Coletivo MeiaOito: uma companhia teatral independente de Pelotas

Por Ana Beatriz Assunção Garrafiel        

Diretor e ator do grupo relata o funcionamento, a produção e as dificuldades no seu dia a dia

É impossível falar da história do mundo e não citar o teatro. Ele acompanha a civilização desde muito antes do que podemos imaginar, e sempre serviu como uma forma de expressar sentimentos, crenças e pensamentos. Pelotas, cidade conhecida por muitos como um polo cultural, abriga diversas companhias de teatro independente e cede espaço a peças e encenações que encantam e enriquecem ainda mais a história da cidade e de seus habitantes.

Porém, nem tudo é glamour. Apesar de ser uma arte muito reconhecida e estimada, o teatro, principalmente a modalidade independente, encontra diversas dificuldades para sobreviver em meio a uma desvalorização e não apreciação dos artistas. Para dar maior apoio aos atores e propagar a beleza da quinta arte, é preciso conhecer um pouco mais sobre as companhias e quem faz parte dela.

O ator e diretor Lucas Ribeiro Galho, da companhia Coletivo MeiaOito, diz ‘’que o público, principalmente o pelotense, é essencial para o desenvolvimento de grupos independentes na cidade’’. Nascido em 2017, o coletivo atualmente conta com quatro integrantes e possui dois espetáculos em produção. ‘’Sempre qualquer pessoa do grupo pode chegar e propor uma encenação. Aí ela é votada pelos integrantes [do grupo] e é aceita ou recusada’’, explica.

Os participantes do grupo fazem toda a produção das peças e propõem ideias para as montagens, além, claro, da sua própria atuação. Mas também podem chamar pessoas de fora do grupo para participarem e ajudarem na parte de figurino e dramaturgia, além da parte mais técnica, como iluminação. Lucas também explica que os temas das encenações do grupo são geralmente focados na dramaturgia mais recente: ‘’Geralmente as ideias que abordamos em nossos espetáculos vêm da realidade contemporânea, de como os jovens adultos percebem as relações e como percebemos a política, coisas que nos afetam diretamente, mas não de uma forma panfletária’’.

O grupo prefere abordar esses temas de forma humorística, mas sempre com um tom realístico: ‘’Trabalhamos muito com o humor enquanto forma de demonstrar e escancarar algumas coisas que, muitas vezes, não percebemos, ou que percebemos, mas não refletimos sobre’’, explica.

A produção das peças e a proposição de ideias para as montagens é feita de forma coletiva                 Fotos: Divulgação

 

Apesar de trazerem temas reais e necessários em forma de arte, a companhia enfrenta diversas dificuldades por conta da falta de espaço e incentivo. Galho ainda completa: ‘’Muitas vezes, os artistas dos grupos têm que desenvolver outros tipos de trabalho para conseguir realizar a prática artística, justamente por não ter um espaço formal de trabalho, sem remuneração mensal. Isso é uma grande dificuldade que temos’’. O Coletivo MeiaOito, assim como muitos outros coletivos independentes, produz espetáculos com seus próprios meios, sem apoio público ou privado: ‘’Às vezes conseguimos recurso privado, porém tudo pontual, nada contínuo’’.

Lucas ainda aponta outro fator que vem observando há algum tempo por parte do público e dificulta a sobrevivência das companhias: ‘’Existe uma certa resistência do público pelotense a pagar por espetáculos locais. Geralmente, espetáculos de fora têm maior público pagante’’, completa. Para ele, o apoio dos espectadores é essencial, pois ‘’se não há quem veja as peças, as companhias perdem a sua finalidade, que é o encontro com o público’’, comenta o ator.

O grupo, em 2018, na apresentação de sua primeira peça produzida: ‘’Cartão Postal’’

Não se precisa ir muito longe para descobrir diversos talentos prontos para serem explorados, mas que, por falta de incentivo, não possuem oportunidade de crescer e expandir ainda mais. Apoiar artistas locais é essencial para o desenvolvimento não somente destes, mas também do enriquecimento cultural de uma região. ‘’Acreditamos que a arte é uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de uma identidade cultural, pessoal e coletiva de uma região. A arte é fundamental para uma cidade se desenvolver de uma forma mais democrática’’, finaliza Lucas.

Acompanhe o Coletivo MeiaOito pelo Instagram, no Facebook ou pelo Youtube: 

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Música e danças brasileiras ganham espaço em Portugal

Por Vitória de Góes (Correspondente do site Arte no Sul em terras portuguesas)    

Sonoridades brasileiras fazem parte do cotidiano do país europeu

17 músicas brasileiras estão entre as 50 mais ouvidas em Portugal

Recentemente repercutiu nas redes sociais um artigo publicado em um jornal português que comentava sobre a influência de youtubers brasileiros na linguagem das crianças portuguesas. Aos poucos, elas incluem palavras da língua brasileira em seu vocabulário. Mas não é apenas nisso que o Brasil tem influenciado os portugueses. A cultura, principalmente a música brasileira, é amplamente ouvida e apreciada em Portugal, de modo que em festas, bares, restaurantes e demais espaços públicos, é possível ouvir músicas de artistas brasileiros e perceber que fazem sucesso no país europeu.

Alguns artistas como Anitta, que há poucos dias conquistou o primeiro lugar global entre as músicas mais escutadas no streaming Spotify, Pedro Sampaio, Luan Santana e Gusttavo Lima, são citados pelos portugueses quando perguntados sobre cantores mais populares.

