O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que o Brasil “tem um crescimento colossal de sua influência”. A fala, feita nesta quinta-feira (5), durante sua apresentação no Clube Valdai de Discussões Internacionais, se deu no contexto do crescimento da ordem multipolar no mundo.
Na conferência do Clube Valdai, cujo tema é “Multipolaridade justa: como garantir segurança e desenvolvimento de todos”, Putin ainda separou um tempo para destacar as qualidades de outros países membros do BRICS, como Índia e África do Sul.
Para Isabela Gama, especialista em segurança e teoria das relações internacionais e BRICS e pesquisadora pós-doutoranda da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), a declaração de Putin é uma forma de posicionar o Brasil dentro de um cenário internacional importante e relevante para a Rússia.
De acordo com a pesquisadora, nos últimos anos o país sul-americano deixou de ser um pária no cenário internacional para ser novamente uma voz de mudanças que, embora limitada, possui uma perspectiva de crescimento.
“Essa voz que vem de nós, do Brasil enquanto um país relevante do Sul, dentro do G20, dentro da ONU, tem muito impacto, ainda mais por vir do presidente Lula, que é bastante respeitado dentro dessas organizações“, disse Gama.
Charles Pennaforte, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador do Laboratório de Geopolítica, Relações Internacionais e Movimentos Antissistêmicos (LabGRIMA), também vê um aumento na presença brasileira no cenário internacional sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
“Acredito que o presidente Putin esteja fazendo uma comparação com o período do governo [do ex-presidente Jair] Bolsonaro, onde nós tivemos uma participação nula no cenário internacional. Se nós compararmos, sem dúvida nenhuma houve um crescimento bem acentuado no nosso protagonismo”, afirmou Pennaforte.
A análise do professor da UFPel, de que o protagonismo do Brasil tende a aumentar, vai ao encontro da expressada por Gama.
“Nós vivemos um grande momento de transformação geopolítico e econômico. Estamos vendo um novo cenário se formando nas próximas décadas e nos próximos séculos, onde europeus e norte-americanos não serão os proeminentes nesse processo.”
Entre as principais evidências do crescimento da influência do Brasil, aponta Pennaforte, está a conclusão da primeira transação em real-yuan, um “marco histórico de alteração da hegemonia norte-americana desde Bretton Woods”, afirmou. “Dentro de alguns tempos, de meio século a um século, por exemplo, teremos trocas comerciais mais justas, sem o predomínio de um país e de uma moeda.”
“Logicamente que o Ocidente, principalmente a mídia comercial, não dá muito valor a isso para justamente não criar uma certa predominância temática sobre o assunto, mas sem dúvida nenhuma a criação do NBD [Novo Banco de Desenvolvimento, o “banco do BRICS”] e essas transações que não passam pelo dólar são muito importantes do ponto de vista econômico e geopolítico”, disse Pennaforte.
Gama ainda destacou a produção tecnológica militar do Brasil, como o avião KC-390 e o submarino de propulsão nuclear, como um avanço para o país abandonar sua dependência da exportação de commodities. “Grandes potências tendem a fabricar suas próprias tecnologias”, afirmou.
“A capacitação de capital humano e o investimento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias brasileiras é de uma grande relevância. Isso pode gerar um grande impacto dentro da nossa economia e nos projetar no cenário internacional”, analisou Gama.
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