brasil. O longa-metragem tem como cenário um edifício da década de 1950, localizado na Praia de Boa Viagem, em Recife. Sua única moradora é Clara (Sônia Braga), uma jornalista aposentada que, após a passagem dos filhos para a vida adulta e a morte do marido, vive em um amplo apartamento com seu piano, muitos discos de vinil e livros sobre música, alguns de sua própria autoria. Clara não aceita a proposta de uma grande construtora que pretende adquirir todos os apartamentos do prédio e, no lugar do mesmo, erguer um condomínio de luxo. O que segue é a jornada de uma inteligente mulher – pressionada pela sociedade que a subestima – para preservar suas memórias e o sentimento de pertencimento.

Praticamente um estudo de personagem, o filme inteiro gira em torno de Clara, que em muitos momentos fica completamente sozinha em cena. Sônia Braga retorna ao cinema brasileiro com maestria, em um papel de complexidade que não é visto com frequência. Ela pode passar a ideia, no começo, de frigidez, mas o decorrer da trama mostra uma figura bondosa e as fragilidades da idade que vêm à tona facilmente. Com seus 65 anos, Clara exemplifica como o velho precisa se adaptar ao novo para não ser destruído, mas também, ao ressaltar o poder que certos tipos de materialidade possuem, que o novo não deve ignorar o que existiu antes dele. É impossível não sentir vergonha alheia ao ver uma jovem jornalista entrevistar a personagem e ficar sem palavras diante de seu monólogo sobre como mídias tidas como ultrapassadas (no caso, LPs) estão cheias de histórias e significados.

A autoria de Kléber Mendonça Filho, diretor e roteirista, é impactante, com a construção de uma atmosfera perpetuamente tensa. Lembrando os filmes de Tarantino, o enredo é divido em capítulos, apresenta uma potente trilha sonora (que inclui clássicos dos anos 70 e 80, favoritos de Clara, de Queen à Maria Bethânia) e interessantes escolhas de montagem e fotografia (por Pedro Sotero e Fabrício Tadeu), sendo muitos planos voltados para os pés da protagonista, com as unhas pintadas de vermelho. Quase se espera que ela esfaqueie alguém e o sangue domine a tela, mas a personagem seria distinta demais para isso. Realmente, tendo em vista todas as polêmicas em torno do filme (que incluem, além dos já mencionados protestos, críticas a sua alta classificação indicativa), ele é surpreendentemente pacífico no que se refere às agressões físicas.

A pressão sobre Clara, a “louca do Aquarius”, como ela mesma se intitula, ocorre seja por parte do responsável pelo projeto do condomínio (Humberto Carrão) ou pela filha (Maeve Jinkings), que precisa de dinheiro e a trata como uma idosa incapacitada, ainda que a mesma esteja longe disso. A primeira cena de Aquarius se passa em 1980, com uma jovem Clara – de cabelos curtos após se curar de um câncer – se divertindo com amigos antes de ir pra festa de aniversário de tia Lucia, proprietária original do apartamento, uma herança para a protagonista. Mais de trinta anos depois, Clara pode ter envelhecido, mas não deixou de ir para o baile com suas amigas, de beber suas garrafas de vinho, de fumar seus baseados (embora a recreação tenha sido substituída pelo escapismo) ou deixou sua vida sexual morrer.

Aquarius trata a sexualidade das personagens com grande naturalidade e mostra como esse elemento é importante na construção de memórias (existe algo mais essencial para a experiência humana do que o sexo ou a morte?). No aniversário de tia Lúcia, enquanto seus sobrinhos leem um poema, a mesma olha para uma cômoda e lembra de suas transas com o falecido marido. Clara vai para o baile e sai acompanhada e, depois disso, chama um michê por telefone. Ao passo que a sociedade se choca com manifestações do tipo vindas de idosos, o filme lembra que nunca deixamos de ser humanos. Também é interessante observar como um dos primeiros momentos de Braga em cena é chocante: famosa por personagens que esbanjavam sensualidade (vide Gabriela, Saramandaia, Hair, O Beijo da Mulher Aranha, etc.), Clara se despe antes do banho e, ao encarar a câmera, os espectadores percebem que ela perdeu uma mama graças ao câncer. Nada sensual.

O brilhante roteiro recheado de falas ácidas carregadas de verdades fica em boas mãos com Braga e os coadjuvantes (adequados, mas que não passam disso). A Clara das telas é um exemplo de superação e de resistência diante de injustiças que permeiam o cotidiano, o que se reflete nas exibições do filme. São comuns relatos de sessões de Aquarius seguidas por gritos de “Fora Temer” vindos da plateia. Logo antes dos créditos rolarem, Clara alfineta os proprietários da construtora: “Eu prefiro ser um câncer do que ter um câncer”.