A estudante portuguesa Carolina Mendonça, 21 anos, é natural da região da Madeira, e conta que, principalmente, após o início da pandemia de Covid-19, passou a ouvir mais músicas brasileiras a partir da indicação de amigos. Ela acredita que o Brasil esteja mais evoluído no setor artístico quando comparado ao seu país, além da língua semelhante contribuir para a identificação com as letras. As músicas também influenciam na forma como os portugueses enxergam o povo brasileiro. Como conta Carolina, a arte produzida no Brasil costuma transmitir mais emoções.

“Vocês não têm medo de expor os sentimentos, nós somos mais resguardados e isso se reflete nas músicas que vocês cantam”, diz. “Nós acabamos vendo os brasileiros como pessoas mais alegres, mas claro que não necessariamente vamos ligar as letras de músicas, como o funk, ao povo”, completa.

As músicas não conquistam apenas os jovens, mas gêneros como MPB e sertanejo são bastante populares entre os mais velhos. Carolina dá o exemplo da sua mãe que aprecia artistas como Seu Jorge e Marília Mendonça.

Matuê, Luan Santana e Anitta são brasileiros mais ouvidos

A internet pode ser uma explicação para o aumento da popularidade da cultura brasileira. Através de aplicativos como o TikTok, que teve grande ascensão nos últimos três anos. Produtores de conteúdo e artistas viralizam produções latinas. Outro motivo também pode ser a crescente imigração. Em 2021, o número de brasileiros morando em Portugal legalmente atingiu o recorde de 209.072. Com isso, a comunidade brasileira é a maior dentre os imigrantes no território português. Os dados são do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).

O Funk Brasileiro em escolas de dança tradicionais

Junto com a música, a dança tem ganhado mais espaço nos últimos anos. Assim, o país do samba aos poucos vai se tornando conhecido por outros ritmos como o sertanejo e principalmente o funk. Em cidades como Lisboa e Porto, algumas escolas de dança possuem turmas voltadas para o ensino desses, como é o caso das aulas de “funk brasileiro”, que estão sempre cheias de alunos.

Bruna Carvalho, 38 anos, é bailarina, professora de dança e coreógrafa brasileira, e mora em Portugal há 18 anos. Ela mudou-se para o país já para trabalhar na área e, ao longo do tempo, viu a arte brasileira ganhando espaço e se tornando respeitada. Há seis anos ela percebeu o crescimento do funk e resolveu criar um método de ensino da dança para uma escola localizada na cidade do Porto.

Bruna Carvalho, professora de dança, bailarina e coreógrafa

“As pessoas associam o funk com mexer a bunda, que não deixa de ser um movimento característico, mas resolvi juntar tudo que eu sabia dos outros ritmos e unir ao funk. Foram necessários apenas três meses para começar a fazer sucesso e, desde então, todas as aulas que eu dou nas diversas escolas estão sempre lotadas”, relata.

Bruna ainda conta que a maioria dos seus alunos são portugueses. “O que a nossa música representa hoje em dia é alegria. Há alguns anos era malvisto, hoje em dia eles [portugueses] já olham para a gente com admiração, querem aprender a dançar como nós”.

A dançarina reforça que a cultura brasileira fez com que o povo passasse a ser mais bem recebido e até respeitado em Portugal e em outros países europeus. “Nós somos um povo alegre e aos poucos as pessoas estão aceitando que viemos para cá para somar e trazer mais alegria”, completa.

 

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Projeto apoia trabalho de artistas rio-grandinos

Por Joanna Manhago Andrade   

O Teatro Municipal Agora aconteceu de janeiro a dezembro de 2021 e contou com mais de 45 apresentações artísticas

Durante a pandemia da Covid-19, um dos principais setores afetados foi o cultural. Cantores, dançarinos, pintores e artistas em geral tiveram poucas oportunidades de expressar o seu trabalho em um período em que todos os centros artísticos estavam fechados. Em Rio Grande, o Teatro Municipal desenvolveu um projeto para que esse grupo pudesse se apresentar e conseguir um retorno financeiro a partir disso. Entre os participantes estiveram artistas como Taís Carolina e Isaque Costa.

A apresentação da Escola de Belas Artes teve mais de de 500 telespectadores               Fotos: Divulgação

O Teatro Municipal Agora – nome dado ao projeto – foi um meio em que a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer da cidade encontrou de garantir que essas pessoas pudessem realizar shows e performances de forma totalmente gratuita. A primeira apresentação aconteceu no dia 21 de janeiro de 2021, quando estavam fechados casas noturnas, bares e ambientes onde os artistas tinham costume de trabalhar.

As apresentações aconteciam de forma online, em que a comunidade podia adquirir ingressos através de um site, e acompanhavam os shows pela plataforma Zoom. Todo o valor dos ingressos era revertido para o artista, que, além de tudo, não tinha nenhum custo para realizar a sua apresentação.

Eventos tiveram adesão plena dos artistas e do público

A diretora do Teatro Municipal, Alzira Paiva, diz que foi uma iniciativa voltada não só para os artistas, mas também para toda a comunidade: “Na época, nós pedíamos tanto para que as pessoas ficassem em casa, pois era extremamente necessário, nós precisávamos oferecer uma forma de lazer segura e tranquila para que aquilo fosse cumprido”.

Ao longo das apresentações, nomes como Luciana Lima, William Tavares, Bruno Acosta e a Cia Teatral Sobrinhos de Shakespeare participaram. O projeto teve a sua última edição em dezembro de 2021, quando aconteceu a 48ª apresentação. Ao todo, cerca de 200 artistas participaram, já que além das apresentações solo, tiveram também em dupla e grupos.

