Raízes femininas resistem e crescem no samba gaúcho

Por Ester Caetano        

Glau Barros coordena o projeto Sambaobá, que dá visibilidade às mulheres sambistas

De uma ancestralidade musical, a cantora Glau Barros já carregava nas veias a arte, a religiosidade, a serenata, o batuque e o gaiteiro. No ano passado, ela foi destacada com o Prêmio Açorianos de disco do ano e artista revelação local pela gravação de Brasil Quilombo, lançado em 2019. Vinda de uma família que sempre teve um olhar atento à sua inclinação cultural e a incentivou a seguir nas artes, hoje, por uma inquietação, tem uma busca incessante por encontrar mulheres sulistas no samba, e, desse desejo, nasceu o projeto Sambaobá-Raízes femininas do samba.

O Sambaobá tem como proposta mapear a presença de mulheres compositoras e artistas mulheres que têm no gênero samba seu fazer artístico, elencando e evidenciando o legado cultural das diferentes regiões do Rio Grande do Sul a que pertencem. A proposta também quer desmistificar a visão masculina sobre o fazer samba.

     Cantora recebeu o Prêmio Açorianos de melhor disco em 2020 e luta por maior presença das compositoras                  Fotos: Luis Ferreirah

O projeto é focalizado em cinco cidades fora da região metropolitana do Rio Grande do Sul, que são Gravataí, Pelotas, Uruguaiana, São Borja e Rio Grande. Glau, no início de sua pesquisa, conta que sentiu a necessidade de estar próxima das narrativas femininas no samba do interior, nos lugares que ela já tinha passado, tido contato e deixado seus encantos em forma de apresentações. As cidades ainda são escolhidas pelas suas musicalidades, pela presença das mulheres que fazem arte, contatos de músicos com quem já trabalhou e cidades que têm uma presença marcante no Carnaval, clubes sociais negros e outros elementos que constituem a cultura negra gaúcha.

Mesmo a artista indo às cidades com raízes africanas fortes, percebeu  que talvez não teria tão presente as características em todas, como acontece em São Borja, uma localidade em que as pessoas não negras abraçam os costumes dos povos africanos e as pessoas negras deixam de ser protagonistas de suas próprias vivências. Glau conta que não é um erro ou um problema mas “justamente um apagamento”. “Na verdade, é que, às vezes, a apropriação das nossas raízes culturais, da nossa cultura afro diaspórica, é abraçada não por nós, até porque a gente não quer, às vezes, por falta de condições de dar seguimento a uma carreira artística. E a coisa da grana, uma estrutura que nos coloca à margem de diversas formas, é bastante forte na questão da cultura”, revela.   

O projeto já era algo pensado pela artista antes da pandemia, a ideia era mergulhar nas mais variadas experiências que cada lugar poderia proporcionar, tendo um encontro com outra mulheres sambistas. Mas, com a pandemia, a situação foi outra. Tornou-se necessário fazer “um trabalho de formiga” para conseguir os resultados da pesquisa, que começaram a ser divulgados através de lives no mês de julho deste ano. Pelo Instagram,  foram cinco “ao vivos” em que Barros apresentou as cantoras, intérpretes e instrumentistas. O estudo foi completado por uma produção de podcasts com as entrevistas realizadas pela cantora e foi encerrado com a execução de um samba autoral.

Artistas participantes

Pelotas ficou representada pela dupla de cantoras e compositoras, Daniela Brizolara e Dena Vargas, conhecidas como  Dani & Dena que compartilham há 13 anos os palcos da cidade do doce e região cantando samba, MPB e também participando de festivais renomados. Uruguaiana esteve presente através da cantora Patrícia Di Guyan, que começou sua carreira no Rio de Janeiro, cantando em pequenos bares, mas hoje desenvolve uma intensa participação na vida cultural de Uruguaiana, promovendo e realizando shows que buscam divulgar o samba.

Drika Carvalho, musicista e cantora representa Gravataí, é autora do projeto MPB Samba que traz uma releitura do melhor MPB e do samba de raiz. Já, de Rio Grande, está a Gil Colares, que iniciou profissionalmente como cantora aos 18 anos e hoje já ganhou espaço na cena musical abrindo shows nacionais de renomes. Luciara Batista foi a última a ser entrevistada. A cantora, compositora, produtora cultural e afro influencer é de Canoas e a única intérprete mulher do Carnaval canoense e de Porto Alegre. É idealizadora do Projeto Samba da Roda de Saia que reúne amigos e familiares através do samba. 

O Sambaobá carrega a essência de dar visibilidade às narrativas de mulheres no samba. Glau conta que, por muito tempo, as mulheres foram postas nos lugares subalternos por uma visão machista. Não tiveram espaços para mostrar seus talentos e composições. “Na escola, ou, enfim,  na roda de samba, ela dança, na roda de samba ela canta uma ou duas músicas. As mulheres estão, em um ambiente como as escolas de samba, em outros lugares, não na realização das letras, compondo e criando. Muitas das vezes, estão na cozinha, na dança, mas não na cabeça e na direção decidindo”, expõe a cantora.

