Valentin: música, amor e ideal

Por: Estevan Garcia

A voz entoando palavras que, por muitas vezes, trazem consigo os ideais de amor e liberdade, somada perfeitamente ao som do violão, se sobrepõe aos barulhos da cidade. No meio das praças, por todo o Brasil, um homem tem feito seu trabalho de forma diferente e, alguns diriam, até, revolucionária. Seu nome? Érico Junqueira. Mas é conhecido mesmo, por muitos, como Valentin (nome o qual dá título ao seu projeto solo). Érico, ex-vocalista da banda Doyoulike?, bem conhecida pelos jovens na década de 2000, encontrou uma nova forma de fazer música: nos espaços públicos.

A ideia do projeto Valentin, que teve seu início em 2010, segundo o músico, veio junto ao término da antiga banda. “Eu queria seguir com a música e não tinha e não tenho a mínima intenção de montar uma banda só por montar.” A saída encontrada uniu o útil ao agradável: “No início foi por uma questão de aventura, uma visão meio apaixonada de ‘tocar violão’ por aí”, conta. Depois, além de levar adiante a afirmação política de ocupação dos espaços públicos, a forma diferente de fazer música se tornou o meio encontrado para divulgar seu trabalho por outras cidades, nas quais, conforme conta o músico, “não existem produtores interessados em contratar um cara desconhecido que ‘toca violão’”.

Mas ocupação desses espaços não é a única bandeira que o músico traz consigo. Muitas das letras de suas canções trazem reflexões sobre assuntos em voga na sociedade. É o caso de “Que sigamos caminhando, Eduardo”, onde o músico traz os ideais de liberdade e a ideia de utopia, através das conhecidas palavras do escritor e jornalista uruguaio, Eduardo Galeano. Além disso, na canção “Coma seus vegetais”, Érico questiona: “Se você não come o seu cão ou seu gato, me diz então por que diabos vai comer carne de frango ou de gado?”, abordando o tema vegetarianismo. “Entendo a arte como questionamento, algo que vem trazer possíveis novas interpretações da realidade e tenho tentado direcionar minhas energias nesse sentido. A política é cotidiana. Se faz política no amor e se faz política na panela. É dessa maneira que o mundo chega a mim. Eu vejo quase tudo sob uma nuance política e acho absolutamente necessário exercitar o raciocínio e o pensamento e provocar reflexão”, conta.

Para além das letras das músicas, o artista traz nos seus trajes questões para a reflexão. Érico diz que enxerga as relações sociais e o comportamento das pessoas, de uma maneira geral, baseados no senso comum e no status quo, e que qualquer coisa que saia dessa linha acaba incomodando quem enxerga o mundo “em preto e branco”. “Enfrentei discriminação porque usei saia na rua e porque usei em casa. Uso no meu dia a dia sempre que a temperatura permite. Mas vou eu, homem branco, cisgênero, reclamar de discriminação?” A resposta do músico é enfática: “Não, pô!”. Segundo Érico, um dos seus intuitos é “que todas essas barreiras e muros morais caiam. Mas eles não vão se demolir sozinhos”. E finaliza deixando uma questão para a reflexão: “Acho que é extremamente importante que cada um se faça questões fundamentais do tipo ‘quem fez essa regra e por que eu a obedeço?’”

As apresentações do músico não tem um valor de ingresso determinado. O artista sugere a contribuição no valor de R$ 10,00, que é colocado pelo público no chapéu, enquanto toca as últimas canções. No entanto, Érico sempre salienta que o público deve pagar quando acha que o show valeu. “Faço o que faço por que amo, mas também é meu trabalho, minha maneira de sustento. Dedico boa parte do tempo de minha vida a isso: escrever, compor, ensaiar, viajar, tocar… Tudo isso tem um custo e o que possibilita que eu siga fazendo o que faço é justamente isso: um voto de confiança transmutado em papel moeda deixado no chapéu ao final de cada apresentação por pura e espontânea vontade”, conta.

O músico esteve tocando na Praça Coronel Pedro Osório, na cidade de Pelotas, no último dia 14 de agosto. Suas próximas apresentações estão marcadas para 8 e 11 de setembro, na cidade de São Paulo (SP), 10 de setembro, em Curitiba (PR), 17 de setembro, em Belo Horizonte (MG) e 18 de setembro no Rio de Janeiro (RJ).

Ficou interessado? Os discos “Salvem o relógio da torre!”, “Eu, Valentin”, “Em frente…” e “Tempo” estão disponíveis na íntegra no canal do músico no Youtube. A agenda completa pode ser acompanhada através da sua página no Facebook.

Vídeo:

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