Os shows aconteciam às quintas-feiras, e, durante os 11 meses de atividades, houve a participação plena dos artistas e público. Alzira relaciona isso à adesão da sociedade e a oportunidade que foi dada: “A gente sabe que a arte é naturalmente marginalizada e tem poucas chances de trabalhar. Nós, como órgão público, temos a obrigação de dar essa oportunidade. Felizmente a cidade abraçou essa causa e conforme cada artista ia mostrando o seu resultado, outros iam nos procurando e movimentando o nosso teatro”.

Tais Carolina

Participação no projeto aumentou a visibilidade do trabalho da cantora

A cantora Tais Carolina foi uma das participantes do projeto, quando realizou a apresentação “Vozes do Amor” no dia 1º de julho de 2021. Ela cantou gravações de MPB, samba e músicas que marcaram gerações.

Ela diz que ter tido a oportunidade de ter cantado em meio à pandemia “foi extremamente importante”. Frisa que não tinha tido nenhuma outra chance de cantar, já que estavam fechados todos os ambientes nos quais ela costumava se apresentar. No entanto, o teatro abriu as portas para a arte dela.

Tais também comentou que o retorno financeiro foi outro ponto relevante: “eu não precisei investir em nada para participar. A comunidade me ajudou, o figurino foi emprestado, a maquiagem e cabelo foi feita através de uma parceria, e, além disso, recebi o valor dos ingressos vendidos, algo que não acontecia desde o início da pandemia.

De acordo com a cantora, essa foi a única chance que ela teve de se apresentar diante de um cenário pandêmico. “Eu sou muito grata ao projeto porque, a partir dele, com a reabertura de bares e casas noturnas, alguns estabelecimentos me procuraram alegando que tinham visto minha apresentação e que gostariam que eu cantasse em seus restaurantes”, finalizou.

Isaque Costa

Músico fez apresentação solo e com a Escola de Belas Artes

Outro artista, foi o cantor Isaque Acosta, que realizou a apresentação “Liberdade” no dia 14 de outubro. Ele também participou do show da Escola de Belas Artes de Rio Grande no dia 8 de abril de 2021. Entretanto, na primeira citada, toda ação era voltada para o seu trabalho.

Assim como Tais, Acosta explica que não teve nenhuma outra chance de se apresentar. Ele relata que era, e ainda é, aluno da Escola de Belas Artes mas, ainda assim, não tinha onde realizar as manifestações artísticas.

“A própria escola estava passando por dificuldades, mas o Teatro deu essa chance e conseguimos dar o primeiro passo para sair daquela crise”, contou. A apresentação da escola quebrou o recorde de visualizações do projeto com mais de 500 telespectadores simultâneos. Ao menos 600 ingressos foram vendidos naquela noite e revertidos para a instituição.

Já sobre a apresentação de Isaque, ele comenta que foi a noite em que “ele conseguiu apresentar as suas composições pela primeira vez em um palco”. O cantor escreveu cerca de cinco músicas durante a pandemia, mas ainda não tinha realizado nenhuma performance dos projetos, fato que aconteceu no Teatro Municipal Agora.

As composições eram: “Sem Medo”, “Aproveitar”, “Ponto Cego”, “Estilo de Marca” e “Sonhos”. A composição “Aproveitar”, que conta inclusive com um clipe, foi recorde de visualizações no YouTube após a apresentação de Isaque, atualmente com cerca de 2,5 mil interações.

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A joia da Bibliotheca Pública Pelotense

Por Ronaldo Luis   

Álbum “Brazil Pittoresco” requer cuidados e foi alvo de roubo em 1944

A Bibliotheca Pública Pelotense (BPP), situada no Centro Histórico da cidade, conta com uma joia da literatura brasileira em seu acervo, o álbum “Brazil Pittoresco”, de 1861. Trata-se de peça rara, ainda sem nenhuma outra edição encontrada no território nacional. Este item de acervo não está disponível ao público devido à sua fragilidade e à grande possibilidade de furto, fato que ocorreu no ano de 1944.

A BPP, fundada oficialmente em 14 de novembro de 1875, está localizada na Praça Coronel Pedro Osório, ao lado do prédio sede da Prefeitura Municipal. Possui em seu acervo mais de 235 mil obras catalogadas, conforme relato do secretário Eder Oliveira. Conta também com um Museu Histórico. Este acervo é administrado e conservado pelo assessor e historiador Ueslei da Cruz Goulart, que, junto à bibliotecária Anelise Silva Rosa e a pedagoga Camila Correa Pierzckalski, controlam esse imenso acervo público.

Bibliotheca Pública Pelotense é mantida pela comunidade desde 1875

O álbum “Brazil Pittoresco” de 1861, a “Joia da Bibliotheca” é uma autêntica preciosidade bibliográfica de caráter raro. Trata-se de um álbum histórico produzido na França, encomendado pelo Imperador Dom Pedro II. Este item habitualmente só pode ser manuseado por funcionários da Bibliotheca providos de luvas e máscaras para evitar sua deterioração.

O historiador Ueslei da Cruz Goulart, responsável pela manutenção e restauro do acervo da Instituição, confirma que é uma das obras mais raras da Bibliotheca.  Diz que a peça é tratada com muito carinho. Seu manuseio é feito somente com luvas especiais e em dias secos. Sua leitura não é permitida aos usuários, conservando assim sua integridade física.

Obra é álbum histórico produzido na França, encomendado pelo Imperador Dom Pedro II

Roubo ocorre em 1944

A bibliotecária Anelise Silva Rosa, responsável pelo acervo, destaca que há muitas outras joias na instituição. “São milhares que possuímos, das mais diversas origens. Livros em latim, espanhol, inglês, árabe, alemão e inclusive em português, [risos].” Ela enfatiza que é difícil escolher uma única joia da casa. Mas observa que o “Brazil Pittoresco” está guardado a sete chaves e não é disponibilizado ao público. “Teve uma parte furtada em 1944, por uma pessoa que vivia na cidade de São Paulo, e que veio aqui para conhecê-la. Conseguiu burlar nossa segurança e levou o álbum, tendo inclusive o desmembrado totalmente da capa e separado suas páginas para melhor transportá-lo, devido ao peso, algo em torno de vinte quilos”.

