Seminário em São Lourenço debate exploração de minérios no Rio Camaquã

Por Gabriela Schmalfuss Borges

No início da última semana, São Lourenço sediou o primeiro Seminário Regional sobre os Impactos dos Projetos de Mineração. Durante dois dias, o evento discutiu a concessão de licenças para projetos de extração de minérios na região correspondente à Bacia Hidrográfica do Rio Camaquã. Considerada a mais preservada do Bioma Pampa, a bacia do Rio Camaquã possui 400 quilômetros de extensão e atinge 28 municípios da região central e sul do Rio Grande do Sul.

Foto: Diego Freitas

Organizado pela Seção Regional do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN), o seminário contou com a presença de cerca de 500 pessoas e discutiu as implicações que o projeto para a instalação de três minas em uma área próxima à cidade de Caçapava do Sul traria à região. Nelas seria extraído zinco, cobre e chumbo para a Votorantin Metais. Dos 28 municípios que integram a Bacia, somente Caçapava do Sul e Santana da Boa Vista são favoráveis à extração.

Para a bióloga Jaqueline Durigon, docente do Campus de São Lourenço da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), a concessão da Licencia Prévia aos Projetos de Mineração em discussão abrirão um enorme caminho para que a atividade minerária domine a metade sul do Estado, considerando que há outros processos em andamento. “A atividade de mineração é essencialmente extrativista e visa o lucro imediato de grandes empresas pouco preocupadas com o desenvolvimento econômico local a longo prazo”, afirma. Como exemplo, cita Minas do Camaquã: “a mineração de cobre que teve seus louros, vindo a encerrar suas atividades em 1996, deixando uma paisagem completamente alterada e obrigando o êxodo da população local”, aponta.

Em entrevista ao G1, o engenheiro Paul Cézanne, líder do projeto, afirmou que a extração de minérios possui “as melhores práticas de engenharia e gestão ambiental do mundo, e que a água utilizada no processo de extração e limpeza dos minérios será totalmente reaproveitada”.

Foto: Diego Freitas

Jaqueline acredita, porém, que além de não oferecer expressivo retorno econômico aos municípios, esse tipo de empreendimento compromete a qualidade e a conservação dos recursos naturais (água, solo, ar) e serviços ecossistêmicos (regulação de temperatura, suprimento de chuvas, polinização) que dão suporte às atividades econômicas locais, como a pecuária, agricultura, pesca e turismo.

Além do seminário, atualmente, diversas audiências públicas acontecem nas cidades envolvidas para discutir o projeto. A bióloga Jaqueline destaca a importância da mobilização dos municípios. “No caso de haver poluição dos cursos hídricos, toda a Bacia será afetada, pois os poluentes poderão propagar-se ao longo de todo o curso, chegando a Lagoa dos Patos. Isso sem falar na poluição atmosférica e nos metais acumulados ao longo da cadeia alimentar”, aponta. Para ela, o evento foi muito importante, pois marcou a luta contra os projetos de mineração na metade sul. “Cerca de 500 pessoas participaram, sendo o público composto de forma muito heterogênea, congregando diversas universidades, movimentos sociais, representantes dos municípios da Bacia, comunidade local, ONGs, estudantes, etc. Na minha opinião, superou as expectativas, dada a grande adesão e integração entre os participantes que detectaram a mesma luta em diversos locais do Brasil e do mundo”, afirma.

Clique aqui e confira as cartas escritas pela organização ao fim da atividade.

Aqui você pode ver também mais informações sobre o evento.

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