Ela complementa que hoje já se presencia o movimento de mulheres sendo valorizadas, tirando suas composições da gaveta e conseguindo se empoderar diferentemente do que acontecia nos primórdios. “Antigamente, a gente buscava uma história como a da Dona Ivone, que é a mais simbólica que a gente tem, nossa referência maior. Ela não podia assinar um samba, eles nem ouviam, eles nem liam seu samba, sabendo que era de uma mulher. Ela tinha que passar para um primo que chegava lá ‘ó eu tenho esse samba aqui’. Eu estou conseguindo isso hoje, me sinto até privilegiada de assistir esse movimento de fortalecimento das nossas narrativas feitas por nós mesmas”, descreve.

Glau afirma que o samba é genuinamente brasileiro, ter mulheres como protagonistas é exaltar uma ancestralidade que construiu lutas e que hoje elas têm como resultado o poder de fazer samba. “É resistência, luta, um movimento, é uma mistura da das nossas culturas, da nossa ancestralidade”, conclui.

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“Morrer e viver na peste”: trilogia de livros analisa epidemias ao longo da história

Por Douglas Rafael Duarte   

Fábio Vergara Cerqueira é o idealizador e coordenador da obra lançada pela UFPel

Professor congregou vários estudiosos para falarem sobre as epidemias ao longo do tempo

Em março de 2020, o professor da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) Fábio Vergara Cerqueira, preocupado com a desinformação que cercava o surgimento do novo coronavírus, considerou que era papel dele e de outros historiadores falarem sobre as epidemias ao longo da história. Em diálogo com o atual secretário de Cultura de Porto Alegre, Gunther Axt, nasceu a proposta da trilogia “Morrer e viver na Peste”, uma série de textos de estudiosos sobre epidemias que assolaram Pelotas e o mundo.

“Conversávamos sobre as várias epidemias ao longo da história e sobre como seria importante a população ter mais informações sobre outros surtos epidêmicos acontecidos no passado”, conta Vergara. “Uma vez concebida a proposta do livro, achei que poderíamos ir além, e propormos uma trilogia, enfocando também a epidemia na Arte, bem como na Literatura e Cinema”, complementa Fábio, o coordenador da coleção.

Com prefácio do ex-Reitor da UFPel, o infectologista Pedro Hallal, a coleção foi pensada como forma de contribuir para a compreensão do momento dramático vivido por toda a humanidade desde a eclosão da pandemia da Covid-19, doença causada pela propagação do vírus SARS-CoV-2. Um dos objetivos da publicação é instrumentalizar profissionais da imprensa, gestores, administradores e educadores com informações sobre epidemias.

“Trazemos, para além dos aspectos médicos, os vários exemplos de como as enfrentamos, como as pensamos, como inclusive nossa imaginação é mobilizada a engendrar soluções, ou mesmo a tomar medidas discriminatórias terríveis e de pouco efeito concreto para combater as doenças”, relata Vergara. “Vemos que as várias formas de ignorância são sempre o pior remédio”, afirma.

Lançados pela Editora da UFPel, os dois primeiros volumes de “Morrer e viver na Peste” (Epidemia na História e Epidemia na Arte) estão disponíveis em formato e-book de acesso livre e gratuito. Em breve, o terceiro e último volume (Epidemia na Literatura e Cinema) também será disponibilizado.

Primeiro volume trata de abordagens históricas de pandemias inclusive na região de Pelotas

Volume I – A epidemia na História

Organizado pelo coordenador de toda a coleção, Fábio Vergara, juntamente com Gunther Axt e Renata Brauner Ferreira, o primeiro volume da obra traz em suas 454 páginas, 26 textos (além do prefácio, do prólogo e da introdução) abordando diversos surtos pandêmicos e seus muitos aspectos ao longo da história.

“A AIDS foi chamada de ‘peste gay’, assim, hoje, alguns, contaminados pela xenofobia, ainda insistem em falar do novo coronavírus como o ‘vírus chinês’. Parece que não aprendemos! Mas informar-se sobre a história certamente pode nos ajudar muito”, afirma Fábio.

A publicação pode ser baixada gratuitamente em formato e-book através deste link.

Volume II – A Epidemia na Arte

Organizado por Lauer dos Santos, Roberto Heinden e Larissa Patron, o segundo volume contém 141 páginas. Nelas estão a Introdução e outros oito textos abordando as epidemias a partir da arte.

“Houve, inicialmente, um sentido de urgência, de tentar responder ao momento e o que estava acontecendo. Havia muitas reações de artistas e pessoas ligadas à cultura, mas era importante convidar pessoas que estivessem refletindo sobre isso ou que já tivessem pensado sobre questões correlatas, como o caso da Aids”, relata Lauer.

A publicação pode ser baixada gratuitamente em formato e-book através deste link.

Volume III – A Epidemia na Literatura e Cinema

O terceiro e último volume da coleção ainda está no prelo. Organizado por Daniele Gallindo e Eduardo Marks de Marques, ele abordará os surtos epidêmicos a partir da Literatura e Cinema. “Tem muita coisa produzida que tem como pano de fundo epidemia, noções de fim de mundo. O tema parece assombrar a humanidade”, comenta Daniele.