Hoje em dia, a BPP, destina uma boa parte de seu orçamento em segurança voltada para a preservação do acervo público. O autor do furto, em 1944, foi Manoel Vilanova Santos. As autoridades informaram que Santos havia sido localizado a bordo de uma aeronave que seguia para a cidade de Jaguarão onde foi detido. Alegou estar rumando para a Argentina onde tinha negócios a tratar.  Todas as 63 lâminas furtadas medindo 50 centímetros de largura por 64 de comprimento foram recuperadas na cidade de Porto Alegre e devolvidas pela polícia local. A BBP passou a exigir profundas restrições para seu manuseio, sendo que a obra não está disponível aos usuários como qualquer outro item do acervo.

A pedagoga Camila Correa Pierzckalski descreve detalhes do álbum cuidadosamente conservado em ambiente e sala especial. “É composto com três volumes litografados na França. Foi encomendada pelo Imperador Dom Pedro II em 1859”. Camila expressa sua admiração pela peça: “Seu conteúdo, apropriado à época do Império e à tecnologia então disponível para sua diagramação, nos remonta ao período cultural em que a língua portuguesa se fundia com o caboclo brasileiro”. Sabe-se pouco sobre sua origem, apenas que chegou a BPP por doação.

Bibliotheca disponibiliza acervo e realiza eventos frequentes

A Instituição teve sua instalação física em março de 1876, no térreo do prédio cedido pelo então Visconde da Graça, e localizado na esquina das ruas General Neto com Padre Anchieta. Contava então com acervo inicial de 960 volumes. Esses volumes ainda fazem parte do acervo e alguns são mantidos sobre condições especiais.

Na história da BPP, consta que seu nascimento aconteceu, de acordo com a ata da sua primeira reunião, em um prédio cedido por João Simões Lopes, o Visconde da Graça – avô do escritor João Simões Lopes Neto.  Idealizada por Fernando Luís Osorio, filho do General Osório, a Bibliotheca Pública Pelotense, surgiu a partir de uma assembleia que reuniu 45 ilustres colaboradores, lançando as bases da sociedade civil sem fins lucrativos, cujo padrão nome e estilo são conservados até os dias de hoje. Antônio Joaquim Dias, diretor do Correio Mercantil, em jornal datado de 12 de novembro de 1875, publicou um convite geral à sociedade pelotense para a “Fundação da nova instituição cultural”.

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Ótima matéria!

Graça

Encontro de nove personalidades no streaming

Por Matheus Müller   

Baseada no livro de Liane Moriarty, série “Nove Desconhecidos” aprofunda questões subjetivas

A série de TV norte-americana “Nove Desconhecidos” conta a história de nove figuras problemáticas que se hospedam em uma espécie de retiro espiritual. Há a promessa para a cura dos seus problemas durante a estadia por lá.  A série tem como base o livro de Liane Moriarty, “Nine Perfect Strangers”, o mesmo título em inglês da produção. Além de abordar vários assuntos referentes à sociedade de maneira geral, também foca nos problemas pessoais de cada personagem.

O desenvolvimento da história é traçado de maneira uniforme durante toda a narrativa.  Este é um ponto que vale muito a pena ressaltar, o cuidado com que a direção de Jonathan Levine teve ao abordar o problema de cada personagem e como estes, por estarem na situação em que estão, agem da forma que podem e que acham perante tal problema.

A personagem Masha, interpretada por Nicole Kidman, está ao centro das revelações e relacionamentos das personagens

No seriado, temos a personagem Masha (Nicole Kidman), que é a proprietária do local, onde os outros personagens principais se hospedam. Detém todo o controle do que é oferecido e como os participantes devem agir em circunstâncias não tão comuns em seu cotidiano.

A série tem diversas reviravoltas e desdobramentos um tanto quanto improváveis. A narrativa leva o espectador até certo ponto e lhe dá o poder de decidir sobre o que ocorreu ou o que ocorrerá em seguida. Com isso, ficamos mais apegados aos personagens que nos são apresentados e nos familiarizamos com seus traumas e perdas. Este é um outro ponto em que a direção teve a sensibilidade e cautela na hora de produzir os diálogos e as cenas do show.

Majoritariamente, o elenco é composto por mulheres, sendo sete ao total. Há cinco personagens homens. Este número é relativamente igualitário, já que são nove os participantes do evento, cinco mulheres e quatro homens. Cada um tem seu tempo de desenvolvimento ideal e com as melhores conclusões possíveis para os seus problemas.

“Nove Desconhecidos” é uma série que consegue juntar os mais diversos tipos de emoções, sejam estas de alegria, suspense, pânico, nojo, aflição ou pena, entre diversas outras. Realmente este é um trabalho digno de se assistir, contando com apenas oito episódios, com uma duração de 40 minutos cada.

Enfim, esta é uma obra para a qual realmente vale a pena passar tempo assistindo e se impressionar com o desenvolver da trama principal. No começo, a história parece ser confusa e bagunçada, porém, conforme os episódios transcorrem, tudo vai se encaixando e fazendo mais sentido ao longo da narrativa. A série está disponível no serviço de streaming Prime Video.

