Uma homenagem aos slashes clássicos

X – A Marca da Morte, filme de Ti West, promete e realmente entrega uma repetição e melhoria dos clichês do terror trash. 

Por Giéle Sodré

Poster oficial do filme /Foto: Reprodução A24

Depois de lançar filmes de terror considerados cults e com grandes aprovações da crítica, a produtora A24 apareceu com X – A Marca da Morte, uma homenagem ao terror trash que beira a paródia, mudando completamente o enfoque de suas produções anteriores.

Com muito sangue, tripas, nudez e conteúdo que beira o impróprio, o filme se põe como uma homenagem aos slashers clássicos desde o início, ainda que com uma construção bem crítica ao puritanismo apresentado pelos clichês, uma boa dose de humor vinda das situações próximas ao absurdo e da naturalidade da utilização dos recursos dos filmes de terror.

A história que se passa nos anos 80, como a maior parte de suas inspirações, acompanha um grupo que vai para o interior dos Estados Unidos na intenção de gravar um filme adulto com temática rural, mas encontra um destino muito mais sangrento. O filme brinca com a estética famosa do gênero usada na época e faz uma comparação com o horror, tendo muitas cenas em que as duas situações se sobrepõem e criam um grande desconforto ou uma noção de absurdo que ajuda a construir o clima do filme, por vezes se levando a sério ou não.

Cena do filme onde os personagens chegam no esperado destino /  / Reprodução: A24

Ti West parece não ter medo dos clichês e nem de seus antecessores, mas ainda apresenta um pensamento crítico sobre os ideais puritanos dos filmes antigos. Em X – A Marca da Morte, não há um Jason Vorhees que mata casais em meio ao ato ou pune personagens que demonstram sua sexualidade. Ainda que se acompanhe um massacre brutal, os personagens não sofrem por suas personalidades ou desejos… embora talvez sofram por sua falta de raciocínio lógico e para suprir a imagética comparativa de filmes como O Massacre da Serra Elétrica 2, muito homenageado pelos planos de câmera característicos de Tobe Hooper e cenas replicando marcos do slasher. 

Isso talvez seja a grande falha do filme: usar tantas estratégias e construções clássicas que acaba perdendo seu envolvimento em certos pontos da trama, soando apenas como mais uma história onde os personagens seguem um roteiro já muito conhecido, onde não há nenhuma surpresa. É possível que o filme se perca também em misturar muitos elementos: as críticas sobre puritanismo não terminam apenas nas implicações sociais de expressões de sexualidade nos anos 80, mas tendo a companhia de uma narrativa atribuída a um pastor que aparece na TV durante vários momentos da trama.

Esses elementos tomam uma condição profunda que não é mais explorada, além de uma pequena surpresa (não tão surpreendente) no final da história, que termina como se faltasse algo a se falar sobre todos os pequenos pontos levantados e deixados ali, ainda em prol de criar um slasher clássico. 

A ideia de uma história feita para ser um trash de terror que levanta questões sobre sexo, relacionamentos, padrões de beleza e a crueldade do tempo acaba ficando um pouco cheia demais quando o sangue começa a escorrer, embora ainda crítica em sua narrativa inicial, se perde um pouco para entrar realmente nos moldes dos clássicos. 

Ainda assim, Ti West realiza um bom trabalho em nos fazer identificar grandes cenas e conceitos icônicos da cultura pop. E nos faz relembrar, dando um novo ar para o gênero, resgatando um olhar crítico e levemente cômico que vem de filmes como o primeiro Pânico para uma nova geração de amantes do terror. 

Além disso, logo logo vem uma prequel por aí, que deve estrear nos Estados Unidos ainda esse ano, e deve focar mais na violência e vísceras, talvez carregando um viés romântico que se viu pouco em seu antecessor. Talvez estejamos acompanhando o nascimento de um novo clássico do terror trash. 

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