Assim que estiver concluído, ele também poderá ser baixado em formato e-book de forma livre e gratuita no repositório da Editora da UFPel.

O repositório pode ser acessado através deste link.

Pelotas

Pelotas é o cenário para alguns dos textos presentes da obra. Três dos vinte e seis textos que compõem o primeiro volume da coleção são “A tuberculose e os seus pés de lã”, de Lorena Gill; “Epidemia e sociedade: Pelotas sob o domínio da Gripe Espanhola em 1918”, de Renata Brauner Ferreira; e “Vida e morte em tempos de escravidão: um estudo de caso sobre as doenças que assolavam a população escravizada na cidade de Pelotas em fins do período escravista”, de Fernanda Oliveira e Angela Pomatti.

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“Resenha do Rap”: obra de entusiasta da cultura hip hop pelotense

Por Erick Barreto  

Livro de Gagui IDV relata as vivências de um estilo musical que ganhou o mundo

                               Livro retoma vivências musicais e culturais desde os anos 1990                                      Foto: Luís Fabiano Gonçalves ( Fio da Navalha)

Thiago da Costa Moura, mais conhecido como Gagui IDV, nascido em Pelotas, e apaixonado pela cultura hip hop desde a adolescência, no ano de 2018 escreveu uma grande obra, “Resenha do Rap”, que conta a sua trajetória como crítico da cultura popular.

Em 1970, no estado de Nova York, mais precisamente no sul do Bronx, surge uma nova cultura, o hip hop, uma forma artística e criativa de contornar a extrema violência que assolava a região. Teve um resultado de relevância mundial, diga-se de passagem, pois a cultura não ficou restrita apenas a esse local, ganhou o mundo e atualmente é de relevância incomensurável. No Brasil, depois de 24 anos, em 1994, aos 12 anos de idade, Gagui ouviu em sua vizinhança um estilo musical diferente, uma música falada e não cantada, foi até o local e descobriu que se tratava de Gabriel, o Pensador, rapper, compositor e escritor brasileiro. Nesse momento, Gagui descobriu que estava aficionado por esse tipo de música e nunca mais parou de ouvir.

O autor entrevistou um dos precursores da cultura hip hop: Afrika Bambaataa

Gagui fala que, no mesmo ano que se encantou pela cultura, aderiu a ela por inteiro, mudou o estilo de se vestir, pois a sua identificação com a manifestação popular já era bem grande. E, assim, também conseguiria encontrar outros admiradores da mesma arte, já que a internet ainda não era um meio acessível, a forma de contato era totalmente diferente naquela época.

Na sua trajetória de vida, recorda que a leitura sempre foi um hábito essencial. Começou a publicar seus textos fazendo fanzines, escrevendo em blog, apresentando e produzindo programas de rádio, sendo colunista de diversos sites de hip hop do Brasil. Durante esse período, fez entrevistas com diversos artistas e personalidades da cultura hip hop. Foi um caminho natural até transformar tudo isso em livro e podcast.

Como todo apreciador do rap, o sonho de conhecer uma referência da cultura é um grande desejo, e, dessa forma, podemos dizer que Gagui IDV é um grande privilegiado, pois entrevistou Afrika Bambaataa, precursor da cultura hip hop em Nova York. Esteve diversas vezes com Mano Brown, Thaide, entre muitos outros artistas que fazem o movimento tão respeitado, apreciado e relevante.

Encontro com o músico Mano Brown

O rap, em essência, é um estilo musical que dá voz ao mais negligenciados, que relata a realidade das periferias e, para Gagui, o momento político e social em que vivemos é a hora crucial para expressar a arte de maneira mais incisiva. Mas, como em todo movimento cultural, há vertentes do gênero musical que se preocupam com outras temáticas. E essas outras vertentes são as mais consumidas. Dessa maneira, o fundamento principal, a parte de protestar, mesmo que muitos artistas ainda o façam, fica muitas vezes em segundo plano.

O Rio Grande do Sul é um grande formador de artistas, e não seria diferente em relação ao rap. Gagui explica que o nosso estado tem inúmeros grupos, MCs de estilos bem diversificados e com muito talento. Mas acredita que o desenvolvimento não seja ainda maior, porque a questão geográfica atrapalha bastante. Lembra de Zudizilla, o grande rapper pelotense, que se mudou para São Paulo, e só assim recebeu o seu devido reconhecimento.

 

 

Confraternização literária com Thaíde

O hip hop é também composto por outros elementos, a breakdance e o graffiti.  Para  Gagui, são outras duas artes que saíram das ruas estadunidenses e ganharam o mundo, pois o break será uma nova modalidade olímpica a partir de 2024 e o graffiti está presente nas mais diversas galerias artísticas, em inúmeros lugares no mundo. Ademais, ele relata com humor a sua experiência como b-boy (dançarino de break). Explica que não conseguiu desenvolver o talento com excelência, sente-se um b-boy “frustrado”.

