Uma visão de Pelotas pelos olhos dos invisibilizados
Enrique Carvalho / Em Pauta
Na quinta-feria, 5 de junho, às 19:00, o Bistrô da Secult, recebera o artista pelotense Jonas Fernando Martins Santos, que fará o lançamento de sua história em quadrinhos: Sambinha, um ilustre desconhecido. Na sexta-feira, 6 de junho, na Praça Coronel Pedro Osório, o mesmo ministrará, das 9:00 as 11:00 pela manhã e depois das 14:00 as 17:30 pela tarde, a oficina: Memorial das Coisas Ausentes.
O quadrinho conta a história de Sambinha, pai do próprio autor, que após deixar a antiga fazenda Arvorezinha, estabeleceu-se em Pelotas com a família. Para contribuir com a renda familiar, Sambinha tornou-se engraxate na estação ferroviária que existia a época em Pelotas. Enquanto trabalhava engraxando os sapatos dos passageiros dos trens criava sambas para distrair-se, assim recebeu o notório apelido. Ao longo da vida, tornou-se ativo na cena cultural de Pelotas. Foi responsável por auxiliar na criação de times de futebol de várzea e também em escolas de samba, além de outros empreendimentos.
Tanto o projeto artístico quanto a oficina tem a intenção de resgatar a memória dos cidadãos invisibilizados que construíram o patrimônio, tanto material como imaterial, da cidade de Pelotas.
A história de Pelotas e os invisíveis
Jonas comenta em entrevista sobre como o patrimônio de Pelotas foi elaborado para refletir um ideal fantasioso da história local. O artista faz as seguintes observações sobre o panorama da cidade:
“Olhe a estátua do Coronel Pedro Osório. Mão no bolso, olhar no horizonte e sob os pés dele os trabalhadores. […] a própria Fonte das Nereidas foi posto no centro da praça para encobrir o toco”. Jonas refere-se ao cabresto, que no século XIX, era local onde a população escravizada de Pelotas era comercializada ou punida com chicotadas.
Para salientar ainda mais o ponto de como a memória da cidade foi desenvolvida tuteladamente, ele fala da história da rua Feliz da Cunha. “a Felix [da Cunha] era antigamente conhecida como Rua do Imperador, pois Dom Pedro II hospedou-se nessa rua, mas era nela que os escravizados eram conduzidos de forma humilhante, acorrentados, para a praça, mas não é disso que as pessoas se lembram”.
O projeto não é o primeiro feito pelo coletivo artístico de Jonas, o Coperarte. Trabalhos como esse, e diversos outros da mesma natureza, são possíveis por conta do Pnab (Política Nacional Aldir Blanc). Ele é uma das medidas de incentivo a cultura que temos no Brasil, como a lei Paulo Gustavo, Lei Rouanet, a Lei de Incentivo a Cultura, dentre outras. O Pnab permite que projetos relacionados a cultura sejam financiados por conta de repasses de verbas da União, advindos do Ministério da Cultura, para estados e municípios. Desde 2023, o Pnab tem o compromisso de destinar 3 bilhões anuais para o desenvolvimento cultural.