Teto para dois – superar é difícil

O romance de Beth O’leary traz personagens reais, cheios de camadas e apaixonantes 

Por Rafaela Stark

Teto para dois é um romance surpreendente da autora Beth O’leary. /Foto: Reprodução Poltronanerd

A jovem autora Beth O’leary lançou, em 2019, o romance Teto para dois, uma história sobre Tiffy, que terminou seu relacionamento e precisa de uma nova casa para morar – urgentemente – . E também de Leon, um enfermeiro plantonista viciado em trabalho e (muito) antissocial, que precisa de dinheiro extra. 

Ao iniciar a leitura, o livro aparenta ser apenas mais um dos vários romances que já foram publicados, garota encontra garoto, eles se apaixonam, se separam e voltam a ficar juntos. O típico final felizes para sempre. Contudo, Teto para dois vai além. A obra inicia com Tiffy visitando um apartamento com seus melhores amigos Gerty e Mo. O lugar é inóspito, terrível para uma jovem que não ganha muito na editora de livros que trabalha. Mas ela não tem como pagar por algo melhor e precisa sair da casa que mora, já que pertence ao seu ex-namorado Justin – que já está em outro relacionamento. 

Entretanto, Tiffany decide ir atrás de um anúncio, um tanto quanto inusitado, de aluguel em um apartamento aconchegante, em boa localização e pela bagatela de 350 libras por mês. A primeira vista é perfeito, se não fosse por um pequeno detalhe: apenas um quarto. A casa é de Leon, um enfermeiro de cuidados paliativos que trabalha todas as noites e passa os finais de semana na casa da namorada, Kay. Ele está desesperado para conseguir mais dinheiro, pois precisa pagar o advogado de seu irmão Richie – um personagem extremamente apaixonante – que foi preso por um crime que não cometeu. 

O trato é, das 8h às 17h, o apartamento é de Leon, e das 18h às 8h, é de Tiffy. Isso inclui a cama, lado direito de um, lado esquerdo de outro. Mesmo que eles não respeitem 100% essa regra. O problema é que os dois nunca se viram, quem mediou o acordo de aluguel foi Kay, namorada um pouco ciumenta – spoiler: o leitor não vai gostar dela – de Leon. A comunicação dos protagonistas se dá por post-its colados pelo apartamento, o que dá um diferencial a esse livro. 

A grande questão de Teto para dois é como os heróis lidam com suas vidas conturbadas e encontram conforto nos bilhetes trocados, e também pelos diversos bolos de Tiffy e sua colcha (horrorosa, segundo Leon) de retalhos. Tiffy vai, aos poucos, descobrindo que o relacionamento dela com Justin foi extremamente abusivo, é interessante acompanhar os flashbacks mentais dela, dando-se de conta que não viveu o relacionamento perfeito que o patife a fez acreditar. O homem é detestável, capaz de provocar ódio em todos que leem, sendo um indivíduo asqueroso fantasiado de galã de comédia romântica. 

Já Leon precisa lidar com a situação triste de Richie, algo que quebra o coração do leitor ao longo do livro, e com sua namorada ciumenta e incompreensível, a Kay. É notável desde o princípio que não há mais um relacionamento entre eles, é comodismo, principalmente de Leon. Acompanhar essa descoberta com Leon é uma lição a ser aprendida, abrir os olhos para sair de situações ruins, mas que apresentam certo conforto de se estar nela, deixar a praticidade e ir atrás de algo a mais. Como, por exemplo, a busca pelo Johnny White correto, algo bem divertido que permeia a história. 

Apesar de parecer apenas mais um romance clichê, Teto para dois é além do esperado. A história é envolvente, os personagens bem construídos e com muitas camadas, assim como identificáveis. O leitor consegue se reconhecer no casal, cada um com sua singularidade e que se encaixam perfeitamente. Tiffy e Leon ficam juntos, sim, como esperado no típico felizes para sempre. Porém, eles aprendem a superar as situações difíceis que se encontravam no início da obra, mostrando para seus leitores que é possível sair do comodismo e tentar, porque nada é tão estranho quanto o cara estranho do apartamento 5 ou tão assustador quando a Sra. Roberta Raposa e sua família de raposas. Tiffy e Leon superaram, já o leitor de Teto para dois talvez não consiga o fazer tão rápido.

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