E finalizando, para Gagui, a arte é um caminho árduo até chegar num patamar de grande notoriedade. Segundo ele, o talento nem sempre é suficiente, muitos artistas com uma capacidade enorme ficam pelo caminho, enquanto outros, menos capacitados, despontam como astros da noite para o dia. Fala de um exemplo próximo, o rapper Fill, outro grande artista de Pelotas, de extremo talento, com grande relevância na região, mas que nunca recebeu o devido valor. Muitos danos psicológicos o assolaram levando-o a um fim lastimável.

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Entre Facas e Segredos: União do suspense e comédia com elenco de peso

 Por Helena Isquierdo Rocha    

 O enredo à moda antiga com uma adaptação moderna conquistou o público

         

Produção foi lançada em 2019 e conta com a presença de Jamie Lee Curtis entre os atores    Fotos: Divulgação

“Entre Facas e Segredos” (“Knives Out”) é a união inusitada dos gêneros que mais fazem sucesso entre o público: suspense, drama e comédia.  O filme do diretor Rian Johnson faz uma homenagem às famosas obras de Agatha Christie e as envolventes histórias do detetive Sherlock Holmes, com a narrativa escrita a partir da tradicional pergunta: “Quem é o assassino?”. E pra completar o combo de sucesso, o elenco não podia ser outro. O longa conta com grandes nomes, como Daniel Craig, Jamie Lee Curtis, Chris Evans, Christopher Plummer, Katherine Langford, Jaeden Martell e Ana de Armas.

Os familiares de Harlan Thrombey disputam a fortuna após sua morte e tornam-se ainda mais suspeitos

A história se desdobra a partir da morte do famoso escritor Harlan Thrombey (Christopher Plummer), que acontece logo após sua festa de aniversário de 85 anos – quando toda a família estava presente. Harlan teve muito sucesso durante sua vida e acumulou uma grande fortuna, o que acabou afastando os familiares.

A versão inicial do caso indica que ele cometeu suicídio, mas a partir da investigação realizada pelo detetive Benoit Blanc (Daniel Craig), surgem pistas de que, na verdade, pode ter ocorrido um assassinato. É dessa forma que todos se tornam suspeitos, e o público passa a descobrir as versões de cada um e a relação que tinham com Harlan Thrombey.

Personalidades irreverentes em excelentes interpretações atuam ao longo da história

O filme apresenta um clássico jogo de rato e gato, no qual o público visualiza a reconstrução de todos os acontecimentos, e recebe pistas, reviravoltas e armações. É impossível controlar o instinto de tentar prever os próximos acontecimentos e duvidar de cada um que apresenta sua história.

Será muito difícil encontrar críticas negativas em relação ao filme. O principal ponto que conquista quem assiste é a união do suspense e da comédia. Ao mesmo tempo em que se fica intrigado e ansioso para descobrir a verdade, ainda pode-se dar boas risadas.

Assista o trailer legendado aqui.

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Reggae da Be Livin enfrenta pandemia

Por Ester do Nascimento Caetano

A banda pelotense encontrou uma válvula de escape nos recursos dos auxílios emergenciais

A pandemia mudou o cotidiano e remodelou a vida em todas as esferas. O presencial virou online, e, mais do que querer a vida normal de volta, terminar essa aflição estando vivo, vem sendo o mais desejado. A forma de viver se tornou uma só em muitos lares. A casa se reverteu em trabalho, escola, academia e, para desopilar, até em palco de shows. Nesta remodelação, entram as lives, em que a classe artística, uma das mais afetadas e primeira a paralisar, conseguiu encontrar uma válvula de escape e, no meio das telas, emergir para o novo modo de fazer cultura. A banda pelotense de reggae Be Livin é um exemplo de como foi a luta dos músicos para encontrar alternativas.

No país, na área econômica da cultura, a renda diminuiu significativamente no ano passado, 48,8% dos agentes culturais perdeu 100% da sua receita desde o segundo semestre de 2020. Os dados são da pesquisa Percepção dos Impactos da Covid-19 nos setores cultural e criativo do Brasil.

Em todo o mundo foram severas as medidas de isolamento para o segmento, porém o Brasil demorou para criar uma política nacional de cultura em meio à pandemia. Atualmente, estão sendo repassados aos profissionais da cultura os recursos da Lei Aldir Blanc (LAB), a qual foi gravemente impactada com as constantes mudanças na chefia da pasta da Secretaria Especial da Cultura. 

No final do ano de 2020, o Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural, que monitora a evolução econômica da indústria criativa do Brasil com dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), apresentou que um em cada dois profissionais da cultura perdeu trabalho. Mas, com o auxílio da LAB, profissionais conseguiram ter uma forma de escape para as suas produções.

Banda encontra alternativas

A banda de reggae pelotense Be Livin foi uma dessas na categoria da reinvenção. Criada em 2004, nunca tinha passado por um momento tão catastrófico como esse, acostumada a se apresentar com públicos de milhares de pessoas. Chegou até abrir show para grandes bandas como a ex-banda de reggae O Rappa, no Espaço das Américas, em São Paulo. Tornar as vozes que ecoam em um show nos comentários de uma live foi uma das contrariedades enfrentadas pela banda.