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Filme rio-grandino compete no festival Visions du Réel  

Por Thiago Lehn e Vitor Valente    

O evento internacional ocorre na Suíça entre os dias 7 e 17 de abril

O filme “Madrugada”, com participação do cineasta rio-grandino Gianluca Cozza, terá exibição no festival Visions du Réel, entre os dias 7 e 17 de abril na cidade de Nyon, na Suíça. A Saturno é uma produtora criada por alunos de cinema da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) com intuito de produzir filmes ao longo do curso, mas que com o passar do tempo tornou-se profissional. O curta-metragem “Madrugada” é o seu trabalho mais reconhecido até o momento, que recebeu o título em inglês “Nightwalker” na programação do festival.

O curta será exibido no 53° Visions du Réel, dentro da mostra competitiva Opening Scenes. A história apresenta situações reais, tendo como plano de fundo a zona portuária da cidade de Rio Grande, mas dentro de um roteiro de ficção. Conta a história de trabalhadores informais do Porto de Rio Grande.  Com direção de Leonardo da Rosa e Gianluca Cozza, o filme teve sua estreia nacional em janeiro de 2022, na Mostra de Cinema de Tiradentes, na Mostra Foco, principal seleção competitiva de curtas do festival.

O filme curta-metragem tem direção de Leonardo da Rosa e Gianluca Cozza

E para conhecer mais do filme “Madrugada” e da produtora Saturno, o site Arte no Sul conversou com o diretor e idealizador, Gianluca Cozza.

Arte no Sul:  Por onde o filme já passou e como foi recepcionado?

Cozza: Discutimos bastante onde o filme deveria se apresentado primeiro, a decisão de apresentar na Mostra de Cinema de Tiradentes [,em Minas Gerais,] foi unânime porque é um festival muito importante para nós. As discussões que a programação do evento traz se ligam de certa forma com a nossa trajetória. O filme estreou na Mostra Foco (mostra competitiva de curta-metragem) e depois fomos selecionados para mais dois eventos internacionais, que recusamos em detrimento da seleção do Visions du Réel. O filme nasceu bem, a gente tem escutado coisas boas sobre o filme e espera passar no restante do circuito [de festivais] ainda esse ano.

Arte no Sul: Qual foi a tua reação ao receber a notícia de que “Madrugada” será exibido no Visions du Réel?  E qual a expectativa agora que a exibição e viagem estão próximas?

Cozza: Soubemos aos poucos da seleção. Fomos trocando informações com os curadores desde o final do ano passado, e recebemos a decisão final em janeiro deste ano. Ficamos muito felizes com o interesse do festival, era um desejo antigo passar o filme lá.

História ficcional lida com as diferenças entre a vida real e a narrativa de cinema 

 

Arte no Sul: O filme pode ser considerado híbrido, pois trabalha o ficcional com a linguagem de documentário. Quais foram as motivações e inspirações ao fazer essa escolha?

Cozza: Acredito que o filme seja ficcional, porém é natural que surjam essas questões, já que ele parte desse tensionamento entre a vida e o cinema. Tem algumas coisas que causam, a meu ver, essa sensação de que aquele universo vive sem a presença da câmera, afinal não é um estúdio. Essa realidade empírica é presente no filme através das paisagens naturais do Porto de Rio Grande, suas estruturas de ferro, os navios e os atores que exercem a mesma atividade que os seus personagens. [A realidade é] notada sem que seja dado qualquer aviso prévio [ao espectador], mas validada pelas características que esses corpos carregam. É uma sensação de que pouco se acrescenta quando se liga a câmera, uma estratégia de documentário que fazia sentido para o filme. [O intuito era que] essa forma concreta das coisas permanecesse.

Porém todo o processo parte de um gesto ficcional, que [se quis deixar] transparente no filme, pois foi construído junto com [os personagens, sujeitos reais deste espaço,] Daniel, Ludo, Anderson e companhia, durante dois anos. O roteiro, decupagem e documentos, que auxiliam nesse tratamento criativo da realidade, foram realizados em conjunto, observando as ações que os mesmos realizavam em seu cotidiano, fazendo recortes dessas situações para dar síntese, como se fosse uma crônica em formato de curta-metragem.

Arte no Sul: Quais foram os maiores desafios do processo?

Cozza: A preocupação maior era como propor um jogo de cena para essas pessoas que nunca participaram de um filme, sobretudo pessoas que não estavam familiarizadas com técnicas de atuação, atores não-profissionais. O primeiro passo foi deixar entendido que aquilo era um filme e não um registro da vida delas, elas não só teriam que reencenar suas ações, mas reinventar algumas características a partir da atuação.

Arte no Sul: E quais serão os próximos passos para a Saturno? O que pensam em fazer no futuro?

Cozza: Estamos desenvolvendo projetos que estão em fase de financiamento. Temos um roteiro de longa-metragem chamado “Grave” e outros projetos de curta-metragem que deverão ser rodados em breve.

Veja o trailer de “Madrugada”:

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House of Gucci: Exagero e tragédia por trás de um império da moda

Por Helena Isquierdo Rocha   

A história de um crime real que arrecadou bilheteria de US $151 milhões

Glamour, riqueza, traições, intrigas, ameaças e reviravoltas. Assim é possível definir a história contada por “House of Gucci”. No filme, conhecemos a narrativa do difícil relacionamento entre Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e Maurizio Gucci (Adam Driver). São quase 30 anos de história que nos levam ao assassinato de Maurizio, herdeiro da família italiana. Assim, podemos (tentar) entender os motivos que levaram Patrizia a encomendar a morte do ex-marido.

As intrigas por trás da família Gucci são bem desenvolvidas pelas atuações impecáveis do renomado elenco, que recebeu total liberdade para dar vida aos personagens reais dessa história.

Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani | Lady Gaga e Adam Driver (Foto: Divulgação/ Universal Pictures)

Antes mesmo de ser lançado, “House of Gucci” já dava o que falar. Foi um dos filmes mais esperados de 2021. Os críticos e o público tiveram muito o que comentar desde sua estreia, em novembro do ano passado. A obra é uma adaptação do livro “House Of Gucci: A sensational Story of Murder, Madness, Glamour, and Greeed”, escrito por Sara Gay Forden.

Dirigido por Ridley Scoot, o longa conta com a presença de Lady Gaga, Adam Driver, Al Pacino, Jared Leto, e Salma Hayek no elenco. E, sem dúvida, além de se tratar de história trágica e curiosa, a escolha dos atores que deram vida a personagens da vida real ajudou o filme a ser um dos mais comentados dos últimos meses. Desde o figurino, até a caracterização e a atuação, nada passou despercebido por quem assistiu “House of Gucci”.

A produção desagradou a família Gucci

A história sombria por trás da família dona de um dos maiores impérios da moda voltou a ser assunto após mais de 25 anos, o que desagradou os herdeiros.

“A família Gucci reserva-se ao direito de tomar qualquer iniciativa para proteger seu nome e imagem, assim como os de seus familiares”, diz a carta publicada pela agência de notícias italiana Ansa.

A carta também apresentou a posição da família em relação à forma como a história de Patrizia Reggiani foi contada, “uma mulher condenada por ordenar o assassinato de Maurizio Gucci, [apresentada] como vítima”.

Existem divergências de opiniões sobre o roteiro do filme, mas sobre a atuação de Gaga há quase uma unanimidade. Patrizia foi interpretada de corpo e alma pela atriz, que passou por uma longa e difícil preparação para viver a personagem.

Lady Gaga como Patrizia Reggiani. (Foto: Reprodução/Universal Pictures)

Gaga disse que pesquisou sobre a personagem durante seis meses, antes das filmagens, que duraram três meses e meio. “E eu acho que a primeira coisa que me vem à cabeça quando falamos dela é que eu acho que ela estava em modo de sobrevivência, durante toda sua vida. Ela sempre tentou sobreviver. E, eu acho que até mesmo Gucci, como império, foi uma forma de sobrevivência para ela, e uma oportunidade de ser importante”, disse a atriz ao portal Hugo Gloss.

A atriz também contou sobre a sua escolha de não conhecer Patrizia pessoalmente. “Ela está tentando gerar um legado para si mesma, de forma que ela seja lembrada de uma maneira específica. E eu sabia que isso não me ajudaria a construir a juventude dela ou qualquer outra coisa antes de 1995, porque ela iria querer que eu a interpretasse do modo que ela gostaria de ser interpretada, não para contar a verdade, mas sim para pintá-la bem, sabe?”

A atriz também não quis ler o livro que baseou a obra cinematográfica. “Eu vi e assisti tudo, além do livro, eu não li o livro. Eu senti que o livro ia colorir os meus pensamentos, me dar muitas opiniões sobre ela”, explicou.

Lady Gaga não entrou na disputa pelo Oscar de Melhor Atriz

Todas as apostas indicavam que “House of Gucci” estaria presente na edição do Oscar deste ano, mas todos foram surpreendidos negativamente. A academia deixou a obra de fora da categoria de Melhor Filme, assim como Lady Gaga também não disputou a estatueta de Melhor Atriz. O longa recebeu apenas uma indicação, na categoria de Melhor Maquiagem e Produção de Beleza. De qualquer forma, a escolha de Lady Gaga para anunciar o prêmio de Melhor filme do Ano, ao lado da consagrada atriz Liza Minnelli, marcou o final da cerimônia de 2022.

Após o sucesso, House of Gucci ganhará série de TV

Segundo a revista estadunidense Variety, a história da família Gucci ganhará uma série e um documentário. Ambos estão em fase de desenvolvimento, e possuem previsão de lançamento para 2023. Os dois projetos foram aprovados pelos herdeiros da grife, que desejam contar a história de como o império foi construído, além de mostrar outra versão do assassinato de Maurizio.

Veja o trailer:

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Hábitos de consumo literário mudam durante pandemia

 

Por Andrea Cardoso da Silva    

Faturamento das editoras brasileiras com conteúdo digital cresceu 36% em 2020  e jovens apreciam praticidade dos e-books

Segundo a Pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro, houve um aumento de 36% no faturamento das editoras brasileiras com conteúdos digitais em 2020. As vendas de e-books, audiolivros e demais plataformas de distribuição contabilizaram R$ 147 milhões no primeiro ano da pandemia. A pesquisa foi realizada pela Nielsen Book e coordenada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).

Em 2019, o conteúdo digital representava 4% do mercado editorial brasileiro, e em 2020 passou a representar 6%. O preço médio de e-books teve queda de 25%, reflexo de ações promocionais, campanhas e demais estratégias comerciais em meio à crise econômica em decorrência da pandemia do coronavírus.

Além dos valores mais acessíveis, os livros digitais podem ser consumidos em diversas plataformas, como leitores digitais, celulares, tablets e computadores, o que facilita a vida dos leitores, que podem carregar centenas de livros em pequenos dispositivos. O estudante Patrick Varela, 27 anos, afirma que só começou a se interessar por literatura depois que adquiriu seu leitor digital, logo no início da pandemia.

O jovem pensava que não seria o tipo de pessoa que se interessa por livros, mas seu hábito de leitura aumentou depois de adquirir um Kindle, um dos leitores digitais mais famosos do mercado, produzido pela Amazon. “Foi uma experiência que eu não estava esperando que iria passar. Mas acho que com a pandemia tudo ficou diferente. A gente adquiriu hobbies que não tinha e fez coisas que a gente não fazia”, comenta Patrick.