          Lançamento: 1º de setembro                                Duração: 2h25

          Gênero: Drama/Suspense      Classificação Indicativa: 16 anos

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Beleza do som instrumental

Reportagem de Luis Ebersol, Matheus Pereira e Yago Moreira –

Estudo de música clássica invade escolas do Estado –

musica

O grupo é composto somente por alunos da E.E.E.M Areal, que também contam com o apoio do professor Jean Gularte (canto direito da imagem). Foto: reprodução diariodamanhapelotas.com

A música clássica é uma das formas mais belas da representação artística. Em tese, esse estilo tem como principal característica a evidência do elemento instrumental frente ao vocal. O gênero clássico teve início na Europa e foi se desenvolvendo ao longo dos séculos. As primeiras partituras foram escritas por volta do ano 1000 e, só a partir de 1350, os compositores passaram a ser reconhecidos como artistas.

Hoje, a música clássica está mais presente do que nunca em nosso cotidiano e se contrasta à música popular. Apesar do vínculo com a tradição de séculos,  os instrumentistas ousam em inovar, reconstituindo um repertório já popularizado, mas embalado ao som dos instrumentos clássicos.

Não foi  à toa que a Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul resolveu, em 2014, durante o mandato de Tarso Genro, investir nos estudos de música clássica nas escolas. Foram distribuídos 51 kits de instrumentos para orquestra a várias escolas do Estado e os professores receberam um curso para se especializar e aprender a utilizar o material. Segundo informações do site do governo estadual, o objetivo desse projeto é qualificar e valorizar a educação pública.

Aqui em Pelotas, a única contemplada foi a Escola Estadual de Ensino Médio Areal, que recebeu um kit com os seguintes instrumentos: piano eletrônico, violões, violinos, viola, violoncelo, contrabaixo elétrico, flautas doce soprano barrocas, flautas doce contralto barrocas, guitarras, amplificador de contrabaixo, amplificador de guitarra, bateria, estantes de partituras, escaletas, pandeiros, triângulos, ganza de platinela, bumbos com talabarte baqueta, taróis, reco-reco, microfone, pandeiros meia-lua e afinadores para instrumentos de cordas.

Após a chegada dos instrumentos, logo iniciou-se o processo para a formação da orquestra estudantil. Mas, de acordo com a professora e coordenadora do grupo, Lys Ferreira, só no final do ano de 2015 foi possível montar a formação atual de alunos e reunir um repertório para apresentações.

A professora ainda destaca como funciona a metodologia de ensino. Os alunos do primeiro ao quinto ano participam das atividades de musicalidade e também tocam flauta doce. A partir do sexto ano já é possível escolher qual instrumento tocar. “O arranjo é feito conforme o desenvolvimento de cada criança, se ela for bem, eu aumento o grau de dificuldade nas músicas e, assim, sucessivamente”, acrescenta Lys.

Alunos e funcionários fazem questão de ressaltar que esse projeto está transformando a rotina da escola e revolucionando os hábitos e costumes. As crianças estão se apropriando de uma atividade e enxergando que, quanto mais empenho houver, mais retorno terão. E isso, segundo a coordenadora do grupo, está aliado a uma vontade dos professores de que o estudo seja valorizado cada vez mais e que a comunidade possa reconhecer o resultado desse empenho.

De acordo com Diulia Moreira, uma das alunas integrantes da orquestra, a vontade de fazer parte surgiu através do convite de amigos, que já participavam do grupo. Após assistir a um ensaio, Diulia revela que se encantou com o som do violino. E, hoje, após um ano de participação, ela colhe os frutos dessa escolha: “Foi a primeira vez que tive contato com a música clássica e achei incrível, a gente viaja para diversos lugares divulgando o nosso trabalho e ver as pessoas aplaudindo com um sorriso no rosto é sempre recompensador.”

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O Lobo Atrás da Porta

Texto de Luis Otávio Languer Schebek –

DVD Crítica

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Com um inicio direto e empolgante, o filme O Lobo Atrás da Porta (2013) parece nos entregar sua história logo em seus primeiros dez minutos, mas quando a história começa a rolar, entendemos que o desaparecimento da filha de Bernardo (Milhem Cortaz) e Sylvia (Fabíula Nascimento) é apenas um plano de fundo para um enredo muito mais envolvente do que aparenta. Ao se iniciarem os depoimentos, somos apresentados a principal suspeita pelo sumiço da criança, a carismática Rosa, vivida por Leandra Leal.

As cenas conjugais entre Bernardo e sua esposa se aproximam muito de um drama comum das histórias de novelas brasileiras as quais já estamos acostumados, entretanto, os momentos entre ele e Rosa nos mostram o quanto a personagem de Leandra Leal foge do estereótipo de uma amante comum. A atriz consegue transitar entre a mulher sensual e a manipuladora de uma forma sutil e muito envolvente, fazendo que o público torça por ela em muitos momentos da história.