O vocalista Fredo diz que o importante é sempre manter o foco na continuidade do trabalho artístico

A Be Livin, atualmente, é formada por cinco integrantes, Eduardo Freda (vocal), Pedro Moraes (bateria), Diego Pereira (baixo e teclados), Guilherme Rocha (teclados) e Rogers Lemes (guitarras e violões). Com foco, reunindo-se em um mesmo propósito e intenção, acreditam que podem ultrapassar diversas crises como a pandemia. Mas, no Brasil, existem problemas pendentes que se aglutinam com a calamidade na saúde. O vocal Freda conta que os artistas, sobretudo os de reggae, na sociedade ainda são vistos com menosprezo e descaso. “Claro que existem outros tantos desafios, como as condições que envolvem tu seres músico, independente, e de um segmento que, hoje, no Brasil, ainda é underground. Mas o lance mesmo é a galera ter o mesmo foco, porque isso vai ajudar muito a banda a ter êxito”, revela o cantor.

Para o guitarrista Rogers Lemes, com todos os percalços, é indiscutível que a Lei Aldir Blanc, juntamente com o edital Movimento Prêmio da Cultura Pelotense, levantou a banda Be Livin. Com os recursos, eles conseguiram produzir, durante a pandemia, um minidocumentário, videoclipe e um novo single intitulado de “Oração e Luz”.

Mesmo Lemes considerando a LAB um importante alicerce para os artistas na atualidade, ele acredita que a Lei pode ser mais abrangente e mais bem divulgada, “engendrando novos segmentos artísticos, saberes populares e a arte da periferia em geral”.

    Ao longo de sua trajetória a Be Livin tem feito shows também em outros estados do País          Fotos: Divulgação

Como em sua música de maior significado, a banda tenta “Um dia” fazer da arte um encontro para se libertar dos pensamentos negativos e dos males a que se foi acometido. Há muitos caminhos a percorrer, há muita batalha a se travar, há muito preconceito e falta de incentivo para a classe artística. “Podemos dizer que falta muito suporte e incentivo. Digamos que todos estão se reinventando naquilo que está ao alcance, pois se tratando do artista autoral de reggae no Brasil, a cena toda, que já era frágil em termos estruturais e financeiros, ficou ainda mais abalada nos tempos atuais”, afirma o tecladista Guilherme Rocha.

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Livro retrata cotidiano arroio-grandense durante pandemia

Por Douglas Rafael Duarte    

“Grande Sentimento” reúne contos, ilustrações e fotos de autoria da jornalista Victória Salomão

A jornalista Victória Salomão lançou no dia 14 de junho em live no seu perfil no Instagram, o livro de contos “Grande Sentimento”. A publicação reúne fotos, ilustrações e 20 contos sobre o cotidiano de diferentes personagens de Arroio Grande, no interior gaúcho, durante a pandemia. A obra pode ser adquirida em edição impressa e digital.

Natural de Rio Grande, Victória considera-se “arroio-grandense de coração”. Apaixonada por jornalismo literário e escritora há alguns anos, a autora mudou-se para Arroio Grande pensando em passar “só uns três meses de pandemia” ao lado dos pais. Como infelizmente não foi dessa forma que aconteceu, Victória aproveitou o período de um ano em que esteve no município para contar, de forma literária e muito criativa, o cotidiano e as peculiaridades da “Cidade Simpatia”.

Victória Salomão trabalha com comunicação política, mas  não quer parar de escrever literatura Foto: Arquivo Pessoal

O título do livro “Grande Sentimento”, já havia sido escolhido antes da obra ser concluída. Segundo a autora, a inspiração veio da frase de Albert Camus no livro “A Peste” (1947): “Agora, sei que o homem é capaz de grandes ações. Mas se não for capaz de um grande sentimento, não me interessa”.

Sobre a referência ela ainda acrescenta: “Isso me impactou de alguma forma. A epidemia era o tema do livro de Camus. E realmente é um grande sentimento que está nos unindo agora, neste momento. Muito mais do que o contexto, muito mais do que o medo e o luto, tem alguma coisa a mais que está nos unindo”, afirma Salomão.

Atualmente, vivendo em Brasília, onde trabalha com comunicação política, a autora relata que tenta não abandonar o hábito de escrever literatura. A paixão começou na adolescência e já lhe proporcionou grandes experiências, como conhecer o ídolo Chico Buarque. Em 2019, um conto de sua autoria inspirado na obra do cantor rendeu um convite para participar como autora da Festa Literária de Santa Teresa, no Rio de Janeiro.

“Sempre que eu penso em parar de escrever, embora não faça tanto sentido monetariamente, essa lembrança me dá vontade de escrever”, comenta Victória.

Como comprar?