Através dos livros digitais, Patrick se aventurou até em gêneros que achava que não iria gostar. O estudante conta que sempre apreciou a ficção científica, mas durante a pandemia resolveu dar uma chance ao livro “Pachinko”, da escritora Min Jin Lee, que narra a saga de três gerações de imigrantes coreanos no Japão do século XX. E acabou gostando da experiência.

O livro “Pachinko”, da escritora Min Jin Lee, na sua versão física e digital

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Diferente de Patrick, a estudante Mariana Amaral, 23 anos, já possuía o hábito de leitura antes de adquirir um leitor digital, mas passou a consumir muito mais livros devido à praticidade do dispositivo. Ela conta que lia em média de quatro a cinco livros físicos por mês, mas com o leitor digital passou a ler de cinco a seis livros por semana. “A pandemia me influenciou a ler, porque eu tinha mais tempo para ficar em casa. Eu estudava o dia inteiro e aí nas pausas eu lia um capítulo, lia dois, e todo o meu tempo livre era para a leitura.” Em 2021, a jovem conta que leu cerca de 130 livros durante o ano.

Depois da aquisição do seu leitor digital, Mariana não leu mais livros físicos, e destaca o conforto de ler e-books como os principais pontos positivos dessa experiência. Esses aparelhos possibilitam ajustes no tamanho das fontes e na iluminação, além de permitirem marcações em frases que o leitor considera importante, entre outras configurações. Tudo isso sem a necessidade de carregar o peso dos livros físicos.

Comparação entre o tamanho da versão física do livro e sua versão digital em um leitor digital

Assim como Mariana, Milene Louzada, 22 anos, também aumentou o consumo de livros lidos após a aquisição de um leitor digital, mas mesmo preferindo os e-books, ainda mantém o hábito de comprar livros físicos. Além de leitora, Milene também cria conteúdo sobre literatura para o Instagram, no perfil @mileituras, em que compartilha suas experiências sobre suas leituras, como resenhas e dicas de livros.

Ela reflete sobre como seus seguidores ainda preferem os livros físicos, por terem um apego emocional, mas também percebe um avanço dos livros digitais. “Várias amigas minhas, que são minhas seguidoras, começaram a adquirir e gostaram muito da experiência e hoje elas me culpam por terem perdido tanto o hábito de comprar livros físicos”, comenta a criadora de conteúdo.

Livros nacionais

Uma das maiores praticidades dos livros digitais é que eles podem ser comprados com apenas um clique, sem a necessidade de sair de casa. Assim, os leitores não dependem mais dos estoques das livrarias e conseguem encontrar títulos com maior facilidade.

Dos cerca de 130 livros lidos por Mariana em 2021, muitos dos títulos eram nacionais e ela relata que é mais fácil encontrar esses livros no formato digital do que físico. “Dependendo, os livros físicos demoram um pouco para sair ou saem só durante uma época, e aí depois as autoras colocam para a venda de novo, não ficam sempre disponíveis”, conta a jovem.

Com a sua experiência com criação de conteúdo, Milene afirma que os livros digitais facilitaram a vida dos autores, já que é muito mais caro lançar um livro físico do que um e-book. Ela relata que muitas autoras nacionais que ela conhece criam suas histórias a partir de fanfictions, que são narrativas ficcionais escritas e divulgadas por fãs com base em conteúdos já existentes.

“Então, a internet facilita o acesso, né, porque hoje em dia a gente consegue comprar um e-book por R$ 6,99 e isso não é nem um pedaço de bolo na padaria hoje em dia. Então o valor mais acessível conseguiu atrair mais leitores”, reflete a criadora de conteúdo. Dessa forma, a publicação no formato digital ajuda esses autores a chegarem em lugares onde os livros físicos não chegam.

Mesmo assim, Mariana reclama que os livros nacionais são muito desvalorizados. A estudante conta que seu gênero favorito são os romances eróticos, mas que as pessoas tendem a desmerecer tanto o gênero quanto as autoras nacionais.

“São poucas autoras internacionais que têm um nível de cuidado, de descrição, de embasamento que as autoras nacionais têm”, afirma a jovem. Ela diz que muitos dos romances tratam sobre transtornos e doenças, como bipolaridade e bulimia, e que as brasileiras têm um cuidado em buscar conhecimento para não gerar mal-estar, ao contrário das autoras de outros países.

Os livros físicos vão deixar de existir?

A dentista Silvia Cardoso, 64 anos, acredita que não. Ela afirma que sua geração foi acostumada apenas com os livros físicos, e acha difícil que eles deixem de existir. Silvia conta que nunca se interessou por livros digitais, e não abre mão do prazer de tocar e folhear os livros nas livrarias. Mesmo com os preços altos, ela conta que tem amigas que deixam de comprar outras coisas para continuarem com o hábito de ler exemplares impressos. No entanto, não tem tanta certeza se a geração atual continuará consumindo.

Respondendo à dúvida de Silvia, Patrick, Mariana e Milene também não acreditam que os livros físicos vão deixar de existir. Mesmo preferindo as praticidades dos livros digitais, os três acreditam que os livros físicos vão continuar ocupando as estantes, mas como itens colecionáveis. Milene acha que a produção de livros físicos vai diminuir com o tempo, enquanto Patrick acredita que no futuro as editoras irão investir em edições comemorativas.

Mariana já consome os livros dessa maneira, e conta que só compra as versões físicas dos livros que gostou muito, principalmente os de fantasia. “Eu não vou deixar os livros físicos morrerem. Eu gosto de ter eles na minha estante”, afirma a jovem.