As partes do interrogatório, com um delegado desbocado (Juliano Cazarré), entram no território da comédia, mostrando aqui toda a inteligência do diretor Fernando Coimbra em conseguir transitar por tantos estilos diferentes sem estragar o resultado final. Oscilando entre a seriedade e a descontração, o filme avança em seu roteiro de acordo com os depoimentos: à medida que os personagens fornecem suas versões e álibis, flashbacks ilustram cada ponto de vista.

As histórias não se “batem”, o que revela ao espectador diversas mentiras de pessoas com muitos segredos a esconder. E é nesta questão que o filme ganha seu maior ponto. A construção de seus personagens é lenta, todos parecem ser inofensivos, e quanto temos alguma cena violenta ou misteriosa, o espectador sente o impacto que aquele momento queria causar.

O filme não possui um julgamento moral ou uma lição, é apenas o conto de pessoas comuns lidando com seus sentimentos e suas frustrações, sem pensarem nas consequências de seus atos. A brasilidade do filme é outra questão a ser ressaltada. Seus personagens e suas cenas possuem tons comuns do cotidiano de muitas cidades do interior do país. Os momentos em pequenos bares, os copos de cachaça, as cenas em ambientes abertos, como ruas mal asfaltadas ou parquinhos de bairro são coisas tipicamente comuns no cotidiano brasileiro.

Literalmente, não é um filme para “gringo ver”. A produção foi dirigida e escrita por Fernando Coimbra, conhecido dos festivais de curtas-metragens, e conta com nomes de peso como Milhem Cortaz, Leandra Leal, Fabiula Nascimento e Juliano Cazarré em seu elenco.

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Teatro revive história

Reportagem de Douglas Dutra –

Grupo de Artes Encenação realiza city tours temáticos no centro de Piratini –

O grupo reúne voluntários comprometidos com a valorização do passado histórico do município

A cidade de Piratini, com menos de 20 mil habitantes, no interior do Rio Grande do Sul, é um museu a céu aberto. A 350 km da capital, a cidade, que foi testemunha ocular dos acontecimentos da Revolução Farroupilha, abriga um vasto patrimônio arquitetônico e cultural.

Agregando a esse patrimônio, o Grupo de Artes Encenação revitaliza a memória dessa história. É formado por mais de 20 pessoas, em sua maioria amadores, comprometidos com a defesa do legado da primeira capital farroupilha. Realiza representações teatrais em locais históricos da cidade, oferecendo city tours temáticos aos turistas e à comunidade piratiniense.

O grupo foi formado em 2014 e contou desde o início com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura e da Associação de Turismo Jovem Tur.

Para Francieli Domingues, uma das fundadoras do grupo, o Encenação é uma oportunidade de formar um elo com o passado e dar vida às figuras históricas da epopeia farroupilha. Para ela, o Encenação também é a chance de “apresentar ao turista um produto único, visto que o grande impulsionador do turismo é o diferencial”. “Estávamos fabricando uma experiência emocionante, queríamos que a nossa cidade ganhasse nova forma e redescobrisse o século XIX para receber o turista,” relata.

O roteiro das apresentações é feito em maior parte por Silvia Garcia, diretora do grupo, em parceria com todos os outros membros. Ela destaca que, assim que o roteiro é feito, são consultadas as condutoras de turismo, para que se siga a Linha Farroupilha, uma rota que demarca os principais pontos do centro histórico da cidade.

“Nós temos a ajuda dos professores da UFPel, mas de forma coletiva criamos roteiros e dirigimos, tenho muita felicidade em dizer que ajudo na criação de textos”, diz Francieli.

Os atores são decididos conforme sua semelhança e afinidade com as personagens. Silvia, no entanto, diz que nenhum ator possui papel fixo, o que permite que se remaneje os atores caso alguém fique indisponível.

O membro do grupo Eduardo Lessa lembra que todos são bem-vindos e bem recebidos no Encenação. “É um trabalho sério e com muitos compromissos, mas, ao mesmo tempo, é divertido, tanto atuando como nas reuniões”.

Apesar de ter o apoio institucional de órgãos municipais, o grupo enfrenta algumas dificuldades. Para Silvia, o maior desafio é “a busca por atores realmente comprometidos com a arte, especialmente homens. Outra dificuldade é o reconhecimento do nosso trabalho pela comunidade”.

Entre os planos para o futuro do grupo, Silvia destaca o interesse de “atuar junto às escolas públicas municipais e estaduais levando a disciplina de artes cênicas, motivando as crianças a estudarem a história de uma maneira mais divertida”. Ela também destaca que a atuação ajuda na desenvoltura física e social dos pequenos.

A meta para 2017 é criar subgrupos do Encenação, realizando atividades artísticas em diversas escolas.

Enquanto isso, Francieli sonha mais alto: “Nosso grupo pretende, acima de tudo, bem representar nossa cidade, cruzar fronteiras em nome da arte, temos já novos roteiros para começarmos a trabalhar, deverá surgir algo que envolva demais artes e culturas, de repente algum musical”.

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Os interessados em agendar um city tour com o Encenação podem entrar em contato com a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo pelo telefone (53) 3257-3278.

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