O preço da versão física da obra, publicada pela Gráfica Acanhada de Arroio Grande, custa R$ 35,00. Já a versão digital sai por apenas R$ 15,00. Em ambos os casos o contato para a compra deve ser feito através do email salomaovictoria@gmail.com.

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“Felicidade por um fio” e a autoaceitação do cabelo cacheado

Por William Engel       

Streaming lança comédia romântica com crítica sobre padrões de beleza e sobre autoestima

O filme “Felicidade por um fio” é uma comédia romântica dirigida por Haifaa al-Mansour e lançado pelo sistema de streaming Netflix em setembro de 2018. O drama conta a história de Violet Jones, que desde pequena é ensinada por sua mãe a manter a perfeição para fins de ser aceita na sociedade racista que a mãe mesma já vivenciara quando pequena.

Essa perfeição é demonstrada com o cabelo da personagem, que segundo a mãe, deve estar sempre alisado e impecável. Assim, todos os dias, a mesma alisa o cabelo da filha, desde pequena, a fim de se encaixar num padrão de beleza eurocêntrico. A menina então cresce com uma visão ultrapassada de perfeição e mantem essa rotina de alisamento todas as manhãs.

Até que um dia, após uma desilusão amorosa e beber muito com suas amigas, a mesma decide passar pelo “big chop”, para fazer a transição dos cabelos alisados e assumir os cacheados. Raspa a cabeça e, após um surto, entra em uma onda de aceitação e transição capilar. Essa mudança deixa a personagem mais bonita, leve e mais corajosa para com as mudanças e desafios em seu trabalho e sua vida amorosa.

              Imagem emocionante em que Violet Jones (Sanaa Lathan) raspa seu cabelo após uma enorme desilusão amorosa      Foto: Divulgação

O filme traz uma visão muito importante sobre autoaceitação e de como os meios de comunicação estão em constante mudança de acordo com a sociedade. A personagem principal, quando resolve aceitar seus cachos, acaba não ajudando somente a si mesma, mas a filha de seu novo parceiro Will, que também passa por momentos de aceitação após um comentário maldoso de Violet.

Outro ponto importante no filme é como a indústria cultural e meios de comunicação em massa são responsáveis sobre os padrões de beleza. Assim como responsáveis por essas mudanças. Vemos exemplos disso nas produções recentes do streaming Netflix, que traz produções coerentes, representativas com as minorias e todos os tipos de pessoas.

O filme tem 98 minutos e conta com as seguintes classificações: 3,9/5, na crítica dos usuários do brasileiro Adoro Cinema, e nota 6,4/10, no Internet Movie Database (IMDB), site de crítica cinematográfica americano. Com essas notas e o enredo do filme, é uma obra que vale muito a pena conferir.

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A subversão de um universo racista

Por Gabriel Teixeira de Barros    

Série mistura terror, ficção e inspiração literária para falar sobre discriminação

No elenco,  Jurnee Smolet (Letitia) Jonathan Majors (Atticus) e Michael Kenneth Williams (George)     Foto: Divulgação

Em uma das mais recentes produções da HBO, baseada no romance literário de mesmo nome publicado em 2016 por Matt Ruff, a série “Lovecraft Country” aposta na mistura do terror dramático com a ficção científica, com inspiração na mitologia escrita por H.P. Lovecraft, conta a intensa história de uma família negra norte-americana que busca descobrir mais sobre sua herança sanguínea misteriosa enquanto lida com as problemáticas raciais durante a década de 1950.

História e Contexto

A história dá o ponto de partida quando o personagem central da trama, Atticus Freeman, um veterano da Guerra da Coreia, retorna à sua cidade natal de Chicago, Illinois, após receber uma carta misteriosa contendo pistas do paradeiro de seu pai, Montrose Freeman. Atticus, popularmente chamado por Tic, espera encontrar seu tio, George Freeman, e fazer-lhe algumas perguntas que possam direcioná-lo ao seu pai desaparecido. O personagem de George Freeman é um aventureiro, criador de guias para viagens exclusivo com rotas seguras para negros dentro do solo americano. Contextualizando historicamente, as leis discriminatórias de Jim Crow, estabelecidas em 1877, ainda eram veemente executadas pelos estados sulistas e por regências locais, exigindo a segregação racial na sociedade.

A primeira grande traçada referencial entre o material do escritor H.P. Lovecraft e o bruto contexto sociocultural realçado pela série é a desvendamento da carta escrita por Montrose Freeman para seu filho. Na carta, está descrito a localização de um distrito no interior do estado de Massachusetts, propositalmente alterado para Ardham. Levando em conta a obra literária do autor americano, a região de Arkham é uma cidade fictícia do que é chamado de Lovecraft Country, o ambiente onde estão situados os monstros e a maioria dos acontecimentos das histórias escritas pelo autor.

A série dá uma bruta introdução à ficção de monstros durante uma bem construída cena de suspense, na qual os personagens se encontram como vítimas de opressão policial e estão prestes a serem executados por crimes não cometidos. O terror da ficção vai de encontro direto com o drama racial ambientado, uma mistura muito bem trabalhada, transformadora de gênero, e peça integral do DNA da série. As aparições monstruosas, chamadas dentro da literatura de Lovecraft de Shoggoth, são criaturas metamórficas, que em sua mitologia eram serventes de seres maiores, e como um possível paralelo com o contexto negro da série, rebelaram-se contra seus mestres e os levaram à extinção.