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Batalhas de Rap no Centro de Pelotas  

 

Por João Pedro Macedo     

Satolep e Meia Lua: conheça os encontros musicais que vêm chamando atenção na Praça Pedro Osório

O Centro de  Pelotas, além de ser o local de maior movimento na cidade, no seu estilo arquitetônico revela sua tradição conservadora e classista. E é graças à história que já foi escrita que pontos de contracultura aparecem no Centro da cidade. Na Praça Coronel Pedro Osório, ocorrem as batalhas de rap da Meia Lua, em frente ao teatro Sete de Abril. Já a Batalha da Satolep acontece no próprio monumento do Coronel que dá nome à praça, aos domingos, às 15h, e, nas quartas-feiras, às 20h, respectivamente.

A modalidade das batalhas chama-se “batalha de sangue”, na qual um mestre de cerimônia (MC) ataca o outro apenas com rimas feitas na hora. O improviso gera muitos estilos e, assim,  cada MC cria sua especialidade: referência, linhas de impacto chamadas de “punch line”, piadas… São vários estilos. Na Meia Lua, a batalha de sangue ocorre pelo método “bate-volta”, em que cada MC tem quatro versos para rimar e, em seguida, passa para o próximo. Os dois que estão batalhando logo tem cinco voltas para se destacar. Já, na Satolep, cada MC tem 40 segundos para atacar e responder. Nas duas batalhas, para conseguir a vitória, o MC deve ganhar dois rounds primeiro.

Com as batalhas acontecendo semanalmente, lendas começam a surgir. É o caso de Antônio Delon Duarte dos Santos, o Antony MC, o maior campeão da história da Batalha da Meia Lua, com um total de 27 títulos. O MC de 25 anos começou nas rodas de freestyle influenciado por um nome conhecido no rap pelotense, o MC Fill, que faleceu em agosto de 2019. Hoje, como um dos organizadores da batalha, Antony MC a vê como uma segunda casa e está contente com o que ela se tornou: “Como organizador, sinto orgulho de fazer essa batalha ser cada vez mais vista por quem está de fora. Antigamente, tínhamos muitos MC ‘s, mas poucos eram diferenciados, já agora temos muitos bons MC ’s e cada um com uma característica diferente e surpreendente”.

Carapeto e o campeão da Batalha da Satolep do dia 30 de abriu, C2,  festejando conquista da folhinha

Sempre bem recebidos, MC ‘s novos procuram mostrar sua força nas batalhas. Bernardo Carapeto, conhecido nas batalhas apenas pelo sobrenome, explica o que significa a batalha da Meia Lua e da Satolep, não apenas para ele, mas também para todos que participam do movimento: “Significa uma família, não vivemos disso, mas vivemos por isso. Aqui, tu encontra pessoas boas que fazem aquilo que amam, que é cantar rap”.

As rodas de rap na praça Coronel Pedro Osório chamam cada vez mais atenção, e o MC campeão ainda tem a chance de ganhar um instrumental para gravar sua música e viver de seu sonho, e até ganhar ingressos para festas e shows conhecidos na cidade. Todo domingo e quarta-feira, um sonho pode se realizar, e você? Já pensou em batalhar?

 

 

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Em busca de um relacionamento orgânico

Por Evelise Goulart Soares        

“Fresh” brinca com as expectativas do público sobre romance, faz rir e surpreende em momentos de horror

“Fresh” é um filme dos gêneros comédia e suspense, lançado em março de 2022, dirigido por Mimi Cave, com roteiro de Lauryn Kahn e estrelado por Daisy Edgar-Jones e Sebastian Stan. É um original da plataforma de streaming Hulu, mas também está disponível no Star Plus. Dois ingredientes díspares, romance e canibalismo, aparecem no decorrer da história.

Podemos considerar “Fresh” como uma sátira de um relacionamento romântico na atualidade. O filme conta a história de Noa, uma jovem órfã que se sente perdida no mundo. Está em busca de um relacionamento e, apesar de suas tentativas frustradas nos aplicativos, ela ainda persiste e acredita no amor.

Seu maior desejo é conhecer alguém de forma orgânica. E, ironicamente, é assim que ela conhece Steve, no setor hortifruti de um supermercado. Não dá para querer algo mais orgânico que isso. Steve é um homem bonito, engraçado e com uma vida estável. O interesse entre os dois é mútuo e Noa vive um sonho. Sonho esse, que dura pouquíssimo, não demora muito para que o lindo e carinhoso Steve mostre sua verdadeira face. É muito interessante como vamos de um filme de romance para outra coisa em questão de segundos, e é aí que Fresh começa.

Encontro romântico em meio às compras de legumes frescos se desenrola em algumas cenas de suspense

 

A fotografia do filme é fantástica, a trilha sonora e o elenco também não deixam a desejar. Já conhecemos o trabalho do ator Sebastian Stan e mais uma vez a atuação dele não deixa espaço para críticas. Mas o que surpreende foi a atuação de Daisy Edgar-Jones. É fascinante a maneira como ela deu vida à personagem.

Apesar de prometer comédia e suspense, o suspense não é uma constante durante o filme, sendo quase tudo muito previsível. É mesmo muito divertido e a comédia tem suas sutilezas no decorrer da história. E, claro, por ser um filme sobre canibalismo, existem algumas cenas bem gráficas com bastante sangue e violência.

E finalmente, o que não esperar do filme Fresh? Definitivamente não tenha a expectativa de um filme em que a protagonista é inocente e indefesa. Não espere um filme em que as mulheres precisam de um homem para salvá-las e não espere algo na mesma vibe de Hannibal Lecter, porque apesar de terem muito em comum, Hannibal e Steve não poderiam ser mais opostos.

Confira o trailer: 

http://https://www.youtube.com/watch?v=wKk5VAK1GZQ

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