Incertezas na separação entre Reino Unido e União Europeia

Primeira ministra britânica perdeu apoio dos parlamentares após eleições frustradas.

Por Kímberlly Kappenberg

             Na próxima segunda-feira, 19 de junho, iniciam as negociações sobre a saída dos países do Reino Unido – Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales – da União Europeia (EU). O que deveria ser um processo simples, agora atrai mais atenção dos países do bloco, após a perda de apoio parlamentar da primeira ministra britânica Theresa May, em decorrência das eleições realizadas na última semana.

            O processo eleitoral, que foi adiantado em três anos por May, a fim de favorecer sua posição em relação ao Brexit, teve resultados inesperados. O Partido Conservador perdeu 12 cadeiras e deixou de ser maioria absoluta no Parlamento, enquanto o Partido Trabalhista, ferrenha oposição encabeçada por Jeremy Corbyn, conseguiu mais votos. Dos 650 assentos, os aliados da primeira ministra conseguiram apenas 318, ficando com oito cadeiras a menos do que o necessário para garantir a maioria absoluta. Em contrapartida, o Partido Trabalhista ganhou mais 29 representantes, passando a 261 parlamentares.

            Apesar da pressão para que renuncie, May afirmou que continuará no cargo e seguirá com os planos em relação à saída do bloco Europeu, que tendem para o chamado “Brexit duro”, tirando os países do Reino Unido inclusive do acordo de mercado único. Todavia, para garantir que suas propostas sejam aprovadas, Theresa May deu indícios de que pretende estreitar relações com o Partido Democrático Unionista (DPU), da Irlanda do Norte, que conseguiu dez cadeiras na eleição, e que através da coalizão pode assegurar as aprovações. Caso isso não ocorra, o Partido Trabalhista terá a chance de formar o governo majoritário ou então os cidadãos deverão voltar às urnas para novas eleições convocadas pela Rainha Elizabeth II. Desde 1900, essa última opção já aconteceu seis vezes.

            Enquanto isso, os países da UE aguardam uma posição e se mostram céticos quanto ao início das conversas dentro do prazo previsto. O Comissário de Orçamentos do bloco, Gunther Oettinger, disse em seu twitter que o Reino Unido é agora um “fraco parceiro de negociações”.

            Para a estudante de Relações Internacionais da UFPel, Ariane Suto, as implicações dessa decisão só poderão ser notadas dentro de alguns meses, mas ela não acredita que os britânicos manterão seu posicionamento quanto ao Brexit por muito tempo. “A perda de parceiros e as mudanças nos cargos políticos eventualmente os farão mudar de ideia”, comenta. Outro ponto destacado por ela é o longo processo de análise dos tratados internacionais, que deve se estender por alguns anos.

Como anda o Brexit

            Em 29 de março, nove meses após o anúncio da decisão de deixar a União Europeia, Londres iniciou o processo de desligamento ao entregar a carta de intensão ao Conselho Europeu. Um mês depois foi ativado o Artigo 50 do Tratado de Lisboa, aprovado pelos líderes dos 27 países restantes da EU, cujas prioridades são os direitos dos cidadãos – britânicos que vivem nos países do bloco e europeus que residem no Reino Unido.

            A decisão traz reflexos em escala global, pois ao menos 759 tratados precisarão ser renegociados, um por um, conforme levantamento do jornal Financial Times. Entre eles se encontram 295 acordos multilaterais de comércio, 202 textos de regulação compartilhada, que incluem normativas antimonopólio e política de compartilhamento de dados, 45 do setor de energia nuclear, além de 65 termos relativos a transporte, em que o governo britânico precisará refazer acordos que permitam o pouso e decolagem de seus aviões nos Estados Unidos, Canadá e Israel.

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