Mitologia da série e passado obscuro

A partir da metade da série, um novo e importante elemento referencial obscuro é introduzido na trama, a histórica e pouco falada relação sombria das figuras de destaque ocidentais com as artes ocultistas.

Durante o século XIX, aconteceu uma grande ressurgência do misticismo na Europa, quando uma combinação de valores ocultistas, derivados de vertentes relacionadas às filosofias ocultas, como o hermetismo e o maniqueísmo, foram estudadas e somadas a elementos mágicos relativos à alquimia e também ao estudo da pseudociência da astrologia. Fundamentaram várias filosofias esotéricas, cada uma reservada para um exclusivo e diferente conjunto de homens brancos de renome e significância cultural.

E, com esse entendimento, a série constrói o enredo em torno da figura de Titus Braithwhite, um poderoso homem branco, influente comerciante de escravos, parente sanguíneo do protagonista Atticus. Ele secretamente lidera uma sociedade ocultista chamada de Order Of the Ancient Dawn, uma organização secreta formada por uma casta de homens brancos. Esse grupo busca, através de um fragmento no Necronomicon, livro ficcional inserido na mitologia de Lovecraft, utilizar a magia para alcançar a imortalidade.

História americana através de mitos

Para tornar a experiência histórica negra palpável, mas ao mesmo tempo autêntica, as chocantes e assombrosas marcas registradas por eventos catalisadores para a construção da identidade social negra não podem ser esquecidas, e a produção audiovisual faz questão de enfatizar este pensamento. A presença do trabalho ativista poético de artistas como Gil-Scott Heron, Sonia Sanchez e James Baldwin, fazem parte da atenção aos detalhes da construção interna e do empoderamento da imagem negra, espelhando-se no impacto social conquistado por estas figuras.

O programa televisivo faz um belo esforço metafórico para relacionar o expansivo enredo de ficção científica na contextualização das tragédias históricas do período. A dramaturgia utiliza o brutal assassinato do jovem negro Emmett Till, em 1955, após ser acusado de ter ofendido uma mulher branca dentro de uma loja. A vida e o símbolo do jovem viraram ícone por justiça nas reinvindicações das campanhas do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, iniciada um ano antes de sua morte. E, no seriado, o legado de Emmett Till é utilizado como mais um exemplo do terror psicológico diário, e através dos protagonistas, explicitou toda a angústia, o ódio, e o medo sentidos por toda a esfera negra norte-americana.

E, no arco final da série, a necessidade de revisitar e presenciar um dos maiores atentados contra a humanidade, já registrados, revela o desfecho sombrio reservado pela drama, ou seja, retroceder a 1921. A frase, que também intitula o penúltimo episódio da temporada, remete aos protagonistas à necessidade de uma viagem no tempo, retornando ao ano de 1921, mais precisamente no distrito de Greenwood, cidade de Tulsa, onde, durante os dias de 31 de maio e 1º de Junho, foram massacrados entre 100 e 300 negros, no que ficou conhecido popularmente como Massacre de Tulsa. Para o enredo, o acontecimento marca o último registro, em que a família de Atticus Freeman possuía o fragmento mágico do livro que seria capaz de libertar o povo negro da submissão aos brancos, através da magia.

Na realidade, a tragédia representou o violento fim de um distrito majoritariamente negro, popularmente conhecida como Black Wall Street, que foi uma das comunidades afro-americanas mais bem sucedidas comercialmente dentro do solo norte-americano. A prosperidade financeira e o imenso e oportuno futuro que toda uma geração estava conquistando por merecimento tiveram seu fim. Houve uma conspiração por uma imensa armada de homens brancos, que fizeram de tudo para acabar com a história de todo um povo.

Por fim, “Lovecraft Country” utiliza de todos os artifícios existentes na ficção científica e no drama psicológico para construir um belo e profundo enredo a respeito do protagonismo negro, em uma dramaturgia popularmente branca, e como a luta pelo fim submissão negra e da violência racial atravessa os gêneros e distorce os campos da ficção e da realidade.

A primeira temporada de “Lovecraft Country” (2020) está disponível para assistir nos serviços de streaming disponibilizados pelo canal HBO, no Brasil através do HBO GO.

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Projeto #TeatroMunicipalAgora

Por Thiago Lehn     

Município de Rio Grande promove apresentações on-line na sua sala de espetáculos

Durante a pandemia, o Teatro Municipal do Rio Grande está realizando o projeto #TeatroMunicipalAgora, que está chamando a atenção da população da região e sendo de suma importância para fomentar a cena cultural muito presente na cidade.

A diretora do Teatro, Alzira Paiva, comentou os principais aspectos da criação e implementação da ideia. O Projeto #TeatroMunicipalAgora foi criado como forma de incentivo aos artistas rio-grandinos. Através do espaço e da estrutura cedidos pela Secretaria de Município da Cultura, eles podem apresentar a sua arte no formato de shows on-line disponibilizados para a comunidade, com a renda dos ingressos revertida para os próprios   artistas dos diferentes segmentos e/ou formas de expressão.   A iniciativa também objetiva perpetuar e disseminar a cultura no município, de modo a valorizar e destacar a importância do trabalho desenvolvido por estes artistas dentro do contexto histórico da cidade do Rio Grande.

A diretora relata que os shows do projeto são realizados semanalmente nas quintas-feiras, sempre às 20h30min. e transmitidos através do aplicativo zoom, cujo link é encaminhado aos espectadores por e-mail conforme preenchimento de cadastro, no ato da compra do ingresso adquirido no site Sympla.com.br. Eventualmente são inseridos ao longo do mês datas extras para espetáculos especiais.

Quanto aos produtos culturais que o projeto abrange, Alzira diz que o Teatro recebe qualquer expressão de arte de palco, sejam espetáculos musicais, teatrais, dança ou poesia. Os espetáculos são produzidos pelos próprios artistas e o Teatro Municipal entra com a infraestrutura de som, luz, vídeo, filmagem e apoio que os artistas necessitarem.

A banda Garotos da Rua esteve em uma das apresentações       Foto: Divulgação

O artista que quiser participar pode ir presencialmente ao Teatro Municipal do Rio Grande que fica localizado na Avenida Major Carlos Pinto, 312, ligar através do telefone (53) 3233-4339 ou se cadastrar através de um formulário que pode ser encontrado na página do Teatro no Facebook.

Sobre a participação da comunidade ela diz que a adesão ao público tem sido satisfatória. É uma modalidade nova de se realizar espetáculos e que está conquistando o público na medida em que o projeto vai se desenvolvendo. Os artistas locais têm aderido ao projeto e as agendas de junho, julho e parte de agosto já estão preenchidas. Segundo os artistas que se apresentam, é uma maneira de viabilizarem seus espetáculos, receberem por seu trabalho e também divulgarem suas criações pelas lives e redes sociais.

Perguntada sobre a continuidade do projeto, a diretora enfatiza que é intenção da Secretaria do Município da Cultura e da direção do Teatro Municipal é dar seguimento a este projeto, pois o Teatro é um dos espaços culturais que devem ser prestigiados por quem aprecia cultura na cidade do Rio Grande. Esta programação de espetáculos on-line é uma forma de oferecer entretenimento e cultura ao público nestes tempos difíceis da pandemia.

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“Mad Men” e as agências de publicidade da década de 1960

                                                               Por Helena Isquierdo Rocha     

O seriado ganhou destaque pela crítica, especialmente por sua autenticidade histórica

Série mostra cultura e sociedade urbana dos Estados Unidos     Foto: Divulgação

A série estadunidense “Mad Men” foi lançada em 2007 e teve sua sétima e última temporada exibida oito anos depois, em 2015. A trama criada por Matthew Weiner é ambientada na década de 1960, e mostra o cotidiano da agência de publicidade fictícia Sterling Cooper, localizada na Madison Avenue, em Nova York.
Ao longo desse período, o seriado foi fortemente elogiado pela crítica, especialmente por sua autêntica representação histórica, figurinos, atuações e roteiro. Foram conquistados diversos prêmios, incluindo quinze Emmys e quatro Globos de Ouro. As primeiras quatro temporadas venceram o Emmy de série dramática de destaque.

A série mostra a cultura e a sociedade norte-americana daquele período, destacando fatos históricos reais e hábitos da época, como o tabagismo, alcoolismo, sexismo, feminismo, adultério, homofobia, racismo e o antisemitismo.

Durante os mais de 90 episódios, acompanhamos o processo de produção de campanhas para grandes marcas da vida real como a Coca-Cola, Kodak, Hershey’s Volkswagen e Lucky Strike.

Inclusive, em um desses episódios, é apresentada a ideia de mostrar apenas alimentos que vão bem com o molho. A campanha foi ao ar na vida real, em 2017, através da marca Heinz.

Os acontecimentos reais estão entre os principais atrativos da produção, como a morte de Marilyn Monroe, os assassinatos de John F. Kennedy e do ativista Martin Luther King Jr. e o homem pisando na Lua.

Joan Harris (Christina Hendricks ) e Peggy Olson (Elisabeth Moss) enfrentam grandes desafios    Foto: Divulgação

As personagens femininas são fundamentais para o sucesso da obra. A moda e o mercado profissional para as mulheres da época também são bem representados. O elenco deixa uma forte mensagem na série no que diz respeito ao ambiente de trabalho. As personagens Peggy Olson (Elisabeth Moss) e Joan Harris (Christina Hendricks) enfrentam grandes obstáculos em um local marcado pela presença masculina, preconceito e assédio.

E, além de tudo isso, a série conta com uma trama cheia de personagens bem construídos, reviravoltas, romances, dramas e segredos. Não é à toa que “Mad Men” foi considerada uma das melhores séries da década.  

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